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O erro da narrativa da desresponsabilização da Alemanha

por Samuel de Paiva Pires, em 17.07.14

É cansativo ver repetida, quase ad nauseam, a ideia de que a Alemanha não tem qualquer responsabilidade na crise que o Velho Continente vem atravessando. Desta feita, e motivando este meu post, li-a num texto do João Távora. Curiosamente, não me recordo de ter visto qualquer dos proponentes desta narrativa suportarem-na com argumentos, dados, factos históricos. A explicação é simples e talvez fique a dever-se ao facto de muitos confundirem as suas crenças e vontade de recriminar Portugal, os portugueses e os seus líderes políticos - que também têm responsabilidades, e muitas, na crise que atravessamos, mas não são exclusivas -  com a realidade: é que aquilo que defendem está errado. É, apenas e só, wishful thinking. Isto motivou-me, já há uns bons meses, a investigar as origens da crise do euro, o que resultou num ensaio que apresentarei nesta conferência.

 

Começando no estabelecimento da União Económica e Monetária - em que prevaleceu a visão do Bundesbank de um BCE inspirado no seu modelo, centrado quase exclusivamente na estabilidade de preços -, que não era e continua a não ser uma Zona Monetária Óptima, circunstância agravada pela inexistência de uma união orçamental que permitisse uma gestão macroeconómica conjunta, o que a torna propensa a choques assimétricos; passando por uma fragilidade estrutural essencial para a compreensão da crise, segundo Paul De Grauwe, que é a perda da capacidade de os países emitirem dívida numa moeda própria, emitindo-a numa moeda que não controlam, pelo que estão, assim, mais facilmente à mercê dos mercados financeiros e podem ser rapidamente precipitados por estes para um default; e chegando aos anos da crise do euro, em que o diagnóstico da crise da dívida soberana grega foi erradamente generalizado a outros países, conforme Jay Shambaugh sublinha, servindo como justificação para prescrever pacotes de austeridade e reformas estruturais que, per se, não são suficientes para superar os constrangimentos resultantes das fragilidades estruturais da UEM, conclui-se que estas fragilidades não só resultam da perspectiva alemã aquando das negociações que levaram ao seu estabelecimento, como aproveitam actualmente à Alemanha. Hans Kundnani assinala que a actual situação, com um euro fraco (segundo Andrew Moravcsik, a taxa de câmbio real da Alemanha, actualmente, está 40% abaixo do que estaria se o país ainda tivesse o marco alemão), é a ideal para a economia alemã baseada nas exportações e avisa que o narcisismo económico da Alemanha coloca toda a Zona Euro em causa. Assim, a Alemanha está actualmente numa posição muito confortável, com um euro fraco que favorece as suas exportações, tornando-a a economia mais competitiva da Zona Euro, e, em parte em resultado disto, encontra-se de forma indisputada na liderança política da UE, tendo a cooperação entre países soberanos sido relegada em favor de uma dominação de facto por parte de Berlim. Ulrich Beck resume de forma lapidar esta situação em A Europa Alemã: "Como a Alemanha é o país mais rico, agora é ela que manda no centro da Europa." A austeridade imposta erradamente aos países sob resgate financeiro permite à Alemanha manter este status quo em que, nas palavras de Moravcsik, ao "utilizar uma moeda subvalorizada para acumular excedentes comerciais, a Alemanha actua como a China da Europa."

 

Por tudo isto, caro João, o que é uma fatalidade para nós portugueses – e outros como nós –  é persistir no erro de acreditar na narrativa da desresponsabilização alemã, que não tem correspondência com a realidade. Fatalidade esta que se torna particularmente trágica atendendo a que muitos dos decisores políticos acreditam nesta narrativa, pelo que, ingenuamente ou não, acabam frequentemente a servir mais os interesses alemães do que os interesses das nações que os elegem.

