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Não existe uma estirpe de Populismo que possa ser considerada benigna. O hino "a minha alegre casinha" adjudicado pelos Xutos & Pontapés ao coro da Santa Geringonça não pode escapar à doutrina que postula a apropriação de símbolos avulso para fins propagandistas, políticos. A subida ao palco do Rock in Rio de diversas representações soberanas não é um populismo melhor do que o nacionalismo de Orbán ou o Trumpismo da Casa Branca. Com a aparente candura e inocência da bochecha rosadinha, Marcelo, Costa, Ferro e Martins (entre outros bivalves da comitiva mandante, consortes ou nem por isso) lá entoaram a versão pimba da melodia, já de si questionável em termos ideológicos, por ser uma faixa remanescente do Antigo Regime. É nessa pequena e alegre casinha onde deve pernoitar o cidadão português - quietinho e sem causar alarido - é essa a mensagem apaziguadora que passa em rodapé. Fernando Santos também lá podia estar a rufar versos da mesma melodia com a sua noção de desígnio-maior, assente no endeusamento intocável de Cristiano Ronaldo. Essa fé, repelente da objectividade analítica, é uma praga que tem vindo a atraiçoar a falsa-brandura dos costumes de Portugal. Sob a pretensa aura-suave da chefia das migrações ou da Organização das Nações Unidas, o país recruta e confirma o serviço de limpa-vidros tão útil para aliterar percepções e paixões. A graxa interna é semelhante à pomada esfregada no exterior. Com a ingenuidade da decoração atribuída, Portugal coloca-se a jeito da sua auto-valoração. A agência de rating política suprema passou a ser o Rock in Rio. Os tronos "branco-bronco" assentes sobre rodinhas, amestrados no palanque da realeza-selfie, atestam sem margem para dúvida o grau de sordidez que traja o poder em Portugal. O que o povo precisa é de circo. Um grande circo volante que dê guinadas para encobrir a falência do Serviço Nacional de Saúde, assim como a crónica e paliativa doença da Educação em Portugal e a nova crise financeira que não tardará a eclodir à luz da feroz guerra de tarifas entre a União Europeia e os Estados Unidos. Portugal não é os Estados Unidos. Mas aposto que Cristiano Ronaldo ainda se torna Presidente do Governo Regional da Madeira deixando os demais daquele coro com dor de corno. E sim, Cristiano, já o sendo, seria ainda mais populista do que é, e do que aquela cambada que diz que não sabe de nada sobre aventurismos políticos e perfis extremados. A pergunta colocada por Donald Trump é pertinente.
But it is equally true to say that Ronaldo, even in his twilight, shines brighter than almost any player with whom he comes into contact. He has not so much faded as a player as evolved into something different. It is misleading to suggest that he has transformed into a striker, a penalty- area predator, because he is not really restricted by such mortal concepts as geography.
Instead, he has attained a level of such devastating efficiency that he now does not really require something so mundane as the ball. He does not need to be involved. He looks, often, like he is doing nothing, or something quite close to it — as if he is a mere passenger. It is an illusion. He is always in the cockpit.
Isco, his Real Madrid teammate, was the dominant player on the field here, the one who was most involved, who prompted and probed and prodded, and he was wearing a Spain jersey. Ronaldo has moved beyond needing to dictate games. He concerns himself only with defining them.
Já houve muitos golos de bicicleta na história do futebol. Mas executados como o de Cristiano Ronaldo hoje, a correr em direcção à bola, com uma movimentação acrobática digna de um ginasta, àquela altura e de deixarem o guarda-redes (Buffon, diga-se de passagem) pregado ao chão, só me recordo de ver noutro jogador: o capitão Tsubasa.
