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Aldrabices no protectorado

por Nuno Castelo-Branco, em 20.07.13

 

Mesmo podendo ter sido outra a realidade dos factos, esta é a imagem que passa para a opinião pública.

 

Bem podem todos os partidos intervenientes virem agora tentar explicar a declarada farsa em que gostosamente andaram durante uma semana. Nunca houve qualquer hipótese de "acordo", porque em ambos os campos não havia vontade para o realizar. Vendo a realidade como ela é, não se pode discutir o indiscutível, verificando-se a situação em que Portugal se encontra. Esta não se cinge ao âmbito da economia e das finanças, mas também ao posicionamento político do país, em total submissão  e dependência à luminosa ideia frustrada de "Europa". 

 

Todos estão a mentir. O PSD sentou-se à mesa e sabia que apenas poderia mentir quando afirmava pretender discutir fosse o que fosse, precisamente o programa imposto pela tutela internacional. A inépcia da gente do PSD para lidar com a política dura, revelou-se na cretina atitude de ter deixado ao seu rival a primazia na comunicação ao país, anunciando o fracasso dos demorados encontros. Como podem estes políticos serem tão declaradamente incapazes?

 

O CDS necessariamente mente, temeroso das consequências taxistas das apressadas tomadas de posição de há apenas pouco menos de duas semanas. Consta que Paulo Portas terá sabido da nomeação da nova titular das Finanças através de um singelo sms. Logo surgiu a vingança que ocasionou colossais prejuízos ao país. A estupidez, reserva mental e falta de nível da generalidade dos agentes políticos do regime, chegou a um ponto sem retorno.

 

O PS é então o campeão da aldrabice, tomada esta como ponto primeiro para o gizar de qualquer programa que remotamente possa assemelhar-se a um caderno de encargos para um futuro governo. Foi para a mesa do "acordo" para não ser lapidado pela opinião pública. Sentou-se à dita mesa de "negociações" exigindo aquilo que muito bem sabe ser impossível, pois queiram ou não queiram os optimistas profissionais, não há dinheiro disponível e aquele parcimoniosamente distribuído, provém de cofres alheios. Seguro deveria reunir-se com os estrangeiros que comandam os nossos destinos e publicamente apresentar-lhes as suas famosas "propostas". Ficaríamos todos plenamente cientes acerca da seriedade das mesmas. 

 

Falta o residente de Belém. Procurou atirar o odioso para cima da partidocracia, quando ele próprio gizou um golpe baixo - alguns consideram-no magistral! - e desresponsabilizador da sua duvidosa magistratura. Pois enganou-se redondamente. Sendo um dos mais longevos jogadores deste póquer de taberna, deveria saber estarem os partidos mais que aptos a emulá-lo na arte da representação e assim, muito informalmente, foi precisamente o que o PSD, PS e CDS fizeram. Os milhares de milhões perdidos pelas Bolsas e juros de dívida, o enodoar da reputação nacional pelos jornais estrangeiros, de pouco ou nada serviram. Não salvaram Cavaco Silva de mais uma contrariedade para resolver já amanhã.

 

publicado às 18:08

Secou

por Nuno Castelo-Branco, em 12.07.13

Não é possível esconder aquilo que todo o país já entendeu como irreversível: o regime da 3ª república está liquidado, é escandalosa e acintosamente incompetente, nefasto.

 

Escutando a presidência e as lideranças partidárias de estuporada cegueira que arrasta dez milhões de vítimas para uma situação cujo precedente já dista de perto de noventa anos, nada mais há a esperar desta gente. Não servem, são um insulto à liberdade da nação.

 

Haja quem de vez enxote esta insaciável coorte de marabuntas. 

publicado às 00:06

O poder da imagem

por Pedro Quartin Graça, em 11.07.13

publicado às 08:00

Aqui está...

por Nuno Castelo-Branco, em 06.07.13

... a nova "pasta ministerial". Se Santos Pereira saiu, a mafia conseguiu o que há muito pretendia. 

publicado às 01:03

Amolados

por Nuno Castelo-Branco, em 05.07.13

 

1. Depois da asneira feita*, Paulo Portas bem pode agora vir dizer que o acordo é bom para o país e para a coligação. Se tal garantia é mesmo verdadeira, então porque não tentou fazer o que era urgente, renunciando a todo este circo de intrigalhadas que precisamente debilita a coligação e muito pior ainda - e mais importante - prejudica Portugal? 

