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Sou apenas mais um que ignora os factos. Sou um mero papalvo que aceita as patranhas. Sou um sobrevivente da calamidade - e estou à mercê do estado de graça de Portugal. Se fosse no Texas seria bem diferente. Ao mero indício de falha de um sistema de comunicações, e à luz dos cidadãos mortos pela incompetência e irresponsabilidade políticas, os familiares das vítimas já tinham movido um processo ao Estado Português. O governo da república sabe que do outro lado da barricada está gente pequena, minifundários, almas sem grande poder de fogo para ripostar. Mas há bastante mais. Há o negócio volumoso que o SIRESP envolve; os contratos, os financiamentos, as contrapartidas. Não sei quantas centenas de milhões de euros este matrix das emergências já consumiu, mas "algum" do dinheiro tem proveniência externa. A União Europeia (UE), essa entidade reguladora por excelência, parece o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista Português - não se pronuncia sobre putativas responsabilidades políticas. O esclarecimento cabal de que fala António Costa não pode nascer a partir de uma comissão de inquérito de um concelho socialista como Pedrógrão Grande. Tem de ser a Comissão Europeia a iniciar um processo que extinga todas as dúvidas sobre o SIRESP; quanto dinheiro foi lá metido? E quanto terá escorrido para bolsos alheios? Finda essa parte instrutória, a "judicialidade" da UE deve determinar o grau de culpa do Estado Português e distribuir sanções e multas. Com os da casa isto não vai lá. Querem enrolar-nos a todos.
A Caixa Geral de Depósitos (CGD) está a transformar-se no Titanic daqueles que exultam as virtudes da coisa pública. No entanto, o Partido Socialista, o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista Português podem esconder-se por detrás daquela aparição - a Nossa Senhora de Geringonça. Essa sumidade política ainda vai servir para muita ilusão, mas sobretudo para descartar responsabilidades quando efectivamente for a doer. Quando a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu ou as agências de rating avançarem com as homílias penosas, elencarem os tabus e os pecados, descreverem a gula e ganância ideológicas, as vergastadas seguir-se-ão. Bem feitas as contas são mais do que sete devaneios. O mártir Domingues é apenas uma personagem do santuário bancário. No mostrador existem mais santos e pelo menos um trio de beatas. Enfrentamos sérias questões agnóstico-financeiras. Ou acreditamos na liberdade de expressão monetária ou somos levados pelo engano e pelas crenças impostas pela cartilha de um programa de ajuste de contas político, uma revanche. Porque, para todos os efeitos de guerrilha partidária, a CGD poderá ser o Judas da santa trindade governativa. A casa vendida pelo diabo por um módico agudo. Não são rosas, senhores. São 3 mil milhões de euros que ardem no inferno. E ireis pagar.
Marcelo Rebelo de Sousa tem razão. A geringonça é um arranjo inédito. O Partido Socialista, o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista Português formaram governo, mas a criação teimosa de um executivo não é um objectivo político em si. Um governo que se preze não pode sobreviver à custa de validações endémicas, de justificações internas, de palmadinhas nas costas dos parceiros de ocasião. Existe muito mais para além das virtudes do narcisismo e das comendas presidenciais - a realidade. E a verdade nua e crua das limitações económicas e dos entraves financeiros não pode ser dissimulada por malabarismos de balancete. Portugal não padece de extremismos de Esquerda ou Direita que parecem retratar a Europa maior, por isso a geringonça nem sequer é salvadora ideológica - não pode invocar esse estatuto. Este governo é um esquema aritmético, um tabuleiro de somas parlamentares e pouco mais. Pensar-se-ia que o presidente da república fosse uma velha raposa política, sábia e experiente. Mas deste modo castelhano levanta sérias dúvidas sobre o seu sentido de Estado. Portugal não está tão distante da Grécia quanto possa parecer. Quando o país económico for esmurrado pelo declínio de investimento público, como modo de conter os deslizes orçamentais para cumprir os preceitos da Comissão Europeia, já será tarde demais. Quando olho para a geringonça e o marketeer Marcelo não sinto a reviravolta do país. Deparo-me com actores posicionados para preservar intactos os princípios da continuidade. A ruptura, que seria encabeçada por uma efectiva reforma estrutural, nunca acontecerá. Se abanarem as fundações do aparelho de um regime, onde encaixam os partidos deste acerto de ocasião, vão todos de carrinho. Como uma cenoura pendurada à frente do chanfro do burro, a descentralização serve apenas para incitar a passada mais larga. Mas o asno anda à volta da nora. E não sai do mesmo lugar.
