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Parte do PSD e do CDS está mentalmente presa em 2015. O PCP, em 1975. A IL ainda está entre 1944 e 1945, quando Friedrich Hayek publicou O Caminho para a Servidão e Karl Popper deu à estampa A Sociedade Aberta e os Seus Inimigos. Bastaria avançarem até 1960 para, a respeito do comunismo, encontrarem o mesmo Hayek, em The Constitution of Liberty, 30 anos antes do término da Guerra Fria, a afirmar o seguinte: “If, fifteen years ago, doctrinaire socialism appeared as the main danger to liberty, today it would be tilting at windmills to direct one's argument against it.”
É certo que, a Portugal, muitos acontecimentos e movimentos políticos e ideológicos chegam sempre com algum atraso. Mas já era tempo de os liberais perceberem que a Guerra Fria acabou há 30 anos e que o maior sinal da vitória do liberalismo é aquilo a que Michael Doyle chama “zona de paz liberal” - uma actualização da teoria da paz democrática elaborada a partir de Kant -, uma área composta por cerca de 100 países onde o jogo político se faz num campo estabelecido pelo liberalismo, implementado em vagas sucessivas desde as Revoluções Atlânticas, apoiado e gerido no pós-II Guerra Mundial pelos que anteriormente criticavam o liberalismo (democratas cristãos e social-democratas) e que é a sua maior dádiva à humanidade: o regime político da democracia liberal.
Claro que a insurgência dos liberais portugueses contra a comemoração do 100.º aniversário do PCP se percebe facilmente, não só pelo supramencionado, mas também porque incorrem em dois erros do liberalismo assinalados por conservadores e comunitaristas, segundo William M. Curtis: o ahistoricism e a abstracção racionalista míope, i.e., a formulação racionalista e abstracta de esquemas de direitos e de teorias da justiça desligados das experiências morais e políticas dos indivíduos, que “são condicionadas e enraizadas nas tradições normativas historicamente desenvolvidas da nossa comunidade política”; e as pretensões universalistas, ignorando os particularismos de cada sociedade e pretendendo aplicar um padrão de direitos e uma concepção de justiça a todas as sociedades independentemente das suas particularidades históricas.
Por outras palavras, o PCP não é o Partido Comunista da União Soviética e a História de Portugal também não é a História da União Soviética ou da China maoista. O mesmo não é dizer que o PCP e o comunismo em Portugal, com episódios execráveis, odiosos e trágicos como o PREC e as FP25 são imunes a críticas - muito longe disso. Mas a IL, ao fazer constantemente do PCP e do BE os seus principais adversários, está não só a condenar-se a não ultrapassar a mesma relevância política destes, como a demonstrar que não percebe a importância de, num país com a nossa história de violência política - os brandos costumes não passam de um mito salazarento -, os comunistas respeitarem as regras do jogo demoliberal. Nada de novo, porém, num país onde a indigência intelectual é a imagem de marca do debate político.
Quando, há uns dois meses, escrevi que iríamos assistir a mudanças sistémicas à escala global, não tomei partido quanto à direcção destas, isto é, não formulei nenhum juízo sobre se as mudanças seriam para melhor ou pior. Mais ou menos na mesma altura, começaram a manifestar-se na opinião pública aqueles que, pretendendo avançar as suas agendas ideológicas, logo vaticinaram velhinhos “amanhãs que cantam”. Muitos decretaram pela milésima vez a morte do liberalismo e do capitalismo e anunciaram um mundo novo marcado pela bondade e pela compreensão de que os nossos excessos das últimas décadas teriam necessariamente de dar lugar a um mundo mais harmonioso - uma manifestação da fé iluminista no progresso (seja lá este o que for). Outros, em posição diametralmente oposta, preferiram defender a globalização e a ortodoxia liberal, proclamando alguns deles, também pela milésima vez, o império da economia sobre a política, como se estas fossem mutuamente exclusivas.
Ora, o mais provável é que Richard Haass tenha razão, a crise acabará apenas por acelerar as tendências verificadas nos últimos anos. Os crentes nos diferentes progressismos parecem esquecer-se que a história não progride de forma linear e que há duas características da condição humana aparentemente imutáveis e frequentemente amalgamadas: a luta pelo poder e a estupidez.
