Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Esta semana podem encontrar um artigo da minha autoria no Prisma, nova plataforma de slow journalism do Jornal Económico, em que viso contribuir para o debate sobre a política externa portuguesa na era de turbulência em que vamos vivendo, marcada pela crise do euro, crise dos refugiados, Brexit, Trump, Putin, Merkel, populismo, eurocepticismo, fundamentalismo islâmico e uma União Europeia à procura de perceber o seu futuro.
Parece que muita gente terá descoberto, com um espanto inusitado, após a final do Mundial de futebol, que em tempos a França foi um império colonial. Ora, boa parte do país da “liberdade, igualdade e fraternidade” cultiva a concepção subjectiva de nação, que tem raízes em Ernest Renan, para quem a nação não assentava em critérios como a raça, o território, a língua ou a religião, sendo, na realidade, “uma alma, um princípio espiritual,” no qual os indivíduos concretizam “o desejo de viver em conjunto, a vontade de continuar a fazer valer a herança que se recebeu indivisa.” Mas um certo nacionalismo assente na concepção objectiva, tributária de diversos autores franceses, alemães e britânicos e com especial relevo na cultura germânica, ignorando que a história humana difere da zoologia, parece assistir a uns quantos que se esquecem do que foi e do que ainda hoje é Portugal, cuja Selecção nacional de futebol tem jogadores originários de vários países da CPLP. Por mim, subscrevendo aquele Fernando Pessoa para quem a pátria era a língua portuguesa, preferia cumprir o abraço armilar no futebol e ter num Mundial uma equipa da lusofonia. Já que noutros domínios o triângulo estratégico Lisboa-Luanda-Brasília parece funcionar mal, talvez ajudasse a causa da lusofonia ter na mesma equipa Ronaldo e Neymar, Casemiro e William, Marcelo e Pepe, Gelson e Philippe Coutinho, Danilo e Fernandinho.
1.Resenha histórica
No Outono de 1983, numa sala do hotel Altis, completamente esgotada após o anúncio que surgira na imprensa, procedia-se à apresentação do Movimento Nova Monarquia. Na mesa estavam monárquicos históricos como os Doutores Jacinto Ferreira, Mário Saraiva e João Taborda, este último sogro do Dr. Jaime Gama, um socialista que seria ministro dos Negócios Estrangeiros do governo português.
Coube a Miguel Castelo Branco, um jovem de vinte e um anos, a apresentação das linhas gerais do projecto. A organização do território, as premissas históricas que conformavam uma certa ideia do municipalismo, a percepção do já então claro declínio demográfico que deveria ser de imediato atacado em várias frentes, trouxeram à discussão pública algumas propostas inovadoras e por que não dizê-lo, revolucionárias – o salário a ser pago pelo Estado às mulheres que ficassem em casa a cuidar dos filhos -, para uma época em que a miragem europeia surgia como meta, um fim de história para o Portugal com mais de oito séculos de existência. Uma série de sugestões foram oficialmente apresentadas como programa, entre as quais, para o que ora nos interessa, estavam o convite, ditado pela necessidade da conjuntura internacional naquele momento, a fazer ao Reino de Marrocos, reforçando o flanco sudoeste da OTAN. Este ponto teria imediato reflexo na imprensa marroquina, exultante pelo reconhecimento da política de segurança do regime de Hassan II, um dirigente que na senda dos potentados muçulmanos de então, garantia uma certa estabilidade numa zona que era, tal como hoje, vital para a segurança da Europa.
Os comentários foram os esperados, desde umas tantas manifestações de agrado por parte de incipientes sectores ditos conservadores, até ao mais vivo repúdio por uma das sugestões apresentadas, considerada genericamente como uma tentativa de regresso ao enterrado passado colonial. E que proposta era esta? De facto, não só lançava as bases daquilo que hoje conhecemos pela sigla de CPLP, como ia mais longe, logo propondo a liberdade de circulação de todos os nacionais dos PALOP, aos quais se juntariam os brasileiros e numa ressalva considerada patética pelos inconscientes que durante largo período perduraram no controlo da opinião pública nacional, o já dado pela NM como futuramente garantido, Estado de Timor-Leste.
Foi o fim do mundo.
Choveram insultos de toda a ordem, numa …”incompreensível cegueira ditada pela necessária inclusão nacional no espaço da CEE” que o regime almejava, significando isto o ansiado remédio que num ápice transformaria um país desarticulado por uma longa Guerra em África e, sobretudo, pelos acontecimentos de 1974-75 que a par da liquidação de um espaço económico, significou um recuo sem precedentes do ocidente na África austral e, é impossível ocultá-lo, pela súbita chegada de algumas centenas de milhar de nacionais expulsos pelos novos poderes instalados: retornados que nada mais foram senão refugiados.
A estreiteza de vistas dos responsáveis politicos de então era muito evidente e a comprová-lo, ainda hoje pagamos da pior maneira os chamados Tratados assinados de cruz e que o Dr. Soares – que durante alguns meses encontrou na expressão Constat d’Accord o pretexto oratorio para todo o tipo de excitados e diluvianos manás - pretendia transformar no mecanismo de segurança que garantia a sobrevivência de um regime que considerava naturalmente seu, propriedade de uma oligarquia que bem vistos os factos ao longo destas quatro décadas, em pouco ou nada se distingue daquela que manteve a 2ª República ao longo de duas ou três gerações. Os nomes são os mesmos, a base financeira – à luz do dia ou oculta através de artificiosas congeminações - é demasiadamente idêntica, os círculos de influências e tráfico de favores entre famílias e amigos são notórios. Eram e ainda são as Corporações – os poderes fácticos, sucedâneos da Casa dos Vinte e Quatro - quem dita a política geral e deste atoleiro de cumplicidades parece difícil saírmos, até porque encontra correspondentes além-fronteiras. Bem vista a coisa pública, o sistema vigente conformou-se ao legado do equilíbrio de poderes deixado pela cúpula do Estado Novo, conseguindo o clamoroso sucesso de arrastar para a área corporativa, de organizações aparentemente tão insuspeitas e adversas como o PC e entidades anexas. O colaboracionismo atingiu verticalmente toda a classe política, seja ela de esquerda ou de direita.
A apresentação desta proposta de organização de um espaço lusíada era então considerada como inoportuna, num país cujos dirigentes ansiavam antes de tudo, definitivamente enterrar o processo histórico formalmente iniciado com a tomada de Ceuta no já longínquo ano de 1415. A criação de um espaço jurídico, cultural, politico e económico de expressão portuguesa, era apodado de neo-colonialismo mal disfarçado.