Não sou economista. Fiz uma cadeira do curso no Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) - a casa-mãe-fornecedora de uma grande leva de economistas-socialistas - pensem Constâncio. Curiosamente, a única cadeira que completei antes de mudar de curso (para Relações Internacionais) era considerada um bico de obra: Estatística (I). Ou seja, sou a última pessoa à face da terra para oferecer modelos de salvação económica, seja de inspiração Chicagiana, ou seja com o sopro bafejado por Hayek. Em termos de mercado, posiciono-me do lado da oferta de perguntas, esperando que os técnicos de serviço possam procurar e conceder a resposta. O Governo de inspiração orçamental afirma que todos os pressupostos de aprovação do mesmo foram apresentados nesse mesmo documento. A minha pergunta é simples: quanto custa? Qual o custo de oportunidade de cada empregado? E qual o rendimento marginal de cada pensionista? Eu sei, eu sei. Depende de muita coisa. Blá blá blá, blá blá blá. Então simplifiquemos. Nesse caso, peço apenas uns rácios (sim, de racionalidade). Qual a relação entre a colecta de impostos e a geração de emprego? Em que medida as receitas fiscais impactarão a procura de emprego? De que modo os fundos provenientes do imposto sobre valores patrimoniais acima dos 600 mil euros contribuem para a dinamização de empresas? Talvez esteja a perguntar aos cientistas errados. Estas questões de linearidade talvez pertençam a outro domínio de pensamento directo. Cada vez que emitem uma nova guia de remessas tributárias atravessa-se-me pelo espírito uma sensação estranha - de vazio comportamental. Ninguém me conseguiu explicar cabalmente as ligações sinápticas entre uma coisa e outra. A gordura que sai do pêlo de cada um vai exactamente para onde? Para um aterro de margens de erro? Os economistas-políticos, ou o contrário, são uma espécie perigosa. São experimentalistas com cobaias avulso. Prefiro uma estirpe distinta. Os puros. Aqueles que pensam e dissecam, mas não se pôem a inventar soluções governativas à custa do freguês.
A União Europeia (UE), como tem sido o seu apanágio, não tem sido capaz de acompanhar os tempos em que vivemos. E estou a ser simpático. Ao longo das últimas décadas não soube edificar os pilares da Política Externa e de Segurança Comum ou tender para uma verdadeira União Fiscal. O esforço mercantil e económico não bastou para contagiar as demais dimensões. Os fundos estruturais pareciam ser a panaceia inédita. Pensaram eles que a religião dos mercados seria suficiente, que atirar dinheiro aos desafios serviria para dissipar o fosso económico e social entre os mais ricos e pobres. À época não havia desentendimentos. Não havia neo-liberais e menos neo-liberais. Não havia uma Esquerda ou uma Direita demarcada por regiões. Não havia uma zona Euro nem uma zona Deutsche Mark. Não havia grande diferença entre o político doméstico e o político de Bruxelas. Mas lentamente, sem grande alarido, o interesse nacional de cada Estado-membro foi subvertendo o idealismo de Monnet ou Schuman. Os países, Estados-membros, ou outros a caminho desse estatuto, foram alavancando o seu caderno de encargos, o seu rol de exigências, até desvirtuar a possibilidade de uma verdadeira união política, uma federação. E os anos da UE que foram passando serviram de pastagem para a expressão de um conjunto de reinvindicações económicas e sociais da parte daqueles que não foram capazes de reorganizar os seus modelos societários. Sempre que as dimensões económicas não encontraram resposta, a ideologia foi sendo arremessada para justificar quer as faltas quer os excessos. Se existiu um Estado-membro que melhor soube tirar partido das fraquezas congénitas da UE, esse parceiro foi o Reino Unido. Se existiu um Estado-membro que buscou tratamento diferenciado dentro da continentalidade europeia, esse colega foi o Reino Unido. Se existiu um Estado-membro que nunca abdicou da sua irmandade transatlântica com os EUA, esse camarada foi o Reino Unido. Enfim, podemos afirmar, de um modo equilibrado e desprovido de paixão, que o Reino Unido talvez não tenha feito a sua quota-parte para aprofundar o processo de integração. Na hora do divórcio e da penosa separação de águas, todos estes elementos de sentimentalidade nacional e europeísta serão colocados em cima da mesa para o estabelecimento de novos acordos de associação. Embora seja uma contradição suicida, resta exigir o seguinte à UE por forma a atenuar as dores de separação: onde está o Comissário das Saídas da UE? Será de prever que semelhantes casos de despedidas venham a ocorrer. E seria bonito, que na sua hora final, a UE demonstrasse algum decoro, alguma competência.