Não é por acaso que o poder é o fenómeno central da Ciência Política, assim como na Teoria das Relações Internacionais, especialmente para realistas e neo-realistas, segundo os quais o poder é a moeda da política internacional e esta é sinónimo de power politics. Nem sequer o projecto de integração mais avançado no mundo escapa a isto, como temos vindo a aprender duramente desde 2008. Porém, em Portugal, não faltam defensores da narrativa espelhada na capa de uma revista holandesa, segundo a qual os países do norte da Europa são muito produtivos e frugais ao passo que os países do sul são pouco produtivos, gastadores e pedintes em relação aos do norte. Como já escrevi anteriormente, para estes, que no ano de 2020, tendo já passado pela crise do euro, ainda não conseguiram perceber que a União Económica e Monetária tem falhas estruturais conducentes a um funcionamento perverso que privilegia os países do norte e prejudica os do sul, dificilmente haverá salvação. Os seus vieses cognitivos e ideológicos, para além da ignorância da história do projecto de integração europeia, não lhes permitem vislumbrar e compreender a dimensão política, de luta pelo poder, no cerne do projecto do euro. Para outros, aqueles que acreditam num qualquer modelo de harmonia à escala global que descerá sobre todos nós em resultado da crise actual ou de outra qualquer, também não sei se haverá salvação, mas um estudo minimamente aturado da história da humanidade poderá ajudar a alcançar uma melhor compreensão da condição humana e da centralidade do poder nesta.
Por outro lado, a crise actual permitiu também perceber - se dúvidas houvesse - que a fé iluminista nas capacidades da razão humana é assaz sobrevalorizada. Num mundo hiper-mediático, a estupidez tornou-se particularmente visível. Entre líderes mundiais, lideranças políticas domésticas e burocratas que decidem e implementam medidas abstrusas, opinion makers que se aliviam de disparates e cidadãos que nas redes sociais partilham teorias da conspiração e óbvias fake news, este tem sido um período particularmente prolixo. Haverá muito trabalho para aqueles que se queiram dedicar a documentar as diversas manifestações de estupidez a que temos assistido, como o Nuno Resende aqui fez ontem. Certamente poderão apoiar-se nos trabalhos desenvolvidos por Paul Tabori e Carlo M. Cipolla.
Tenho lido críticas a uma certa direita trauliteira que não tem - nem remotamente - o nível intelectual e cultural de verdadeiras referências direitistas. De facto, do Observador às redes sociais, passando pelo CDS, a direita portuguesa tem-se tornado um espaço pouco recomendável, porque dominado por caceteiros, hiper-moralistas com telhados de vidro e que não passam de aprendizes de Maquiavel, muito economês, liberalismo de pacotilha e pouca ou nenhuma capacidade de pensamento e reflexão e de diálogo moderado e civilizado com outras perspectivas filosóficas, ideológicas e partidárias. Dir-me-ão que os jornais, os partidos e as redes sociais não são universidades ou think tanks, mas quer-me parecer que o grau de indigência intelectual não necessitava de ser tão elevado. Trata-se, tomando emprestada uma expressão, de uma direita analfabeta, uma direita que pouco ou nada lê, permeada por um dogmatismo impressionante para quem, como eu, subscreve o decálogo liberal de Bertrand Russell.
Não que a esquerda seja necessariamente melhor. Com efeito, continuamos a ter, como assinala José Adelino Maltez, "A direita e a esquerda mais estúpidas do mundo", que "são como aquelas claques da futebolítica que afectaram socrateiros e continuam a infestar certos coelheiros, segundo os quais quem não é por mim é contra mim, porque quem não é por estes é a favor dos outros. Eu continuo a seguir a velha máxima de Unamuno: o essencial do homem ocidental é ser do contra. Para poder ser qualquer coisinha..."
Na verdade, a direita que habitualmente critica a esquerda por esta se alcandorar a uma certa superioridade moral, mimetiza esta atitude, o seu modo de pensar e comportamentos. Ambas reflectem aquilo a que me referi como a política do dogmatismo e a política da utopia, ambas alicerçadas no que Oakeshott chamava de política racionalista ou política do livro, da cartilha ideológica. Afinal, como também há tempos escrevi, é muito fácil ser libertário ou comunista: "Não por acaso, para o esquerdista, o Estado é o principal instrumento a utilizar e o mercado é o principal inimigo a abater, enquanto para o libertário é precisamente o contrário. Um pensador conservador pensa a partir do real, das circunstâncias práticas, sem deixar de criticar a sociedade em que vive, encontrando no Estado e no mercado diferentes esferas da vida humana, ambas necessárias a uma sociedade livre e próspera; um pensador esquerdista ou um libertário pensam a partir de um qualquer ideal e clamam contra tudo o que não se conforma a esse ideal. O racionalismo dogmático ou construtivista do esquerdista ou do libertário que defendem um valor acima de todos os outros em qualquer tempo e lugar, independentemente das circunstâncias práticas, consubstancia a política dos mentalmente preguiçosos."
Talvez valha a pena relembrar uma célebre passagem de Alçada Baptista, para quem "Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.”
