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Cavaco Silva defende que Portugal precisa de órgãos de soberania que actuem coordenada e concertadamente na defesa daqueles que são interesses nacionais e que “só podem ser eficazmente defendidos” por alguém com experiência em política externa. Cavaco Silva lembra que o seu sucessor é a “porta-voz do país” e que deve estar “acima das divergências de opinião”. “Face à situação de emergência económica e financeira a que Portugal tinha chegado, houve que mobilizar toda a nossa capacidade diplomática (…) para explicar, junto das mais variadas geografias, instituições internacionais e líderes políticos, a execução do programa de assistência financeira, em ordem a suscitar a confiança dos nossos parceiros e investidores, ganhar credibilidade no plano externo e conseguir apoios para as posições portuguesas". Cavaco Silva escreveu ainda que (…) deve “estar preparado” para analisar a conformidade das propostas que lhe são apresentadas pelo Governo e Chefe de Estado Maior das Forças Armadas e para defender as posições portuguesas nos contactos com entidades externas (…) deve ser capaz de dominar as relações bilaterais “em toda a sua complexidade” e abordar “com conhecimento de causa” os assuntos políticos, económicos, sociais, militares, científicos, culturais, ambientais e de política europeia, bem como saber identificar aquelas que são as mensagens relevantes.
Em resumo, Cavaco Silva desejaria ser sucedido pelo Rei D. Carlos I. Não sendo tal hipótese a considerar, resta-nos quem seja completamente apartidário, conheça muito bem Portugal e o mundo lusófono, possua excelentes contactos internacionais e já tenha prestado valiosos serviços diplomáticos ao país.
Isto diz muito acerca de quem hoje somos. É o dia da esperada cacofonia acerca do assassinato de Kennedy. Nos jornais, nas estações de televisão e nas redes sociais, não se fala noutra coisa senão no impossível deslindar da responsabilidade do crime. Tal não seria de estranhar, se em Portugal não persistisse a deliberada ocultação de um crime que há 105 anos para sempre mudou a história do nosso país, destruindo o regime constitucional e abrindo o caminho à subversão como forma de exercício do poder do Estado.
Existiram meia dúzia de cópias do Processo do Regicídio, tendo uma delas ido parar às boas mãos do Sr. Afonso Costa. Compreensivelmente, deu-se-lhe o esperado sumiço. Outra, provavelmente desaparecida aquando do estranho assalto à residência de Sua Majestade o Rei D. Manuel II, para sempre terá deixado de poder ser consultada. É possível ainda existir qualquer um dos remanescentes exemplares, seguramente guardado a sete chaves por quem julgue ter o dever de ocultar as responsabilidades criminais e políticas de conhecidos nomes que decoram ruas e praças deste país.
Como quer o sistema ser levado a sério, se passados três regimes desde a subversiva, violenta, ilegal e desastrosa destruição da Monarquia Constitucional, um Processo que já é parte da história - estando mortos todos os envolvidos no crime -, continua sem ser concluído?
A menos que algo exista que possa fazer perigar a segurança desta república, ou por isso mesmo, já é tempo de sabermos a verdade dos factos.
Adriano Moreira passou a nona década de vida e o seu pensamento continua tão linear e consistente como dantes. Quanto ao que verdadeiramente interessa a Portugal - afinal o velho programa monárquico que o regime arrogante e ostensivamente teima em ignorar -, o Professor vem ao encontro daquilo que aqui tem sido apontado como inevitabilidade. Quando, entre outros temas também abordados por Adriano Moreira, aqui andamos há anos a dizer que a questão da Plataforma Continental consiste num novo Mapa Cor de Rosa que dentro em pouco teremos de enfrentar, não estamos no plano da mera suposição. É a certeza da imperiosa necessidade de mudança de regime. Apenas as palavras de alguém com o seu gabarito poderá fazer chegar a mensagem a quem interessa e pode, evitando o pior.
Ouçam esta entrevista concedida à TSF. Nesta situação de terra-queimada em que Portugal se encontra, finalmente algo de interessante.
Logo nos primeiros anos do século passado, o jornalista Fuschini entrevistou D. Carlos. Homem reservado e diplomado na arte de escutar, o monarca foi deixando o verdadeiro entrevistado expor as suas ideias, aquilo que julgava absolutamente necessário para a regeneração da vida pública, ou como então se usava dizer, a salvação da Pátria.
- Muito bem, mas onde estão os homens capazes de realizar esse programa?
- Cabe a Vossa Majestade encontrá-los.