 

2. Há quem diga ser a situação bem mais grave que aquela conhecida pela  opinião pública. Em conformidade, os desconfiados garantem ser o móbil deste carnaval tardio, o desejo de despoletar uma crise que precipite o rápido abandono do barco em naufrágio. Sendo ou não verdade, neste momento já ninguém se compadece com os interesses desta partidocracia que se insistir em erros que agora são crimes, levará a soluções tão imprevistas como indesejáveis. Isto, logicamente dando de barato o facto da democracia portuguesa não passar de uma ficção que dentro de portas serve uns tantos e lá fora salva as aparências. 

 

3. Um secundário e trânsfuga pescador de um lugar na política, diz agora que "não é o apocalipse do país (...) não tentem assustar-nos". Para ele e para os seus nada haverá a temer, mas quanto aos outros, a imensa maioria, é mesmo o 2ª resgate à espreita e tudo o  que isso significará. 

 

É de banzar, a ligeireza com a qual os agentes políticos alvitram calendários eleitorais, aparentando um total desconhecimento daquilo que até ao anunciado fim do período de intervenção e mesmo para além dele, ainda teremos de enfrentar. 

 

*Salazar tinha razão quando dizia que "em política, o que parece, é"

publicado às 23:59

Resolvam-se!

por João Pinto Bastos, em 05.07.13

Será assim tão difícil entender que esta crise política tem de terminar rapidamente? 

publicado às 12:45

Doidos varridos

por Nuno Castelo-Branco, em 05.07.13

 

É mesmo necessária uma rápida clarificação da situação política, pois alegando-se sempre com os famigerados "mercados" - a isto se reduz o regime em que vivemos -, há que atender a essa obrigatória obsessão. Os resultados há quarenta e oito horas verificados nas Bolsas, deviam ser de molde a avisar os agentes políticos. Aos da oposição, aquilo que os esperaria no caso de obterem o poder dentro de alguns meses. Aos da maioria, o ainda maior agravamento das suas dificuldades. Nem sequer valerá a pena apresentarmos a situação catastrófica em que os portugueses se encontram, até porque isso parece ser algo que não interessa minimamente a uns 230 felizardos que flanam pelos corredores de S. Bento.

 

E aqui está o país em banho-Maria durante mais alguns dias, servindo este adiar do Congresso para o presidente do PP "suga-mundos" fazer o que bem lhe entender. Tudo isto é  indecentemente inacreditável. 

publicado às 09:55

CDS Itália

por Nuno Castelo-Branco, em 04.07.13

 

Vítor Amadeu II, Duque da Sabóia (1666-1732)

 

Creio que era um próximo de Luís XIV quem dizia que "jamais vemos o Duque da Sabóia terminar uma guerra no mesmo lado em que a começou, a menos que entretanto tenha mudado de aliados duas vezes". Era verdade e os italianos tornaram-se peritos nesse esquema, o último data de 1943.

 

Até mais ver, temos um Paulo Portas italianizado. Alguém já terá reparado na insólita intervenção de A.J. Seguro, ontem lampeiríssimo no ataque ao 1º ministro? E o que se poderá dizer do seu desvanecido esquecimento em relação ao seu colega de reuniões "lá fora?, precisamente aquele que despoletou a crise de encomenda? Para não variar, os teóricos da conspiração ficam radiantes.

 

Anteontem, o presidente PP do PP, tratou os seus como se fossem um bando de moleques de serviço. Não pode ser assim. 

 

Se se confirmarem os tais telefonemas que chegaram das planícies centro europeias, Paulo Portas não terá outro remédio senão actuar como Duque da Sabóia: mudará de campo uma vez mais e preparar-se-á para terminar a guerra na mesma aliança em que a começou. 

publicado às 10:10

CDS em emergência PP

por Nuno Castelo-Branco, em 03.07.13

 

Como aqui em meia dúzia de cajadadas o Samuel explica, há que desbravar o matagal de Balsemão e dos seus invisíveis colegas de interesses. Se atentarmos bem à situação do governo, este inclui dois ministros que camorra caseira deseja ver cair: Paulo Macedo e Álvaro Santos Pereira. Tudo o mais não passará de fogo de vista, dada a situação de protectorado que obriga o titular das Finanças - seja lá ele quem for - à mais estrita obediência das directivas da humilhante tutoria internacional a que o regime da república nos submeteu. 