Ao que eu acrescento que conservadores não dogmáticos, que entendam a dimensão pluralista e flexível da reflexão e da praxis política a que alude Kekes, também já reparei que há muito poucos. Há muito poucas pessoas, em Portugal, que, atentando especificamente no domínio do político, compreendam o que Oakeshott transmitiu, em "On Being Conservative", ao considerar que a disposição conservadora não implica necessariamente quaisquer crenças religiosas, morais ou de outros domínios “acerca do universo, do mundo em geral ou da conduta humana em geral.” O que está implícito na disposição conservadora em política são “determinadas crenças acerca da actividade governativa e dos instrumentos do governo,” que nada "têm a ver com uma lei natural ou uma ordem providencial, nada têm a ver com a moral ou a religião; é a observação da nossa actual forma de viver combinada com a crença (que do nosso ponto de vista pode ser considerada apenas como uma hipótese) que governar é uma actividade específica e limitada, nomeadamente a provisão e a custódia de regras gerais de conduta, que são entendidas não como planos para impor actividades substantivas, mas como instrumentos que permitem às pessoas prosseguir as actividades que escolham com o mínimo de frustração, e portanto sobre a qual é adequado ser conservador."
Tendo eu passado por uma escola, o ISCSP, onde, citando Adriano Moreira, aprendi "a olhar em frente e para cima", tendo como referências mestres como José Adelino Maltez e Jaime Nogueira Pinto, tendo ao longo da última década lido e reflectido sobre diversos autores, como Hayek, Popper, Oakeshott e Kekes, ou seja, como alguém que privilegia o mundo intelectual sobre o político ou partidário, torna-se particularmente penoso não só constatar tudo o que acima escrevi, mas também continuar a compactuar com este estado de coisas através da minha condição de militante do CDS. Por tudo isto, solicitei hoje a minha desfiliação. Porque mais importante ainda do que ser do contra, é ser livre, e porque como escreveu Ortega y Gasset, "A obra intelectual aspira, com frequência em vão, a aclarar um pouco as coisas, enquanto que a do político, pelo contrário, costuma consistir em confundi-las mais do que já estavam. Ser da esquerda é, como ser da direita, uma das infinitas maneiras que o homem pode escolher para ser um imbecil: ambas são, com efeito, formas da hemiplegia moral."
Michel Houellebecq, Submissão:
Mas era sobretudo para os seus confrades islamoesquerdistas que reservava os grandes sarcasmos: o islamoesquerdismo, escrevia ele, era uma tentativa desesperada dos marxistas apodrecidos, em decomposição e estado de morte clínica, para se erguerem dos caixotes de lixo da história pendurando-se nas forças ascendentes do islão. No plano conceptual, prosseguia o Rediger, davam tanta vontade de rir como os célebres «nietzschianos de esquerda». (…) O Rediger voltava à questão do fracasso do comunismo – que era, afinal de contas, uma primeira tentativa de luta contra o individualismo liberal – e sublinhava que Trotsky tivera toda a razão, contrariamente a Estaline: o comunismo não poderia triunfar senão na condição de ser mundial. Ao islão aplicava-se, segundo ele, a mesma regra: seria universal ou não seria nada.
Roger Scruton, Fools, Frauds and Firebrands:
It is testimony to the success of communist propaganda that it has been able to persuade so many people that fascism and communism are polar opposites and that there is a single scale of political ideology stretching from ‘far left’ to ‘far right’. Thus, while communism is on the far left, it is simply one further stage along a road that all intellectuals must go in order not to be contaminated by the true evil of our times, which is fascism.
It is perhaps easier for an English writer than it is for an Italian to see through that nonsense, and to perceive what it is designed to conceal: the deep structural similarity between communism and fascism, both as theory and as practice, and their common antagonism to parliamentary and constitutional forms of government. Even if we accept the – highly fortuitous – identification of National Socialism and Italian Fascism, to speak of either as the true political opposite of communism is to betray the most superficial understanding of modern history. In truth there is an opposite of all the ‘isms’, and that is negotiated politics, without an ‘ism’ and without a goal other than the peaceful coexistence of rivals.
Communism, like fascism, involved the attempt to create a mass popular movement and a state bound together under the rule of a single party, in which there will be total cohesion around a common goal. It involved the elimination of opposition, by whatever means, and the replacement of ordered dispute between parties by clandestine ‘discussion’ within the single ruling elite. It involved taking control – ‘in the name of the people’ – of the means of communication and education, and instilling a principle of command throughout the economy.
Both movements regarded law as optional and constitutional constraints as irrelevant – for both were essentially revolutionary, led from above by an ‘iron discipline’. Both aimed to achieve a new kind of social order, unmediated by institutions, displaying an immediate and fraternal cohesiveness. And in pursuit of this ideal association – called a fascio by nineteenth-century Italian socialists – each movement created a form of militar government, involving the total mobilization of the entire populace, which could no longer do even the most peaceful-seeming things except in a spirit of war, and with an officer in charge. This mobilization was put on comic display, in the great parades and festivals that the two ideologies created for their own glorification.
Of course there are diferences. Fascist governments have sometimes come to power by democratic election, whereas communist governments have always relied on a coup d’état. And the public ideology of communism is one of equality and emancipation, while that of fascism emphasizes distinction and triumph. But the two systems resemble each other in all other aspects, and not least in their public art, which displays the same kind of bombast and kitsch – the same attempt to change reality by shouting at the top of the voice.