- Ah...
Diz-se que este ah... foi acompanhado por um gesto de desânimo. Nada que nos faça estranhar, pois num momento em que todos apresentam um gordo dicionário de reivindicações regeneradoras, ninguém explica onde poderemos nós encontrar o editor que se arrisque ao prelo. Pois então que continuem a falar à vontade.
Os republicanos sabem o que fazem, tornaram-se exímios na aprendizagem da sua própria história e vai daí, são reconhecidos peritos em medidas defensivas. Se S.M. o Rei D. Carlos I, tivesse beneficiado das normas que hoje sancionam os insultos ao Chefe do Estado, a Casa de Bragança teria sido a mais rica da Europa.
Na RTP informação - programa Termómetro Político -, uma loura mental que dá pelo nome de Graça Franco, teceu algumas aflitas considerações acerca da disparatada tirada soarista. A respeito de D. Carlos I,a contratada debitou todas as "narrativas" da bem conhecida propaganda da ignorância. Sem sequer se ter dado ao trabalho de rapidamente verificar na Wikipédia quem foi D. Carlos I - sugerir-lhe a leitura de uma biografia séria como aquela escrita por Rui Ramos, seria demais para a tonta cabecinha - , quem era este homem de ciência, o artista e muito mais importante, o estadista, a fulana preencheu o seu tempo com as inanidades que se esperam nestes painéis a soldo. Uma vergonha, principalmente quando tudo isto é pago com dinheiros públicos. A criatura devia entender que a provecta idade do ex-residente em Belém não pode servir de desculpa, pois temos todos a certeza da seriedade das sugestões que tem assoprado. Os outros comentadores estavam visivelmente incomodados com o claro apelo ao sangue que Mário Soares sonoramente fez ouvir no país inteiro, tentando desculpá-lo através de evasivas muito mal conseguidas.
O problema reside no oportuno esquecimento que esta gente cultiva como nabos sob chuva fininha e persistente. Temem pelos seus salários ao fim do mês, comprende-se o dilema.
A verdade é que Mário Soares tem sistematicamente recorrido ao apelo à violência e em muitas entrevistas chama nomes impublicáveis às autoridades do Estado. Ainda há meses, nas cerimónias comemorativas da grotesca república que nos esmaga, trai, mente e rouba há demasiado tempo, fez precisamente o mesmo numa daquelas tiradas em que a violência verbal se torna norma. Parece a todo o custo querer sangue. Nada mais, nada menos. É indecente, esta monomaníaca insistência. A família bem podia beneficamente influenciar o homem. O Dr. João Soares, moderado e sensato como é, poderá ser capaz de tentar evitar estes desagradáveis incidentes?
Mário Soares lamentavelmente pode citar o Afonso Costa ou o Junqueiro e até regozijar-se com o assassinato de D. Carlos I, um dos seus antecessores na Chefia do Estado. Fica-lhe muito mal. A verdade que devia ser-lhe colocada, considerando a sua filiação republicana, é o absurdo que o situa na mesma fileira do Buíça. Apela ao crime ? Pois então recorde-se da forma como terminou o dito Buíça: em farrapos, pontapeado e cheio de lama, ali mesmo atirado como lixo para o lajedo da Câmara Municipal de Lisboa. Quantos daqueles que rejubilaram com o Regicídio - Machado Santos, António Granjo, Ribeira Brava, entre outros - cairiam da mesma forma e precisamente às mãos dos seus correligionários?
Portugal foi pioneiro na abolição da Pena de Morte. Foi a Monarquia quem para sempre a liquidou. Convém lembrar estes pequenos e importantes detalhes. Nestas situações de profunda crise, por vezes acontecem imprevistos e os tiros saem pela culatra. Aqui ficam as fotos. São um alerta, até porque a paciência tem os seus limites.
O acto fundador da República consistiu em dois crimes de sangue impunemente perpetrados contra as pessoas dos mais altos representantes do Estado português.