A saída do Reino Unido da União Europeia (UE) deve ser colocada na mesma régua de importância histórica da queda do Muro de Berlim, do 11 de Setembro ou do crash bolsista de 1987. O que está acontecer é avassalador. Manifesta-se nas dimensões política, financeira, económica e social da Europa, mas também nas realidades de outros países distantes ou próximos. Por mais que António Costa elenque um conjunto de generalidades sobre o grande desígnio europeu, a verdade é que Portugal sofrerá as consequências do resultado do referendo. A saber; os juros dos títulos de dívida de Portugal terão tendência a agravar-se de um modo expressivo - o Reino Unido deixará de ser contribuinte do pote da UE e, nessa medida, Portugal terá menos a receber e terá de pagar caro o seu financiamento. A valorização do euro face à libra é péssimo para as exportações nacionais, e o sector do turismo sentirá a menor presença de britânicos na época balnear que se inaugura. O processo de saída da UE será moroso e concordante com a cultura burocrática de Bruxelas. Ou seja, será lento e doloroso. O Bank of England acaba de anunciar que tudo fará para estancar a grande volatilidade que se faz sentir nos mercados. O governador Mark Carney informa que planeia injectar 250 mil milhões de libras esterlinas na mercado por forma a acalmar os ânimos, mas, Mário Centeno que vive noutro planeta, assegura que Portugal tem provisões suficientes para fazer face ao descalabro gerado pelo Brexit. Como podem ver, Portugal está entregue à caixa mágica destes lideres. Agarrem-se que isto não vai ser bonito. E faltam as eleições em Espanha. Mas não faz mal, a geringonça tem tudo controlado. Para estes irresponsáveis é: business as usual.
Não tenho os dotes culinários de Fernando Santos. Nem sei cozinhar resultados. Por isso não me aventuro na casa de "abostas" do vai ou fica. Refiro-me ao Brexit, naturalmente. Nos últimos meses temos sido contaminados com inquéritos e mais inquéritos de opinião, com o esgrimir de argumentos nacionalistas ou europeístas, com a exposição dos males e benefícios do rompimento britânico ou com revisitação da história europeia e as virtudes da paz Kantiana. Tudo isto, e muito mais, tem contribuído para o não esclarecimento da questão. E faz sentido que assim seja. A identidade da Europa é essa mesma. O continente sempre foi um palco de tensões, de dissidências e aparentes entendimentos. Ou seja, quer adoptemos uma visão Hobbesiana ou Hobsbawmiana, seremos invariavelmente servidos pelo magistério cultural que reforça uma certa visão determinista. Em última instância, não existe um evento singular capaz de descarrilar a "civilização" europeia da sua tendência para sobreviver à sua própria condição. E esse estado crónico extravasa os parâmetros construtivistas da Comunidade Europeia, dos Tratados Europeus e da União Europeia. Os britânicos, que sempre foram talentosos na defesa do seu interesse nacional, souberam alimentar a falange independentista promovida pelo Brexit. O elencar dos perigos resultantes da saída não são equiparáveis às contingências de uma permanência. Nem devem ser relacionados. A separação de correntes políticas e económicas, a permanência ou a saída, são no meu entender, uma falsa dicotomia. Os britânicos, ao longo das últimas décadas de pertença à União Europeia, demonstraram que é possível estar dentro sem efectivamente estar. E se nos servirmos da mesma bitola de posicionamento estratégico, serão igualmente hábeis a se imiscuirem na condução dos trabalhos da Comissão Europeia e outras instituições, estando fora da estrutura, a 20 milhas do continente europeu. Por outras palavras, a condição britânica é incontornável. Os britânicos não vão a parte alguma. O Brexit até pode vencer o Euro 2016.