It will be said that communism is perhaps like that in practice, but only because the practice has betrayed the theory. Of course, the same could be said of fascism; but it has been an important leftist strategy, and a major component of Soviet post-war propaganda, to contrast a purely theoretical communism with ‘actually existing’ fascism, in other words to contrast a promised heaven with a real hell. This does not merely help with the recruitment of supporters: it reinforces the habit of thinking in dichotomies, of representing every choice as an either/or, of inducing the thought that the issue is simply one of for or against.
Esta semana assisti ao Tanto para Conversar, o programa nocturno de conversa amena na RTP2, na qual Ricardo Araújo Pereira, na vertigem do seu establishment, justificou a sua opção em ser de esquerda e comunista socorrendo-se do pensamento de Norberto Bobbio no seu livro Direita e Esquerda. Cito RAP: “As pessoas de esquerda acham que as pessoas são mais iguais do que desiguais; para as pessoas de esquerda é natural que a sociedade tenda a reproduzir essa igualdade; as pessoas de direita acham que as pessoas são mais desiguais do que iguais, portanto para as pessoas de direita, se umas têm mais mérito do que as outras, é até justo que a sociedade reproduza essa desigualdade”.
Pode dizer-se que na cabeça comunista de RAP o pensamento de Bobbio faz todo o sentido excepto, diria eu, em dois pequenos detalhes. O primeiro detalhe é que a esquerda comunista não vê os homens todos como mais iguais, distingue claramente "os ricos” como inimigos da sociedade. O segundo detalhe é que a esquerda comunista não reproduz a igualdade dos homens, utiliza apenas meios “extraordinários” para erradicar "os ricos”. Também nisto da esquerda/direita o diabo está, como sempre, nos detalhes.
"The problem with abortion at a philosophical level, aside from the "killing" aspect, is that it indicates a degree of societal depravity that puts little or no value on the weak and vulnerable. It's a society of contradictions too, in that it says we should care for the mentally incapacitated with special needs, yet kill others who are equally weak and vulnerable. It is also a slippery slope, if it is morally justifiable to kill a fetus, why not a newborn? If a newborn, why not an infant? If an infant, why not an autistic child? If an autistic child, why not an adult with severe retardation? If them, why not the old with dementia in a permanently vegetative state? It is not only the art of deception, mostly self-deception, but the art of justification. Soon, like the eugenicists of the early 20th century, we will justify all sorts of depravity on anyone not cut of the same "perfect" cloth as ourselves. After all, it is justifiable to remove the undesirables, the unproductive deadweight in society is it not? The philosophical error stems from in the first place devaluing human life."
- Chris Callais
No aniversário da tramitação do caso Roe vs Wade, Obama e a Casa Branca, via Twitter, não se abstiveram de promover a agenda abortista em nome "do acesso da mulher à saúde".
Deste lado, está quase a assinalar-se o sétimo ano desde que passou a ser permitido, bem como subsidiado, o assassinato de inocentes sem voz.
Cantando e rindo, preocupados com saias, subsídios, ronaldos e outros dildos que colmatem a ausência de coluna vertebral.
"Pior do que um cão, ideologicamente doente e extremamente inactivo, escumalha, corrupto, traidor, debochado, batoteiro, gatuno do partido, toxicodependente, chulo e contrarevolucionário. "
Estaline não teria engendrado melhor libelo. E era este homem o tio de Kim e a segunda cabeça do regime norte-coreano.
A cena remete-nos à Moscovo da década de trinta. Foram buscar o parente do pícnico Querido Sucessor ao salão de reuniões da nomenklatura local, arrastando-o até ao pelotão de execução que o aguardava. "Dizem que" houve um julgamento sumário.
A verdadeira razão desta purga, parece descobrir-se numa frase:
"O grupo de Jang Song-thaek cometeu actos contra o partido, minando a sua unidade e coesão e perturbando o trabalho para estabelecer o sistema de liderança único".
Já tem um título, o de Traidor Eterno.
Em suma, missing in action.
Não percebo de onde veio a ideia, talvez seja mais uma daquelas solidariedades anti-imperialistas, desta vez fazendo fosquinhas aos industriosos cultivadores afegãos. O símbolo é uma boa escolha, pois já não é suportável passarmos o resto das nossas vidinhas deparando com as carantonhas do embalsamado Lenine, do picareta Trotsky, da compostada Rosa Luxemburgo, da familória Kim, do óxido Hoxha, do "Moisés do Maputo", do mau Mao, etc.
À falta de uma heroína, bem podem adoptar como hino esta velha canção portuguesa que o video apresenta, aliás bem própria para estes momentos de "inspiração".
Um dos dados preocupantes da noite: o ressurgimento comunista. O espírito totalitário de alguns portugueses desguarnecidos de inteligência voltou à tona.