publicado às 18:20

Do diagnóstico errado à receita da austeridade excessiva

por Samuel de Paiva Pires, em 11.05.14

No primeiro semestre do doutoramento, no âmbito da cadeira de Temas Aprofundados de Economia Política Internacional, escrevi um ensaio sobre a crise do euro que, eventualmente, virá a público até ao fim deste ano. O argumento central é o de que o diagnóstico alemão da crise é errado e, logo, a receita da austeridade também. Afirmo ainda que é politicamente insustentável manter o status quo e que ou acabamos com a zona euro como a conhecemos (partindo-a em duas ou acabando com o euro) ou há que aprofundar a integração europeia, provavelmente por via do federalismo. Boa parte das considerações económicas fundamentam-se em Paul De Grauwe (vide este artigo e a obra Economics of Monetary Union, já na sua 10.ª edição, embora eu tenha recorrido à 9.ª, a mais recente à altura), e as considerações de ordem política resultam essencialmente das minhas observações.  Claro que os Maçães desta vida - o governo português - , discordarão. E, nos últimos meses, sempre que, recorrendo a argumentos que utilizei no ensaio, debati estas questões com economistas, alguns, talvez para disfarçar a falta de argumentos ou a incapacidade de duvidar das suas próprias perspectivas, não hesitaram em atacar-me apenas por não ter qualquer grau académico nessa magna ciência que é a economia. Dado que este ensaio foi avaliado em sede própria com 19 valores, por alguém doutorado em economia, nunca me preocupei muito com este tipo de críticas. Mas, nem de propósito, permitam-me dedicar-lhes uma entrevista a um economista formado na LSE, Philippe Legrain, que foi conselheiro de Durão Barroso. Pode ser que, sendo um economista a dizê-lo, consigam finalmente vislumbrar que há mais vida para lá da perspectiva alemã e que esta é profundamente errada e prejudicial não só a Portugal como à União Europeia. E, já agora, pode ser que também percebam a falácia da autoridade em que têm incorrido. 

publicado às 11:47

Vítor Bento:

 

"O excedente global pressiona a apreciação do euro criando um ‘loop’ adverso sobre os países periféricos. Estes, para recuperarem a competitividade perdida na década anterior à crise, têm que baixar os custos internos. À medida que esse ajustamento se reflecte na melhoria da sua balança externa e porque os países excedentários não fazem o seu próprio ajustamento, tal melhoria fortalece o euro, acabando por lhes minar (cambialmente) a competitividade, forçando-os a ter que voltar a baixar os custos. Não é difícil perceber como este ‘loop' tem um efeito deflacionário e, portanto, contraccionista em toda a Zona Euro."

publicado às 11:23

Até já Cavaco puxa as orelhas a Passos

por Pedro Quartin Graça, em 05.12.12

Ambos, Presidente e Primeiro-Ministro revelam, uma vez mais, a sua incompetência. O primeiro porque só agora diz em público, semanas e semanas depois, aquilo que muitos (incluindo nós) andamos a dizer há meses à saciedade. O segundo porque, apesar de estar com orelhas a arder, ainda não percebeu, ou não quis perceber, aquilo que tem de fazer, tanto é o medo que tem de Merkel. Falamos, evidentemente, de algo óbvio. Óbvio para a população e para o cidadão comum, mas nada óbvio para os talibans partidários da (in)accção governamental. Estes continuam a assobiar para o lado e fogem a dar "a mão à palmatória" reconhecendo algo que é inevitável: que é necessário negociar. E negociar duro para Portugal pagar menos (como a Grécia) e em mais tempo.

Até Cavaco diz que não vê razão para que «não seja alargado o período de reembolso dos empréstimos do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira a Portugal» e que Portugal deveria "ver reduzida a comissão que paga pelos empréstimos europeus e deveria ter um alargamento do prazo de reembolso."

Já se percebeu, contudo, que Passos e Gaspar não sabem negociar. E, mais do que não saberem, não têm vontade disso. Deve ser de certeza porque, como o consultor Borges, também pensam que Portugal tem "das cargas fiscais mais baixas da Europa". O resto é fácil. O Zé Povo que pague. Porque a eles nada lhes dói.

publicado às 22:28

Mais pobres à conta da casmurrice da dupla do costume...

por Pedro Quartin Graça, em 05.12.12

É "apenas" por motivos de teimosia ou casmurrice da dupla Passos/Gaspar que Portugal não tem as mesmas condições do que a Grécia. De casmurrice e, diga-se, pelo facto de Passos ter sido convencido de uma balela, a de que se Portugal beneficiasse das condições cedidas à Grécia arriscaria piorar a imagem nos mercados. Uma balela que nos sai muito cara em termos de juros e de sacrifícios pedidos aos portugueses. 

A verdade é que, de acordo com o jornal i,"a extensão automática a Portugal dos benefícios cedidos pelos credores europeus à Grécia seria bem recebida nos mercados de dívida, afirmam ao i vários analistas de bancos de investimento internacionais. O problema na extensão não é de recepção dos investidores, como sugeriram os ministros das Finanças da Alemanha e de França, mas sim de recepção nos parlamentos e nos eleitorados dos países credores numa altura em que o caso de Portugal não é considerado “urgente” como o da Grécia, consideram os mesmos especialistas.

“Não penso que Portugal corresse o risco de resvalar para a má imagem da Grécia se beneficiasse de condições semelhantes no empréstimo”, afirma James Nixon, economista-chefe para a Europa no banco Société Générale (SG). “A percepção do mercado sobre Portugal depende das projecções sobre a dinâmica da dívida e as medidas de alívio para a Grécia, mesmo que não totalmente replicáveis, tenderiam a ser vistas de forma positiva pelos mercados”.

