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O triste espectáculo em que se tornou Portugal, deve-se, em grande parte, ao facto dos políticos defenderem com unhas e dentes as regalias e privilégios que coleccionáram ao longo de décadas. Não interessa quem está, quem esteve ou quem não está no poder. Não faz diferença se são comunistas, socialistas, social-democratas ou simplesmente verdes. Andam às voltas para cortar aqui e acolá para salvar o orçamento aos olhos da Troika, mas em última instância, as palavras proibídas não são proferidas. E a coragem política não existe para virarem o feitiço contra si mesmos. Deixem-se de tretas e apliquem os golpes onde realmente doem. Harakiri. Se querem raspar o tacho, têm de o fazer sem pudor. Viaturas de alta-cilindrada do governo e parlamento. ACABOU. Subsídios para isto e para aquilo ACABOU. Pensões ao fim de meia dúzia de anos. ACABOU. Imunidade parlamentar. ACABOU. Transições do sector público para o privado. ACABOU. Mandatos e mais mandatos. ACABOU. Protecção especial e salvamento de instituições financeiras. ACABOU. Parcerias público-privadas de fachada. ACABOU. E acabar com isto tudo e muito mais. Porquê? Para RECOMEÇAR com a mensagem certa. Os políticos são cidadãos comuns. Os parlamentares ou o governo representam os cidadãos comuns. Se querem ser especiais e merecer o respeito dos eleitores, devem praticar a religião que vai pelo nome de abnegação. O dia chegará quando a Troika partirá em definitivo. E depois? Começa o mesmo bailarico? A mesma pouca-vergonha que humilha os desgraçados que nada têm. Que já estão ACABADOS ainda antes de COMEÇAR. Quando vejo um idoso, como ontem vi, que sofreu um AVC, a realizar trabalhos de limpeza, sei que uma parte da dignidade humana morreu. Já não falámos de entidades abstractas. Tenho a minha lista de desmoronamentos, de dramas pessoais e desgraças inteiras para contar e corroborar esta tragédia. Tudo isto tem de ACABAR. O problema é que os políticos querem CONTINUAR.
Jacques-Louis David, O Imperador Napoleão
De tudo o que Napoleão disse há uma frase que cai que nem uma luva ao nosso empertigado Presidente da República. Dizia o "Usurpador" que a História é um conjunto de mentiras sobre as quais se chegou a um acordo. Cavaco levou muito a peito esta máxima, pois só assim se compreende o porquê de o faustoso Presidente ter afirmado que é necessário ultrapassar o estigma que nos afastou do mar, da agricultura e da indústria. De certo modo, Cavaco entende que o povo português encara como um fait accompli a tese de que os seus zelosos Governos não tiveram rigorosamente nada a ver com o declínio da economia produtiva produzido no rescaldo da adesão à então CEE. Por outras palavras, Cavaco julga-nos a todos - sim, todos nós - uma cambada de tolos apoucados. Já sabíamos que Cavaco não tem, propriamente, uma propensão particular pela verdade factual, na verdade foi sempre apanágio do actual Presidente desta República bananeira a admiração, desusada e incomum, pela torção dos factos. O que não sabíamos, nem era sequer do domínio público, e aqui confesso a minha honesta surpresa, é que o mandarim de Boliqueime tem uma veia napoleónica. A sua vida política, trivialmente "napoleanizada", é uma ampla colecção de tesourinhos deprimentes, tristemente desdobrados num torpe abanico de mentiras e omissões. Mas já que o nosso Presidente gosta de seguir as máximas do "Corso", talvez não lhe fizesse nada mal copiar o melhor de Napoleão, designadamente, a audácia e a coragem políticas do grande chefe francês. Mas isto já é pedir muito, não é?