Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
O título deste post deveria ser: "E não há nada que Vitor Constâncio possa fazer". E porque não há-de ser esse o título? É esse o cabeçalho. Sim, senhor. Acabo de concordar que será esse o lead do artigo. Está decidido. Quem julga que é António Costa? Acho muito bem que a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu (BCE) avançem com uma auditoria à Caixa Geral de Depósitos. Se eu emprestasse dinheiro a alguém também gostaria de saber com quem conto. Se tem a casa em ordem. Se é bêbedo. Se é esbanjador. Se vai ao casino jogar às máquinas. Se anda fugido ao fisco. Pois. De nada serve ter um socialista como número 2 do BCE. Por mais voltas que o Partido Socialista, o Partido Comunista Português ou o Bloco de Esquerda dêem, a condição de banco público não serve de nada. Bem pelo contrário. Um banco público é quase sempre um monstro que pertence a todos e não pertence a ninguém. Deixa-se perder na bruma da irresponsabilidade e da entidade abstracta que o Estado é especialmente talentoso em promover, defender. E não há nada que Vitor Constâncio possa fazer.
Não me interessa qual o papel de embrulho de Pedro Queirós Pereira, nem o conteúdo dos presentes e ausentes do seu discurso. O que acho profundamente degradante e ofensivo nas suas palavras afectivo-empresariais é mencionar o fabrico caseiro de doçaria como uma actividade menor, pouco dignificante. O dono do papel em Portugal parece não conhecer o seu país. É precisamente essa manifestação minifundiária da cozinha portuguesa que tem permitido vidas dignas a tantas famílias. Os rissóis e as mousses de chocolate domésticos, confeccionados pelas mãos hábeis das D. Amélia de norte a sul deste país, são fruto de grande labor para gerar receitas modestas mas honestas. O Ricardo Salgado não tem de defender as primas-comadres como sugere Queirós Pereira. Se estão a trabalhar de um modo sério (pela primeira vez na vida ou não) os detalhes de pastelaria bancária não são para aqui chamados. As senhoras não podem sujar as mãos na massa que põem a levedar? As primas não podem fazer entregas ao domicílio? Podem, e devem, se estão necessitadas.
Alguém me consegue explicar porque enviam para a linha da frente da comissão de inquérito parlamentar uns cordeirinhos, uns falhados de carne tenra? Ainda não perceberam que Ricardo Salgado é uma velha raposa com muitos anos de casa. Ontem deu para ver o calibre do mestre - nem uma hesitação, nem a mais pequena sugestão de suor, nem um pingo junto à sobrancelha. O senhor sabe calibrar a voz e produzir uma narrativa que enfeitiça quem não está devidamente preparado. As jovens Mariana Mortágua e Cecília Meireles foram metidas no bolso da casaca do Dr. Ricardo. Exacto, no bolso. Dr. para aqui, Dra. para acolá, mais umas voltas sobre viajar na TAP e umas referências ao "governance" - tudo suave e natural, como faena de matador. Manuel Tiago, que até tem ar de perder a compostura da gravata, também se desfez em salamaleques, pisando o terreno como se fosse campo minado. Minhas senhoras e meus senhores, não foi Ricardo Salgado que pagou 3 milhões para não ir de cana? Estão recordados? Ontem foi tudo muito mansinho e muito indolor da parte de quem perguntou. O homem aproveitou. Não existirão nas fileiras da Assembleia deputados com estofo para colocar o espeto na grelha? Por exemplo, alguém com a estâmina e a casca dura de um Pinto da Costa ou de um Valentim Loureiro? Não existe do lado dos bons (existem bons?) um Clint Eastwood disposto a usar o chavão: come on, make my day? Foi lamentável que o ponto alto do dia tivesse sido a declaração primocída de Ricardo Salgado. É o que eu digo, este ex-banqueiro dava um excelente Procurador. Já começou a esgravatar no Banco de Portugal e não se incomodou muito por ter arreliado o primo Ricciardi. Quanto a Cavaco - está na ciudad de Mexico.