 

O CDS tem de garantir aos seus eleitores, significar algo mais que aquilo que a sigla PP encerra. Espera-se assim que o Congresso Nacional siga à risca aquilo que dele se espera e faça ver ao dito PP a imperiosa necessidade de se afastar, abrindo o caminho a uma solução que tranquilize um país massacrado por várias décadas de despudorada partidocracia. O CDS tem sido o partido dos conservadores e estes não lhe perdoarão o caos. Nos tempos do dinheiro a rodos, a irresponsabilidade era coisa para alguns aceitável, mas hoje, na iminência do descalabro geral das instituições e da situação em que cada um dos dez milhões de portugueses se encontra, não há lugar para mais conspiratas de serviço aos interesses de uma ínfima minoria de privilegiados. 

 

Paulo Portas fez um bom trabalho como ministro dos Negócios Estrangeiros, tal como já o havia feito na Defesa. Apesar da persistente chantagem das alegações por todos conhecidas e  jamais comprovadas, de Paulo Portas todos esperavam um desempenho positivo. A sua rara inteligência, conhecimento da história, sentido de oportunidade e habilidade política, são pelo país reconhecidas qualidades, disso não existe a menor dúvida. 

 

Portugal percorreu um longo e penoso caminho desde o pântano guterrista, esta é a realidade que muitos esquecem. A profunda crise em que nos encontramos, é velha de mais de três décadas, pois os erros chegam-nos de longe.

 

Não existem quaisquer condições para mais subterfúgios, jogos de bastidores e salvaguarda de pouco importantes reputações políticas. Se em vez do PSD estivesse o PS no poder, salomonicamente dir-se-ia o mesmo. Há que agir e seguir em frente. O que hoje se passará na sede do Largo do Caldas, indicará aquilo que no campo financeiro, económico e político atingirá os portugueses. Disto tenham os conselheiros a plena certeza. Com o calendário que temos pela frente - dissolução do Parlamento, convocação de eleições para Outubro, preparação do OGE e fecho das negociações da 8ª avaliação e correspondentes tranches -, contabilizar-se-ão uns sete a oito meses, pelo menos. Tudo isto, sem um governo sólido e com o infalível escrutínio dos ratings e da mais desbragada usura internacional.

 

Se o CDS não agir em conformidade com aquilo que esta emergência exige, já todos sabemos o que os próximos dias ditarão nos mercados e na reputação nacional, já por si severamente abalada desde há cerca de trinta anos.

 

Haja bom senso. Se o próprio não tomar a louvável iniciativa, substituam Paulo Portas imediatamente. Ele decerto terá obrigatoriamente de reconhecer essa necessidade. 

publicado às 16:36

La Isla Bonita

por João Pinto Bastos, em 03.07.13

Descartes inicia o seu Discurso do Método dizendo que o bom senso é a coisa do mundo mais equitativamente distribuída. A história do homem, um animal que de racional tem muito pouco, leva a crer exactamente o oposto da afirmação cartesiana. Veja-se o que se tem passado em Portugal nas últimas 48 horas: dois ministros de Estado demitem-se estrondosamente, o primeiro-ministro recusa, por sua vez, a demissão de um dos ministros em causa, mantendo, em simultâneo, a intenção de proceder a uma visita à capital do Reich merkeliano - para pedir, provavelmente, a unção de Merkel -, como se nada tivesse acontecido, o Presidente da República desapareceu algures em combate, não se ouvindo um único ai da sua bocarra, e, last but not the least, os juros voltaram a disparar. Crise, crise e mais crise. E, para fim de conversa, um segundo resgate à vista. Tanta irresponsabilidade cansa.

publicado às 13:18

Notícias do Protectorado

por Nuno Castelo-Branco, em 03.07.13

 

Dada a indisfarçável situação de "protectorado à checa", espera-se que a ida de Passos Coelho a Berlim sirva para alguma coisa, pois não estamos num momento para meros expedientes. O ersatz de presidente Hacha que não tenha mais uma das suas malabarísticas ideias, pois o seu capote já está tão molhado como os de Soares e Sampaio, para sempre enxarcados de chuva Guterres e Sócrates. 

publicado às 12:28

Stand 3ª República

por Nuno Castelo-Branco, em 03.07.13

 

Toda esta gente que em nós manda sem tino, cada vez mais se parece com aqueles duvidosos vendedores de viaturas em quarta mão. Neste caso, seriam mesmo capazes de apresentarem uns tantos Trabant pintados de prateado, procurando vendê-los a campónios russos da Prússia Oriental, como se fossem Aston Martin 1300SL, low cost. Descaramento não lhes falta. O regime resume-se a isto. 

publicado às 01:15

Escória

por Nuno Castelo-Branco, em 02.07.13

Duas notícias que nos fazem tomar uma boleia na máquina do tempo, conduzindo-nos ao período do estrebuchar de um certo regime representativo. 