O impacto negativo decorrente da entrada em funções do governo de António Costa e do processo inacabado do Orçamento de Estado já é quantificável. Os títulos de dívida a 10 anos foram enjeitados pelo mercado, arrastando os juros para valores apenas registados em Março de 2014. António Costa, apontado como salvador da honra nacional, afinal não passa de um operário que trabalha à peça. Primeiro soldou as peças parlamentares para forjar um governo frágil, assente em arranjos e negociações secretas. Depois, apresentou um desenho de Orçamento de Estado que aparentemente foi um notável sucesso junto da Comissão Europeia. E agora, à luz das considerações do Eurogrupo, devemos esperar mais um passe de mágica. Uma carta sacada do baralho ideológico para servir os interesses dos camaradas filiados. A fotografia tirada pelos sindicatos e funcionários públicos parece ter muito mais valor do que o resto. Mas a prepotência de António Costa far-se-á pagar caro. Pode ser que consiga vender as suas promessas a metade do país, mas será a outra metade a pagar a conta. Mário Centeno irá ter oportunidades de sobra para atacar o ministro das finanças alemão Wolfgang Schäuble quando este subir de tom nas próximas semanas. Portugal não vai estar preparado para medidas adicionais de Austeridade. É feio mentir ao eleitorado nacional.
And the winner is....DBRS! Deixemo-nos de danças de salão, de intrigas e rancores ideológicos. O que ontem aconteceu em Bruxelas não foi o resultado de trabalho de contabilistas engenhosos. As convicções políticas foram definitivamente varridas do espectro do processo de tomada de decisões. O malabarismo de números é um apenas: + Austeridade. Seja qual for a fórmula de eufemismo que se escolha, os portugueses vão contribuir ainda mais para salvar os erros de governação de sucessivas gerações. Coloco-me, deste modo, à margem de preferências partidárias, como se fosse uma parte não interessada. Mas não é verdade. O que se passa em Portugal é excessivamente importante para ser menosprezado. Ficou demonstrado que os mercados continuam a falar mais alto. Uma "mera" agência de rating encostou os socialistas, os bloquistas e os comunistas às mesmas cordas. Os grandes investidores, os lobos de Wall Street, os chefes de Hedge Funds e os gestores de Government Bonds encomendaram o serviço à agência de rating canadiana. Ou estás connosco, ou levas com um downgrade que fará disparar os juros da dívida pública - é isto, em traços largos. É assim que funciona lá fora, no mundo cruel, hardcore. O mais alarmante, contudo, tem a ver com a parcela atribuída em sede de Orçamento de Estado ao departamento de "estímulos à economia". Até parece uma piada de mau gosto. 140 míseros milhões de euros para lançar novos incentivos ao investimento? A espinha dorsal de um país, que permite devaneios de funcionalismo público e extravagâncias de outra natureza, foi simplesmente preterida. Sem uma economia vibrante não há nada que se possa fazer a seguir. A não ser que o pressuposto seja esse mesmo. Garantir a continuidade de dinheiro fresco de entidades externas, comprometendo de um modo ainda mais intenso o nível de dívida e a competitividade da economia. Por outras palavras, António Costa e Mário Centeno são apologistas do pobre "coitadismo" de Portugal, eternizando um problema de auto-estima que já está cravado na matriz nacional há demasiado tempo e acentuado sempre que os "subvencionistas" socialistas chegam ao poder. Não se escutou da parte deste governo uma palavra sequer alusiva à grande estratégia nacional. Tiraram uma fotografia que é igual a tantas outras gastas. O Orçamento de Estado de 2016 espelha o passado. É saudosista na sua substância, e retrógrada na obrigação que lhe competia. O Partido Socialista, e as roulottes mais à Esquerda, que andam a reboque ou puxam o cangalho, deixaram de ser ideologicamente disciplinadas. Tanto se lhes faz serem marxistas ou social-democratas. Os portugueses, vítimas do arresto parlamentar, não entregaram a chave de sua casa à Esquerda. Assinaram de cruz e passaram a procuração a um módulo de decepção. Mas o mais grave no meio disto tudo é a falta de sinceridade, honestidade intelectual. Foram os de Bruxelas que ganharam. E esses dependem de terceiros.
