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Não sou um especialista. Não sou um fiscalista. Não sou constitucionalista. Não sou político. E não sei se o bater do meu coração é público ou privado. Já não sei nada. Mas arrisco o seguinte: o governo de Portugal está a mexer de um modo irresponsável em conceitos existenciais profundos. Coloca em causa uma tese que ouso avançar: os direitos, liberdades e garantias do próprio Estado estão a ser postos em causa. O governo que cessa os contratos de associação com os colégios privados abre uma enorme caixa de Pandora. A cisão, profundamente ideológica, arrasta para o debate todos os domínios existenciais do exercício de prerrogativas do Estado. O mais perverso desta acção de manipulação é que se trata de uma purga interna. Como se a partir de agora fosse tabu o Estado emprestar a mão a privados. Ao demarcar uma linha tão áspera, o governo em funções, relança rancores ideológicos do antigo regime, reaviva dissabores que obrigam Portugal a regressar a tempos penosos. Divide um país entre bons e maus, oprimidos e exploradores. Na testa dos portugueses passam a estar tatuadas as palavras privado ou público. O governo colide com o conceito que o define, com a sua missão de redistribuição e justiça social. Deveria na minha opinião criar dois regimes contributivos. Um para aqueles que desejem ver os seus impostos servir as causas públicas, e outro para os que defendem que o seu dinheiro deve ser usado exclusivamente em prol de causas privadas. Quando as coisas dão para o torto na função pública o que faz o governo? Recorre à fígura da requisição civil. Ou seja, são os privados que emprestam a mangueira para apagar os fogos. Este país está a tornar-se cada vez mais ridículo. E muito por culpa dos que estão no governo. Um dia precisarei da vossa ajuda. E onde ireis estar? A secretária de Estado da Educação, que alegadamente tem descendência a estudar na Escola Alemã, devia ficar caladinha. São os contribuintes alemães que financiam uma parte da operação desse colégio. Assunto encerrado.
Bem-vindos à República Venezuelana Socialista de Portugal. O que António Costa acaba de proferir em jeito de ameaça revolucionária diz respeito à credibilidade de um país. Fere mortalmente a palavra de uma nação. Viola a legimitidade privada no exercício da liberdade de expressão económica. Mata Adam Smith, desonra os irmãos Wright, a iniciativa privada, assim como as ideias e os valores consagrados em qualquer contrato social, o respeito mútuo e as garantias dos cidadãos na prossecução dos seus interesses. O mercado, a entidade amorfa, para bem e para mal, não pode tornar-se refém do revanchismo ideológico de um partido que confunde Governo, Estado, legitimidade parlamentar, iniciativa privada e economias de direcção central. António Costa, que nem sequer é velho, confirma que é do Restelo. A denúncia de uma acordo desta magnitude, levada a cabo por um governo, envia um sinal poderoso e negativo para os radares daqueles que ainda entendem Portugal como destino de investimento. O que significa o domínio do Estado? A continuidade de uma companhia aérea a qualquer preço, sejam quais forem os prejuízos e as perdas? O processo TAP vai servir na perfeição enquanto exemplo do extremismo do governo socialista. Não há nada que impeça Costa, a não ser a sua própria agenda de acomodações sindicais. Porque é disso que se trata. Não se trata de transformar a dinâmica de uma empresa com potencial e alcance globais. Não se trata de interpretar as oportunidades lançadas nos últimos anos para captar novos mercados de turismo. Não se trata de elevar o nome de Portugal por via de uma companhia aérea. Trata-se simplesmente de pequena política por outros meios - a enunciação de Clausewitz por via do desvirtuamento do verdadeiro interesse nacional. Os satélites que giram em torno deste negócio dizem mais respeito ao folclore político nacional do que a uma visão estratégica e de longo prazo. Prevejo uma feroz batalha jurídica que irá certamente sugar ainda mais recursos a Portugal e aos seus contribuintes. A Lusitânia não ficará bem na fotografia, mas António Costa quer lá saber. O que deseja é o reforço da sua liderança governativa aludindo a uma nova figura: a legitimidade sindical. De uma assentada cala uma camada larga de avalistas. Trabalhadores que ainda não foram convencidos pelas promessas eleitorais, e que podem destronar António Costa. É disso que se trata. Mais nada. Vergonhoso. Lamentável. António Costa serve-se inequivocamente de José Sócrates e Nicolas Maduro como modelos de inspiração - ambos recusam encarar a verdade e atirar a toalha ao chão. Não faz parte do seu quadro ético. E pelos vistos do dele também. O que António Costa promete fazer é precisamente o oposto de apertar o cinto. Mas a obesidade ideológica não será servida fria. Os portugueses irão pagar esta taxa de aeroporto.