Pouco depois, S.A.R. o Duque de Bragança, começou a insistir junto da imprensa, na necessidade do regresso a uma nova forma de colaboração com os países de expressão portuguesa, nunca abandonado a causa timorense, aliás considerada por todos os responsáveis do regime …”uma ilha indonésia, tal como Goa para sempre integrada no grande país com quem faz fronteira”. Foi esta a tese que a par dos rotineiros agendamentos para discussão da invasão (1975) na ONU, a superestrutura do poder politico de Lisboa fez circular como inevitabilidade. Sempre pensaram que a passagem do tempo resolveria um assunto degradante e espinhoso que o país da rua jamais aceitou como concluído.
Ao longo dos anos a ideia de um grande espaço lusófono foi criando raízes e um antigo Chefe de Estado de Cabo Verde, S.E. o Dr. Aristides Pereira, declarou publicamente ter sido um erro a independência daquele arquipélago, um marco histórico que num dado momento afastou as ilhas do desenvolvimento – que tiraria os Açores e o arquipélago madeirense de um atraso secular - e segurança internacional garantida pela união federal com um Portugal integrado em múltiplas organizações internacionais, fossem elas económicas, culturais ou militares. Estas eram as explicações de índole mais imediata e compreensível, baseadas naquilo que obsessivamente poderia interessar a amálgama de interesses mediáticos, politicos e económicos. A portugalidade – e tudo o que significa em termos de solidariedade e comunhão de destinos - ficava assim relegada para um jamais tido em conta e para eles displicente plano dos afectos sempre presente como recurso oratório.
2. A proposta do governo de António Costa
É sempre comovedor assistirmos ao refazer da história, principalmente quando são protagonistas aqueles que mais se opuseram a um certo número de princípios que consideramos tão básicos como a soberania, independência nacional, herança e partilha de culturas e experiências entre povos diversos, mas unidos por uma já longuíssima convivência nem sempre pacífica e que pelas vicissitudes internas ou impostas pelo exterior, permaneceram ligados. Portugal, um pequeno país estrategicamente colocado no centro do mundo que à Europa deveria interessar, conseguiu a proeza de manter um vasto património dito imperial que sobreviveu às lutas da Restauração, às guerras europeias que devastaram a Europa durante todo o século XVIII, ao ímpeto napoleónico e à cristalização dos nacionalismos oitocentistas que fariam eclodir duas guerras mundiais.
Parece ser este, o momento azado para a prossecução desta ideia. Vinda de quem vier é válida e não só necessária, como urgente. Numa Europa em aparente crise demográfica, logo económica a longo prazo, recorre-se a todo o tipo de oportunidades que visem o adiamento de um declínio que já conta perto de um século e cujos sintomas, de tão evidentes, apenas passaram despercebidos a quem julgou possível manter um status quo ditado pelo resultado da II Guerra Mundial.
O Império Soviético ruiu e subitamente a Europa sentiu-se livre de peias, consciente da posição subalterna de primeira linha de frente da superpotência tutelar que gostosamente tomou conta da segurança colectiva. A verdade é que conscientes da sua fraqueza, os Estados europeus desinvestiram na Defesa – em termos demasiados latos, chegando ao ponto de duas gerações terem sido desadestradas quanto ao serviço militar -, não se concebendo qualquer tipo de conflitos fronteiriços entre países historicamente desavindos – Alemanha, França, Reino Unido, Grécia, Turquia, Portugal e Espanha -, delegando nos Estados Unidos da América as tarefas de polícia e agente de controlo de fronteiras onde hoje se vão erguendo muros.
Os alargamentos económicos, politicos e militares a leste, a radical mudança na correlação de forças internacionais, a ascensão imparável da China e os, digamos desta forma, erros crassos na avaliação dos regimes antecedentes às chamadas Primaveras Árabes, criaram uma situação inextricável e extremamente volátil, onde a Rússia pretende recuperar um mínimo do seu tradicional espaço de influência que não irá muito além da Ásia Central e das fronteiras encontradas em 1945, excluindo-se os três países bálticos, já anexados à U.E. e à OTAN. Esta é a realidade dos factos que nem as novas tecnologias protagonizadas urbi et orbi por diversos tipos de peritos da cibernética e incontornáveis hackers, poderá num futuro ainda incerto, contestar.
A ameaça terrorista – real ou pré-fabricada em geografias insuspeitadas -, pode ser um desafio de difícil resolução com vantagem pelos europeus, sejam eles alemães, gregos, franceses, britânicos, belgas ou outros, amedrontados pela perspectiva da massiva violência urbana executada através de atentados a que hoje nem sequer escapam as linhas aéreas, as escolas, os machimbombos e as esplanadas das capitais europeias. Em suma, a subversão está há muito tempo bem firmada dentro da U.E., num processo de voluntária e assumida não-integração que já dura cinquenta e poucos anos. Da marginalização económica e social, passou-se ao patamar do confronto civilizacional. Num espaço onde o sempiterno politicamente correcto impõe-se à necessidade imperiosa de agir para evitar profundas perturbações no sistema politico e social, estamos de súbito perante realidades às quais não conseguimos dar uma resposta válida e que não contrarie os princípios que construíram a Europa do pós-guerra. Portugal encontra-se assim, pese a sua situação de desastre financeiro provocado pelas paralelas e bastas vezes confluentes oligarquias que têm conformado o Estado, no momento ideal para fazer algo à revelia dos seus tutores internacionais, sejam eles europeus ou não.
A histórica chantagem sobre as possessões ultramarinas nacionais já não existe, apenas permanecendo o arquipélago dos Açores como potencial alvo de pressão cuja posição geográfica e adivinhados recursos económicos na zona marítima circundante, poderá servir de motivo para algumas preocupações.
Temos então um país esmagado pela dívida para com estrangeiros e amarrado por tratados que fizeram em grande medida volatilizar o que nos restava da soberania: não podemos bater moeda, não podemos gerir as alfândegas, não podemos controlar as fronteiras (Schengen continua em vigor para grande comodidade de uma minoria percentual de viajantes e sobretudo, de empresas) consideradas agora como relíquias de um passado sem retorno. Nesta época de livre circulação de capitais no éter informático, os off-shores da corrupção generalizada e a subversão de princípios mais básicos é avassaladora, corroendo entidades de toda a ordem, num aparentemente inesgotável processo que está à vista dos mais distraídos.
Não é preciso indecentemente emoldurar evidências com citações de autores conhecidos e consagrados, justificando assim com testemunhos de outros tempos, aspectos que abrangem alargados sectores da vida política, económica, financeira e social de uma infinidade de Estados, hoje na situação de meras pastagens de uma globalização que no termo one world parece ter criado mais uma inevitabilidade histórica. Não é.