Muito antes do fatal desenlace que mergulharia Portugal no caos, numa escusada série de violências, abusos e na total e reconhecida inépcia no exercício do governo deste país, os republicanos souberam aproveitar o regime de liberdades públicas existentes na nossa terra, liberdades essas garantidas pela Carta Constitucional e pela instituição que superiormente representava o Estado: a Coroa
Se numa fase inicial desta República brutalmente implantada, os seus responsáveis prodigamente se vangloriaram do Regicídio, inadvertidamente também deram a conhecer ao mundo quem afinal eram os novos senhores do poder em Portugal. Os desastres que os acontecimentos de 1908 e 1910 despoletaram na nossa sociedade, foram por si suficientes para uma decidida e bastante oficial política de forçado esquecimento do acto primordial da fundação do regime de 5 de Outubro de 1910. O Regicídio foi deliberadamente apagado da memória, o seu Processo Legal escandalosamente desapareceu, mercê da intervenção dos detentores do poder ilegitimamente tomado pela força dos tiros da artilharia, assassinatos indiscriminados, repressão sindical e da imprensa. Durante quatro gerações, os donos das três Repúblicas ingloriamente tentaram apontar outros responsáveis por um acto do qual eles e apenas eles foram os beneficiários morais e materiais.
Com o assassinato do Rei D. Carlos e do Príncipe D. Luís Filipe, os republicanos desferiram o penúltimo golpe que despojaria Portugal da sua normal evolução para uma sociedade ainda mais livre e progressiva. Apesar dos rotineiros contratempos políticos propiciados por um regime fortemente parlamentar já bem enraizado, o nosso país beneficiou de décadas de progresso material e intelectual. Durante a Monarquia Constitucional, Portugal integrou-se plenamente naquilo a que à época era a Europa do liberalismo oitocentista. Os avanços materiais foram evidentes e sem paralelo na nossa história, o país modernizou as suas infra-estruturas e integrou-se no comércio mundial. O período monárquico constitucional foi um alfobre de grandes nomes da nossa cultura e também garantiu a nossa futura presença em todo o mundo, participando Portugal na delimitação de esferas de influência que muitas décadas mais tarde dariam origem à Comunidade de Países de Língua Portuguesa.
O Rei D. Carlos foi um dos maiores entre os grandes da nossa História. Culto e aberto àquilo que a seu tempo eram as novidades da ciência e das artes, mereceu o respeito politico e pessoal dos seus contemporâneos estrangeiros, enquanto em Portugal enfrentava só e indefeso, as contingências impostas pelo próprio regime de liberdades que não o soube proteger de afrontas, esmagadoras calúnias e na fase final do seu reinado, da conspiração subversiva que não apenas fez ilegalmente tombar o trono, como também irremediavelmente ditaria o catastrófico século XX que o povo português resignadamente sofreu.
Quiseram os assassinos abater o monarca que por sinal, era um homem bom e generoso. Procurando eliminar toda a Família Real, julgavam poder obliterar oito séculos de uma história ininterrupta. Não o conseguiram e cento e cinco anos decorridos após o crime que de forma indelével enodoa o regime a que ainda hoje todos nos submetemos, já se adivinha o total alijar da canga imposta pelo silêncio que viu na ignorância das gentes, a suprema garantia de um poder prepotente e sem peias.
O ajuste de contas chegará, já não existe qualquer dúvida. Não virá de um outro acto violento que imponha a vontade de uma minoria, pois esse acerto de contas com a História já começou. D. Carlos e os seus encontram-se hoje perfeitamente reabilitados. O estudo que propicia o conhecimento da verdade já não conhece obstáculos e são precisamente os mais jovens quem decidida e porfiadamente tem quebrado as grilhetas do preconceito, da mentira e da despudorada prepotência que tem humilhado e menorizado Portugal.
Uma vez mais, o Regicídio não foi esquecido. Jamais o será.
Estando os portugueses totalmente indiferentes às patéticas inanidades rotineiramente proferidas por Cavaco, Soares e até, pasme-se!, pelo tremelicante "Sampaio dos cargos", eis um discurso de outros tempos e de outra gente. Pleno de conteúdo, era um autêntico programa que pretendia resolver alguns dos mais prementes problemas do Portugal do início do século XX.
"Perante tal atentado, tão selvagem tão planeado, o primeiro gesto é de indignação. Mas isso não exclui a lucidez. Que os povos não tenham ilusões. A revolução, onde quer que nasça e sejam quais forem os pretextos de que se arme, mata primeiro os reis para matar de seguida, mais à vontade, os povos. Faz o seu baptismo de sangue para prosseguir uma tarefa sanguinária. "Liberdade!", grita o regicida, a maior parte das vezes um instrumentalizado e um impulsivo, o que não o torna mais respeitável. "Servidão", responde a História.