Cada vez que lamber um selo para o colar na carta, pensará que está a realizar fellatio ao Goldman Sachs e ao Deutsche Bank. O facto de estas duas instituições deterem respectivamente 5 e 2% dos CTT, significa que a empresa é apetecível. O contrário seria uma lástima - ninguém os desejar. Portanto, os patriotas do controlo corporativo ou os apologistas de "O que é nacional é bom", não entendem o que está em causa. Diria mais; não percebem que a economia do mundo é um campo aberto com fogo cruzado de interesses económicos. A Portugal Telecom não se expandiu para além de Badajoz, assumindo posições accionistas importantes em telcoms do Botswana e do Brasil? Pois é. E não haverá outras empresas internacionais onde Portugal pode meter a colher? Essa é precisamente a lógica que esteve por detrás dos Descobrimentos dos séculos XIV e XV. O mundo deve ser redescoberto - economicamente e financeiramente, mas de um modo criterioso. Este preconceito sintetizado na adulteração da frase histórica " the russians, germans, chinese or americans are coming" - deve ser rapidamente substituída por outro chip. Que eu saiba Portugal não tem um fundo soberano, gerido com inteligência, para assumir posições em empresas de interesse e alcance global - mas deveria tê-lo, como por exemplo tem a Noruega. As economias e os sistemas financeiros dos países do mundo estão intensamente interdependentes e o conceito de vantagem competitiva já foi abalroado pela noção que podemos participar no sucesso dos outros. Ainda bem que existem pelo menos duas instituições de vulto que analisaram em detalhe as operações dos CTT e chegaram à conclusão de que se trata de uma empresa com grande valor intrínseco. O oposto seria uma miséria. Os governantes e os simples cidadãos devem afastar do seu espectro essa ideia de controlo. Afinal, a maioria das empresas do Estado português foram geridas com controlo monopolista e veja-se o descalabro que foi. São falências operacionais atrás de bancarrotas. Escândalos de swaps e alavancagem. Primos e enteados nas direcções. Reformas obscenas e não sei que mais. Se existe a possibilidade de haver mais stakeholders que sejam detentores de uma parte das empresas portuguesas, significa que estas estarão sujeitas ao escrutínio e ao controlo dos supervisores presentes nas reuniões do conselho de administração. Devemos olhar para este processo dos CTT como um modo de internacionalização sem sair de casa, uma entrega ao domicílio de importantes meios para suprir as faltas sentidas localmente. Quanto aos selos propriamente ditos, esses podem continuar a ser colados a cuspo. Desse facto não advirá grande mal.
A política é uma cadela. Não consigo acreditar na caravana que passa diante de mim enquanto os cães ladram. Um país metido em graves sarilhos e as comadres entretidas com o caniche - se o Bóbi e o Piloto podem ficar no T2 ou se devem ser postos no olho da rua. Há tantas e tão boas expressões que servem para retratar esta novela pidesca que bate aos pontos a outra do filósofo das lutas greco-romanas. Abaixo de cão é onde nos encontramos. O regime de segurança social canino acaba de ser abatido, mas existe algo perversamente insensível na decisão de extrair os caninos à má fila. Basta passear pelo Facebook para perceber a importância dos bichinhos na vida de tanta gente metida no canil da solidão, perto da plena depressão. O animal de estimação é uma espécie de Prozac que ladra, uma medicação peluda para noites longas passadas em frente ao desespero. E os canários?E a piriquita? Não senhor, não bebo - é cadela mesmo. Minhas senhoras e meus senhores, entrámos no reino do absurdo, no enclave do surreal. Estamos encravados pelo dedo que passou a perna à unha. Não vamos arrastar para esta clínica veterinária as outras expressões de imodéstia - aqueles casos mentais de repúblicas de cães e gatos. Gente com pancada que colecciona lixo e tem na varanda amarquisada uma ninhada deles para juntar aos pardos. Nesses casos sou cristano como a Assunção - vinte cães é uma loucura. Venha de lá o fiscal do abate, o inspector das partes pudendas do podengo. Em suma - life is a bitch.