"A morte de António Borges
Não me espanta mesmo nada a displicência enfadada com que foi pela Esquerda acolhida a notícia da morte de António Borges, por contraste com a comoção homérica que provocou odesaparecimento de Miguel Portas. A Esquerda sempre teve dois pesos e duas medidas. Um dos postulados capitais, basilares do comunismo sempre foi, e continua a ser, o de que a moral deles é diferente e superior à dos outros. Defendem os pobrezinhos, pugnam pela igualdade dos homens, prometem construir sociedades em que cada um receba o que precisa independentemente do que merece, almejam a felicidade e o bem-estar universais. O Bem está do lado deles. Por isso mesmo — e atente-se na perversão contida neste (aparente) paradoxo — podem perpetrar o Mal à vontade, sem limites nem escrúpulos de qualquer ordem. Trotski, como aliás Lenine e sobretudo Estaline, foram explícitos a este respeito: os comunistas podem sequestrar crianças, matar pais e filhos e avós, dizimar populações inteiras à custa de fomes deliberadamente provocadas, prender, torturar, executar e deportar milhões de pessoas, perseguir ciganos, judeus e homossexuais, sem que por isso percam uns minutos a vasculhar qualquer culpa albergada nalguma prega recôndita da sua massa encefálica, ou sem que ao menos lhes ocorra proceder a um exame, ainda que perfunctório, das suas consciências. Sempre estiveram e continuam perfeitamente tranquilas, apesar dos crimes inqualificáveis que cometeram.
Sempre me repugnou a condescendência generalizada — sim, generalizada à esquerda e à direita — de que os comunistas beneficiam e sempre beneficiaram. A razão disso não é difícil de descortinar. Praticaram atrocidades, mas foi pelas razões mais justas, belas e humanitárias do mundo, ao passo que Hitler assassinou milhões de judeus inocentes por um motivo que lhes não podia ser imputado, o facto de terem nascido judeus. É verdade que assim foi, desgraçadamente. Mas quem ler alguma coisinha de história do regime soviético aperceber-se-á rapidamente de que os kulaks, de classe social que eram, foram transformados pelo estalinismo numa raça ou etnia: os filhos de alegados kulaks, tão inocentes como os judeus massacrados pelos nazis, eram perseguidos, presos e mortos precisamente por isso — por serem filhos de kulaks: a peste transmitia-se de pais para filhos e netos; aliás, “kulak” tornou-se um insulto como foi o de “fascista” a seguir ao 25 de Abril: um epíteto depreciativo ou até odioso, completamente desligado da sua significação político-sociológica original. E, na Pátria dos Trabalhadores, ser kulak, real ou inventado, serviu de desculpa política para toda a casta de perseguições e assassinatos. Depois, a Rússia teve um papel decisivo na derrota da Alemanha na II Guerra Mundial, e isso, aos olhos de um Ocidente capitalista eternamente culpabilizado — por motivos longos de explicar — tornou ainda mais luminosa a auréola que emoldurava o Comunismo.
Mas não foi preciso esperar pelo desfecho da II Guerra Mundial para que um regime bárbaro e sanguinário acabasse bafejado pelas boas graças do Ocidente e em especial pelos respectivos intelectuais, salvo honrosas excepções como Aron ou Camus. Em meados dos anos trinta do séc. XX, Boris Souvarine tentou esforçadamente publicar em França uma biografia de Estaline, tendo submetido a obra (que ainda hoje se recomenda (1)) à Gallimard. Dada a ausência de resposta, Georges Bataille intercedeu junto de André Malraux, membro do comité de leitura da editora. Eis a resposta dada por este ilustre e celebrado intelectual de esquerda, um medalhado da Democracia: “Je pense que vous avez raison, vous, Souvarine et vos amis, mais je serai avec vous quand vous serez les plus forts.” (2) O curioso está em que mesmo hoje, quando já são eles os mais fracos, continuam, em países como Portugal, a beneficiar de um respeito e consideração que o seu passado, nunca renegado, em absoluto não autoriza.
Nunca os comunistas portugueses admitiram qualquer erro ou crime e ainda menos qualquer culpa. Nunca se demarcaram do estalinismo — nunca fizeram a mais leve autocrítica — e, para meu espanto e de muitas pessoas, acham-se os verdadeiros democratas e lutadores pela liberdade. Esta arrogância moral brada aos céus. Mas o Jerónimo e a sua capelinha lá estão sentados no Parlamento, falando em nome da Democracia e — pasme-se — de Portugal e dos Portugueses, enquanto o já não tão jovem Bernardino defende nos Passos Perdidos, em frente às câmaras de televisão, que a Coreia do Norte é um regime democrático. Que dizer de Cuba, esse paradisíaco santuário dos pobres e desvalidos do mundo, onde a Liberdade nos entra pelas narinas! Quando em 1991 os comunistas russos ensaiaram um golpe de Estado para liquidar Gorbatchov e asfixiar novamente a União Soviética, os comunistas portugueses rezaram para que o golpe triunfasse, e não conseguiram disfarçar o seu desgosto e frustração pelo desfecho vitorioso da liberdade.