"Sou a favor do livre trânsito, mas não me parece ser uma medida possível no atual contexto europeu, levando em conta que Portugal não está considerando sair da UE nem do Espaço Schengen. Se esta livre circulação acontecesse, o resto da Europa acabaria por reinstaurar as fronteiras com Portugal"
Esta parece ser a esperada posição de quem julga inevitável a situação sem retorno criada por tratados que antes de tudo confirmam as vulnerabilidades a que a Europa gostosamente se sujeitou e que o ano de 2015 plenamente confirmou. O actual primeiro-ministro declara que …"Portugal tem toda a liberdade para negociar com os demais países da CPLP tratados de liberdade de residência e o deve fazer. A exigência de vistos de entrada na UE é no âmbito europeu. Outra coisa diferente, é o direito de residência em Portugal, que podemos garantir a todos, na base da reciprocidade, de forma a também garantir a todos os portugueses direito de residência nos Estados da CPLP. E com a autorização de residência, os vistos estão dispensados".
Independentemente de todas as considerações que possam ser feitas a respeito de controversos métodos de conquista do poder – até nisto é um politico -, A. Costa não deixa de ter razão. É indiferente considerarmos ou nos preocuparmos com quem está ao leme, desde que o rumo seja o correcto.
Para os esbracejantes obcecados pelo mercados - o fatal argumento -, os horizontes são os que bem conhecemos.
Não tenhamos muitas ilusões quanto a rápidos resultados neste capítulo, pois Portugal para tudo depende da ajuda externa e essa é a ameaça, a chantagem mais premente que defrontamos. Contudo, a volatilidade da situação internacional poderá permitir o surgimento de algumas oportunidades no âmbito político, para mais tratando-se de países extra-europeus que correspondem grosso modo à ideia que na Europa e nos EUA os histéricos – habitualmente warmongers a soldo de departamentos de estado - das campanhas hate apontam como coisa louvável, porque inevitavelmente “colorida”. Ora, para a esmagadora maioria dos portugueses, o facto de se ter nascido no Rio, em Luanda, Maputo-Lourenço Marques, Goa, Macau ou Timor, é coisa considerada como natural, como parte de mais de cinco séculos da nossa história. Há que permanecermos atentos e não desperdiçarmos esta hipótese que além de significar a salvação nacional como entidade política no conjunto das nações, poderá também abrir uma perspectiva infinitamente mais proveitosa do que o humilhante e vergonhoso alinhamento com potências dominantes que por nós falam e decidem.
Para cúmulo da felicidade, não poderão acusar os portugueses de racismo.
Após o meu post sobre este assunto, e tendo em consideração estes dois posts do Pedro Correia, bem como um outro post de Luís Menezes Leitão, pemitam-me apenas salientar um elemento que não terá ficado claro no meu post, mas que lhe subjaz: a humilhação a que Portugal foi sujeito ao fazer-se representar pelo Primeiro-Ministro e pelo Presidente da República em Timor. É que a este respeito estou de acordo com o Pedro Correia em toda a linha. Foi absolutamente humilhante estarmos representados ao mais alto nível, especialmente quando Brasil e Angola não estiveram. Distancio-me, assim, de alguns opinadores que talvez tenham estômagos de betão, caro Pedro. Mas é precisamente por sentir a humilhação, e atendendo à transformação da natureza da CPLP, que creio que devemos adaptar-nos aos novos tempos de forma a que possamos defender melhor os nossos interesses e não andar meramente a reboque de Brasil e Angola.
Havia de cá voltar o Duarte Pacheco Pereira e logo o seu enervado descendente ficaria com as orelhas a arder.
Os comovidos mega cefalópodes do comentório sabe-tudo, têm-se desunhado com o habitual argumento da "não existência de laços históricos" entre Portugal e o território que forma a actual Guiné Equatorial. Várias vezes dei comigo a responder-lhes diante do ecrã, aconselhando-os a uma sumária pesquisa que não demoraria mais que uns escassos minutos. "Toda a gente sabe" que Fernando Pó e Ano Bom foram possessões portuguesas até bem perto do final do século XVIII. Por alguma razão D. João II intitulou-se Senhor do Corisco, venera que hoje em dia pertencerá ao Sr. Obiang.
Para cúmulo do azar dos embarbichados, Portugal alienou a soberania em troca de benefícios territoriais no Brasil, consolidando o domínio sul-americano que hoje é a principal potência da CPLP, o tal Estado sucessor que naturalmente tem a devida proeminência na organização que não pode limitar-se a ser um "centro de afectos" e de charlas saudosistas. Há que ver para além dos sundowns enriquecidos com croquetes, pastéis de bacalhau, chamuças e baji purís.
Embora os nomes de D. Maria I e de Carlos III sejam para os mega cefalópodes, tão estranhos como os de qualquer monarca da Coreia pré-japonesa, nem por isso deixam de ser os que surgem como signatários dos dois Tratados - Santo Ildefonso e do Pardo - que consumaram a transferência daquelas ilhas para a Coroa espanhola e em troca, para benefício de Portugal, de territórios que hoje integram o Brasil. Aqui está um argumento persuasor que graciosamente lembramos aos nossos amigos brasileiros, decerto agradecidos por aquela auspiciosa permuta.
Eis mais uma desculpa airosa para o ingresso da Guiné Equatorial, betões, comes e bebes , gases e petróleos incluídos. Pois sim, berrem à vontade.
Pese embora seja perfeitamente possível e compreensível alinhar tanto pela posição pragmática que enforma este post do Nuno Castelo Branco, como pela posição idealista resumida nestes dois posts do Pedro Correia, sendo já um facto consumado a adesão da Guiné Equatorial à CPLP parece-me que talvez pudesse ser útil atentar na forma como Portugal foi encostado às cordas e acabou por não ter alternativa a pactuar com este desfecho, para o qual contribuiu decisivamente a pressão exercida por Angola e Brasil. E isto porque foi um processo demonstrativo de que a CPLP está, efectivamente, a transformar-se, a alterar a sua essência, não sendo despiciendo referir que possui o potencial para se tornar um importante bloco económico internacional, com os devidos reflexos no que à influência geopolítica concerne.
Talvez fosse boa ideia relegar para segundo plano o idealismo de uma comunidade ancorada na língua - o que os restantes membros da CPLP já fizeram -, e concentrar esforços em recuperar alguma influência política no seio da CPLP. E isto pode-se fazer, para contentamento de muitos, recorrendo precisamente à tão propalada - como se fosse novidade ou invenção recente - diplomacia económica. Para não voltarmos a ser apanhados na curva, o mínimo que o governo português - o actual e os próximos - pode fazer é concentrar esforços em alargar a organização a países com os quais temos boas relações económicas e políticas e que poderão ter interesse em fazer parte da CPLP, em particular pelas oportunidades de negócios que a organização representa.
