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Se o governo toma decisões aos bochechos por causa do mau aconselhamento dos cientistas que participam nas reuniões do Infarmed, ou ao sabor da opinião pública e dos comentadores de serviço, em qualquer dos casos talvez devesse parar para avaliar da sua função, autoridade e utilidade. Um governo que, numa semana diz que não fecha o comércio todo, depois fecha o comércio todo, que não fecha as escolas, depois fecha as escolas, só pode ser um caso grave de saúde mental.
E ao ouvirmos o presidente da república dizer que se pensava que a pandemia acabava em Outubro de 2020, temos completa esta nave dos loucos.
A vacina chegou primeiro que a noção a Portugal, infelizmente continuará facultativa e circunscrita a um grupo reduzido de indivíduos - o que significa que nada ou muito pouco adiantará numa população maioritariamente não vacinada e sujeita ao contágio e disseminação do vírus (de que adianta fechar as escolas hoje, amanhã e depois, se o vírus continuar nas salas de aula?). Não custaria menos vacinar pelo menos 80% da população do que sujeitar o país a uma crise económica sem precedentes?
O que é pena é que entre tantos cientistas, comentadores televisivos, peritos em epidemiologia e saúde pública, nenhum tenha a coragem de nos dizer que não, não vai ficar tudo bem e que este segundo confinamento há-de ser um de muitos que no futuro ainda hão-de acontecer.
Com ou sem guiões, este país não têm emenda. Ponto.
Há coisas que simplesmente acontecem sem que tenhamos percepção ou noção da sua causa. Os palcos dados a certos comentadeiros indígenas incluem-se neste lote. Nunca percebi, talvez porque nunca me tenha dado ao trabalho de investigar, de quem é que Constança Cunha e Sá é filha, aparentada ou amiga - para além do óbvio, que é do conhecimento público. Porque, verdade seja dita, no país dos fidalgos e fidalgas, o ser filho de algo e a Dona Maria da Cunha continuam a ser as melhores formas e os mais rápidos atalhos para singrar no espaço público, onde a valorização do mérito é, não bastas vezes, relegada para as calendas gregas – embora seja propagandeada por quem não se coíbe de vociferar em nome do mérito, ao mesmo tempo que pratica o nepotismo e o amiguismo.
Não gosto nem nunca gostei do estilo de Constança Cunha e Sá. Aquela quantidade de tiques e tremeliques, a voz irritante e a exasperante mania de interromper e condicionar constantemente os seus entrevistados e convidados não a tornam, de todo, recomendável a quem aprecie bons comentários políticos. Mas o que faz com que não lhe dê crédito algum é mesmo a sua confrangedora capacidade intelectual. Tudo ali é achismo sem substância, ao sabor do vento e dos tempos que passam.
Vem isto a propósito da afirmação que a ilustre comentadora proferiu ontem: «Nunca vi um primeiro-ministro tão mal preparado.» Sou insuspeito nesta matéria, pois frequentemente critico o governo e Passos Coelho. E embora também creia que há assuntos nos quais o Primeiro-Ministro poderia ser/estar melhor preparado, é preciso ser muito desonesto intelectualmente para proferir uma afirmação destas depois do país ter sido politicamente abalroado, financeiramente arruinado e moralmente esmagado pela arrogância, falta de educação e incompetência gritante de José Sócrates. Passos Coelho não é, certamente, um intelectual ou um académico. Mas é inegavelmente superior a José Sócrates, desde logo porque parece ser um homem minimamente sério, e dados os constrangimentos a que estamos sujeitos, isso é de suprema importância para o processo de recuperação da credibilidade externa do país. Como escreveu há tempos o Miguel Castelo-Branco, «Passos Coelho, pelo menos, não está indiciado em terríveis casos de roubo organizado, não fugiu para o estrangeiro e tenta, talvez tolamente, ser fiel ao seu fardo.»