WTF se está a passar? O orçamento de Estado de 2016 foi aprovado à revelia da derradeira palavra de quem efectivamente o viabiliza? Ou seja, a Comissão Europeia, que estende a mão com o dinheiro dos contribuintes dos países-membro da União Europeia? Porque é disso mesmo que se trata. Uma visão económica e financeira que decorre de um projecto de integração, onde uns sustentam outros, sucessivamente e alternadamente. António Costa, pelos vistos tem outros planos que não quer partilhar. Decretou a independência de Portugal em apenas seis horas. Age como se fosse suiço, semi-catalão, quando na verdade, Portugal, objectivamente, apenas funciona com o aval da União Europeia e as suas instituições. Este acto de rebelião do governo apenas faria sentido se os socialistas estivessem dispostos a colocar em cima da mesa algo mais ousado, uma coisa semelhante a um Brexit. Se é a soberania nacional que está em causa, este conjunto de governadores deveria produzir um outro género de comunicado. O selo de aprovação do Orçamento de Estado de 2016 não tem grande interesse lá para os lados de Bruxelas. Agora corre para Berlim para ver se pega, provavalmente lançando uma ameaça bacoca à cara de Merkel, para poder regressar herói, e depois dizer às televisões que pelo menos tentou - são 950 milhões de falsas intenções que vai ter de arcar. Fim da conversa.
O secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares Pedro Nuno Santos informa que as negociações relativas ao Orçamento de Estado de 2016 estão a correr bem. É quase a mesma coisa que dizer que José Rodrigues dos Santos é o melhor escritor português. E o que significa exactamente que "estão a correr bem"? Significa que o governo de António Costa tem de mentir ao seu eleitorado, e fingir que a missão em Bruxelas está a ser um sucesso, quando sabemos que já estão alinhados mais encargos contributivos para os portugueses. Mas este governo de Portugal ainda pode sacar da sua caixa de ferramentas algumas surpresas. Falta que o compadre do Banco de Portugal ponha em marcha outro modo de confisco de dinheiro dos aforristas, claro está, em conluio com os socialistas. Por exemplo, através da implementação de taxas de juro negativas, através das quais os depositantes pagam para que lhes guardem as quantias - e sim, esse é um belo modo da tesouraria lucrar à pala do cidadão comum. Mas há mais truques que os socialistas, à falta de verdade económica e visão prospectiva, sacarão do seu caderno ideológico para matar de uma vez por todas os rebentos de credibilidade plantados pelo governo precedente junto dos credores. O que julgam António Costa, Catarina Martins e a Marisa Matias? Que o dinheiro dos outros lhes pertence? Que primeiro estão os "seus" funcionários públicos, e que o sector privado que se lixe? Contudo, existe uma réstea de esperança de bom-senso, mas do lado de lá, da Comissão Europeia. Eles sabem que Portugal não pode merecer tratamento privilegiado à luz do que se exige a outros Estados-membro da União Europeia. Não estranham que Tsipras e o Syriza não sejam citados de cor por Centeno e Costa? Eu não. Os gregos tiveram de engolir a pastilha e mesmo assim continuam na corda bamba. O Partido Socialista, por seu turno, roubou o refrão a outra banda, mas canta desalinhado - pão, pão, paz e liberdade quando sabemos que a letra é outra.
Os governos de Portugal inauguram uma exposição colectiva chamada: "Austeridade de Esquerda - também somos capazes". O governo de António Costa, o governo de Catarina Martins e o governo de Jerónimo de Sousa são os três finalistas do programa - "toma lá disto" -, organizado pela Comissão Europeia. Os três premiados levam para casa mais medidas de austeridade que terão de partilhar com os espectadores. A saber; uma nova contribuição sobre a banca para afastar ainda mais o papão capitalista investidor; um novo imposto sobre produtos petrolíferos que estavam na montra disponíveis para levar com um enfeite de encarecimento; e ainda, o agravamento do imposto automóvel, porque passear ao Domingo já não é a mesma coisa. No entanto, no cabaz falta uma prenda importante: o enxoval presidencial de Maria de Belém que, pelos vistos, será oferecido pelas testemunhas do costume - o povo de Portugal. Nada disto tem piada, mas está pejado de ironia - a Austeridade de inspiração sócio-marxista é de uma estirpe levada da breca, muito pior do que a modalidade normal. Fatal. Afinal os socialistas também são mortais.
