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Que se lixe a queda na bolsa das acções do Banco Espírito Santo (BES). O mais grave de tudo isto tem a ver com um valor intangível: a confiança. Por causa de salafrários como Ricardo Salgado, Jardim Gonçalves, José Sócrates ou Vale e Azevedo, para nomear apenas alguns de um imenso caldeirão de bandidos, o país inteiro passou a estar sob suspeita. A cada 24 horas que passa nasce mais uma extensão de uma longa novela de prevaricação. Acordamos, e mais três são implicados. Um deles, o delfim-genro de Ernâni Lopes, de seu nome Joaquim Goes (melhor aluno da Universidade Católica, segundo consta). Por causa destes sujeitos, já nem confiamos na Dona Ercília da Mercearia do bairro - "O pão é de hoje? É sim senhor. Acabadinho de chegar na Sexta-feira passada". Para além de todos os processos judiciais que possam decorrer da investigação às actividades financeiras destes indivíduos e dos grémios que os viram nascer, o povo português deveria levá-los à barra dos tribunais por danos morais e psicológicos causados. Deixamos de confiar. Qualquer coisa que mexa ficamos logo em sobressalto - de pé atrás. Começamos (ou continuamos) a ter dúvidas sobre as grandes instituições financeiras e os seus timoneiros, mas também a vacilar em relação à oficina de reparação da viatura e a conta apresentada, ou por causa da extensa lista de medicamentos inscritos na receita do dermatologista lá da seguradora. O português tem motivos para desconfiar. O cidadão nacional tem razões para olhar sobre os seus ombros. O povo, por estas razões todas, tem a obrigação de escrutinar os políticos, de espremê-los até ao tutano. Se não o fizer, a porta ficará aberta para ainda maiores desgraças. Entretanto, esta estória, para além de mal contada, está longe do seu desfecho.
Passos Coelho ou Cavaco Silva não podem fazer o que o Papa Francisco acaba de fazer. Pegar no telefone e ligar para um cidadão com o intuito de lhe dar alento, esperança. Que fique bem assente: não professo nenhuma religião em particular nem trabalho para a companhia de telefones. O que confirmo nesta chamada relaciona-se com a perda do mínimo denominador comum que liga os homens, a ligação empática. Os actuais governantes perderam a nação, mas também perderam a noção de que essa entidade sagrada não pode ser violada. Quando um lider perde o direito de estabelecer a ligação com o cidadão comum é porque a coisa não corre bem. Eu sei que estão a pensar nos soldados da paz e a falta que o abraço lhes fez. Mas, por outro lado, talvez já não queiram sentir "essa" mão no ombro. Se um número de telefone fosse discado e a chamada aterrasse na casa de um desempregado, de alguém caído fora do sistema, não sei se o contacto do call center seria um incómodo ou não. Oh, Passos, não tens nada melhor que fazer? Vai chatear outro. Desampara a loja. As telecomunicações políticas já não são o que eram. O que resta para que não desliguem o telefone na cara? Os outdoors das campanhas autárquicas? Os panfletos e as brochuras obscenas? Um homem como o Papa Francisco rasgou o protocolo e carregou o cartão de chamadas. Fala de igual para igual com os seus interlocutores. E é disso mesmo que se trata - credibilidade. A refundação da relação lider-seguidor, o restabelecimento da confiança a partir do grão inicial. Enquanto esse grau de proximidade não for restabelecido os governantes terão de continuar a emissão a partir de uma torre de marfim, um castelo de cartas.