Se o Senegal já é observador associado há uns anos, se Albânia, Ucrânia, Venezuela e Taiwan têm interesse em fazer parte da CPLP, torna-se essencial compreender precisamente a oportunidade que a CPLP pode representar para a economia portuguesa. O mesmo é dizer que deixemos de ser anjinhos e joguemos com as mesmas armas de Brasília ou Luanda. Assim de repente, relembraria apenas que há mais África para lá dos PALOP, que há América Latina e Ásia onde somos estimados e que também há países europeus que poderiam perfeitamente ser membros de pleno direito, atendendo ao precedente aberto com a adesão de um país onde não se fala português. Se não o fizermos, Angola e Brasil continuarão a alargar a organização atendendo essencialmente aos seus interesses e negociando o acordo de Portugal com migalhas. Já vai sendo tempo de termos uma política externa que não ande a reboque de idealismos ingénuos ou dos interesses de terceiros.
Apesar do nome, a CPLP não é apenas uma comunidade liguística.
Aqui estão mais uns tantos preciosismos próprios das entradas e saídas dos embaixadores do Grande Siècle. Sem perucas empoadas, sem moscas cuidadosamente colocadas pelo rosto, sem bengalas de retorcidos castões encomendados em Paris, mas com as mesmas meias brancas - desta vez de pano turco substituindo a seda -, carnicões no nariz, pelo a saltar para fora do pavilhão auricular e dentes amarelos de broa.
Apesar do nome, a CPLP não é apenas uma comunidade liguística.
Para único e exclusivo consumo interno, parece ser este o caso dos amuos, surpresinhas e melindres que os media veiculam para contentamento dos pacóvios do actual regime. Tudo isto serve para preencher uns minutos de "tempos de antena de opinião pública" e algumas vozitas dos barbichas das indignações do "hoje há caracóis". As besteiras saídas da reaparecida boca de José Carlos de Vasconcelos - "a CPLP é uma comunidade linguística", quer acreditar este pobre diabo dos anos setenta! - sintetizam as demais. Ouvirmos o confortado João Soares indignar-se com ditadores, conhecendo-se as efusões com que sempre acolheu sobas que mandaram e à farta massacraram no antigo Ultramar, apenas confirma a excentricidade de toda a panóplia de magarefes das notícias.
Apesar do nome, a CPLP não é apenas uma comunidade liguística.
Agora, consumado o facto da adesão da Guiné Equatorial à CPLP, os gnomos que regem as nossas vidinhas fixam-se em questões menores, resumindo-se o diplomático chilique a uma foto "antes do tempo" e a uma boliqueimada grosseria protagonizada pelo senhor Cavaco Silva. Pelo que a SIC está a proclamar, o presunto cavalheiro não aplaudiu o ingresso daquele país africano, consagrado na cerimónia. Apenas o "Chefe" do Estado português se eximiu à mais elementar e inócua cortesia. Enfim, é o que temos, esta gente que se beijocou e quis aparecer em fotos com Kadafi, condecorou Ceausescu com a Ordem de Santigo e Espada, elogiou o Gauleiter vermelho Honnecker, emperna com os Castro em todas as Cimeiras Ibero-Americanas, permitiu todo o tipo de dislates ao Samora, a Neto e Luís Cabral, bajulou Brezhnev e tantos outros. Já alguém ouviu Cavaco Silva admoestar os EUA quanto à existência da Pena de Morte, roubalheiras e negócios sujos em África, no Médio Oriente, na América latina, uso e abuso do nosso espaço áreo e outros factos que todos conhecemos? O que terá o belenense comensal dito ao presidente chinês aquando da sua visita? Falou-lhe nas inacreditáveis execuções públicas perpetradas em estádios de futebol, ou a EDP bem vale umas tantas valas comuns? Alguma vez puxou as orelhas ao embaixador dos aiatolás, fazendo-lhe advertências quanto aos enforcamentos em guindastes, lapidações e fuzilamentos a eito? A propósito da aplicação da sharia, terá Cavaco Silva recomendado a Paulo Portas umas conversas com os anfitriões sauditas?
Não vale a pena tentarem disfarçar o que sucedeu. Na CPLP, as decisões são tomadas por unanimidade, daí o pouco interesse prático das carinhas contristadas. Fez-se o que tinha de ser feito. Quem tem achincalhado Portugal, é o próprio regime em todas as etapas já percorridas. Ou será necessário lembrarmos as cantorias e hossanas em torno de gente que por disparate metropolitano, foi colocada no poder na maioria dos países africanos de "expressão portuguesa"?
A Commonwealth britânica tem o seu Mugabe - por mero acaso há uns tempos recebido em Lisboa -, enquanto os franceses pouco se ralam com o espantoso desfilar de títeres espalhados por toda a África central. Títeres que subornaram Giscard, compraram Mitterrand, traficaram com Chirac e que sempre contaram com a zelosa assistência militar de Sarkozy e do pudinesco Hollande. Nós, portugueses, somos especiais e assim há que escorraçar Obiang, ou melhor, a população que ele governa.
Apesar do nome, a CPLP não é apenas uma comunidade liguística.
Como ontem muito bem disse o embaixador Martins da Cruz (TVI24, pelas 11 da noite), estamos entregues a paroquialismos. Nada que não se resolva com umas concessões de exploração de petróleo, compra de dívida pública, salvação de um ou dois bancos, venda de resorts turísticos e de condomínios de duvidoso luxo pladurado e iluminado a LED, contratos com as betoneiras do regime e outras habilidades cá do burgo. Como se lá fora - e cá dentro - não fosse bem conhecida a única e obsessiva natureza da república portuguesa...
Apesar do nome, a CPLP não é apenas uma comunidade liguística.
Uma tremenda derrota para os sabichões relativistas do "comentoriorismo" televisivo, os das t-shirts do Che e dos cursos de férias em Washington.
Aqueles que jamais disseram coisa que se ouvisse acerca de regimes como os dos irmãos Castro e que com toda a bonomia bem convivem com bolivarianismos, daniéis orteguismos dos anos 80 e evomoraleirices, abespinham-se com o regime de Obiang. Não sendo de molde a provocar grandes entusiasmos de partilha de experiências de vida, o sistema vigente naquele país fronteiro a S. Tomé e Príncipe não se diferencia de sobremaneira daqueles que durante décadas vigoraram nos principais Estados africanos da CPLP. Alguém se recorda hoje do sanguinário, prepotente e totalmente inepto regime de Samora Machel e dos morticínios Por Bem dos governos de Agostinho Neto? Não, não convém recordar essas ninharias, para mais da autoria de grandes libertadores e de excelsos amigos do povo português.