"António Costa intensifica contactos para garantir sucesso das negociações" parece o redux do filme que passou recentemente em Portugal. Aquela curta-metragem do festival das eleições que permitiu usar a tal prerrogativa de maioria parlamentar para assaltar o governo de Portugal. O Orçamento de Estado de 2016, cujo guião deixa muito a desejar, já entrou no escritório da mesma discussão. Não sei que contactos anda Costa a fazer em Bruxelas, mas o amigo Martin Schultz não decide o que quer que seja. Quem aprova ou deixa de aprovar é o putativo governo da União Europeia - a Comissão Europeia. Este show de bate-pé socialista não resultará na mudança de posição de Bruxelas. Se as exigências intransigentes de António Costa, ao que se soma a vocalidade da padeira do Bloco de Esquerda, fossem aceites pela Troika (sim, a Troika), abrir-se-ia um precedente inaceitável que seria isco para ser mordido por hermanos de causas próximas. Enquanto a nega não chega, João Galamba foca a sua antena de entertainer na questão de aumento de salários de um conjunto de gestores públicos, por sinal nenhum deles socialista. A única forma de António Costa vender o seu peixe, será cumprir com o prometido, mas acompanhando esse prato por impostos e taxas invisíveis, sobrecargas "discretas" para passarem despercebidas junto dos contribuintes. A sorte dos portugueses com juízo é não haver possibilidade de assalto em sede de Parlamento Europeu. Por outras palavras, António Costa pode espernear à vontade - o seu tempo novo não coincide com o fuso horário das contas europeias. Ter amigos não chega. Boas contas, sim.
Enquanto a caranguejola (upgrade de geringonça) se manteve dentro de portas, lá conseguiram ir disfarçando a coisa. Mais acordo menos acordo, mais entendimento menos entendimento, o PS lá foi aguentando a bronca com o BE e o PCP - para inglês ver governo, entenda-se. Entramos agora noutra fase. Na fase de areia atirada aos olhos de Bruxelas, o período para inventar desculpas esfarrapadas - mentiras que não vão longe. Como se na Comissão Europeia fossem todos burros e não tivessem exigido, preto no branco, a discriminação de medidas temporárias ou definitivas. A seguir, depois deste problema de défice cognitivo em Bruxelas, será uma questão de faxes enviados e não recebidos, um problema criado por tradutores e intérpretes, a impressora que ficou encravada, enfim, um conjunto de miudezas lançado por um governo que nem é temporário nem permanente. A Comissão Europeia já está em Lisboa para que não haja mais artimanhas de conversa fiada de António Costa. Tudo isto é desprestigiante para Portugal, mas não apenas. A palavra dada e não honrada tem valor de mercado. As agências de rating têm razão, quer se goste ou não. E cumprem outro papel. Funcionam como tribunal arbitral das falácias governativas. Os mercados são um tribunal implacável. Não prendem preventivamente quem quer que seja. Condenam na hora o desempenho de políticos e estabelecem logo o valor da coima que um país deve pagar. E é esse o grande problema de um governo de ocasião parlamentar - as decisões que tomam não preenchem os requisitos da sua própria definição. A haver um "nem peixe nem carne" de um guisado a três que envolve o PS, o BE e o PCP, Portugal será percepcionado quase sempre com suspeição, como destino de risco para qualquer entidade com juízo. Os investidores olharão de lado cada vez mais, preocupados com os malefícios de um agente executivo duvidoso. António Costa, ao lançar dúvidas sobre a capacidade de entendimento documental da Comissão Europeia, põe em causa o rigor dos outros, a competência de instituições fundadas sobre premissas de verificação e controlo apertados. Em poucas palavras - António Costa lesa a pátria e tarda em reconhecer o seguinte. Não irá revolucionar coisa alguma. As medidas de Austeridade não serão desagravadas e o povo de Portugal exigirá a este governo um preço alto pelo embuste populista que assalta eleições, mas que não rende um país inteiro. Geringonça, uma fava.