A crise de liderança do Partido Social Democrata (PSD) tem provocado mais alergias e urticárias no seio de outros partidos do que na própria casa da Rua de São Caetano à Lapa. Parece quase certo que o Derby social-democrata será disputado entre Santana Lopes e Rui Rio. Convém sublinhar o seguinte fenómeno separatista; Os mais contundentes sucessos de governação dos candidatos aconteceram na região norte - nas cidades da Figueira da Foz e do Porto. Numa lógica de bastiões e reservas estratégicas do PSD, faz algum sentido que assim seja, e tendo em conta o track-record de cada um dos adversários, se puxarem dos galões autárquicos para promoverem as suas causas, farão a vontade dos socialistas. Ainda recentemente, embora embriagado pelo oportunismo das eleições autárquicas, António Costa reforçou a sua dose ideológica de regionalismo e "autonomia" política dos concelhos desde que estes sejam do Partido Socialista (PS). Numa interpretação mais ampla, e à luz dos acontecimentos que decorrem na Catalunha, a bandeira do poder local pode ser um argumento subtil a ter em conta na gestão de um país. Quer Santana Lopes quer Rui Rio devem saber integrar as movimentações ideológicas excêntricas. Dirão muitos que o que acontece na Catalunha não interessa ao menino Jesus, mas não é bem assim. Quaisquer derrames não previstos, decorrentes da garraiada que opõe Madrid a Barcelona, terão impacto nos discursos políticos pan-europeus e nas contas europeias. A geringonça ficará indelevelmente colada ao ciclo económico favorável do turismo e ao dinheiro fácil do Banco Central Europeu. Numa lógica de modelos económicos que se esgotam e de alternância de vocalistas, o mais provável é o PSD agarrar o poder em Portugal quando este estiver na mó de baixo, a andar às voltas da nora de uma nova crise de excessos e devaneios orçamentais. Seja qual for o chefe da casa política do PSD, este deve alinhar ideias de um modo realista, mas desapaixonado. O PSD, não sendo governo, deve ter um papel de auditor interno, de agência de rating. Por outras palavras, deve fazer uso do capital de que dispõe. E o legado de que dispõe diz respeito à experiência na gestão de crises. Os outros, para serem coerentes com o seu currículo, continuarão a pintar um cenário cor-de-rosa, perfeito. O PSD deve levar em conta que as marés psicológicas são de duração limitada e que as escorregadelas financeiras dos governos marcam o início do seu fim. O PSD apenas deve ser paciente. A realidade falará por si. A ideologia acaba sempre por se trair e deixar ficar mal os crentes mais ferverosos. O PSD deve declarar a sua independência política das querelas típicas que polvilham o quadro governativo de Portugal. Se quiser sair por cima.
Uma coisa é conhecer a lei de fio a pavio e saber como posicionar o património no sentido de minimizar a carga fiscal. Foi isso que Trump fez dentro da lei criada em Washington. Outra coisa é procurar alavancar ganhos através de configurações fiscais dúbias. Foi isso que alegadamente fizeram Cristiano Ronaldo e, ao que tudo parece indicar, José Mourinho. Para já, e à semelhança de José Sócrates, a comunicação oficial das partes visadas vai no sentido de negar tudo e declarar que todas as obrigações patrimoniais ou fiscais foram cumpridas. A grande diferença entre o borra-botas Sócrates e Cristiano Ronaldo consiste no facto da estrela madeirense ser uma marca global. O 44 é conhecido em Évora e pelo alfaiate Brioni - e pouco mais. Sim, também é conhecido em Portugal por ter levado o país à efectiva falência total. Em todo o caso, o que me causa alergia, tem a ver com a escala de ganância que parece reinar no nosso mundo. À luz dos milionários salários e galácticos contratos publicitários, qualquer que seja a carga tributária, sempre sobram uns trocos para o tabaco e o gasóleo. A pergunta que deve ser colocada é a seguinte: qual o montante que torna o homem feliz e contente? A resposta parece ser inequívoca: não existe montante satisfatório. Mas mais grave do que as dimensões tributárias será o modo como um país inteiro deposita grande fé e crença nos valores morais de icones da nação. A serem verdade as alegações de fraude fiscal, Portugal enfrenta um falso dilema moral. Não tenho a certeza se os seus compatriotas, com o mesmo património e a mesma falta de cultura ética-financeira, não fariam exactamente o mesmo. Afinal são doze bombas que Ronaldo tem estacionado na garagem. Perguntem ao Zuckerberg onde comprou as chinelas. Mas, em abono da verdade, devo responder à questão que coloco. Ronaldo não é Sócrates. Auferiu rendimentos em função do seu talento e trabalho. Em relação a Sócrates, este ainda tem de driblar muito para provar que aquela massa tão conveniente é efectivamente sua, ou seja, do seu amigo Santos Silva.