Toda a publicidade televisiva anda em torno do total desrespeito pelos Direitos Humanos e descarado nepotismo do esquema Obiang, dois argumentos suficientes para impedirem o ingresso da Guiné Equatorial na CPLP. Verdade? É verdade. Perguntemos então aos indignados que andam pelo PSD, PS e PC, a opinião acerca do que desde 1975 se tem passado em Luanda e Lourenço Marques, perdão, Maputo. Não é preciso entrarmos em detalhes, todos compreendem o que queremos dizer. Alguns nomes de filhos, filhas e parentes por inerência, sempre efusivamente aguardados na Portela, significam babados negócios e compinchagens com a gente do regime de Lisboa. Veremos se o caso BES não significará mais umas tantas concessões aos aguardados salvadores.
A Guiné Equatorial não é um país onde se fale o português, aqui está o segundo argumento do rol. Verdade? É verdade, mas o que dizermos então de Timor Leste, onde decorrida mais de uma década desde a auspiciosa independência, pouco tem sido feito para estender o português à condição de língua franca? Qual o esforço feito pelas autoridades portuguesas quanto a este assunto de interesse nacional? Onde está o aproveitamento da "válvula de escape" para professores jovens e desempregados? Onde? Os indignados que nos esclareçam.
A entrada da Guiné Equatorial na CPLP, representa antes de tudo, uma verdadeira oportunidade para o exercício da persuasão das suas autoridades. Os ditadores vão e vêm e como dizia o santarrão Estaline a respeito dos alemães, "o povo fica". A pertença deste país à organização da lusofonia - e correspondentes vertentes da economia, educação, segurança e intervenção poíitica no concerto internacional -, implica a aceitação de regras aceites pelo regime e decerto não tardarão sensíveis modificações na situação geral, tanto política, como económica e social.
Portugal tem relações diplomáticas com Cuba? Tem, são excelentes e assim deverão continuar a ser, gostem ou não gostem os nossos aliados americanos. Portugal aceita as credenciais dos embaixadores do regime dos aiatolás? Certamente e bem longe vão as indignações contra o governo do grande Xá Reza Pahlavi. Portugal cultiva profícuas relações com a Arábia Saudita, China, Cuba, Qatar, Paquistão? Sim e com todos anseia estabelecer proveitosos negócios. Não existem por aí uns tantos Bernardinos que não estão seguros de a Coreia do Norte "não ser uma democracia"? Pois é mesmo assim.
Seja então bem-vinda a Guiné Equatorial. Contabilizando factos nas imediações da vasta região um dia genericamente conhecida por um certo povo como a Costa da Mina, retoca-se agora mais uma das páginas do nosso álbum de recordações históricas. Desta vez, com uma quase garantida perspectiva de benefícios mútuos, multilaterais. Desta vez e ao contrário de Samora, Neto ou do guineense Luís Cabral, é mesmo Por Bem.
As notícias que têm vindo a lume a respeito da crise congeminada pelo senhor Fernando Vaz (estou a ser muito benévolo no tratamento dado a este gentleman), permitem extrair uma conclusão pouco abonatória no que tange à influência política e diplomática exercida pela CPLP. O Paulo Gorjão e o Francisco Seixas da Costa já se referiram ao assunto aqui e aqui, salientando, justamente, esse ponto. De mais a mais, as últimas ocorrências deste affaire não são, propriamente, muito surpreendentes. A CPLP, enquanto organização política, tem primado pela mais absoluta irrelevância - veja-se o supino caso do acordo ortográfico -, algo a que não é alheio o facto de tanto o Brasil como os PALOP, sem esquecer, evidentemente, Portugal, terem votado esta instituição a um agradável ostracismo, no qual os assuntos mais candentes se resumem à mercearia involucrada numa hipotética adesão do regime de Obiang Nguema Mbasogo à organização. Para bom entendedor, meia palavra basta. Ademais, é facílimo de entender a preferência do Estado português pela abordagem multilateral dos problemas políticos emergentes na Guiné-Bissau: em primeiro lugar, a reduzidíssima efectividade política e diplomática da CPLP assim o obriga, em segundo lugar, como o próprio Francisco Seixas da Costa ressaltou, o acto ocorrido em Bissau foi, clara e inequivocamente, um acto de pirataria, pelo que a abordagem a seguir deverá ser, obviamente, multilateral. Em guisa de conclusão, mais uma vez, a CPLP provou que, política e diplomaticamente, não existe fora do quintal das Necessidades, o que, em boa medida, só leva a concluir que, nestes moldes, a instituição em questão é absolutamente inútil. Por fim, gostaria, igualmente, de lamentar o total despudor exibido pelos media portugueses ao amaciarem as posições da Guiné-Bissau, com entrevistas e peças jornalísticas a destempo. Assim, com estes gramofones comentadeiros de péssima qualidade, é, de facto, muito difícil ter uma diplomacia que funcione e prossiga os interesses nacionais.
Adriano Moreira passou a nona década de vida e o seu pensamento continua tão linear e consistente como dantes. Quanto ao que verdadeiramente interessa a Portugal - afinal o velho programa monárquico que o regime arrogante e ostensivamente teima em ignorar -, o Professor vem ao encontro daquilo que aqui tem sido apontado como inevitabilidade. Quando, entre outros temas também abordados por Adriano Moreira, aqui andamos há anos a dizer que a questão da Plataforma Continental consiste num novo Mapa Cor de Rosa que dentro em pouco teremos de enfrentar, não estamos no plano da mera suposição. É a certeza da imperiosa necessidade de mudança de regime. Apenas as palavras de alguém com o seu gabarito poderá fazer chegar a mensagem a quem interessa e pode, evitando o pior.
Ouçam esta entrevista concedida à TSF. Nesta situação de terra-queimada em que Portugal se encontra, finalmente algo de interessante.
Parece mau demais para ser verdade.
Cortesia da emissão da Televisão de Angola, fiquei a saber - talvez muita gente já soubesse mas eu pessoalmente não sabia - da nova "modernização" da Língua Portuguesa que está na calha. Chama-se Vocabulário Ortográfico Comum, e será um dos temas a serem tratados, entre amanhã e Quinta-feira, em Luanda, no Colóquio Internacional «O Português nas Organizações Internacionais», uma iniciativa do IILP – Instituto Internacional da Língua Portuguesa, em parceria com o Ministério das Relações Exteriores de Angola.
Em que consiste o Vocabulário Ortográfico Comum? Simples: em integrar na Língua Portuguesa todos os vocabulários em uso nas línguas autóctones de países lusófonos. Por exemplo, e tal como explicou o director-executivo do IILP, o professor brasileiro Gilvan Müller de Oliveira, as palavras das línguas bantus de Angola ou dos dialectos dos índios amazónicos passarão a fazer parte da Língua Portuguesa, podendo ser usadas em pé de igualdade com as palavras do Português original e no mesmo texto, na mesma frase. Ou seja, será possível usar na mesma frase termos mauberes, kikongos e tupinambás, sempre sem deixar de falar Português. E estamos realmente a falar de todos os vocábulos dessas línguas, uma vez que o processo de recolha dessas palavras em línguas locais será feito com recurso a programas informáticos funcionando na internet, efectuando um rastreio a sites ou documentos PDF à procura de novas palavras, que assim serão registadas e integradas automáticamente na base de dados que constituirá o VOC.