 

1.  O arquivar do processo levantado a Miguel Sousa Tavares, directamente autorizando um regresso a tudo o que neste país se passou até 1908. Aí virá a inevitável escalada e esta decisão dos juízes é ainda mais insólita por se saber que há alguns dias, um cidadão comum foi de imediato apanhado pelas malhas judiciais. O duplo critério parecia ter vingado, mas agora todo o panorama se torna mais nítido. Boas notícias para os inimigos do regime e já agora, ficamos a saber que podemos apodar a república e a sua canalha, de tudo aquilo que nos apetecer: é um direito à nossa livre expressão. Óptimo!

 

2. A demissão de Paulo Portas. Alega com a necessidade de afastar qualquer suspeita de dissimulação, quando é precisamente isso o que a generalidade da opinião lhe apontará sem rodeios.

 

Além de ficar o país com a certeza de o CDS não passar de um projecto de promoção e segurança pessoal, espera-se agora a reacção dos famosos "mercados", precisamente aquela gente que tem o regime nas mãos. Juros e compra da dívida pública, reformas no Estado, a tal credibilidade de que o país desesperadamente necessita. Esta tarde, a capital portuguesa chama-se Atenas. Os interesses pessoais de Paulo Portas, não têm a menor relevância para 99,999999999999999999999999999999% dos portugueses. Com atitudes destas, colocou-se ao nível do pior rebotalho comentarista daquela parte do PSD que há muito está na oposição e não parece merecer mais respeito que aquele reservado às decências de Sócrates e do seu partido. Quanto ao PC e BE, não valerá a pena perdermos um micro-segundo que seja.

 

Vamos a ver o que os alemães decidirão, pois aí está a única chave de todo este imbróglio. Ao que chegámos!

publicado às 19:08

O salto à verdade de Cavaco Silva

por John Wolf, em 20.05.13

Os Portugueses correm risco de vida. Quando o Presidente da República Portuguesa exprime o seu louco desejo de saltar por cima da dura realidade dos factos, torna-se colaborador activo do assassinato social do país. O estado de negação em que se encontra, deveria requerer que uma junta médica determinasse se o chefe de Estado reúne as faculdades mentais para continuar a exercer o mandato que lhe foi conferido. O salto à verdade que pretende realizar sobre o descalabro nacional, é sinal inequívoco da falta de equilíbrio psicológico deste lider recentemente tornado espiritual. Não sei se a lei prevê uma figura clínica que obrigue um titular de cargo público a ser sujeito a um conjunto de análises e exames médicos, sempre que as provas o justifiquem, e a pedido de uma comissão Parlamentar, mas chegou o momento para aferir da sua capacidade para exercer um cargo público de tamanha responsabilidade. Porque todos os outros argumentos lógicos e naturais caíram por terra. Os conselheiros de Estado, que se encontram no consultório de Belém, prestariam um serviço à nação, se confrontassem o Presidente com a loucura do Rei Aníbal. A crise que ele pretende tapar com a peneira, não é apenas política. A política, embora seja em simultâneo um sintoma e uma causa patológica do descalabro, não pode ser apresentada como falso alibi para o desastre económico e social. Como se fosse possível reparar a carroça escangalhada que desce a pique e a toda a velocidade a montanha. Já chega de ficção embelezada, fornecida pelos estúdios de Belém. O Presidente fala em pós-Troika? A única coisa que posso aproveitar desta hifenização que envolve os pós e a Troika, é o pó em si. O pó que assentou nos processos intelectuais. O pó que tolda a visão. O pó que não sei se inspiraram. E acho uma maravilha que o Presidente da República tenha enviado, pela primeira vez na sua vida, a documentação da reunião, aos 19 conselheiros de Estados. Pelo menos assim, os papéis não ganham pó. Decididamente o Cavaco Silva não percebe nada de obras nem do pó que se levanta. O país que se encontra em estado de emergência não tem tempo para estes convívios. Um plano de salvação deve ser posto em andamento sem demoras. Em vez de discutir o após-Troika, aqueles valentes homens estão obrigados a evitar uma catástrofe de proporções imagináveis, porque já temos amostras que cheguem para traçar um cenário muito negro para os sobreviventes deste cantinho à beira-mar plantado.