Axel Lange, analista do banco Credit Suisse, concorda e acrescenta – quer o comportamento diferente de Portugal face à Grécia, quer as dificuldades específicas das contas portuguesas são bem conhecidas dos investidores. “Os mercados vêem os dois países de forma separada, mas estão bem conscientes das dificuldades de Portugal – tudo o que possa apoiar o país será genericamente percebido de forma positiva”, explica.

Ou seja, uma vez mais, Passos e Gaspar fizeram asneira da grossa, com custos incalculáveis para Portugal. É o que dá ter um Primeiro-Ministro fraco com os fortes. Porque com os fracos sabe ele falar.

publicado às 09:21

Com "exemplos" destes podemos nós bem...

por Pedro Quartin Graça, em 04.11.12

Merkel pede mais 5 anos de sacrifício e austeridade aos europeus, e aos Portugueses em particular. Por cá o seu súbdito e submisso Coelho fala, pateticamente, de uma "refundação" mas não explica o que entende por tal a não ser a total destruição do Estado Social para a qual não conta, evidentemente, com o Partido Socialista. Ninguém percebe o que Passos diz, nem mesmo quem já por cá anda há uns anitos... Poder-se-ia pensar, contudo, que da Alemanha viriam bons exemplos de como combater o desperdício. Puro engano! Por lá as palavras crises e austeridade não significam absolutamente NADA. Só assim se compreende que o Deusche Bank, ao mesmo tempo que dispensa 2000 funcionários, reúne em hotel de luxo , com estadias de 320 a 15.000 euros por noite/quarto, para "dar o exemplo", é claro...

Que se federem todos mas deixem-nos em paz, está bem?!

publicado às 15:21

“Eu sou eu e a minha circunstância”

por Samuel de Paiva Pires, em 17.05.12

(imagem daqui


Quando me iniciei na actividade blogosférica, há quase 5 anos, poucos eram os blogs que lia. Entre estes figurava o Combustões, que foi o segundo blog a linkar o Estado Sentido. E o Miguel Castelo-Branco foi uma das primeiras pessoas deste meio a quem tive o atrevimento de endereçar um e-mail. O seu blog constitui leitura obrigatória e, como já por várias vezes afirmei, o Miguel é certamente uma das melhores penas da língua portuguesa, o que alia a um conhecimento profundo das matérias que trata e a uma paixão notável por aquilo que faz. Ontem o Miguel teceu um elogio à minha pessoa que ainda continua a deixar-me ruborizado e que, por tudo o que escrevi, muito me sensibilizou. Não estando habituado a lidar com elogios, creio que a melhor forma de o retribuir é através de uma réplica cuidada e fundamentada em relação ao tema em apreço, que permita contribuir para o debate sobre o federalismo americano e europeu.

 

O Miguel critica o meu elogio de James Madison, afirmando que não existe tal coisa como pensamento americano, que “uma colónia produz "pensamento" coincidente com a sua circunstância”, e que mesmo a obra mais importante da teoria política americana, The Federalist, é apenas um pequeno livro quando comparada com o pensamento de Hume ou outros pensadores europeus. Ora eu não estou em desacordo, nem poderia estar. Mas parece-me que a crítica à falta de originalidade é manifestamente injusta. Como o Miguel bem sabe, não existe pensamento filosófico completamente original, isto é, elaborado a partir do nada. Todo o pensamento ocorre dentro de uma tradição. Socorrendo-me de Michael Polanyi, entre tantos outros, é de notar que a razão não se opõe à tradição e que, de facto, todo o pensamento tem de ocorrer dentro de uma tradição, de um enquadramento fiduciário que não é estático mas dinâmico, visto que incorpora a possibilidade de conflito interno, a capacidade de rebeldia contra o consenso e a possibilidade de cultivar o progresso radical dentro de um contexto de continuidade. A tradição é um pré-requisito da racionalidade e da condição humana, pois como Polanyi assinala em Knowing and Being, “nenhuma mente humana pode funcionar sem aceitar a autoridade, o costume, e a tradição: tem de depender destes para o mero uso da linguagem.”