Qual árbitro qual carapuça. O problema é muito maior e vem de longe. E a culpa não é dos outros (o instrumento dilatório de sempre). A responsabilidade pelo destino está enraizada, é endémica e faz parte do DNA nacional - tem dono, pertence aos próprios. Desde tempos imemoriais que o culto da personalidade tem abafado a virtude do organismo colectivo. Há quase uma década que a sacralização de Cristiano Ronaldo tem sido uma constante, a transferência do ónus para a figura sebastiânica, superior, que reduz a nada os alegados parceiros da empreitada. Esta mesma patologia permeia tantas dimensões. É a mesma contradição existencial, repetida à exaustão - a falsa consciência colectiva alvitrada pela promessa de um guru elevado aos céus e derretido pela circunstância de uma fénix. Na mesma senda da glorificação totalitária, do tudo ou nada, besta ou bestial, são inúmeros inscritos na mesma ordem de devassa do espírito das nações. Depositem a fé toda na vinda do esclarecido. De Salazar a Soares, de Cristiano a Costa, é assim que funciona na tômbola de consequências nefastas. Do murro dado por João Vieira Pinto em 2002 a lugar de destaque na equipa técnica. Da cabeçada agachada ao descartar da nacionalidade oportuna. Tudo isto faz parte da mesma mossa que sacode águas fintadas pelo capote. A culpa é dos outros. Foi um dia para esquecer, em vez de ser a razia para começar de novo. Para cometer os mesmos erros.
A idade da razão foi tomada de assalto pelo calor do momento, pelas emoções à flor da pele. Nos últimos tempos, em relação aos quais tenho dificuldade em estabelecer um marcador para o seu início, as nossas sociedades têm sido instigadas a exercer o magistério dos instintos primários. A falência económica e social do sistema capitalista, tal e qual como o conhecíamos, determinou, em larga medida, a deslocação da racionalidade para o campo aberto da luta pela sobrevivência, do salve-se como entender. O desespero dos indivíduos gerou comportamentos assimétricos, de tudo ou nada, de extremismos, de vaticínios, fundamentalismos ou devoção cega. Assistimos, neste quadro de desmoronamento, a expressões de desequilíbrio, de anulação e validação no mesmo gesto. A dialética foi preterida em nome da certeza absoluta. Esta clivagem entre extremos radicalizou posições e antagonizou a própria noção de compromisso societário, alicercado no diálogo, na condição humana enquanto valor maior. Um sem número de eventos e factos terá contribuído para engrandecer a desordem e ampliar a dimensão emocional da condição existencial. A maioria dos acontecimentos inscritos no campo negativo, e a menor parte, no campo do tendencialmente positivo. Sem o desejarmos, ou controlarmos os seus efeitos, estaremos à mercê dessa panóplia de estímulos que apelam a respostas instantâneas, viscerais. A tômbola de doutos e antídotos tem gerado náuseas e um sentimento de insegurança em relação ao futuro. De Snowden aos caprichos de Wall Street, aos casos do BPN e do Freeport, da morte de Eusébio às conquistas de bolas de ouro de Ronaldo, dos protestos de rua dos últimos dois anos, ao mais recente caso de vingança tributária do leitão da Bairrada (sem esquecer a garfada de Hollande); tudo isto contribui para reforçar o domínio do caos, da dependência em relação ao reagente que se segue, o speed emocional que se confunde com a matéria política porosa. Uma vez tombados nessa dependência, os indivíduos prescindem dos requisítos mínimos de racionalidade. E, na minha opinião, isso constitui uma séria ameaça. Porque, no contexto desse ambiente propício ao populismo, as mais radicais ideias encontram o terreno propício para serem readmitidas. Refiro-me a laivos substantivos de anti-semitismo, fascismo e corporativismo, registados sem agrado um pouco por toda a Europa debilitada. A euforia dos últimos tempos faz pendular os mais indefesos entre a glória e a desgraça, como se fossem marionetas. Reitero, de um modo humilde e pequeno, a salvaguarda de uma parte do juízo, para podermos separar o trigo do joio, o essencial do perdulário. As emoções devem comandar a vida, a poesia, a arte, mas não necessariamente a prosa política. Tenhamos atenção ao espectáculo que se nos têm oferecido nos últimos tempos, qualquer que seja a arena da nossa preferência.