Gentes de Portugal e doutras paragens: acreditem nos franceses experientes que passaram por todos os dramas, todas as loucuras e também todas as inanidades da miragem revolucionária. O que o complot antidinástico visa é precisamente esta ordem hereditária onde são possíveis liberdades, mesmo num visível constrangimento. Trata-se de instaurar a desordem, em regra parlamentar, onde uma fachada de abertura social mal consegue esconder a pior das tiranias. O assassínio do rei só tem como finalidade o advento de reizinhos anónimos, irresponsáveis e passageiros, os quais, não tendo interesse em conservar a nação, a devoram. Os tiros dirigidos ao soberano eaos seu herdeiro vão atingir o coração da pátria, da mesma forma que, segundo a expressão de Balzac, a Assembleia, condenando Luís XVI, cortava o pescoço a todos os pais de família. Os povos são solidários com os monarcas."
Le Gaulois, Paris, 4 de Fevereiro de 1908
A Real Associação de Lisboa apela à comparência popular no acto de reparação do 1º de Fevereiro de 2011, a realizar-se na Igreja da Encarnação pelas 19.00H, em Lisboa (Chiado). Estará presente a Família Real.
"O regicídio de Lisboa abalava a sociedade paulistana numa só e única demonstração de mágoas. Apesar de chegarem-nos as notícias aos poucos, sem maiores minúcias, a todos preocupou visivelmente o funesto fim do monarca português e de seu filho, o príncipe real; e, com o decorrer das horas, quanto mais se espalhava a infausta comunicação, tanto maior se tornava o sentimento de tristeza na massa popular (...)as ruas, desde o amanhecer de ontem, demonstravam o luto que se apossava da população, conhecido que fora o revoltante acontecimento. Por toda a parte, nas arcadas dos edifícios públicos e particulares, abatiam-se em funeral os pavilhões e à frente das redacções, num pasmo e numa curiosidade, atropelava-se a turba de populares, à busca de notícias, cada qual deixando entrever nas fisionomias a emoção desse pesar fundo e verdadeiro que só um caso como esse poderia ocasionar."
Correio Paulistano, órgão do Partido Republicano, Brasil
"Londres ficou estupefacta e horrorizada, esta manhã, com as notícias enviadas de urgência a partir de Lisboa pela agência Reuters às primeiras horas da madrugada (...) Homens públicos e cidadãos privados, ricos e pobres, aristocratas e plebeus, todos estavam irmanados ao deplorarem profundamente o assassínio e na solidariedade com a família do monarca morto, que, tendo visitado a Inglaterra frequentemente, era muito conhecido e popular neste país."
The Liverpool Courier, 2 de Fevereiro de 1908
"Os diplomatas estavam ansiosos por receber informações detalhadas da imprensa. À hora do jantar, muitos deles passaram pela legação portuguesa, encontrando o grupo de jornalistas que aguardavam o regresso do visconde de Alte (o ministro português). O sentimento geral era de choque e desolação perante o crime, e de alguns elogios calorosos ao rei D. Carlos da parte de quem o conheceu."
New York Times, 2 de Fevereiro de 1908
"É humilhante para o orgulho do século XX verificar que os reis ainda caminham com o homicídio nos seus calcanhares. Crimes como o de Lisboa são uma humilhação não só para o país onde ocorrem, mas também para a humanidade."
The Daily Express, 3 de Fevereiro de 1908
No próximo 1º de Fevereiro, pelas 19.00h realizar-se-á o sufrágio por D. Carlos e D. Luís Filipe, na Igreja da Encarnação (Chiado, Lisboa). A Real associação de Lisboa apela à participação popular neste acto de reparação. Estará presente a família real.
Aquela tarde de 1 de Fevereiro de 1908, para sempre confirmaria a grandeza de Dª. Amélia de Orleães. Não lhe podendo ser negada a iniciativa por numerosas obras de benemerência, algumas das quais pioneiras em Portugal, a rainha ofereceu a um país atónito, uma prova de fibra e de abnegação. Protegendo a vida dos seus, foi o único e firme braço que faltou ao governo, à policia e a uma população que fugiu em debandada, atemorizada pela arrogante investida subversiva que violentamente derrubaria o Trono, a Constituição e um Estado de Direito que se normalizara após um conturbado início do século XIX. Foi a rainha da legalidade e da destemida coragem que enfrentou o comprometido silêncio de muitos e as rancorosas e mortíferas maquinações de alguns. Quem durante anos ofendeu e procurou denegrir a sua estatura de mulher honesta e o inatacável serviço prestado como rainha cuidadosamente preparada para o difícil serviço, pôde sempre contar com o majestático silêncio e mais tarde, longe de um Portugal que jamais esqueceu, com o seu perdão. Este é um exemplo para os que hoje - muito mais poderosos do que Dª Amélia alguma vez foi - de nada e de ninguém se esquecem, com o único fito de não quererem relevar. Não querem porque não podem, dada a natureza de um sistema que como o caruncho, tudo vai corroendo sem olhar a reputações de sujeitos singulares, ou ao geral interesse pela tranquilidade que o progresso exige.