 

Ora Madison é um produto da cultura britânica, e filosoficamente é um discípulo do Iluminismo Escocês. John Gray faz notar isto em Liberalism. E se diversos autores têm preferido salientar a influência do particular contexto que emergiu da Revolução Americana no pensamento de Madison, esquecendo a influência do pensamento europeu, outros, como Roy Branson, preferem destacar precisamente a influência dos iluministas escoceses no constitucionalismo americano. Foi através de John Witherspoon, presidente de Princeton quando Madison aí estudou, que este viria a incluir na sua biblioteca diversos volumes dos escoceses, trazidos por Witherspoon. E quando o Congresso Federal o encarregou de elaborar uma lista dos livros a adquirir para uso do Congresso, Madison incluiu nesta várias obras de Hume, Smith, Ferguson e Millar. Não é, contudo, despiciendo referir o particularismo do constitucionalismo americano, como Hamilton salienta no Federalist N. 1 (tradução minha): «Tem sido frequentemente observado que parece ter sido reservado às pessoas deste país, pela sua conduta e exemplo, decidir a importante questão, se as sociedades dos homens são realmente capazes ou não de constituir um bom governo a partir da reflexão e escolha, ou se estão para sempre destinadas a fazer depender as suas constituições políticas do acidente e da força.»

 

O Miguel prossegue criticando a defesa da propriedade privada pelo pensamento americano, culminando na recomendação de que este não é exemplo para nada. A este respeito, não poderia estar mais em desacordo. Como salienta Ralph Ketcham a partir de Aristóteles, a forma como um filósofo encara a natureza humana, quer de facto quer potencialmente, é o bastante para antecipar os seus argumentos noutras áreas. Enquanto Rousseau parte do optimismo antropológico para chegar a um esquema de perfeição, Madison radica o seu pensamento na ideia de imperfeição humana dos iluministas escoceses, procurando de forma moderada adaptar o exercício do poder às características humanas, conforme a sua célebre citação no Federalist N. 51 (tradução do José Gomes André): «Se os homens fossem anjos nenhuma espécie de governo seria necessária. Se fossem os anjos a governarem os homens, não seriam necessários controlos externos nem internos sobre o governo. Ao construir um governo em que a administração será feita por homens sobre outros homens, a maior dificuldade reside nisto: primeiro é preciso habilitar o governo a controlar os governados; e, seguidamente, obrigar o governo a controlar-se a si próprio. A dependência do povo é, sem dúvida, o controlo primário sobre o governo; mas a experiência ensinou à humanidade a necessidade de precauções auxiliares.»

 

Madison contraria a noção de bem comum positivado e interpretado pela elite governamental de Rousseau (que Schumpeter mostrou ser uma falácia), adoptando a perspectiva anglo-saxónica da liberdade negativa, da ausência de coerção por terceiros, e do governo limitado para desenhar uma solução governamental em que converte vícios em virtudes e procura fragmentar e difundir o poder. Conforme Hayek faz notar, a primeira e mais básica condição para a prevenção da coerção é o reconhecimento do conceito de propriedade privada. A propriedade privada é um elemento fundamental para alcançar a liberdade individual, tal como Locke já havia teorizado, e como Gray assinala em Liberalism ao considerá-la como “um veículo institucional para um processo de decisão descentralizado” em estreita ligação com a capacidade de um indivíduo dispor de si próprio, das suas capacidades e talentos. Contudo, ainda de acordo com Hayek, embora a propriedade privada seja essencial para assegurar a condição de liberdade individual, tal não significa que os indivíduos tenham de ser titulares de bens passíveis de serem apropriados de forma privada. Por outras palavras, para evitar a coerção, não é necessário que um indivíduo possua propriedade, mas sim que tenha ao seu dispor os meios materiais que lhe permitam prosseguir os seus fins privados, e que estes meios não sejam detidos exclusivamente por um único agente. Tal como o poder deve ser suficientemente fragmentado para evitar a sua perigosidade para o cidadão, também a propriedade deve ser dispersa o suficiente para que o indivíduo não esteja exclusivamente dependente de alguém ou alguma entidade em particular que possa providenciar-lhe o que necessita para alcançar os seus fins ou, por exemplo, empregá-lo.

 