É claro que a cada novo vandalismo com a cultura portuguesa surgirão sempre ardentes defensores da "evolução", e da "dinâmica" cultural, com argumentos em favor da aproximação de gentes e de formas de encarar o mundo. Outros justificarão com razões geopolíticas de que Portugal tem de acompanhar o processo. Melhor compreensão é que seguramente não poderá ser argumento.
De acordo com o anunciado, o colóquio poderá ser seguido pela internet, seguindo as indicações do blogue do IILP em: http://iilp.wordpress.com/
O Sr. Schulz proferiu umas tantas sandices a respeito da política externa portuguesa. Sabendo-se algo acerca da constante correria dos agentes de Berlim em direcção a todos os cantos do planeta, o caso português é diferente. A Alemanha pode exportar os seus produtos e até apostar na suicidária venda da sua tecnologia de ponta. Está no seu direito e esta é a sua política. Há até quem lhes possa recordar o precioso treino e oferta de tecnologia ao exército soviético que nos anos vinte e trinta, forjaria as armas e as tácticas que fariam os panzer russos tomar Berlim. Sendo a Alemanha um país recente e que não possui raízes fora do hinterland centro-europeu, necessariamente terá uma política bastante diferente daquela que o antigo Portugal pluricontinental poderá prosseguir.
"É evidente que para os alemães e restantes tribos europeias jamais tocadas pelo génio de Roma, a dimensão do mundo é diminuta: uns bantustões na Boémia, uns kimbos na Polónia, umas senzalas na Morávia, uns Xipamanines na Hungria, mais meia dúzia de kraal na Eslovénia e uns hotentotes nas faldas dos Cárpatos."
Passos Coelho esteve em Angola, tal como Sócrates visitou a Venezuela, o Brasil e vários países dos PALOP. É a política externa que nos interessa, libertando este país do acanhamento imposto pelas amarras apressadamente tecidas em troca de umas tantas auto-estradas e dinheiros que se volatilizaram nos bolsos de uns tantos "convivas da Europa de cá".
Há cem anos, os republicanos derrubaram o regime que foi por eles acusado de submeter Portugal à Inglaterra. Naquela época, perto de 30% do nosso comércio era feito com os britânicos. Hoje a situação é bem diversa e se avaliarmos os dados disponíveis, facilmente verificaremos estarmos perante um cataclismo que faz perigar a própria existência do país, atado e bem atado a um vizinho poderoso e cuja estabilidade poderá ser posta em causa por um qualquer motivo fortuito. Os indicadores percentuais do nosso comércio com o antigo Ultramar, Brasil incluído, são ridículos, vergonhosos. Há que reforçá-los, mesmo que isso desagrade aos atrevidos auto-nomeados tutores.
As viagens a Angola, Brasil, países asiáticos e a todo o espaço da CPLP - sem descurarmos outras paragens -, mostram aos arrogantes donos da U.E., o nosso interesse por um mundo aberto, há séculos por nós visitado e que jamais deveríamos ter abandonado.
Uma vez mais, os alemães regressam ao princípio da Festung Europa. Quando a nós se refere, tome em boa nota o Sr. Schulz, de não estar a falar da Croácia, Hungria, Finlândia, Rep. Checa, Dinamarca, Áustria e outros. Bastar-lhe-á olhar para um mapa e talvez perceberá o que está em causa. A U.E. - ou melhor, os alemães - estão irritados? Bom sinal.
Sigamos em frente.
Paulo Portas prepara-se para um périplo pelas capitais dos países da CPLP, procurando encontrar soluções para a situação que o nosso país enfrenta. Esta catástrofe poderia ter sido evitada, se os governos que têm decidido quanto às prioridades do país, não tivessem descurado aquilo que um "certo sector" - o tal "maior e mais antigo e informal Partido clandestino de Portugal" - tem indicado desde há muito tempo. Se existe algo a apontar quanto a estes contactos, será por pecarem por tardios. Esta visita não pode limitar-se à tentativa de venda de dívida pública ou à angariação de contratos para o empresariado português. Há que ir muito mais longe, mas isso já é do domínio da grande política.
O tempo urge, mas na frente externa, o governo começa muito bem.
No Brasil, o ministro Fernando Pimentel é favorável à compra de títulos da dívida portuguesa*, mencionando os laços históricos entre os dois países.
Tal como declara, a relação entre o Brasil e Portugal é especial e em conformidade, do lado de cá do Atlântico há quem pense que esta situação de crise europeia, pode e deve ser aproveitada pelo Brasil, avançando-se para um projecto mais coerente com as potencialidades da CPLP. Estamos no momento exacto para ousar, até porque a "Europa" não beneficia de uma posição capaz de opor demasiados obstáculos.
*Vítor Gaspar diz que a "nossa" (dele?) República tem compromissos para respeitar. De uma vez por todas, fale em nome do país cujo nome é Portugal. Esqueça a dita "República" e verá que desta forma, é mais fácil mobilizar vontades e concitar a compreensão geral. Aliás, num governo a abarrotar de monárquicos, gastar o verbo com a dita cuja, é pura perda de tempo
Os empafiosos vizinhos que temos, já puxam pelos galões e querem ver o espanhol como a segunda língua do Brasil. Coisa fácil, até porque conhecemos a facilidade que os falantes de português têm em usar outros idiomas, por mais difíceis que sejam.
O texto do El País, o jornal oficialista do regime de Madrid, diz que ..."agradó al Príncipe el empeño de la nueva presidenta en el impulso al crecimiento del país que pueden dar cada día con mayor fuerza las empresas españolas, así como salió muy satisfecho con la promesa de Dilma de impulsar aun más el estudio del español en Brasil para convertir al país en bilingüe portugués español." Daqui a uns dias, ninguém se admirará se o mesmo diário designar o Brasil como "una antigua possession de España", tal como a TVE fez, quando da passagem de Macau para a administração chinesa. No caso macaense, o pretexto consistiu numa passagem ao de leve pela chamada união ibérica de 1580-1640. Há gente para tudo e os nossos vizinhos, são nisto imbatíveis.