Isto — esta recusa em olhar de frente o passado e reconhecer o crime — cava em Portugal um fosso intransponível entre a Democracia e o Comunismo: está aqui a raiz da impossibilidade de diálogo, a origem de um insanável desaguisado que nos transforma em inimigos e nos impede de discutir ideias racionais como adversários polidos e civilizados. Mas então, e a Esquerda não comunista? A Esquerda socialista ou não alinhada? (Não me detenho no Bloco para não gastar espaço com minudências.) A Esquerda socialista e não alinhada não renega as suas remotas origens, como um filho não renega um pai alcoólico ou ladrão; e, mais decisivo, partilha com os comunistas, embora mais discretamente, a aversão pela Liberdade tal como os liberais a entendem, e abominam o regime capitalista em que ela nasceu, germinou e se expandiu (3). Para António Borges está naturalmente guardada uma olímpica indiferença ou um aberto desprezo."
1) Última edição: Paris, Éditions Gérard Lebovici, 1985.
2) Idem, p. 12.
3) Isaiah Berlin, Four Essays on Liberty, Oxford
University Press, 1969 (várias reimpressões).
«(...) O que estamos acostumados a ler nos boletins de convocação do Dia da Mulher é a história de uma greve, que aconteceu em Nova Iorque, em 1857, na qual 129 operárias morreram depois de os patrões terem incendiado a fábrica ocupada.
A primeira menção a essa greve, sem nenhum dos detalhes que serão acrescentados posteriormente, aparece no jornal do Partido Comunista Francês, na véspera do 8 de Março de 1955. Mas onde se dá a fixação da data do 8 de março, devido a esta greve, é numa publicação, que apareceu em Berlim, na então República Democrática Alemã, da Federação Internacional Democrática das Mulheres. O boletim é de 1966.
O artigo fala rapidamente, em três linhas, do incêndio que teria ocorrido em 8 de março de 1857 e depois diz que em 1910, durante a 2ª Conferência da Mulher Socialista, a dirigente do Partido Socialdemocrata Alemão, Clara Zetkin, em lembrança à data da greve das tecelãs americanas, 53 anos antes, teria proposto o 8 de Março como data do Dia Internacional da Mulher.
A confusão feita pelo jornal L ´Humanité não fala das 129 mulheres queimadas. Aonde se começa a falar desta mulheres queimadas é na publicação da Federação das Mulheres Alemã, alguns anos depois. Esta historinha fictícia teve origem, provavelmente, em duas outras greves ocorridas na mesma cidade de Nova Iorque, mas em outra época. A primeira foi uma longa greve real, de costureiras, que durou de 22 de novembro de 1909 a 15 de fevereiro de 1910.
A segunda foi uma outra greve, uma das tantas lutas da classe operária, no começo do século XX, nos EUA. Esta aconteceu na mesma cidade em 1911. Nessa greve, em 29 de março [corrigindo: 25 de Março], foi registrada a morte, durante um incêndio, causado pela falta de segurança nas péssimas instalações de uma fábrica têxtil, de 146 pessoas, na maioria mulheres imigrantes judias e italianas.
(Foto do incêndio na fábrica Triangle Shirtwaist, Nova Iorque, em 1911. Fotos deste acontecimento têm circulado como sendo da suposta greve de 1857. Fonte: Wikipedia)
Esse incêndio foi, evidentemente, descrito pelos jornais socialistas, numerosos nos EUA naqueles anos, como um crime cometido pelos patrões, pelo capitalismo.
Essa fábrica pegando fogo, com dezenas de operárias se jogando do oitavo andar, em chamas, nos dá a pista do nascimento do mito daquela greve de 1857, na qual teriam morrido 129 operárias num incêndio provocado propositadamente pelos patrões.
E como se chegou a criar toda a história de 1857? Por que aquele ano? Por que nos EUA? A explicação, provavelmente, é a combinação de casualidades, sem plano diabólico pré-estabelecido. Assim como nascem todos os mitos.
A canadense Renée Côté pesquisou, durante dez anos, em todos os arquivos da Europa, EUA e Canadá e não encontrou nenhuma traça da greve de 1857. Nem nos jornais da grande imprensa da época, nem em qualquer outra fonte de memórias das lutas operárias.
Ela afirma e reafirma que essa greve nunca existiu. É um mito criado por causa da confusão com as greves de 1910; de 1911, nos EUA; e 1917, na Rússia.
Essa confusão se deu por motivos históricos políticos, ideológicos e psicológicos que ficarão claros no fim do artigo.
Pouco a pouco, o mito dessa greve das 129 operárias queimadas vivas se firmou e apagou da memória histórica das mulheres e dos homens outras datas reais de greves e congressos socialistas que determinaram o Dia das Mulheres, sua data de comemoração e seu caráter político.