Importa ainda notar que sendo certo que Madison estudou os clássicos para poder aplicar a filosofia à prática política, não é inteiramente verdade que não tenha sido inovador, dentro da tradição em que se encontrava, e é no que se segue que, contrariando o Miguel, Madison parece-me exemplar – assim como no seu carácter vigoroso. Socorro-me aqui da introdução de Cass R. Sunstein à edição que possuo de The Federalist. Tanto os federalistas como os anti-federalistas inspiraram-se em Montesquieu. Os segundos apontaram o problema da corrupção como sendo originado pelo espírito de facção, que temiam tomasse conta da federação. A solução dos mesmos é inspirada directamente pelo republicanismo de Montesquieu, consistindo na inculcação da virtude cívica e na defesa de repúblicas de pequena dimensão e da importância da homogeneidade.  A resposta de Madison foi uma inversão da perspectiva em termos morais e antropológicos, considerando que a corrupção que cria facções é natural, e que embora seja indesejável, é um produto da liberdade e desigualdade humanas. Isto significa que as ideias de inculcação da virtude e da educação como forma de minorar este problema são desadequadas. Além disto, o problema tende a ser mais grave nas pequenas repúblicas do que nas grandes, já que nas pequenas é mais fácil que um pequeno grupo privado tome o poder político e distribua riqueza e oportunidades como bem entenda, que foi precisamente o que aconteceu nos anos imediatamente seguintes à Revolução Americana. Foi a partir da observação deste período que Madison repudiou as concepções clássicas referidas, considerando que estas não seriam defesa suficiente contra a tirania. Radicando na natureza humana o interesse próprio, resultado das diferenças de talento e propriedade, este é a causa do espírito de facção, pelo que tentar debelá-lo através da indução de preferências por via do governo comportaria um risco ainda maior de tirania, acabando por destruir a liberdade individual. A solução, original, de Madison para este problema foi a de considerar que em grandes espaços, numa grande república, o espírito de facção não é prejudicial mas sim benéfico, visto que a diversidade de interesses obstaria à tentação de oprimir minorias, de interferir nos direitos de terceiros, acabando o tamanho e a diversidade por criar um sistema de protecção contra a opressão. A isto Madison acrescentou ainda o princípio da representação, teorizado no Federalist N. 10 (tradução minha), que teria como efeito «aperfeiçoar e ampliar os pontos de vista públicos, passando-os por meio de um corpo escolhido de cidadãos, cuja sabedoria pode discernir melhor os verdadeiros interesses do seu país, e cujo patriotismo e amor à justiça são menos prováveis de ser sacrificados a considerações temporárias ou parciais.» Esta defesa da diversidade é ainda feita pelos federalistas no que concerne à diferença de opiniões – também esta vista como um vício pelos anti-federalistas –, que serve o propósito de promover a deliberação e circunspecção, sendo um check à maioria (Federalist N. 70).

 

Para finalizar este já longo texto, note-se que esta original concepção do republicanismo, segundo Sunstein, é provavelmente responsável pela longevidade da Constituição americana, e é esta perspectiva pluralista, defensora do individualismo e céptica em relação à natureza humana e ao exercício do poder que me parece poder servir de inspiração para algo que possa vir a ser um verdadeiro federalismo europeu. Conforme o José Gomes André salientou há uns meses, “Digo "verdadeiro" para o separar dos habituais adjectivos pejorativos que lhe atribuem, sem perceberem que federalismo não corresponde a um "centralismo unitário e jacobino", nem à destruição dos Estados-membros, mas sim à instituição de vários eixos de poder complementares - convivendo sob uma mesma entidade política autoridades distintas, democraticamente legitimadas.”

 

Como muito bem questiona o João Vacas acerca da eventual saída federal, “esta respeitaria o princípio da igualdade entre os Estados federados? Em termos práticos, estes teriam o mesmo peso numa das futuras câmaras parlamentares? Sem isto, não se trataria de uma verdadeira federação mas de centralização disfarçada. Com a subsidiariedade como flor de lapela. Mais do mesmo, portanto.”

publicado às 00:57

A saída federal

por Samuel de Paiva Pires, em 15.05.12

(James Madison, imagem daqui)

 

Uma oportuna reflexão de Paulo Marcelo, sobre uma possível saída para a crise do euro e a União Europeia:

 

«Hollande prometeu um novo "quadro político europeu", mas o que quer isso dizer? Estou convencido que só saímos disto com uma profunda reforma institucional. Confirma-se que a esta união monetária (incompleta) não subsiste sem uma união fiscal e orçamental, legitimada por uma união política. Só isso convencerá os mercados e porá fim à turbulência que alastra da periferia para o centro. A união está coxa e só pode ser salva com um orçamento comum, aprovado por representantes eleitos, o que implica uma profunda reforma constitucional, ao estilo da Convenção de Filadélfia (1787), na origem do federalismo americano.»

 