Não são apenas os colossos financeiros que devem nutrir a nossa desconfiança. Não são apenas os bancos de Wall Street e as agências de rating que devem ser o alvo da nossa preocupação. Vivemos num mundo de fusões e aquisições, de intervenientes cada vez maiores que detêm o controlo sobre o nosso dinheiro, sobre as nossas ideias e sobre as nossas preferências. Sirvo-me do mais recente exemplo de gigantismo que está prestes a subjugar ainda mais o nosso mundo; a fusão das duas maiores agências de publicidade do mundo para se tornarem na maior de todas. Os mercados, e em particular os consumidores, estarão deste modo ainda mais à mercê de uma força irresistível, uma espécie de cartel do champô e da pasta dentífrica. É isso que está em causa num ambiente de défice democrático, onde a força de uma minoria esmaga as aspirações dos pequenos, as liberdades individuais. O mesmo sucede no meio editorial - também estamos sujeitos a uma lavagem, embora neste caso seja mental, cultural. Os principais grupos editoriais do mundo decidem o que os neurónios do resto do mundo devem consumir. Numa sala pejada de executivos, decisões importantes são tomadas para acalmar os ânimos, domar os leitores mais irreverentes - os potenciais destabilizadores de sistemas de poder. São estes grupos de comunicação que formatam o nosso modo de pensar, de reinvindicar. São estes monstros que decidem por nós o que é válido e o que deve ser obviado. Embora os editores se afirmem como intelectualmente independentes, em abono da verdade não passam de agentes de interesses dissimulados em literatura light, parágrafos inofensivos - para não causar muito dano. Nesta época de convulsões, em que apontamos baterias a políticos e banqueiros, seria bom que não perdêssemos a perspectiva, a vista dos actores que jogam no mesmo tabuleiro de controlo e opressão. A liberdade intelectual já não é o que era. O pensamento e a reflexão profundos estão ao serviço do bottomline, do saldo positivo. Estes monstros apenas têm uma coisa pregada na mira da balança; o lucro. A qualidade é um tema secundário, não tem importância, desde que se possam embalar as expectativas cada vez mais baixas de indivíduos levados na incoerência. Uma corrente onde não abunda massa crítica, espessa.
Todos os governos do mundo têm o seu prisma. Todos os governos do mundo têm um sistema de vigilância, mas não têm o sistema que desejavam ter - têm o que podem ter. Os norte-americanos têm, pelos vistos, o mais sofisticado de todos. E, os outros, que têm ou tiveram outras formas de monitorização das populações, nunca se iriam colocar em bicos de pé e bradar aos céus: big brother is listening to you. Da STASIi à PIDE, passando pela KGB, o universo de serviços é vasto. Desde tempos remotos aos dias de hoje, os governos (democráticos ou não) sempre fizeram o exercício da vigilância invocando princípios de segurança interna. Não vale a pena insistirmos na tése moralista ou o seu contrário. Não vale a pena fingir ingenuidade. Há muito pouco que escapa ao domínio da busca de um serviço de inteligência, se for esse o seu desejo. Não nos devemos esquecer que quem abriu a caixa dos segredos foi um norte-americano. Não foi um inimigo conveniente, residente na Coreia do Norte ou um militante em treino num enclave Talibã. Isto sim foi um inside job, mas curiosamente, Edward Snowden, pelos vistos, estava a trabalhar sozinho quando decidiu largar a bomba. Trata-se de um cidadão com a consciência pesada por ter participado no mecanismo de voyeurismo governamental. Os cidadãos dos Estados Unidos, terra de linhas rectas que dividem opiniões, bons e maus, republicanos e democratas, não fugiu à regra no modo como está a tratar a questão de alegada violação dos direitos civis americanos. Para alguns, as escutas não constituem motivo de alarido porque o seu estilo de vida ainda não foi