As "quase" três derrotas consecutivas do Partido Socialista (nas eleições Europeias - como se tivesse sido porque despediram António José Seguro -, nas Legislativas e nas Presidenciais) não são sintomas de que algo corre mal. São a patologia, a doença infecciosa que resulta de consaguinidade ideológica naquele partido. Ou seja, a procura de respostas para problemas distintos fazendo uso da mesma caixa de ferramentas e do mesmo grau de convicção. A realidade económica e social ultrapassou de um modo intenso a teimosia socialista. A insistência em certas premissas colide de frente com um processo político e civilizacional em profunda mutação. Quando se levanta a hipótese de uma alternativa dentro do PS, a margem de erro é enorme. A opção certa não se encontra no legado socialista, no seu património intocável. As fórmulas que se devem buscar são trans-ideológicas, ou pós-paradigmáticas -, ou seja, encontram-se para além da dimensão partidária, seja qual for a filiação. Acreditar que em nome do salvamento do presente se pode comprometer gerações futuras, confirma o grau de irresponsabilidade do actual governo. Não é possível ser mais contraditório do que Centeno que promete conter a despesa ao mesmo tempo que repõe salários e pensões. O contexto económico-financeiro do momento aponta noutro sentido. Nos últimos anos os bancos centrais substituíram a acção política através da impressão de divisa e a sua injecção nos mercados. Centeno não parece entender esse facto. Ou seja, substantivamente, não existiu despesa. Existiu ficção monetária. Existiram facilidades e juros baixos. O governo anterior beneficiou sem dúvida alguma dessas condições, mas colocou Portugal no caminho da recuperação certa e sustentável. As indicações da Comissão Europeia e os indicadores das agências de rating levam isso em conta. Ambas esperam que o actual governo consiga consolidar as contas e o regime de sustentabilidade do país. Mas, lamentavelmente, o que vislumbramos é um delapidar de esforço alheio, devido a intransigência ideológica, a um complexo de superioridade moral. A questão da devolução da sobretaxa é apenas uma pequena verruga na cara daqueles que não querem perder a face. Se não for o PS a deitar a toalha ao chão, será o PCP ou BE a arrancar-lhe a camisa. Marcelo vai ter pouco trabalho. Escutem o que Mohamed tem a dizer. Dispensem as palavras de Galamba.
A carroça ficou atolada? Não faz mal. Reinventa-se a roda. Catarina Martins e Jerónimo de Sousa demonstram que têm medo de voar, de governar de acordo como o firmado em contrato - honrar as obrigações de Portugal perante as instituições europeias. A regra dos 3% do défice do Produto Interno Bruto (PIB) não agrada? Não faz mal. Deita-se fora, mas apenas para alguns, para um governo de Esquerda. Será que Catarina Martins vai reformular o Tratado de Lisboa? Não me parece muito católico que sugira a alteração da regra orçamental sem pensar nos outros. Se a revolução da Esquerda é mesmo para ser, então o Bloco a e Coligação Democrática Unitária devem levar a sua água ao moinho de Bruxelas. Se não, parecerá que Catarina Martins procura tratamento privilegiado para um governo imaginado por si. Não leva muito a sério as metas da Comissão Europeia(?) - esta afirmação é particularmente grave e corrobora o que Cavaco Silva declara sobre estabilidade governativa. A União Europeia já tem motivos mais que suficientes para ficar de pé atrás. Muito atrás. Catarina Martins perdeu os três...porcento.
