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Sou Diáspora

por joshua, em 24.12.13

Conselho da Diáspora Portuguesa (foto LUSA)Em Cristo, sou dispersão e unidade numa só errância peregrinante comum ao Género Humano. Como Poeta, sou uno e sou vário, porque sou eu mesmo e tudo quanto o meu próximo sofra e sinta, desdobrado nele. Como Profeta, qualquer um o é!, pulverizo-me no corpo e na alma da Palavra, luto pelos Valores da Vida e da Liberdade, pela Justiça Inacabada, pela Tradição e a Sabedoria Acumulada. Disperso no mundo novo em que emoções e volições se entrechocam virtualmente, todos os dias abro os lábios para existir e agir na Rede. Grátis.

 

Disperso, à procura de Gente Capaz de Amar e de Crer e à procura de mim mesmo calibrado na grande demanda interior pela Paz. Os meus caminhos de diáspora íntima vão cunhados em grego antigo, διασπορά: eu sou milhões de portugueses. Fui deslocado violentamente da hipótese de emprego pela Corrupção Endémica do meu País. Fui forçado, incentivado a emigrar e na verdade emigrei dentro de mim mesmo, passando a existir sobretudo enquanto activista cívico-político na Rede, suspenso, sem corpo, platonizado, intelectualizado e sensual, mas dessensorializado, vertido nas plataformas de opinião e confrontação agreste ou pacífica do mundo virtual, todos os dias.

 

Sou um só e ímpar no Cosmos. No entanto, pertenço a essa grande massa de portugueses espezinhados pelas elites político-económicas, essas que legislaram em seu próprio favor durante décadas; essas que durante décadas urdiram leis que os excepcionam da Justiça apesar de a proclamarem e proclamarem «Povo» e «Liberdade» e «Progresso», na sonolência dos colóquios; essas que se perpetuam nas rendas, na ordem mediática, e se cevam através da grosseira exploração da grande maioria de que faço parte; essas que prosperam mediante as lógicas de fechamento em torno de si mesmas e dos privilégios adquiridos e intocáveis que tomaram para si e só para si. Sou Diáspora, forjado no sofrimento e para o sofrimento. Por isso esbofeteio a saudade e o fado com um pontapé rijo no entrepernas.

 

O Conselho da Diáspora está talhado para mim, para a minha Diáspora no Âmago, igual à Diáspora Física e Emocional de milhões de portugueses que foram aportuguesar longe, lusificar, aculturar bairros, fábricas, escritórios, lojas, Bancos, e tão calados, cumpridores, obedientes e discretos que os povos de acolhimento os tomam por sub-espanhóis ou sul-americanos, gente cinza e inócua que cumpre exactamente o que deve. O Conselho da Diáspora exala sucesso, capacidade, contactos, trabalho, dinheiro. Ó coisa boa que Cavaco pariu! É bom que me represente, anónimo, perdido, esmagado, esquecido, traído, escavacado pelo PS Dissoluto-Dissipador, e bode-expiado por PSD e CDS-PP em modo SOS.

 

O Povo Hebreu, desde o exílio na Babilônia no século VI a. C. e, especialmente, depois da destruição de Jerusalém em 70 d.C., experimentou a desterritorialização nacional, o expatriamento de milhares, mas não a excisão de uma Alma verdadeiramente comum e um sonho por que viver onde quer que esivesse e como quer que fosse perseguido em Pogrom-погром e outras sábias limpezas seculares europeias-médio-orientais. O Povo Português, desde o século de Camões, inventou uma Diáspora Colonizadora e Aventureira, forjada na dor e na ousadia, uma Diáspora Conquistadora, Militar, Evangelizadora, Pícara, feita de coragem e com o ar discreto evangélico do não saiba tua mão esquerda o que faz a direita.

 

Por isso, ainda hoje meio-mundo não imagina quem somos, o que fazemos e o que fizemos. E esse anonimato e esvaziamento identitário de Portugal num Mundo Globalizado é somente a outra metade desta tragédia processional de quatro décadas lentas, o nosso desgoverno cheio de Esquerda e boas intenções.

 

Sou Diáspora. E tu, Tuga, também és. Ou não és nada.

publicado às 09:01

Cavaco Silva brinca com a Diáspora

por John Wolf, em 24.12.13

Deve ter sido Cavaco Silva, co-adjuvado por um servente, que teve a magnífica ideia de baptizar o certame de "Conselho da Diáspora Portuguesa". Será que não sabe a origem do termo? A Diáspora é uma daquelas expressões reservada para a singularidade negativa da história. A Diáspora tem a ver com a fuga perpetrada por indíviduos que nunca chegaram a ser bem-vindos nas comunidades em que se encontravam. Os judeus que escaparam ao churrasco da Inquisição, que foram expulsos ou que fugiram a sete pés de Portugal, corporizam a própria definição de Diáspora. É de um extremo mau gosto semântico e cultural, associar este encontro de campeões portugueses ao conceito de Diáspora. Os 30 eleitos para promover Portugal no mundo, que eu saiba, não foram perseguidos por motivos religiosos ou étnicos. Saíram de Portugal de um modo confortável para ocupar lugares de destaque, por mérito próprio, ou, quem sabe, por terem conhecimentos na rede de influência internacional da área dos negócios, da academia ou dos media. Estes embaixadores já têm a cama feita, e não percebo, que a toque de caixa, agora repitam o chavão de John Fitzgerald Kennedy -"ask not what my country can do for me but what I can do for my country'" (não perguntes o que o país pode fazer por ti, mas o que podes fazer pelo país). Os trinta magníficos apresentam-se como perfeitos entendedores da angústia da mala de cartão, mas aos olhos dos portugueses a caminho do banlieu, são privilegiados com laivos de misericórdia, com a necessidade de ficarem bem na fotografia para o caso de alguém perguntar: onde estavas quando Portugal ruiu? Eu? Então não sabes? Sou um dos eleitos - um dos conselheiros da Diáspora. Minhas senhoras e meus senhores, a Diáspora não é algo com que se brinque de ânimo leve. Está intimamente ligada ao conceito de genocídio, limpeza étnica, perseguição e exclusão discriminatória numa sociedade. Seria tão bom que antes de brincarem aos "justos e bons", percebessem que mexem com consciências e fantasmas históricos que não podem ser evocados desta forma boçal. Estes embaixadores nunca seriam os escolhidos para representar a memória da verdadeira diáspora, quanto mais para representar os milhares de portugueses que estão de partida da Portela em busca de melhores dias. Um pouco de bom-senso e cultura seriam mais que bem-vindos nesta ocasião, mas isso seria esperar muito de uma pequena casa situada em Belém.

publicado às 07:18






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