Caíram o marido e o filho, mas as porfiadas e desafiadoras homenagens que ano após ano e durante um século inteiro o povo jamais deixou de prestar aos monarcas, tornam a rainha num vulto maior e merecedor do mesmo tributo. A vingança da rainha é esta que não fere ou mata. É a vingança da memória que de políticos e celebridades facilmente se olvida, enquanto para sempre ficará uma obra, ou a simples e imponente presença imortalizada em antigas fotografias que ainda hoje testemunham o tempo dos nossos bisavós, afinal bem próximo.
Que este 1º de Fevereiro de 2011, inclua Dª Amélia na recordação daqueles que heroicamente tombaram sem culpas e indefesos diante bem organizada conjura que condenaria os portugueses a mais de oitenta anos de esbulho, opressão e atraso. Portugal tem na rainha Dª Amélia, um exemplo de serviço que a coloca entre os grandes da nossa História.
Mais do que muitos nados e com seculares raízes nesta terra, a rainha bem mereceu a nacionalidade portuguesa.
A Real Associação de Lisboa apela à comparência popular no acto de reparação do 1º de Fevereiro de 2011, a realizar-se na Igreja da Encarnação pelas 19.00H, em Lisboa (Chiado). Estará presente a Família Real.
<<Punha-se de início a questão: será um crime anarquista? Um complot republicano? Agora já não há dúvida possível. E, apesar da reprovação dos chefes republicanos refugiados em Paris, foi de facto o seu partido que preparou e executou o assassínio. Os mártires e heróis de 1 de Fevereiro", como são designados em Lisboa o mestre-escola Silva Buíça e o empregado de comércio Luís da Costa, são seus filiados.>>
Journal de Genève, 13 de Fevereiro de 1908
"Apesar das tentativas de atribuir o assassínio do rei e do príncipe herdeiro a planos anarquistas, é evidente que entre os autores do atentado há só portugueses. A forma do atentado não faz pensar numa origem anarquista. De facto, já devem ter encontrado provas de uma conspiração militar republicana."
Die Volksbote, semanário socialista de Viena, 7 de Fevereiro de 1908
Missa de sufrágio por D. Carlos I e D. Luís Filipe na Igreja da Encarnação (Chiado, Lisboa), no próximo 1º de Fevereiro de 2011, pelas 19.00 H. Estarão presentes os Duques de Bragança. A Real Associação de Lisboa exorta a população da capital a comparecer a este acto de reparação.
"O horrível drama de Lisboa, página trágica da História, sangrento episódio da luta de um povo e dos seus governantes, desencadeou em todo o mundo civilizado uma reprovação unânime. Tais crimes não se podem desculpar pela paixão política, e aqueles que ao virar da esquina, atiram sobre um soberano não podem aspirar a ter outro nome que não o de assassinos.(...) Todo o comentário é, de resto, supérfluo quando se trata de semelhantes actos, tão bárbaros quanto inúteis, dado que o soberano desaparecido deixa, no próprio terreno, um sucessor."
Le Petit Journal, Paris, 3 de Fevereiro de 1908
No 1º de Fevereiro pelas 19.00 horas, celebrar-se-á na Igreja da Encarnação, uma missa de sufrágio por D. Carlos I e pelo príncipe Luís Filipe. A Real Associação de Lisboa convida todos os lisboetas a comparecerem neste acto de reparação e afirmação da nacionalidade. Estarão presentes os Duques de Bragança.
O Público tem divulgado uma série de textos alusivos à comemoração do centenário da República. Por regra, o tom laudatório predomina, escamoteia a realidade histórica e reafirma as superstições que ao longo de gerações, foram insistentemente inculcadas nas mentes dos portugueses. O analfabetismo na sua versão mais moderna que sem dúvida é a iliteracia, torna-se assim, numa preciosa ferramenta para a manutenção de um teimoso olhar para um passado, onde a divagação ocupa o lugar de primazia, relegando a análise multidisciplinar, para o âmbito de um número muito restrito e díspar de curiosos da história. Simplificando, a narrativa do preconceito é de fácil divulgação, atinge o objectivo político e torna os eventos identificáveis em termos sociais, atravessando sem distinção de extractos, todo o corpo nacional. É esta afinal, a exclusiva e mais perene vitória do defunto PRP.