O governo espanhol deveria ter mais atenção à protecção do idioma castelhano nos países limítrofes do Brasil, pois a a invasão do português parece ser uma ameaça bem maior que aquela com que o El País sonha: Uruguai, Argentina e Paraguai - para não citarmos outros -, são "casos preocupantes" para a exclusividade cervantina naquelas paragens. Pior ainda, dentro do próprio Reino, a região da Galiza exige a adopção do ensino do português, como língua obrigatória nas suas escolas e o caso catalão nem sequer merecerá qualquer comentário.
Entretanto, um aparentemente assíduo leitor dos blogues monárquicos, diz agora que o Brasil é uma prioridade, já indo bem longe, os ventos do "Espanha, Espanha, Espanha". Boa viagem.
"Depois, incomoda-me que a nossa direita tivesse feito à esquerda o favor de se tornar racista, quando a história da liberdade e independencia portuguesas só se explica no Brasil, na Ásia e em África. A direita portuguesa - a mais incongruente, estúpida e iletrada da Europa - anda há 200 anos a fazer favores a todos quantos diz detestar; logo, perdeu todos os combates e ofereceu em terrina o manjar das "boas causas" à sinistra. Não me incomodou o texto de Bic Laranja, mas os comentários, que de tão roncantes e baixos só deslustram aquele que é um dos mais nobres, elegantes e simpáticos blogues portugueses."
Muito a propósito deste post do Miguel, leiam a entrevista do Duque de Bragança no I:
"O telefonema surge na sequência da conversa que tive em Brasília com algumas pessoas do governo e em que manifestei que há em Portugal interesse numa futura confederação de Estados lusófonos. Isto quereria dizer que a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) iria evoluir para uma confederação de Estados lusófonos. A confederação não é só uma aliança de Estados, é o começo, de facto, de um Estado. A Commonwealth, que a Inglaterra preside, não é uma confederação, é menos que uma confederação. E a Commonwealth nunca impediu a Inglaterra de pertencer à União Europeia, pelo contrário."
No excelente blog que é o Bic Laranja, corre uma enorme polémica acerca do pedido da nacionalidade timorense, atempadamente enviado pelo Senhor D. Duarte às autoridades de Dili. Passando sobre umas tantas habituais e inócuas grosserias, a maioria dos comentadores - mais de 80! -, manifesta uma certa estupefacção pelo pedido real, dada a total incompreensão daquilo que é o direito sucessório à Coroa e a manifestação de um visionário projecto de uma portugalidade renovada.
Jamais qualquer londrino ou edimburguês questionou o facto de Isabel II ter a nacionalidade britânica e simultaneamente, ser canadiana, australiana, jamaicana, ou neo-zelandesa. O conceito da Commonwealth que tão bem tem servido uma imensa comunidade de povos e de interesses, normalizou este aspecto marginal da "nacionalidade". Antes de tudo, Isabel II é a soberana em título, como tal reconhecida representante da dita comunidade de valores e dos interesses que até hoje ditam a ainda forte presença britânica no mundo. Mais, Isabel II é o chefe da Commonwealth, onde pacificamente coexistem monarquias - entre as quais as acima citadas e outras que como Tonga, o Lesoto e a Suazilândia, têm soberanos próprios - e repúblicas como a África do Sul, a Índia, o Ceilão ou a Tanzânia.
Arrepelam-se os cabelos, atira-se cinza do tabaco para a chávena de café e roem-se unhas em estupor pela "perda do Rei". Mas que perda? Onde está ela, que ninguém no seu perfeito juízo a vislumbra?
D. Duarte vê um Portugal maior e mais extenso que jamais, composto por uma miríade de povos livres e soberanos, mas voluntariamente unidos num interesse comum ditado não apenas pelo passado, mas pela necessidade do gizar de um futuro que hoje, nesta fase de acelerado desaparecimento de um mundo que durante tanto tempo conhecemos, urge erguer e garantir. O espaço atlântico, alargado ao Índico e às longínquas paragens do Pacífico ocidental, são a meta tentadora que é imperioso atingir. Incluir na CPLP a Guiné Equatorial, o Senegal, a Indonésia e quem pretenda revigorar ancestrais laços com a velha e quase desaparecida potência do alvorecer da globalização, consiste em primeiro lugar, numa enorme honra e distinção para os portugueses. Torna-se ainda mais importante, por dar total consistência ao nosso secular projecto nacional, por si só capaz de atrair a simpatia e o sentido de pertença de gentes de características tão díspares e separadas por oceanos e continentes.
Existe um discreto sentimento de temor pela incerteza destes dias e a procura da segurança, induz à acção. Estando Portugal incluído em alianças colectivas de inegável poder no mundo, tal servirá para a aproximação de muitos países com difíceis problemas de afirmação e de progresso. Foi isso que o Duque de Bragança entendeu, ao viajar ininterruptamente por paragens onde Portugal deixou marca indelével. Preocupada com a sua irreversível decadência que ameaça a própria existência do Estado, a república deveria estar-lhe sumamente agradecida e entusiasticamente aderir ao projecto.
Melhor contributo, não seria possível deixar à posteridade. Estamos possivelmente no começo de um novo tempo e o caminho parece tão evidente quão infalível.
* Há precisamente 35 anos e aproveitando a loucura que grassava em Lisboa, o regime de Suharto invadiu Timor-Leste. Quem não se recordará daquilo que D. Duarte representou para a Libertação daquele povo, hoje dono do seu território?
Quando não está exclusivamente preocupado em fazer-se notar para um previsível render da guarda no Palácio de S. Bento, este antigo secretário de Estado dos tempos do pântano guterrista, chama a atenção para um ou outro episódio da nossa política.
Hoje, o móbil consiste na apreciação que o tresloucado grupo parlamentar do PS no Parlamento Europeu, faz da política.
O semanário Sol, diz que os socialistas resolveram declarar guerra à Alemanha. Genialidades da dimensão de um Sérgio Sousa Pinto, além da descabelada Ana Gomes - assim a denomina Edite Estrela -, acusam os alemães de todos os males, desde as suas exportações, até à adopção de medidas que combatam o endividamento. A estrela falante do grupo rosa, chega ao desplante de tecer considerações pouco simpáticas acerca da dimensão política da chanceler Angela Merkel, adoptando o tom chocarreiro que outrora um outro compagnon de folie, utilizou para definir a Sra. Nicole Fontaine. Mais uma ou outra encabritada voz se fez ouvir, afinando pelo mesmo diapasão e aventando as mais disparatadas alusões a outros tempos, onde as guerras mundiais surgem como explicação para tudo, ou pior ainda, como ineficaz chantagem moral sobre quem tem a bolsa que paga as loucuras de outros.
As personagens são secundárias e perfeitamente inócuas, mas o mesmo não se poderá dizer acerca de Mário Soares, de longe mais influente e respeitável do que a soma de todas as inefáveis nanidades acima mencionadas. Além da excentricidade de considerar como "excelentes propósitos", o esquema sarkoziano de governo mundial, Soares regressa à requentada lenda do ingresso britânico numa Europa comunitária, tendo como exclusivo e tenebroso fito, a sua sabotagem interna. Insiste assim, na francófila cegueira perante aquela evidência que qualquer consulta a uma história factual de bolso, mostrará sem sofismas.