Já em 1970, o mito das mulheres queimadas vivas estava firmado. Rapidamente foi feita a síntese de uma greve que nunca existiu, a de 1857, com as outras duas, de costureiras, que ocorreram em 1910 e 1911, em Nova Iorque.
Nesse ano de 1970, com centenas de milhares de mulheres americanas participando de enormes manifestações contra a guerra do Vietnã e com um forte movimento feminista, em Baltimore, EUA, é publicado o boletim Mulheres-Jornal da Libertação. Neste já se reafirmava e se consolidava a versão do mito de 1857.
Mas, na França, essa confusão não foi aceita tranqüilamente por todas e todos. O jornal nº 0, de 8 de março de 1977, História d´Elas, publicado em Paris, alerta para esta mistura de datas e diz que, em longas pesquisas, nada se encontrou sobre a famosa greve de Nova Iorque, em 1857. Mas o alerta não teve eco.
Dolores Farias, no seu artigo no Brasil de Fato, nº 2, nos lembra que, em 1975, a ONU declarou a década de 75 a 85 como a década da mulher e reconheceu o 8 de março como o seu dia. Logo após, em 1977, a Unesco reconhece oficialmente este dia como o Dia da Mulher, em homenagem às 129 operárias queimadas vivas.
No ano de 1978, o prefeito de Nova Iorque, na resolução nº 14, de 24/1, reafirma o 8 de março como Dia Internacional da Mulher, a ser comemorado oficialmente na cidade de Nova Iorque.
Na resolução, cita expressamente a greve das operárias de 1857, por aumento de salário e por 12 horas de trabalho diário, e mistura esta greve fictícia com uma greve real que começou em 20 de novembro de 1909. O mito estava fixado, firmado e consolidado. Agora era só repeti-lo.
Por que a cor lilás?
A partir de 1980, o mundo todo contará esta história acreditando ser verdadeira. Aparecerá até um pano de cor lilás, que as mulheres estariam tecendo antes da greve. Daquela greve que não existiu. A mitologia nasce assim. Cada contador acrescenta um pouquinho. “Quem conta um conto aumenta um ponto”, diz nosso ditado.
Por que não vermelho? Porque vermelhas eram as bandeiras das mulheres da Internacional. Vermelhas eram as bandeiras de Clara Zetkin, Rosa Luxemburgo e Alexandra Kollontai, delegadas dos seus partidos, à 1ª Conferência das Mulheres Socialistas, em 1907; e da 2ª, na Dinamarca, em 1910. Nesta última foi decidido que as delegadas, nos seus países, deveriam comemorar o Dia da Mulher Socialista.(...)»
Artigo completo: «O Dia da Mulher nasceu das mulheres socialistas», por Vito Gianotti, no Núcleo Piratininga de Comunicação (que não é propriamente de extrema-direita...).
George Steiner, A Ideia de Europa:
«A minha mulher e eu tivemos o privilégio de sermos convidados por Nadine Gordimer para a sua bela casa na Cidade do Cabo durante os maus momentos, os momentos que antecederam a libertação. Ela convidou os chefes do ANC, do Movimento de Resistência Nacional, incluindo os chefes militares, para jantar. Os carros da Polícia estavam estacionados à porta e anotavam os nomes de todos os convidados, mas não tocaram em Nadine. Estava-se completamente seguro. Anotavam simplesmente quem chegava para o jantar. Em toda a minha vida, o meu dom principal tem sido uma falta de tacto assinalável – confesso-me culpado. Assim, perguntei finalmente àqueles três grandes chefes: «Ouçam, a ocupação pelas Waffen SS foi muito má: eles eram muito bons a ocupar. Mas, de tempos a tempos, matava-se um dos sacanas. Vocês não tocaram num homem branco. Nem um. Em Joanesburgo, os números são de treze para um. Na rua, basta fechar os braços para sufocar uma pessoa branca. Nem sequer é preciso ter armas. Treze para um. Que diabo se passa?» Um dos chefes do ANC disse: «Eu posso responder. Os cristãos têm os evangelhos, vocês, judeus, têm o Talmude, o Antigo Testamento, o Mishnah, os meus camaradas comunistas a esta mesa têm Das Kapital. Nós, negros, não temos nenhum livro.»
Foi um momento tremendo, para mim. A herança de Atenas a Jerusalém, de que temos um livro, de que temos vários livros. Aquela foi uma resposta avassaladoramente triste e persuasiva: «Não temos nenhum livro.»
No seu discurso desta manhã, o deputado Honório Novo, de longe o melhor que o PC tem para oferecer como imagem, resmungava algo a respeito de cortes e juros. Referia-se à dívida, claro.
Talvez não fosse uma má ideia sugerirmos aos comunistas um reavaliar da história e procedimentos de alguns dos regimes que lhes serviram de modelo. O Conducator Ceausescu conseguiu a extraordinária proeza de rapidamente pagar "a todo o custo" a dívida romena, ficando assim sob a alçada daquela máxima outrora proferida por D. João V, garantindo orgulhosamente que "não devo nem temo".
