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É impressão minha ou será que António Costa apenas ganha coragem para afrontar os funcionários públicos quando está fora de Portugal? Desta vez fala a verdade em directo de Tunes. I tunes, ele tunes, nós tunisinos...
Reflecti muito antes de começar a escrever este post.
Nasci numa pequena vila onde era desejável brincar na rua e ganhar anticorpos a tudo - incluindo aos demais habitantes, metade dos quais possuía o seu próprio negócio e chamava útil ao útil, e fútil ao fútil.
Situada num país que não importava vinte marcas diferentes de shampoo para cão, e cuja população se encontrava sã, à data em que o meu tempo era gasto a colher viçosas maçãs, que nunca viriam a ser etiquetadas; a minha terra natal respirava saúde, e exalava aquele tipo de riqueza que os comunistas do PREC jamais viriam a reconhecer: ignorando a adversidade e os eventos à escala menor, cada um fazia pela mudança para melhor mediante actos próprios, sem estender a mão à migalha alheia nem atender a directrizes dimanadas de grémios saramaguenses, vascais e cunhalistas que infestavam a mente e a alma em todas as frequências.
Agora, que já sou pai há quase duas décadas, muito vi, mais fiz e por isso mesmo tenho noção da nossa (minha, vossa, deles, do país, da espécie) pequenez, começam a sobrar-me horas dentro dos anos que escasseiam, e sinto que ao menos desta vez, estarei a cometer uma traição aos meus princípios de coerência, esperança e objectividade se me abstiver de votar nestas eleições que se avizinham.
Porque a minha responsabilidade não se extingue com o término do meu exercício biológico, e algo persiste após o meu eventual sumiço que é preciso acautelar, honrar e prevenir. Talvez por isto eu preferisse ter nascido, e dado ao meu filho a hipótese de ter nascido, numa nação a sério, povoada na sua maioria por pessoas e não por autómatos deslumbráveis, ainda que tal implicasse não nascer numa pequena vila onde a rua ensinasse tanto ou mais do que os adultos. Da mesma forma que preferiria, já que me é imposto um contrato social que não pedi e que não posso unilateralmente denunciar sob pena de encarceramento às mãos do maior tirano de todos, o Estado, poder votar em partidos ditos estrangeiros, e não no menos mau dos medíocres que por cá campeiam. Se assim fosse, o UKIP e Nigel Farage colheriam certamente o meu voto.
Já ouço a turba a carregar mentalmente no botão para mudar de canal, mas concedam-me só mais vinte ou trinta linhas. Isto tem um twist.
A Europa onde vivemos e os problemas que dela fazem um veneno para os nossos filhos podem ser sumarizados em quatro slides.
1. Distopia
imagem: representantes de instituições europeias
Estas pessoas, impantes de si, nunca foram e provavelmente jamais seriam eleitas para os cargos que exercem e pelos quais são regiamente pagos, vivendo como nababos cada vez mais afastados da realidade, passando leis que germinam a partir dos ditames pueris e totalitários a que aderiam em jovens, enquanto cresciam longe da minha vila. O mérito, a honra, e a consequência são conceitos alienígenas para esta gente. Não os quero. Querei-los?
2. Apatia
imagem: festival Eurovisão da canção, 2014
Com o governo de António Guterres deu-se o advento de um socialismo mais basilar, transversal, na sociedade portuguesa. As escolas deixaram de empregar professores com o fito de formar cidadãos produtivos, e passaram a albergar pedagogos, didactas, psicólogos, e uma pluralidade de inúteis sem rumo nem tino cujas duas únicas funções se resumiriam a "igualizar crianças e jovens de valências diferentes num mundo globalizado em mudança", e assegurar que todas as células na folha de Excel enviada a Bruxelas comportariam os valores ""corretos"". Duplas aspas, por causa do acordo ortográfico. Crianças, jovens, e jovens pais adestrados na tabula rasa da igualdade à força resultam em homúnculos apáticos, envelhecidos cedo demais, arrebanháveis com um mínimo de esforço e máxima eficiência energética pelos novos Senhores.
3. Demografia
imagem: contribuinte-modelo conforme proposto pela Comissão Europeia, 2014
imagem: cidadã portuguesa com a sua prole, Lisboa, 2014
Abster-me-ei de sobrecarregar este tópico com comentários, pois retenho ainda um brioso resquício de confiança nos meus conhecimentos de estatística, e segundo estimo a imbecilidade, embora desabrida, ainda não se enraizou tanto que seja preciso escrever quaisquer palavras acerca do massacre planeado em curso que reduzirá Portugal a um deserto silencioso, entaipado e triste antes ainda que os nossos filhos tenham filhos.
4. Terrorismo institucional e destruição sistemática da identidade portuguesa
Exemplo 1, Exemplo 2, Exemplo 3, Exemplo 4, Exemplo 5
De todas as situações acima elencadas, é quase instintivamente imediato perceber o elemento que sobressai: nada disto é normal, nem muito menos necessário, mas vem sendo paulatinamente imposto em complemento à restante anestesia que vim, abusando da vossa paciência, aqui expondo.