Morta a URSS e liquidado o seu império colonial na Europa de leste, as condições que estabeleciam os diversos equilíbrios de poder alteraram-se radicalmente. A unificada Alemanha recuperou o seu tradicional predomínio nos Estados vizinhos e foi sem dúvida, a principal promotora da entrada dos arruinados ex-membros do Comecon, naquilo que hoje é a U.E. Duas décadas antes, os mesmos alemães fizeram tudo o que puderam para convencerem franceses, italianos, ingleses, belgas e outros, a abrirem as portas do selecto clube a Portugal e à Espanha. Recuando ainda mais no tempo, todos decerto recordarão o importante contributo alemão para a derrota do comunismo durante o PREC de 1975. Muito deve o PS à Alemanha, desde a conferência de fundação do Partido em Bad Munstereifel, à enxurrada dos dinheiros da Fundação Friedrich Ebert e ao outrora "pacóvio conservador da CDU" Helmuth Kohl, hoje pelos socialistas muito justamente reabilitado, como um entre os grandes. Muito mais importante que este aspecto da vida interna da Internacional Socialista, os portugueses deverão estar gratos à Alemanha, pelo progresso visível nas nossas infraestruturas e até por um estilo de vida imerecido, porque não correspondente às nossas possibilidades de produção e criação de riqueza. Se liquidámos os nossos afazeres por influência externa, essa é uma outra questão que apenas poderá imputada a quem isso permitiu.
Nunca tivemos qualquer ilusão acerca das correrias inter-fronteiriças, onde saltitantes grupos de jovens e idosos se abraçavam, empunhando bandeirinhas estreladas e cantando a 5ª sinfonia do fim das barreiras. A política séria, não se compadece com este tipo de folclore e o mais surpreendente é verificarmos que uma boa parte dos nossos decisores, encaram essas trivialidades com o ar mais sério deste mundo. O jogo europeu consiste antes de tudo, no evitar de fricções excessivas que conduzam à declarada inimizade de outros tempos, hoje impossível pela visível decadência desta península que diz ser um "continente". A rivalidade entre as empresas e a luta dos Estados pela conquista de posições cimeiras que garantam óbvias vantagens políticas e económicas, continuam como sempre, a ditar a agenda de qualquer governante que chegue ao poder, seja na Europa, como nas Américas, Ásia ou África. Não entender este princípio básico da boa governação, denota a escassa consciência que os nossos políticos têm da realidade. É perfeitamente possível sermos europeus e em simultâneo, mantermos uma política secular que diversifique o nosso campo de acção para outras áreas do mundo, especialmente aquele que fala português e claro está, nos negócios com as potências interessadas nas potencialidades da CPLP, sejam aquelas a China ou os cada vez mais dependentes Estados Unidos. Sempre apontando os processos descolonizadores da França e da Inglaterra como exemplo, a gente da 3ª República esqueceu-se do importante detalhe da permanência da influência política e económica - e até militar -, das antigas potências coloniais, nos Estados que ascenderam à independência. Os dirigentes do PS e do PSD, fizeram precisamente o oposto e decidiram-se pela exclusividade da aposta europeia, esgravatando à procura do ouro que lhes permitiu fazer a efémera e questionável figura de "primos ricos". O resultado está à vista.
Pouco interessará se é Sócrates, Passos Coelho ou outro, a retomar uma política multifacetada de relações exteriores de Portugal, sejam elas económicas ou culturais. O importante consiste no estabelecimento daquele "faça-se!" que tem estado sempre ausente nas últimas décadas.
A mirífica Europa Unida encontra-se num período de clara indefinição e esta poderá ser uma oportunidade que devemos aproveitar. O ponto de referência de todos os governos de Lisboa, deverá ser sempre o da manutenção do maior grau possível de independência do Estado, num mundo bem diferente daquele que o século XX viveu, aplicando-se para a nossa sobrevivência, aquilo que outros bem melhor executam nos seus países. Quanto a este aspecto fundamental que caracteriza o bom governo, Portugal tem sido submetido a uma duríssima e escusada prova, dada a evidente inépcia de quem faz a política como um simples exercício de vaidade ou de mealheiro de proventos pessoais. A hipoteca das nossas relações externas ao restrito e semi-falido conjunto europeu - onde o vizinho cobra a parte de leão -, esgota as nossas possibilidades, diminui-nos no concerto da chamada "nova ordem mundial" e poucos ou nenhuns benefícios materiais nos trará. Como sempre, ficamos perante um visível esquema de desigualdade, descrédito externo e numa desesperante exiguidade de recursos económicos e políticos que nos condenam a uma inglória saída de cena. Um triste epílogo para uma história que ainda está a tempo de ser bem diferente.
Bem a propósito daquilo que aqui disse, eis um muito simples, esclarecedor e oportuno post do João Miranda. Ora comparem e vejam as coincidências. A marcar uns pontos mais por Angola*, apenas faltará contabilizar a maciça limpeza étnica pós-1974/75 e a frutuosa guerra civil que chacinou para cima de 1 milhão de angolanos, para nem sequer mencionarmos o que se passa em termos de negocieiras luso-angolanas. Bem privadas, por sinal. Nada de especial...
Angola | Guiné Equatorial |
Tem petróleo | Tem petróleo |
É uma ditadura com eleições | É uma ditadura com eleições |
A única eleição presidencial realizada até ao momento foi em 1992. Não houve 2ª volta, ninguém foi eleito. | Teodoro Obiang tem sido reeleito de 7 em 7 anos desde 1982 |
José Eduardo dos Santos está no poder desde 10 de Setembro de 1979. Por um mês não é o ditador mais antigo da África subsariana | Teodoro Obiang está no poder desde 3 de Agosto de 1979. Por 1 mês é o ditador mais antigo da África subsariana |
A família do presidente controla os grandes negócios. | A família do presidente controla os grandes negócios. |
Corrupção generalizada | Corrupção generalizada |
Violação dos direitos humanos | Violação dos direitos humanos |
Está do lado português do Tratado de Tordesilhas | Está do lado português do Tratado de Tordesilhas mas territórios foram cedidos a Espanha |
Fala-se português | Algures numa ilhota fala-se um crioulo do português |
Língua oficial: português | Línguas oficiais: espanhol, francês, português |
PIB per capita: $6 116 | PIB per capita: $31 837 |
* Questão do momento: o sr. Obiang também tem filhas e mulher empresárias de sucesso? Perguntem ao sr. Cavaco, lá saberá.