Porém, dada a forte tendência racionalista construtivista da filosofia política continental, tenho sérias dúvidas que o federalismo europeu seja semelhante ao americano, isto é, que tenha no seu cerne uma concepção antropologicamente pessimista e metodológica e politicamente individualista da natureza humana e do exercício do poder, procurando fragmentá-lo e difundi-lo para evitar a perigosidade para o cidadão que resulta da sua centralização. É preciso não esquecer que através do método comunitário a União Europeia tem vindo a arrogar-se cada vez mais competências em cada vez mais domínios da vida pública e privada, ao passo que as principais prerrogativas do Estado Federal americano são nas áreas da moeda, política externa e defesa. Dificilmente Bruxelas abrirá mão do poder que tem. E há ainda dois obstáculos por ultrapassar: um, salientado recentemente por Robert J. Barro, é o custo potencialmente proibitivo e em grande parte desconhecido de juntar populações heterogéneas com diferentes culturas, línguas e histórias sob a égide de um só estado - daí ser necessário que a maior parte das competências na administração directa dos diversos países seja retida pelos estados federados; o outro, e que salta à vista de todos, é que não temos líderes com um mínimo de preparação para uma empreitada destas. Não digo que não possam aparecer, especialmente se for adoptado o estilo da Convenção de Filadélfia, em que não sejam os actuais governos automaticamente mandatados (por eles próprios, claro) para representar os estados, mas tenham lugar eleições para os delegados. Mas mesmo assim, será difícil que apareça alguém da craveira de Madison, Hamilton, Jefferson, Franklin ou Washington.

publicado às 13:00

Em Novembro de 2011 assistimos a um golpe de estado constitucional, operado pela UE (leia-se Berlim), quando Papandreou tentou levar a cabo o referendo ao pacote de resgate e, por consequência, à manutenção da Grécia no euro. Agora, Wolfgang Schauble vem dizer que não se pode obrigar os gregos a permanecer no euro. Ou de como Merkel não sabe o que anda a fazer e isto já deveria estar mais que pensado e resolvido.

publicado às 12:56

É uma espécie de "ou nós ou o abismo"...

por Pedro Quartin Graça, em 21.12.11

O Presidente da Comissão Europeia e ex-primeiro-ministro português dedicou hoje em Lisboa grande parte do seu discurso à crise económica e financeira europeia, ao receber o doutoramento Honoris Causa da Universidade Técnica de Lisboa.

Durão Barroso alertou hoje que a União Europeia se encontra numa fase decisiva: "ou avançamos ou corremos o risco de fragmentação", disse o presidente da Comissão Europeia durante o discurso que fez ao receber o doutoramento Honoris Causa da Universidade Técnica de Lisboa.

Avancemos pois...

publicado às 20:42

Há quem tenha Plano B...

por Pedro Quartin Graça, em 18.12.11

Evidentemente que não é o Governo de Portugal. Ou, se o tem, coisa que duvidamos, fechou-o a "sete chaves". Mas o Governo do Reino Unido já sabe o que fazer. A isto chama-se competência. E, sobretudo, precaução. Por cá alguém sabe o que é isso?

publicado às 16:11

Da idiotice e petulância de Merkozy

por Samuel de Paiva Pires, em 10.12.11

Ambrose Evans-Pritchard, Europe's blithering idiots and their flim-flam treaty, a quem "roubei" também a fotografia:

 

 

«What remarkable petulance and stupidity.


The leaders of France and Germany have more or less bulldozed Britain out of the European Union for the sake of a treaty that offers absolutely no solution to the crisis at hand, or indeed any future crisis. It is EU institutional chair shuffling at its worst, with venom for good measure.

 

(...)

 

Germany has kept the focus exclusively on fiscal deficits even though everybody must understand by now that this crisis was not caused by fiscal deficits (except in the case of Greece). Spain and Ireland were in surplus, and Italy had a primary surplus.

 

As Sir Mervyn King said last week, the disaster was caused by current account imbalances (Spain's deficit, and Germany's surplus), and by capital flows setting off private sector credit booms.

 

The Treaty proposals evade the core issue.

 

Did France and Germany really have to cause this rift by throwing in an assault on the City that has precious little do with the EMU crisis? Yes, I suppose they did.

 

Given that Merkozy cannot bring themselves to accept that Europe's debacle stems from the euro itself, from a 30pc currency misalignment between from North and South, and from an over-leveraged €23 trillion banking bubble that German, French, Dutch, Belgian regulators allowed to happen… given that, yes, I suppose they have to find a scapegoat.

 

They have to whip up a witchhunt against somebody, so why not Anglo-Saxon bankers? Nasty reflexes are at work. German and French politicians in particular should be very careful about inciting populist hatred against a group that makes such easy prey. We have been there before.» 