publicado às 17:10

Reflexão pós-eleitoreira

por João Pinto Bastos, em 27.02.13

Oiço, leio e vejo que muitas e muitos dos comentaristas "paineleiros" que andam, à semelhança de Santana, por aí, davam já por garantido o fim da crise europeia. Não haveria mais volatilidade nos mercados, não haveria mais subida de juros nos países "porcos", não haveria mais dissensões entre o Norte anafado e opulento e o Sul parasitário e pobre, etc., etc. Sim, leram bem, não haveria rigorosamente mais nada. Mais: a instabilidade, uma arma de destruição massiva que vinha ocupando mentes e corações profundamente europeístas, tinha finalmente topado com a morte súbita e o federalismo, a medicina cozinhada por alguns intelectuais avençados pelas elites eurocráticas, surgiria finalmente ao virar da esquina. Imagino o vosso espanto ao ler a linearidade que compassava o raciocínio estratégico das elites políticas europeias. Tudo acabaria por se resolver, com mais ou menos esforço, e, já agora, desforço. Porém, a política, essa porca com P maiúsculo que aparece sempre nas alturas mais impertinentes, resolveu dar um da sua graça na Itália dos Casanovas cantores e dos comediantes convertidos em gente séria e sisuda. O povo compareceu, riscou o boletim de voto e disse de sua justiça. Justiça essa, pouco complacente com a classe politiqueira. Berlusconi, regressado à ribalta com mais ou menos liftings, voltou a ser avalizado pelos italianos. Grillo, o grilo falante que promete um rendimento universal de cidadania e um referendo de saída do euro, tornou-se, para gáudio dos fazedores de anarquias, no fiel da balança. Qual a resposta do establishment a tamanho desastre dos poderes estabelecidos? Para já, ao que parece, apenas desorientação e brados anti-democráticos. Há quem fale numa repetição da experiência grega do ano transacto. Pois é, mas quem traz à colação esse exemplos esquece-se que Itália e Grécia não são comparáveis. Há, contudo, nesta estorieta toda um pormenor que importa ser relevado: a não-resposta do situacionismo à raiva crescente do povoléu será, a curto prazo, insustentável. Ponto. Não vale a pena falar em federalismos toscos, em tesouros comuns, em euros reestruturados, em câmbios elevados, ou em democracias europeias crismadas pelo voto de todos os europeus da Lapónia à Sicília, não vale a pena ir por aí, porque sem pão e com fome o povo votará naqueles que lhes prometerem brioches e champagne no minuto seguinte. Simples e terrífico, eu sei, todos nós sabemos, até aqueles que estão no poleiro do Leviatã o sabem, porém, esta é a dura verdade dos factos. Ou há uma mudança rápida de rostos, caras, políticas e gestos ou a coisa descambará de vez. O mundo está em mudança e a Europa em polvorosa, mas, ao contrário do que diziam os fukuyamistas de turno, não há nem nunca houve o tão afamado fim da história, e o experimento liberal-democrático que permeou os últimos decénios da vida política europeia pode muito bem estar a abeirar-se de uma mudança de agulha. Para onde e para quê, eis as questões do milhão de dólares.

publicado às 16:59

Deo-Socialismo, Neo-Socialismo...

por John Wolf, em 04.02.13

 