Cristiano Ronaldo não é Mário Soares. Poderia escrevê-lo ao contrário; Mário Soares não é Cristiano Ronaldo, mas isso seria dar excessiva importância ao alegado pai solteiro da Democracia em Portugal. Cristiano Ronaldo vai fazer mais pela economia do país do que vários Mários juntos - sim, a Madeira ainda é Portugal, embora os nativos afirmem que o craque está a ajudar a terra e "mai nada!". Cristiano Ronaldo não está à espera para pendurar as botas, para que lhe dêem dinheiro suado dos contribuintes para inaugurar uma fundação com o seu nome. Ainda nem sequer completou dois terços da sua carreira e já está a criar o seu próprio museu. Ou seja, irá atrair visitantes à região autónoma agora que os madeirenses reclamam uma parte dos dinheiros da privatização da CTT (Já me estou a esticar. Estou aqui para tratar das diferenças entre o Ronaldo e o Mário). Na minha opinião é uma grande jogada do avançado da selecção nacional. Ouviram bem? Selecção nacional. Houve tempos em que Mário Soares era um magriço da política, mas ainda não percebeu que cada vez que quer dar uns toques, lá para os lado do Rato e arredores, vai perdendo o pouco do estatuto que ainda lhe resta. Mas adiante. A Fundação Mário Soares será porventura a antitese do Museu Cristiano Ronaldo. Recebeu mundos e fundos, mas pouco dá em troca, a não ser umas conferências catitas em nome da "sua" democracia e umas quantas exposições disto e daquilo. O que Ronaldo inaugura na Madeira não deve a ninguém. Os troféus ganhos são seus e só seus, e não foram comprados com dinheiros públicos. Há aqui um mar de diferenças entre o comandante e o ex-presidente da república.
A presença de Portugal no mundial de futebol que se disputa no Brasil em 2014 é mais do que simples bola. A participação no campeonato do mundo é coisa que agrada simultaneamente ao governo e ao povo. Nos últimos tempos raras têm sido as vezes em que o governo e os desempregados partilham os mesmos gostos. Mas atenção, vêem a bola de modos distintos. Se por um lado o espectáculo serve para levantar o ânimo de um país carente de um foco de inspiração, de uma vela de santuário, por outro lado o governo terá algo para distrair os mais incautos de planos políticos gizados para o território nacional. O timing não poderia ser melhor. A probabilidade da aplicação de um programa cautelar acaba de aumentar com o apuramento de Portugal. Cristiano Ronaldo, sem o querer ou saber, acaba de dar uma ajudinha à Troika que pode aproveitar a boa onda para avançar com mais medidas extremas ou revalidar a sua presença quando terminar o seu contrato em Junho. O que Cristiano Ronaldo fez em campo é verdadeiramente notável e transforma-o numa espécie de santo padroeiro do sucesso, num altar móvel de esperança, mas os três golos do madeirense também são um hat-troika oferecido aos senhores da gleba. Temo que este prémio, mais que merecido pela equipa nacional e pelo país, seja aproveitado para fins diversos, enquanto o povo samba e sorve a caipirinha.
Hoje é um dia em que aqui se abre a excepção: parabéns a toda a equipa e eis a boa, única resposta que CRonaldo poderia dar. Bem merecem viajar até ao Brasil.
Ao longo dos anos, FC Porto, outras equipas nacionais, e Mourinho têm tido manifestas razões de queixa da UEFA. Ronaldo começa a ter razões de queixa grossas da FIFA, com o último deslize tresloucado e parcial de Blatter, que certamente não foi por acaso, mas corresponde a uma cultura ociosa e satírica de cúpula.
Há, notoriamente, um lóbi anti-português nesses dois organismos pela simples razão da inveja e da escala. Para efeitos europeus, a escala portuguesa parece desprezível e fazem-nos o desfavor de no-lo darem bastas vezes a entender, e muito mais nestes tempos de egoísmo e salve-se-quem-puderismo europeu.