publicado às 14:20

É indispensável ler A Tragédia do Euro de Philipp Bagus (já nas bancas a edição portuguesa) para perceber a ironia da História que é a moeda única ter sido o preço imposto por Miterrand a Kohl pela reunificação alemã, tentando os franceses, desta forma, contrariar a hegemonia económica e monetária da Alemanha e impedir que esta se tornasse novamente demasiado forte no contexto da hierarquia das potências europeias, para agora o euro ser precisamente o instrumento político que permite à Alemanha fazer dos franceses o que quer e vir a controlar cada vez mais toda a UE. As lições da História e da Geopolítica parecem ser algo que não assiste a muita gente. No contexto dominado pelo economês em que vamos vivendo, onde muitos vociferam violentamente contra o mercado e os especuladores, parece que pouca gente se recorda do processo de unificação alemã no séc. XIX, do aparecimento de Bismarck e da crença deste que, citando Políbio Valente de Almeida, "a hegemonia germânica podia ser aceite pelos outros estados através de uma negociação moderada e credível", e das consequências da paz de Versailles que Lord Keynes bem assinalou que acabariam por levar a outro desastre. Quem não percebe que a humilhação da Alemanha e a tentativa de lhe colocar amarras está e estará sempre fadada ao fracasso, dado não só o carácter dos alemães - uma nação que no espaço de um século provoca duas guerras mundiais e recupera o seu país das cinzas em tempo recorde, elevando-o a potência dominante no espaço europeu e mundial, é, de facto, uma nação com uma certa superioridade - mas também a sua posição geopolítica - convém recordar a Escola Alemã de Geopolítica promovida por Karl Hausofer, que teorizou sobre a noção de Heartland desenvolvida por Mackinder, encontrando-se a Alemanha no Heartland da Europa Ocidental, e o célebre espaço vital ou Lebensraum, assim como a ideia de Mackinder que uma Alemanha aliada da Rússia controlaria o mundo, não senso despiciendo referir as boas relações existentes entre os dois países - não percebeu ainda o que se está a passar. Permitam-me conjecturar que talvez não haja uma reacção lenta da Alemanha à crise. Ao contrário do que muitos poderíamos pensar, parece-me cada vez mais que Angela Merkel tem estado a colocar em ponto de rebuçado a restante Europa, preparando-se para devolver as vinganças e humilhações que foram impostas aos alemães. Atenção que não estou a falar em teorias da conspiração. As circunstâncias e os acasos que nos trouxeram até aqui são, certamente, fortuitos e o resultado não desejado das intenções e políticas de muitos líderes europeus. Mas a Alemanha saberá, com toda a certeza, aproveitar as oportunidades que lhe são servidas de bandeja. Talvez muitos analistas, especialmente aqueles que têm orgasmos intelectuais quando falam dos BRIC, estejam enganados quanto à ascensão destes ao longo do presente século, a par com o declínio americano e europeu. Diz-me a minha intuição que as próximas décadas serão talvez as da ascensão da Alemanha ao seu lugar natural, de potência mundial, não só a nível económico mas também político e militar. Queriam alta política e liderança? Aí as têm.

publicado às 01:15

É certo que quando um dos principais arquitectos do euro reconhece aquilo que muitos vêm afirmando, que este é um projecto falhado desde o início, nos devemos regozijar. Mas convém ler a entrevista para perceber que os motivos não são os mesmos, e muito menos as soluções que perspectiva, ou não seja Delors um planeamentista. Para este, "It is a fault in the execution, not of the architects, which he claimed to have pointed out in 1997 when the plans for introducing the euro finally came together. At the time, he says, the best of the eurosceptic economists, whom he refers to as “the Anglo-Saxons”, raised the simple objection that if you have an independent central bank, you must also have a state." E o mesmo, como seria de esperar, pretende ver uma maior transferência de soberania dos estados nacionais para Bruxelas e não se importa com a existência de governos tecnocráticos não-eleitos. Seja como for, quando um dos míticos grandes líderes da UE, que o Dr. Soares e companhia referenciam a todo o momento, desfere um golpe tamanho no euro, pouco mais há a dizer.

publicado às 23:21

Ambrose Evans-Pritchard alinha com os defensores da produção de dinheiro e estímulo à economia via quantitative easing para acabar com a crise do euro: "The crisis can undoubtedly be halted immediately by the ECB. The bank can reflate Club Med off the reefs. It chooses not to act for political reasons because this mean higher inflation for Germany. That is the dirty secret. Everybody must be crucified to keep German internal inflation under 2pc." Pena que o autor que chama a atenção para o esquecimento de muitos em relação às lições da história económica, não se recorde ele de certas lições da história política. Ainda que a Alemanha seja o país mais beneficiado pela moeda única, como Sebastian Mallaby assinalou no Financial Times há dias, a inflação é um confisco de propriedade privada cujas consequências políticas os alemães conhecem bem. Ademais, o que se retira do parágrafo acima é a consequência lógica de que o melhor é acabar com o euro nos moldes actuais, em vez de adiar o inevitável, retirando os países mediterrâneos do colete de forças onde se encontram. Mas como em vez de pensar e preparar essa receita, as elites europeias preferem fazer vídeos a celebrar o sucesso do euro (?!), cá vamos continuando no mais do mesmo da austeridade sem verdadeiras reformas estruturais do estado, onde o défice e a dívida pública dificilmente diminuem, esmagando-se a classe média para pagar os desmandos dos governos das últimas décadas. É o que se chama navegar à vista. 15 minutos antes do jogo terminar ainda estamos todos vivos.