Desde que a crise económica e financeira eclodiu em todo o seu negro esplendor em 2008, um processo de revisão do Socialismo tem vindo a ser efectuado aqui e acolá, aos poucos, mas de um modo seguro, sem querer dar muito nas vistas e sem abalar a alma mater da bandeira. Os homens da rosa sabem que a sua sobrevivência ideológica está em causa. Como forma de se eximirem de responsabilidades morais, os socialistas procuram sacudir a água do capote como se não fossem neo-liberais, como se não tivessem apoiado o funcionamento desregulado dos mercados que conduziu a este estado desgraça, como se não estivessem no poder quando as chatices aconteceram. Como se não tivessem transformado a sociedade em algo corporativo com amigos distribuídos por posições de grande inflluência na vida económica e social do país. Temos assistido à utilização intensa de um código sacado de um mapa ideológico que já não faz parte deste mundo. Estes senhores também borraram o fato de macaco do trabalhador e agora afirmam trabalhar na lavandaria de esquina. Porém, independentemente de levantarem a voz e vestirem outra farda, sabem que algo mais profundo está a abalar o significado do Socialismo, e por essa razão se torna urgente aparecer com a cara lavada, cortando com o Socialismo da antiguidade clássica que tantos males trouxe ao bairro dos compadres. A Internacional Socialista encontra-se na Riviera Portuguesa para discutir crescimento sustentável e emprego mas enganou-se no título da conferência. Acho notável que um agrupamento de falhados não aproveite a oportunidade para analisar as causas do desmoronamento. Há um fio condutor que liga as famílias políticas destes senhores ao que está a acontecer na Europa. A declaração de intenções consubstanciada na frase vamos procurar uma saída para a crise, diz tudo sobre ausência de ética e responsabilidade política, e por isso deveria ser editada, em nome da verdade.  Substituída por; queremos encontrar a saída para a crise que ajudamos a fabricar, ao que poderiam também acrescentar; não somos socialistas no sentido inaugural da doutrina, somos iguais aos outros neo ou ultra-liberais. Depois há outra dimensão caricata que desconhecia, que não ajuda a promover a ideia de cantina solidária. Não sabia que a sede do PS também é um restaurante. Alguém me pode dizer, se ali no Rato, há uma cozinha secreta? Ou será catering? Será que os cozinhados são preparados na Casa da Comida e trazem tudo em tupperwares lavados? E porque razão o Bloco de Esquerda não foi convidado? Afinal foram eles que lançaram o mote de uma nova corrente de Socialismo. Se fosse eu, teria cuidado com o que está a passar. Assistimos há já algum tempo a deslocações de sentidos políticos que nos baralham por completo. Por vezes as Esquerdas aparecem na ala Direita, as Extremas ao Centro, os que estão por baixo por cima, e tudo isto em defesa de um princípio subjacente à condição política, o acesso ao poder seja qual for o preço a pagar. Paga o contribuinte. Mas restringindo-me ao Socialismo, não me surpreenderia se uma nova doutrina fosse inaugurada como uma novidade de mercado, um perfume para desinfestar e afastar os maus cheiros provocados pelos próprios. Deo-Socialismo, Neo-Socialismo...

publicado às 10:09

Rajoy, a mediocridade barbaçuda

por João Pinto Bastos, em 03.02.13

 

Não se detenham na fotografia postada, ainda que seja, eu sei, uma tentação quase imperdível olhá-la pausadamente. Começo com este intróito,  provavelmente cómico para alguns dos leitores, por uma razão mui singela: Rajoy foi, é, e, perdoem-me o determinismo, será sempre um líder acanhado, titubeante e inerte. Dali, por mais que se tente bosquejar o que quer que seja de positivo numa personagem que só oferece mediocridade a rodos, jamais sairá algo que alegre e mobilize "nuestros hermanos". Num ano, sim, num simples ano, Rajoy foi notoriamente incapaz de fazer o que quer que fosse de considerável pelo seu país. Pouco ou nada reformou, adiou e recalcitrou perante o inevitável, e, mais grave ainda, protagonizou uma das gestões mais ineptas da horrivelmente chamada crise das dívidas soberanas. Ontem, após alguns dias de intenso fogo mediático, no qual o PP e as suas lideranças estiveram sob uma enorme pressão, Rajoy, num discurso apoucado e pateta, foi absolutamente incapaz de debelar as suspeições que sobre si recaem. Paralelamente a este jogo de culpas e inocências em que todos saem chamuscados, a sociedade espanhola, mergulhada numa crise profundíssima, começa a manifestar os primeiros sinais de exaustão. O desemprego atinge já níveis ciclópicos, a economia está de rastos, as instituições, desde o poder político ao judiciário, encontram-se numa crise existencial, em que todos os protagonistas, e que protagonistas, resvalam pela ladeira da descredibilização terminal. Em resumo, os cimentos do poder político esboroam-se paulatinamente perante a passividade de uma cidadania aturdida pela indocilidade da austeridade. E, perante este cenário dantesco, o que faz Rajoy ? Nega, retrocede, recua timorato e permite o avolumar das suspeitas. O que se está a passar em Espanha é demasiado grave para passar ao lado da nossa tola agenda mediática, mais preocupada com as geniais movimentações do edil Costa. Repito, é demasiado grave para passar ao lado da agenda mediática indígena, porque, queira-se ou não, o que se passar aqui ao lado influirá sobremaneira no andamento subsequente da vida política nacional. Mais: não se esqueçam que uma Espanha sem governo e sem alternativa, sim, porque não há neste momento uma alternativa visível e credível à pobreza política rajoyana - quem é Rubalcaba? -, será uma catástrofe não só para a Europa, mas também para Portugal. Fixem isto, de uma vez por todas.

publicado às 23:45






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