Percorremos um longo caminho desde que os nossos bisavós andavam descalços em aldeias minúsculas e remotas, nos enclaves de onde ainda hoje se foge ao escutar o anelo que nos enche o coração de deslumbramento e promessas cintilantes. Mas foi ainda mais extenso, árduo e ameaçador o percurso que fizemos enquanto raça, quando de arborícolas e cavernícolas decidimos sair, sem que para tal pesasse decreto algum oriundo de cima que não a nossa própria Natureza tal como Deus no-la quis dar.
E sair saímos, e aqui chegámos, e a maravilha que é hoje a Humanidade é fruto, não das aspirações arrogantes e desadequadas dos burocratas que elevaram os Estados ao trono que só admite Um ocupante, mas do esforço individual, livre, ousado, e muitas vezes infrutífero, outras tantas glorioso, de cada um. Não de um "nós" artificial e congeminado por mentes retorcidas, não "deles" que brandem a letra da lei com a displicência discricionária de quem nunca conheceu o temor estomacal conexo com decisões de vida ou morte, de riqueza ou pobreza.
O mérito é do indivíduo, desse ente apóstata cuja expressão um Ocidente cada vez mais tíbio e totalitário procura demonizar. Da palavra que deve ser defendida a expensas da nossa própria vida: ego.
Antes que me esqueça. Votarei no partido mais euro-céptico que encontrar, nem que tenha de ser no do doutor Garcia Pereira.
Divirtam-se na praia.
Winston Churchill
Churchill tinha, entre as suas incontáveis qualidades, um predicado que sobressaía claramente: uma ironia aristocrática única e inimitável. Se há algo que falta nas sociedades atomizadas e pós-moderninhas dos nossos dias é, justamente, uma dose bem carregada de ironia. Uma ironia fina que atinja o âmago das coisas. Uma ironia que questione radicalmente o mundo presente. Uma ironia que destempere e fira a banalidade do quotidiano. Sem ela o debate intelectual torna-se invariavelmente num sucedâneo mísero do célebre adágio hobbesiano do "homo homini lupus". Por outras palavras, a morte do pensamento. O sono goyano da razão. Churchill conhecia bem o carácter do homem democrático, posto que temeu, como poucos, as suas deformidades mais nefastas. Mas, foi, também, um dos poucos políticos que ousou, durante toda a sua vida política, lutar contra os vícios inerentes à democracia, usando sempre a ironia. No dia do seu aniversário, recordar a sua memória é, acima de tudo, retomar uma tradição perdida. Um ideário desaparecido nas brumas da memória. Como diria Churchill o fracasso não é fatal, o que importa é tão-só a coragem para continuar a perseverar. Um bom liberal, sobretudo nos dias lassos que correm, sabe que esta é a única alternativa que resta ao ocaso da razão.
(imagem daqui)
Luiz Felipe Pondé, Guia Politicamente Incorreto da Filosofia:
«A ética aristocrática da coragem é marca das sociedades guerreiras. Muita gente hoje em dia considera essa posição retrógrada e “reacionária” porque ela não levaria em conta os limites do humano. Para Patton, e o que ele representa no filme, a ideia é falsa, porque na vida, vista como uma guerra contínua, a falta de coragem é sempre reconhecida pelos que não mentem ou não agem de má-fé (a guerra seria uma representação da vida, como nos mostra Tolstói em seu monumental Guerra e Paz). Você não precisa estar num campo de batalha, onde brotam os corajosos e os covardes a olho nu, para saber que no cotidiano os covardes mentem mais, fogem das responsabilidades, traem seus amigos e colegas, usurpam glórias que não são suas, enfim, mesmo morta a sociedade guerreira da Antiguidade, permanece a consciência cristalina de que sabemos identificar a coragem quando se revela diante de nossos olhos. Por acaso você já viu um covarde? Talvez no espelho? Já teve vontade de ficar de joelhos diante de alguém que de fato não teme aquilo que a maioria teme (seja a morte, representação mais evidente da questão, seja a perda do emprego, o abandono, a tristeza)?
Uma das coisas que os politicamente corretos mais temem é a ética aristocrática da coragem levada para a vida cotidiana, porque ela desvela o que há de mais terrível no ser humano, a saber, que ele é o animal mais assustado e amedrontado do mundo. Para os politicamente corretos, o correto é mentir sobre isso, a fim de aliviar a agonia que temos porque sabemos que somos todos no fundo covardes e dispostos a colaborar com nazistas (ou seus similares) se para nós for melhor em termos de sobrevivência. Há uma profunda relação entre essa praga e a autoajuda, na medida em que ambas mentem sobre os verdadeiros problemas dos seres humanos e de nossa natureza sofrida e angustiada. Dizem eles que tudo isso é “culpa” do machismo, do capitalismo, do cristianismo, dos marcianos. Outra coisa que o politicamente correto detesta é a própria noção de aristocracia (que a filosofia, já em Platão, separou da noção de “aristocracia de sangue” para defini-la como “o governo dos mais virtuosos”), porque ela afirma que uns poucos são melhores do que a maioria dos homens. A sensibilidade democrática odeia esta verdade: os homens não são iguais, e os poucos melhores sempre carregaram a humanidade nas costas.»
O relativismo moral e cultural da Modernidade inculcou nas mentes ocidentais o medo da crítica. Evita-se o confronto pois não há estofo para aguentar o conflito. Faltam líderes no Ocidente. E os grandes líderes, dos quais reza a História, nunca foram medricas. "A coragem é a primeira qualidade humana, pois garante todas as outras", já ensinava Aristóteles.