publicado às 23:17

Ainda não perceberam nada...

por Pedro Quartin Graça, em 02.12.11

Segundo Merkel, citada pelo jornal britânico “Financial Times”, a Zona Euro precisa de uma “união orçamental” juridicamente vinculativa. Entretanto, a Alemanha não vê a necessidade de realizar referendos para aprovar alterações limitadas aos tratados europeus, refere a Bloomberg. Depois de dois Primeiro - Ministros (da Grécia e da Itália) terem sido nomeados pelo Directório Bona-Paris - o conhecido Merkosy-, o que é que se podia esperar destes "democratas"? Apenas a continuação de "mais do mesmo".

publicado às 18:55

Notas como lenha

por Nuno Castelo-Branco, em 02.12.11

Há uns dias e perante a aflição que grassa na maioria das capitais europeias, houve quem sugerisse o clássico recurso de fazer fluir a liquidez, colocando as rotativas em funcionamento. Em poucas palavras, optam alguns pelo risco da emissão de mais e mais moeda. Sem que isto possa parecer uma perseguição obsessiva, Mário Soares é um dos promotores da aventura. A ser assim, apenas poderemos concluir acerca do esquecimento que o ex-Presidente sofre quanto aos factos de uma história ainda tão recente quão dolorosa. Embora as condições sejam hoje diferentes, exigir aos alemães que regressem à política de Weimar, esmagada por milhares de toneladas de resmas e resmas de notas com o timbre do Reichsbank, se não é inconsciência, é decerto uma loucura. A boa notícia é que a Chancelaria resistirá a esta tentação.

 

Iniciado o processo de emissão monetária, será difícil dar-lhe fim. A situação económica e financeira dos países europeus é ainda uma incógnita tal e tão previsivelmente prenhe de surpresas desagradáveis - Alemanha incluída -, que se torna impossível avalizar correctamente os montantes necessários para a almejada liquidez. Liquidez é de facto o termo exacto a utilizar, pois o Euro transformar-se-á rapidamente num ineficaz mata-borrão. Sem produção na "periferia", com uma inflação perigosamente descontrolada e um desemprego maciço, sabe-se o que poderemos enfrentar dentro de poucos anos. Isto, para nem sequer aventarmos a hipótese de um súbito reacender das rivalidades nacionais na Europa central e do leste.

publicado às 09:52

A falta de pilotagem do futuro que nos tolhe

por Samuel de Paiva Pires, em 28.11.11

A criatividade da engenharia social financeirística e impostadeira é inversamente proporcional à capacidade de governar com sentido de pilotagem do futuro. Entre uns subsídios, feriados, meia-hora de trabalho, portagens e impostos, numa azáfama de medidinhas de que não se consegue vislumbrar um rumo integrado e coerente, esquecemo-nos de olhar lá para fora e de nos prepararmos para o que aí vem. Por cá parece que ainda ninguém reparou que a 15 minutos de terminar o jogo do euro já estamos todos mortos. Nesta fuga para a frente do processo de gaspar-alvarização em curso, o nosso imaginário colectivo continua a preferir ignorar a realidade. A mesma que Passos Coelho acertadamente apontou: não vamos sair desta crise sem empobrecer. Todos, em Portugal e na Europa, sem excepção, e não apenas economicamente.

publicado às 20:53

"When" em vez de "if"

por Nuno Castelo-Branco, em 11.11.11

‘If the euro fails, Europe fails. We have an historical obligation to protect by all means Europe’s unification process begun by our forefathers after centuries of hatred and bloodshed.’

 

Angela Merkel, Chanceler da Alemanha

 

Não se trata de um "if", mas de um "when". A única questão a colocar em Portugal, é aquela que diz respeito a um plano alternativo que alguns dizem estar em preparação. Se assim for, as nossas autoridades estarão a agir em conformidade com a situação. Ainda ontem, alguém que trabalha como quadro superior num banco, dizia-me que aconselhava todos os amigos a guardarem o dinheiro em casa, pois em 24H poderão vê-lo desvalorizar-se mais de 30%.

publicado às 14:16

I ate all their halloween candy

por Nuno Castelo-Branco, em 05.11.11

Tentem ver o video até ao fim e transportem a brincadeira para a situação da dívida europeia. Quantos nomes poderão ser incluídos nestes galhofeiros, desde Cavaco a Guterres, Sócrates, Aznar, González, Berlusconi, Schröder, Blair e Zapatero...?

publicado às 12:22






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