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Almoço em família ora núcleo reduzido pela expressão estival e divorcionária, quiçá de certa forma abortista, à semente dos dias.
A minha Mãe, que pela neve adentrava sulcando um caminho por dentro do qual os seis irmãos mais pequenos pudessem andar na rota para a escola, recorda na pele o uivo de lobos na diurna atenção, e no crepuscular descer à aldeia perante a estultícia dos que habitavam as fragas imersos no anestesiante assolar da vida, em busca do sustento primevo.
O meu Pai, que percorreu e muito espremeu cada instância da revolução litoralizante, rememora em si - e caso diferente, de onde herdo o exorbitar - aquilo que faziam os outros, a comparação que sobrepuja o ater-se ao celeiro, bem e vividamente evocou as alpargatas, o leite aos ombros, o fazes-te ou fodes-te, uma circuncisão espiritual que visava sobretudo assegurar a reposição mínima do pão sobre a mesa.
Neste país e em mais nenhum outro é possível, abjurando a prepotência de o dar como certo, que o maniqueísmo instalado na chulice ao Estado, providência dos cautos em detrimento dos grácios, consiga com duas penadas apagar o resquício de lucidez, a sorte lúbrica de tão visceral que se torna, deixado no caminho da ovina maralha.
O meu filho, produto de uma sociedade divorciada, relativista, emo-dramática, onde nada é consequencia de actos estouvados e tudo são incompreensoes dos maus que comparam posturas, está enleado até ao seu horizonte discernível na teia de apatia, angústia, anomia e finalmente defenestração a esmo de quantas vozes se erguerem em defesa da sua construção, porquanto deduzirão, por natureza, oposição ao conforto amnioticamente subsidiado que lhe foi consentido pela nobreza de uns e a vulgaridade de outros. Não quer estar à mesa enquanto não lhe servirem a primeira libação apreciada.
Carthago Delenda Est, direis, já cá vinhas ó latinista.
Aquele de vós que nesta senda não peca, lançai o primeiro seixo.
Ouço-a dizer, desenleada há mais de doze anos, que a colega, a chefe, o fisco, os preços, aquela viagem, a cor dos sapatos, e a derrama somada dos arrufos coligidos desde a primeira infância não lhe chegam, que vai ter de entregar a casa ao banco e por isso, logicamente, quer uma maior e num local mais bonito, para que possa não sentir um baque tão duro com a crise cuja culpa não lhe assiste nem aos pares com quem priva na orgiástica demissão de olhar ao espelho quando acorda.
Mas que merda tenho eu a ver com isto? Acaso terei subscrito, apoiado, defendido ou ficado quedo quando esta doutrina de preconização irresponsável e factura à vista sobreveio tomando de assalto o tecido social, hóstia do eleitorado?
Não. Eu saí, e fiz outra coisa.
Eu estou a apaixonar-me e a epifania secular e metafísica de ver Deus em cada folha que brota, ou não fosse esta minha veia um caule da mesma cepa em que Ele se fez para que O compreendêssemos, imunizam-me aos males que essa corja imunda e soez em quem vós, putas, votastes, criaram e manterão pela duração previsível das vidas que nós mesmos gerámos.
Eu fiz a minha paz. Fizésteis a vossa?
Se não, despachai-vos.
Um gajo vai a Lisboa e não há trânsito para lado algum, é uma coincidência urbana por contraponto à coincidência cósmica, como a BBC News chamou hoje ao facto - consubstanciado por mil feridos e uma fábrica de zinco feita em cacos - de chover ferro e fogo sobre a estepe no mesmo dia em que um asteróide vem perturbar a apanha da conquilha.
Por outro lado eu tenho melhorado muito da apneia, desde que me comparo, e meus caros o efeito placebo que isto faz num homem, com o pessoal que engole patranhas atrás de patranhas, vindas desses favos de merda que são os partidos, pela promessa de um Eldorado para bufos, chibos, mainatos e amanuenses qualificados com uma costela ligada a uma corporação qualquer.
Já sabe melhor conduzir como Deus ordena, enfiar a viatura onde mais ninguém vai senão @s agrilhoad@s d@s Conservatóri@s e Observatóri@s, com a arroba no ego e o freio nos dentes, ingerir gorduras, sal e álcool enquanto se fuma e rasga a factura, e sair da entrevada metrópole conforme nela se entrou, como se atravessasse em picossegundos um qualquer lugarejo no mais ermo tundral da Samilândia.
Afinal sempre há vida para além da FNAC, ó urbanitas, ó hipsters. Na melhor província cai a nódoa, e bem férrea pode ela ser um destes dias, mais depressa do que poderíeis dizer "ai o meu ipad, ó su, tens rede?".
Viva Goscinny, viva Uderzo, e por Toutatis, bom fim-de-semana. Eu vou-me para 48 horas de boot camp auto-imposto e bem hajam.
Adenda: desculpem lá mas não resisto, vi agora que andam aí a roubar hóstias. Urge das duas uma, banir o roubo da hóstia ou legislar no sentido de não poder emergir um mercado selvático-anarca em torno dela, que é como quem diz regular o teor de farinha no ritual. Belzebu, perdão, o Estado nos livre de ofertar galinhas ao maléfico sem certificação prévia nem presença de um agente habilitado.
Viva Tunguska.
Foi com uma certa infelicidade que recebi a notícia da saída da Cristina, que, a par com o Nuno e a minha pessoa, era uma das autoras mais antigas do blog, compondo grandemente a alma deste. Naturalmente, a porta fica mais do que aberta para um futuro regresso.