A ruptura negocial de Tsipras com os parceiros europeus remete o drama grego para outro patamar de preocupações. Será no plano interno daquele país que os verdadeiros perigos serão expostos num primeiro momento. A toada nacional-esquerdista, imbuída de patriotismo helénico, poderá facilmente descambar para um Estado fascista. Se o povo grego votar em Referendo a aceitação do pacote de ajuda que arrasta mais Austeridade, Tsipras deve, democraticamente, se demitir, mas tenho sérias dúvidas que o faça dado o seu perfil de intransigência. A partir desse momento vislumbram-se alguns cenários mais drásticos. A saber; um golpe militar com a instituição de um regime de coronéis; a convocação contrariada de eleições em virtude da dissolução do governo e a ascensão de uma força nacionalista; a eclosão de um conflito armado com um vizinho regional com o apoio logístico e ideológico da Rússia; um ou vários assassinatos políticos; ataques terroristas de falanges políticas gregas dispostas a acentuar a dissensão interna e intimidar a comunidade internacional. No entanto, as instituições convencionais da política europeia restringem-se a consternações de ordem económica e financeira e os media insistem que é a política que move as diversas partes envolvidas. Enquanto pensam em controlar os danos decorrentes da corrida aos bancos a que já assistimos fora do horário normal de expediente, outras ramificações devem ser tidas em conta de um modo muito sério. A União Europeia para além de estar a braços com uma crise económica, social e financeira de um dos seus estados-membro, terá de encarar desafios de ordem geopolítica para os quais não está devidamente apetrechado. A Política Externa de Segurança Comum é um dos outros pilares da construção europeia que carece de uma estrutura sólida e eficaz no seio das consternações externas de uma Europa comum. Por essa razão, a opção transatlântica ainda merece grande consideração. Os EUA jogam desse modo na sombra do tabuleiro da política europeia. A Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) deve, face aos desenvolvimentos da situação na Grécia, pensar nas implicações decorrentes do agravamento da crise europeia. Embora haja uma tendência inata, resultante da paz longa do pós-segunda Guerra Mundial, para pensar na normalização do quadro de relações, a verdade é que ao longo da história da humanidade, a estabilidade política e económica tem sido a excepção e não a norma. Tempos difíceis aproximam-se a passos largos e de nada serve deitar as culpas a uns ou a outros. A história é isto mesmo. Irrascível, mas explicada por modelos racionais.
O governo de Tsipras, em nome da Grécia e do seu povo, não pode cantar vitória. A conclusão de um acordo com os credores não passa de um adiamento de uma falência inevitável. Por outras palavras, trata-se apenas de política assente no oportunismo e na vantagem limitada. Quanto custarão seis meses de alívio e a falsa sensação de segurança económica e financeira? O futuro dirá de um modo avassalador. O fôlego ganho pela Esquerda vai depender de uma botija fornecida pelo sistema financeiro que tanto foi atacado. Serão os neo-liberais e todas as instituições que gravitam em torno de um sistema financeiro hiperbolizado que terão o domínio da situação e da submissão dissimulada por aparentes sucessos. A política é uma fonte inesgotável de ironias. Serão as instituições financeiras capitalistas assentes na usura e na exploração que irão lançar uma linha de vida aos gregos. Os helenos não seguem o caminho da autonomia política e económica. Acorrentam-se ainda mais aos credores que tanto quiseram sacudir. A falsa dictomia lançada entre a alegada Esquerda e a Direita não passa disso mesmo. Um espectáculo cinicamente apaziguador de ânimos exaltados, diálogos sem expressão genuína, a prospectiva alteração de paradigma adiada até ao próximo pânico. A Europa será fiel a si. A União Europeia enverga a camisola amarela, distribui prémios aos perdedores e reclama para si o estatuto de entidade civilizadora. Os especuladores por esse mundo fora agradecem as benesses dadas pelos políticos. As bolsas disparam, os títulos valorizam, e existe dinheiro sério à mercê do peixe graúdo. Amanhã espero que aqueles que se encontram na fila apresentem também as suas senhas e listas de exigências. Espanha, Itália e Portugal podem ir ensaiando as linhas teimosas de argumentação hegeliana, para atingir a kantiga da paz perpétua que a Grécia afirma alcançar. Deus tende piedade de nós. A tempestade vai ser violenta.
Digam o que disserem, nada mudou. Se a Grécia chegar a acordo com os credores, apenas significa que a Austeridade será prolongada, incrementada. São analistas deste calibre que constituem um perigo público. Os aspectos fundamentais da economia grega não se alteram mesmo que libertem os fundos exigidos. O problema será apenas agravado e adiado. A Grécia, assim como tantos outros países do ocidente, é um drogado em busca da próxima dose de heroína. Podem passar cheques e mais cheques de 100 mil milhões de euros que a crise não será atenuada. A bolha da conveniência política tarda em rebentar, mas quando estoirar não quero estar por perto. Tsipras vai ser hasteado na praça pública. Vamos ver como descalça a bota. Como vai explicar aos compatriotas que afinal não deveria ter prometido o que quer que fosse? Afirma ser o revolucionário que rasga os contratos com os opressores, mas vai embarcar em nova ronda de austeridade. Vai eternizar a relação helénica com os senhores do capital fresco. Lamento muito. Prometia ser um dia auspicioso, mas será apenas um dia igual a tantos outros.