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Penso sempre, em todas as circunstâncias possíveis e imaginárias, na urgência de as elites portuguesas acometerem um exercício político assente no pactismo. Mas, passado algum tempo, a razão, essa eterna inimiga da falácia desbragada, obriga-me, quase que por inerência, a repensar o meu antigo zelo compromissório em face do que os responsáveis máximos do Partido Socialista proclamam aqui ou alhures. Não é que, perdoem-me a franqueza, as palavras de Seguro e companhia galambeana tenham, em rigor, a menor relevância prática e política para quem investe e dá o pastel ao Estado português, porque do parlapié ao fazer, isto é, do dichote ao meter as mãos na massa da governação vai, inegavelmente, uma grande distância. Contudo, é por de mais cansativo ter, diariamente, de observar as piruetas demagógicas do maior partido da oposição. No fundo, é esta a consequência maior de termos, enquanto país, guinado intelectualmente em direcção a um irracionalismo surrealizado, em que a verdade é um conceito, frequentemente, amoldado pelo "legislador" tribunício de ocasião. Com um pouco mais de empirismo na análise, talvez não se verificassem algumas destas penosas atoardas. Por enquanto, resta-nos a nós, portugueses da não-esquerda, observar e lamentar. Com algum riso à mistura.
A conversa da "solidariedade europeia" tem o módico problema de embater na dura realidade dos factos. Queremos o dinheiro alemão, mas não estamos dispostos a transigir no "modus vivendi" vigente. Há algum tempo atrás escrevi aqui no blog que o país carece de um compromisso histórico à portuguesa, de um entendimento amplo que reforme o inadiável. Em suma, necessitamos de um compromisso pragmático que congregue as rígidas vontades das nossas elites. A última semana provou que o meu anseio é uma utopia que em pouco difere das utopias desumanizadoras dos "sóis na terra". A pretensão dos que decidem limita-se, somente, à protecção enovelada das suas capelinhas, sendo que, no fim, é o zé povinho, e, why not?, os alemães, que pagam a factura. O relatório é uma mera peça na engrenagem da não-reforma. O que releva é a indisponibilidade de todos os actores, repito, todos os actores, para a consecução de um pacto que vá ao essencial. Porque o essencial é, como já dizia Renan, o despertar. Nem mais nem menos.