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Nunca fui de me apoiar no paizinho, de me servir de pergaminhos familiares para avançar as minhas causas. Aliás, a ruptura talvez me caracterize com maior precisão. No entanto, não sou político e porventura não saberei apreciar o valor da tradição, a importância dos anciões, o respeitinho pelos progenitores. Acho triste que o jovem António Costa se tenha de servir dos fundadores do Partido Socialista (PS) para validar as suas aspirações. O que dista entre o acervo socialista original e aquilo em que o mesmo se transformou é assinalável e nem sempre positivo. Mas este processo de aprovação faz parte de uma matriz comportamental mais ampla. Faz parte de um alegado juízo conservador, de um conceito museológico, que atribui grande importância ao legado, ao passado. Embora o incentivo dos fundadores do PS possa servir a agenda interna de Costa e arrumar com o desreferenciado António José Seguro, a verdade é que é apenas algo que se passa no quintal do Rato. Mais valente e imortal seria se Costa angariasse os seus apoios numa colecta independente de filiações partidárias, da disciplina ideológica, dos da casa. A maioria absoluta com que sonha para governar é uma contradição genética. O pantano em que os socialistas se encontram poderia servir para refundar a expressão do partido sem comprometer os seus valores basilares. Os socialistas cometem o mesmo erro de sempre. Procuram renascer das cinzas, mas praticam a consanguinidade partidária; cruzam-se entre si para reproduzir velhas máximas e dar à luz conhecidas fórmulas. O PS teve muitas oportunidades, mas não soube criar um departamento de R&D (research and development) para integrar soluções excêntricas disponíveis em todo o espectro ideológico. O PS poderia centrar a sua acção na cidadania e no magistério civil, mas prefere invocar a sua superioridade moral, a paternidade da democracia portuguesa que viu nascer, e que em grande medida foi traída pela acção de alguns dos seus governos da república.