Radical cerceamento da alimentação de todos os romenos, quando o PCR afiançou que a carne, o leite, o peixe, os ovos e outros bens essenciais como o pão, eram perniciosos à boa saúde da população. Completa destruição da assistência médica e abrupto fim das obras públicas, fossem elas de construção ou manutenção de infraestruturas. Proibição de qualquer tipo de importações, mesmo que isso significasse a morte nos hospitais e o envelhecimento do aparelho produtivo controlado pelo Estado. Descalabro na área do ensino, encerrando-se cantinas escolares e concentrando-se alunos em salas congestionadas. Radical corte na investigação científica e ponto final nos subsídios à cultura.
Foi este o projecto Ceausescu para o pagamento da dívida romena. Apenas abriu uma única excepção, fazendo arrasar uma parte da Bucareste histórica e erguendo o chamado Palácio do Povo, um colossal monumento a si próprio.
O PC que pense no assunto, pois ainda não houve em S. Bento quem ousasse chamá-lo à razão. Ou já se esqueceu Honório Novo da deplorável fuga de helicóptero e daquele vergonhoso julgamento-farsa engendrado por outros camaradas "dissidentes"? Telefonem a Illiescu, ele saberá explicar os factos.
Parece que teremos uma reedição da frente de esquerda de outros tempos, mas desta vez amalgamando Estaline e Trotsky. Pelo menos, é isso que o Grande Coordenador Louçã parece desejar, mesmo que a contragosto. Seria excelente verificarmos a mistura daquela água choca da Lubianka, com o mais fino azeite da Lapa. Enfim, urge começarmos desde já a sugerir siglas para essa possível frente eleitoral comuno-comuna. Já tivemos outras noutros tempos e deram no que deram de tal forma, que hoje em dia o PC sujeitou-se a capturar a denominação do partido demo-cristão da sra. Merkel: CDU.
Nos idos anos de 1976, existiu a FEPU - nos seus melhores dias atingiria a bonita soma de 19,04% dos votos, arrebanhados pelo PC, MDP-Tengarrinha e FSP do Manecas das Intentas -, logo seguida da APU dos 18,8%. Outros tempos, mas de possível e desejável remix.
Aceitam-se sugestões.
Aqui está mais um exemplo a somar à sempre querida Cuba e ao delírio democrático coreano tão abertamente reabilitado por Bernardino Soares. Em paragens bem próximas e fronteiriças da União Europeia, existe uma espécie de Bordúria - de seu verdadeiro nome Rússia Branca - que é um modelo a seguir para a "nova democracia" que alguns dos nossos manifestantes tanto almejam. Com uma diferença: na Bielorrússia, quando as garrafas de cerveja se escaqueiram no chão, têm um significado bem diverso. O PC que o diga, é perito na matéria.
Minsk proporciona hoje, uma boa ocasião para uma champanhada na Soeiro Pereira Gomes. Nem um candidato da oposição foi eleito. O defunto sr. Honnecker sempre sabia disfarçar, organizando uma Câmara "do Povo" com umas excentricidades vermelhas, mas ostentando curiosas siglas como CDU, NPDP, etc. Bravo, Lukashenko não está para rodeios!
Numa espécie de Britcom antes de sábado à noite, a SIC acabou de passar uma flash-entrevista com camarada Carmelinda Pereira, Espantosa Líder do Partido Operário de Unidade Socialista, comummente desconhecido como POUS, uma sigla de sonoridade a lembrar digestão feita. Esta é uma antiguidade dos tempos da AD, enfim, um alegre momento para o album das Recordações de Sempre.
«BEIJING — The document, written by Communist Party investigators as famine raged in China in 1961, reads almost like a cookbook.
In Qiaotou district, in Sichuan Province, “An old lady named Luo Wenxiu was the first to start consuming human flesh,” investigators wrote. “After an entire family of seven had died, Luo dug up the body of the 3-year-old girl, Ma Fahui. She sliced up the girl’s flesh and spiced it with chili peppers before steaming and eating it.” The report, dated Feb. 9 of that year, is one of more than 100 astonishing documents collected by the historian Zhou Xun in a new book about Mao Zedong’s Great Leap Forward, published by Yale University Press.
In another, an investigator recounted how the body of a 5-year-old Sichuan boy provided “four separate meals” for his mother, who strangled him with a towel first. “Such shocking and disturbing incidents are by no means unique,” the investigator, Wang Deming, wrote in the report dated Jan. 27.
Unlike the horrors of the Soviet gulag or the Holocaust, what happened in China during the Great Leap Forward has received little attention from the larger world, “even though it is one of the worst catastrophes in twentieth-century history,” writes Ms. Zhou, an assistant professor of history at the University of Hong Kong, in the introduction to “The Great Famine in China, 1958-1962.”
“In China itself, the famine is a dark episode, one that is not discussed or officially recognized,” she writes.»
A Great Leap Into the Abyss - no New York Times.