No entanto, para efeitos do grande balanço histórico e da grande inveja entre as nações europeias relativamente a Portugal por causa da sua influência linguística, cultural e mesmo por causa da nossa expressão demográfica, não no rectângulo, mas no resto do mundo, Portugal e o enorme continente de afectos português têm um peso cada vez mais não desprezível nos espaços materiais e imateriais do Planeta, coisa que a França não tem, a Bélgica não tem, a Alemanha não tem, e muitos outros países europeus poderosos e ricos, manifestamente não têm nem terão. Isso e um legado secular fora da Europa, no Oriente, em África, na América, na Oceania, ou seja, virtualmente em todo o lado porque estar em todo o lado sempre foi e continua a ser eminentemente português.
Era preciso que tais países tivessem sido e feito, nos séculos passados, o que Portugal, Espanha e Reino Unido fizeram de ímpar no Planeta, sobretudo Portugal, atendendo às suas dimensões, e nenhum outro Povo pôde ou soube.
Posto isto, que a UEFA, a FIFA e todos os invejosos e desprezivos de Portugal se fodam e façam bom proveito.
Já temos tema para um mês e meio. Aquela espécie de enxerto de Mário Soares em Le Pen, chefão de uma entidade retintamente mafiosa, teceu umas gracinhas a respeito do nosso CRonaldo. Transplantando a coisa para outras latitudes, a senilidade bolsada equivale às pressões sobre o famoso Tribunal Constitucional que muito bem faz em defender direitos, especialmente quando os próprios estão em causa. Estando ouro no jogo, seja ele para botas ou lingotes, compreende-se o tal Blatter.
Observámos o que se passou em França com a "rescisão de contrato de nacionalidade" de Gerard Depardieu, e, segundo o que consta, Brigitte Bardot ameaça a República Francesa com o mesmo tratamento. Para os Franceses é a mais alta forma de traição. Quem no seu perfeito juízo deseja abdicar da cidadania do país mais culto e civilizado do mundo? E ainda por cima trocar pela cidadania Russa? A pátria de Leo Tolstói ou Anna Netrebko. Há coisas que não têm explicação. Mas agora imaginemos o seguinte, à luz da crescente Austeridade Lusitana e no contexto da excessiva tributação de cidadãos nacionais. O que aconteceria ao país, se de repente, sem grandes contemplações, Cristiano Ronaldo ou José Mourinho (pensei em António Victorino D´Almeida, mas não serve para o exemplo) decidissem abdicar da nacionalidade Portuguesa e elegessem o Mónaco ou o Liechtenstein como neo-pátrias? De que modo é que Portugal iria engolir estes sapos? Eu sei que me encontro no território da especulação e da bizarria, mas é uma possibilidade real. Real Madrid?
Em Madrid há quem a tenha descoberto ao fim de séculos. Por cá também já sabíamos da coisa*
*Há séculos.
Aquilo a que hoje em dia se resume a nação, a Selecção de Futebol, esteve com o senhor 23%/17,5 milhões-ano/500 empregados belenenses. Sendo por Sua Excelência solicitados para vencerem a Alemanha e tudo fazerem pelo melhor resultado possível, obteve a resposta categórica do CRonaldo:
- "Você está convidado para ir à Polónia".
Imaginem a mesma cena em Madrid, com o capitão da selecção vizinha dizendo o mesmo a S. M. o Rei João Carlos I:
- "Invitamos usted!"
Pois, tenho uma imaginação muito fértil, porque quanto a formação e cortesia, uma Monarquia é mesmo uma Monarquia e isso faz toda a diferença.
Muito a propósito do tema que começa a ser amanhã discutido no Parlamento, cai por terra mais um tijolo da duvidosa Linha Maginot da disciplina de voto republicana até hoje preconizada pelo Partido Socialista. A velha máxima do "todos iguais, mas uns são mais iguais que outros" demonstra plenamente a pouca solidez doutrinária e de praxis das organizações alegadamente republicanas. Confirma-se a existência de privilegiados, ou melhor, de gente excepcionalmente apta para fazer o que bem entende.
Consiste esta atitude de Francisco Assis, líder do grupo parlamentar do PS, numa salutar posição de liberdade de voto que todos os partidos deviam adoptar, dignificando as suas funções, independência intelectual e liberdade de escolha. Ao contrário do que se tem afirmado, o exercício deste cargo não é compatível com a existência de estipulados contratuais, como se de uma empreitada se tratasse. As matérias podem ser, como este caso demonstra, objecto de reflexão solitária e a decisão variará consoante a consciência de cada um.
