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Daniel Bessa pode parecer simpático porque vai ao encontro da vontade popular quando afirma que "renegociar a dívida é inevitável", mas logo a seguir deita tudo a perder: "e obriga a mais impostos". Um imposto pesado sobre o património (à moda do Chipre) - segundo o mesmo. Ou seja, os bem comportados que até conseguiram juntar um pé de meia de um modo honesto, serão implacavelmente roubados pela urgência de equilibrar as contas nacionais. O economista também fala do incremento das exportações desvalorizando o comportamento do mercado interno. Por outras palavras, o emprego nem sequer é tido em conta. O trabalhador nacional que se desenrasque - o que interessa é a procura externa. Acrescenta ainda que deve haver incentivo ao aumento da massa salarial através de duas vias possíveis; o aumento dos salários ou o aumento de trabalhadores. E aqui fico baralhado. Com que instrumentos financeiros? Com que dinheiro? Acho realmente grandioso que um economista de vulto apresente apenas metade da equação. Como se a pilha da calculadora tivesse ido à vida a meio caminho do algoritmo. Com o intensificar da contradição entre os mercados, a economia e a situação do emprego em Portugal e na Europa, seremos confrontados com estradas por onde caminham meias-verdades . No final do exercício económico deste anos, os resultados das empresas pela Europa fora serão maravilhosos. Pudera, conseguiram cortar com a gordura que representam os trabalhadores, e agora apenas ostentam músculo - a máquina produtiva. As bolsas de valores mundo fora e as respectivas acções, desde o ponto baixo de Março de 2009, tiveram um desempenho notável e começam a bater recordes de "altas". No meio deste entusiasmo, já não temo que o trabalhador seja esquecido na paragem - tenho quase a certeza.
Passos Coelho ou Cavaco Silva não podem fazer o que o Papa Francisco acaba de fazer. Pegar no telefone e ligar para um cidadão com o intuito de lhe dar alento, esperança. Que fique bem assente: não professo nenhuma religião em particular nem trabalho para a companhia de telefones. O que confirmo nesta chamada relaciona-se com a perda do mínimo denominador comum que liga os homens, a ligação empática. Os actuais governantes perderam a nação, mas também perderam a noção de que essa entidade sagrada não pode ser violada. Quando um lider perde o direito de estabelecer a ligação com o cidadão comum é porque a coisa não corre bem. Eu sei que estão a pensar nos soldados da paz e a falta que o abraço lhes fez. Mas, por outro lado, talvez já não queiram sentir "essa" mão no ombro. Se um número de telefone fosse discado e a chamada aterrasse na casa de um desempregado, de alguém caído fora do sistema, não sei se o contacto do call center seria um incómodo ou não. Oh, Passos, não tens nada melhor que fazer? Vai chatear outro. Desampara a loja. As telecomunicações políticas já não são o que eram. O que resta para que não desliguem o telefone na cara? Os outdoors das campanhas autárquicas? Os panfletos e as brochuras obscenas? Um homem como o Papa Francisco rasgou o protocolo e carregou o cartão de chamadas. Fala de igual para igual com os seus interlocutores. E é disso mesmo que se trata - credibilidade. A refundação da relação lider-seguidor, o restabelecimento da confiança a partir do grão inicial. Enquanto esse grau de proximidade não for restabelecido os governantes terão de continuar a emissão a partir de uma torre de marfim, um castelo de cartas.
Se estão assim tão interessados na Segunda Regeneração - mesmo que sem o necessário Rei apartidário -, tal apenas será possível se todos os Partidos concordarem nos seguintes pontos:
1. Divulgação de toda a documentação referente ao BPN - nomes, negócios, montantes envolvidos e beneficiários das fraudes -, do BPP, das PPP e de todos os grandes contratos firmados pelo Estado nos últimos vinte e cinco anos.
2. Imediata erradicação das listas de filiados de todos os Partidos, de quem seja pela Lei reconhecido como culpado de qualquer delito que tenha lesado o Estado ou recebido comissões por negócios com dinheiros públicos.
3. Reconhecer a necessidade de legislação destinada a expropriar bens adquiridos de forma ilícita ou que justifiquem a formal acusação de enriquecimento ilícito.
4. Declarar a impossibilidade de qualquer prescrição de qualquer crime por delitos perpetrados contra o património público.
5. Proceder imediatamente aos contratos necessários com entidades internacionais peritas no rastreio do crime organizado, detectando o destino de fundos e os nomes dos seus titulares.
6. Agir internacionalmente no sentido de obrigar à devolução de bens ilegalmente apropriados por singulares ou por empresas.
7. Abolição de todos os regimes de excepção que através de "subsídios, direitos inerentes, ajudas de custo e sacos azuis", sejam susceptíveis de prejudicar o património público.
Dizem que quem quer uma análise em detalhe dos eventos lê a imprensa e que quem só quer as “headlines” se fica pela tv mas desde que voltei lá de fora tenho acompanhado o jornalismo português com alguma atenção e tenho que discordar. Ao abrir qualquer publicação diária (não tablóide) deparo-me apenas com artigos de opinião que se repetem uns aos outros incessantemente, isto quando não se estão a mandar recados pessoais entre comentadores. Há alguns temas de comentário que se repetem mais frequentemente que outros, por exemplo: a crítica ao estado devorador de tudo que é sempre apresentada em género caricatural em que a instituição é demonizada e o sector provado adorado como exemplo de virtude – ignorando as práticas empresariais incorrectas, ilegais e as ramificações sociais e políticas que costumam estar associadas ao fenómeno do negócio (nada se movimenta num vazio cultural); curiosamente estes comentários costumam surgir de pessoas ligadas ao mundo dos negócios que pelos vistos não conhecem nenhum desses defeitos (abençoados sejam os simples…).
Peguei neste ponto mas poderia ter pegado noutros mas o que fica patente seja qual for o tema que se queira escolher é que os jornais claramente têm uma orientação política, económica e social (ninguém no seu bom senso dá por exemplo tempo de antena a um personagem como César das Neves ou Júdice (para dar apenas alguns exemplos) se não tiver um interesse comum a defender) que exercem constantemente em modo de propaganda de forma a criar uma agitação artificial no charco da política nacional – aliás isto não é política… é mexerico de domésticas. À falta desta profundidade de análise e de credibilidade que é característico dos nossos medias resta ao leitor interessado ir apanhando bocados aqui e ali e se com sorte ir lendo uns espaços online mais interessantes que o marasmo da tv e do jornal.