afectado pelo olhar indiscreto do governo. Para outros a primeira constituição democrática do mundo (Filadélfia, 1787) está a ser violada de um modo intenso. A equação que pretendem vender diz respeito a um rácio securitário. Se a vigilância resulta em tratamento de informação conducente à prevenção de conflitos e atentados (que custam a vida de cidadãos) então justificar-se-á. Contudo, este tipo de argumento deixa a cauda de fora. Não convence integralmente os cidadãos americanos e do resto do mundo. Snowden não poderia ter escolhido melhor momento para granjear o conforto alheio. Putin sabe muito bem o que está em causa. Ao tomar o "partido" dos direitos civis fundado por Snowden, envia uma mensagem ilusória para consumo interno. A Rússia é tudo menos uma ilha de deslumbramento de direitos civis e políticos. Nesse sentido, convém jogar a carta certa. Da Turquia ao Brasil, da Indonésia ao Egipto, a ordem do dia é apenas uma: como controlar a população ávida por repor o equilíbrio económico e social. Estas peças fragmentárias, embora pareçam desligadas, fazem parte de um mesmo quadro de acontecimentos e percepções. No grande jogo que se realiza outros actores irão aparecer para revelar ainda mais mistérios. Para já encontramo-nos uma zona de trânsito em Moscovo e o aeroporto é a parábola perfeita para o vaivém de opiniões.
França vai passar a ser conhecida por Liberté, Egalité, Fraternité e Interneté. Foi necessário um Socialista aparecer em cena para começar a aplicar receitas normalmente associadas a outros regimes políticos. Agora ponderam aplicar uma taxa aos fabricantes de aparelhos que permitem a ligação à internet. Diga o que disser o Hollande, há aqui outras considerações que transcendem a mera ordem económica, a necessidade de angariar receitas em plena paisagem austeritária. Observemos com atenção este modo de censura que condicionará, com maior ou menor intensidade, a livre circulação de ideias. Trata-se de uma amostra do que é possível fazer. É o que eu digo, as ideologias assemelham-se a uma omolete, são mexidas e viradas ao contrário e servidas a frio. Sem darmos conta, pagaremos para satisfazer os fetiches de governantes que já perderam o controlo da situação económica, do descalabro, e que agora temem, mais do que nunca, a força das ideias. Aquelas que incendeiam bairros porque as juntas e levantamentos anteriores fracassaram. A França está ao virar da esquina de um descalabro económico e financeiro, com a séria agravante de ser um país que vive com uma profunda fractura, que opõe um país civilizado e católico ao banlieue muçulmano. Os tablets de barro que já eram utilizados pelos Sumérios, foram importantíssimos para as trocas comerciais, para o desenvolvimento da economia, mas mais substantivamente, para a livre circulação de ideias - para atirar barro à parede, para protestar, para plantar as primeiras sementes de discórdia. E essas amostras de dissensão viajáram até aos nossos dias enquanto elementos de definição da própria Democracia, tal e qual como a conhecíamos, e que teimamos em preservar. Ao censurar esse campo aberto que é o cíberespaço, Hollande demonstra a sua natureza autoritária, a sua inclinação para a arrogância. O pretexto de defesa da cultura francesa parece conversa de um chulo, que agora exige comissões ainda mais altas às prostitutas que escapam ao seu controlo, ao controlo de qualquer político. Eles andam nervosos. Por outras palavras, esta medida funciona como um aviso, uma ameaça velada feita a partir de uma bairro, por um cabecilha de um dos muitos gangs de políticos que povoam a Europa. Se nos provocarem o suficiente, puxaremos a tomada, não tenham dúvidas, e vós, súbditos do desastre, ficaréis às escuras como colaboradores de um Vichy de rede, enquanto a banda larga entoa os derradeiros acordes de uma revolução. A francesa, quem sabe.