De uma coisa pode ter o dr. Assis a certeza. A instaurar-se uma Monarquia Constitucional neste país, a reforma do sistema eleitoral e a directa relação entre o eleitor e o deputado, tornarão mais ténue a cega obediência às direcções partidárias. É o restaurar do prestígio da democracia representativa e a selecção natural pela qualidade, o almejado mérito.
Entretanto, o país fica a saber mais detalhes acerca das proezas mediáticas de Cristiano Ronaldo, afinal a figura tutelar da vida de dez milhões de criaturas. No fundo, este tipo de temas são aqueles sem os quais ninguém pode viver. A "situação" agradece o interesse.
Pronto, já está!
Uma vez que não se prevê um grande entusiasmo popular em torno das comemorações do centenário, já se delineia uma nova hipótese de excitação patrioteira em torno do chamado ícone nacional, o sr. Cristiano Ronaldo. Embora recuse o epíteto de salvador da pátria, há por aí quem roa as unhas até ao sabugo, na perspectiva de reedição do título de Melhor do Mundo que já conquistou em 2008.
Temos programa. Primeiro, o suspense pela participação no Mundial. Depois, as notícias alarmantes acerca do tornozelo do rapaz, o perfeito sucedâneo ao pifismo da gripe A, já com os dias contados. Finalmente, as Flash, Caras, Maria e outras publicações da intelectualidade do eixo Belém-S.Bento-Minipreço, terão farta colheita de divisas provenientes de reportagens acerca dos joanetes da lady-mãe do jogador, lipoaspiração das rechonchudas coxas da mana-cantora, da depilação em forma de coração da amiga do momento, ou das almofadas de brilhante veludo preto bordadas com as inicias CR a ouro ou prata.
O pior é se o ranhoso-mitra das Pampas obtém o "título". Era só o que nos faltava...
Anda por aí muita gente indignada com a soma monetária envolvida na transferência de Cristiano Ronaldo para o Real Madrid. Subscrevo na íntegra a opinião do Tiago Moreira Ramalho. Ninguém tem nada que se intrometer num negócio privado e cujo dinheiro é também ele de um privado. Só realmente um povo cujo desporto nacional é a inveja pode ter as reacções que muita gente tem tido. Aproveito então para fazer a ponte para mais um post do meu amigo André Ventura da Costa:
O Real Madrid comprou o Cristiano Ronaldo por 94Milhões de Euros mas estima reaver esse montante no prazo de um ano. Eu pergunto:
E nós, quando vamos reaver o dinheiro investido nas eleições e nos partidos?
Quando o nosso partido ganhar e for governo, temos algum retorno?
Então e se não formos de nenhum partido e nem simpatizarmos com nenhum, podemos não pagar?
Então, eu ando a pagar do meu dinheiro para o Bloco eleger 3 eurodeputados?
Isto para mim não faz nenhum sentido.
Mas haja algo que nos alegre. Apesar dos "ambientes crispados", dos ataques pessoais e políticos, das pequenas e médias empresas que são maltratadas, do agricultores que são "roubados", dos operários no desemprego, do "ricos que ficam cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres", a verdade é que apesar de tudo isto, os nosso partidos conseguem convergir e chegar a consenso em questões que são fundamentais para o bem estar da população. Já em 2003, foi aprovada uma nova lei de financiamento dos partidos que apostava forte no financiamento público em detrimento dos donativos privados, e agora em 2009, todos os partidos no parlamento aprovaram por unanimidade uma nova lei do financiamento partidário com o objectivo de aumentar os valores estabelecidos na anterior. Realmente até dá gosto ver os nossos partidos todos de mão dada por causas que valem mesmo a pena.
(imagem picada daqui)
O que já todo o mundo sabia confirmou-se, Cristiano Ronaldo foi eleito o melhor jogado do ano. Parabéns ao craque, mas, não podia deixar de notar, ao assistir ao seu discurso, que o que Deus lhe deu a mais nos pés, retirou-lhe do cérebro! Bom, que ele continue pelos relvados, é o que se pede!