No mais moderado e credível texto do Centenário divulgado pelo Público, Joaquim Pintassilgo aborda os temas do analfabetismo e da educação popular, que aparentemente tiveram os seus defensores em entrecruzadas trincheiras, quando não opostas. De facto, o problema da escola e da formação já vinha de longe e o chamado Iluminismo pombalino, num afã imediatista de concentração de poderes à laia de modernização do Estado e liquidação das informalmente aceites autoridades multipolares numa sociedade predominantemente rural, comprometeu de forma irreversível, a criação das desejáveis elites de que o país, apesar de tudo ainda imperial, necessitava. A escola tacitamente confiada aos clérigos como aliás, passe o anacronismo do conceito, a "assistência social", foi uma das primeiras vítimas do desejo do controlo absoluto de um poder político emergente que de imediato, identificava a velha nobreza e a Igreja, como os principais adversários. Rapidamente, o restrito corpo discente viu-se sem mestres capazes, expurgado pelas maciças expulsões e sobretudo, pelo progressivo estiolar da investigação, compilação de registos e arquivos e também, da necessária salvaguarda da formação dos instrumentos humanos que garantiam a normal continuidade e adequação da administração pública. Mais tarde, os republicanos, encandeados pelos grandes princípios generalizantes que de fora chegavam, totalmente submeteram o seu "programa" a um sem número de artigos, onde o populismo fácil de mera propaganda assimilável pela massa citadina, garantia uma audiência minoritária, fazia vista e sobretudo, era ruidosa. Os grandes mitos do sangue, da terra e do altar da Monarquia, tornaram-se naquela trilogia que na prática, acabava por justificar a outra, a parisiense ressonância que incendiara a Europa. Numa Lisboa que de novo se transformara numa terra de muitas e desvairadas gentes, estava criado o cadinho essencial para a agitação permanente condicionante da política e mais ainda, que tolhia de receios uma população de extracto médio, imbuída por um geral respeito e aceitação da ordem estabelecida pelo liberalismo constitucional, este sim, introdutor das tais sempre aguardadas novidades e progressos que fizeram Portugal caminhar naquele sentido europeu reclamado pela burguesia.
O populismo teve como principal arma, o recurso ao inflamado discurso nacionalista. Assim aconteceu no dealbar das novas nações-Estado do centro e leste europeu, onde nalguns casos, revivificaram-se idiomas há séculos secundarizados por outros, originários da potência que tutelava o território que as contingências das quase ininterruptas guerras, foram integrando em espaços mais dilatados. No caso português, um Estado em crónica crise financeira e sem o necessário apoio de um sector privado que garantisse a chegada dos meios técnicos modernizantes do todo, via-se obrigado a acorrer à acção em sectores que normalmente, deveriam pertencer ao labor de empresários interessados em engrossar cabedais e à própria promoção pessoal, naquele oitocentista sentido da filantropia, criação de riqueza e velar do bem estar geral das sociedades liberais da revolução industrial. Bem pelo contrário, as vias férreas, os portos, estradas, universidades e escolas técnicas, estavam sempre dependentes desse Estado que estava longe de possuir os recursos que desde o fim do ciclo brasileiro, foram drasticamente diminuindo as suas possibilidades. Criava-se desta forma, o ciclo crónico do défice público e do recurso ao dinheiro que do estrangeiro chegava, submetendo o fraco sector privado, a uma informal dependência do Estado.
A falsa "questão da Monarquia", punha-se como elemento agregador de uma heterogénea camada de revoltados, que não tendo conseguindo ascender aos pretendidos lugares que garantiam uma tranquila, mas quase sempre frugal subsistência, colocou-se na oposição ao regime. Tem sido esta, uma constante na vida política portuguesa e é um facto que chega aos nossos dias, apontando-se facilmente a cupidez de "classe", as "cumplicidades de clube" e a "ganância pelo enriquecimento fácil", como óbices à modernização do país, entendida esta nos seus múltiplos aspectos da educação e cultura, justiça, administração pública e até, na defesa militar de um património pluricontinental que era entendido como uma invariável sempre presente e querida, embora totalmente desconhecida pela grande maioria da população. O Império existia, estava nos mapas e garantia nas mentes, um certo estatuto que satisfazia a opinião pública. Isso bastava. Paralelamente, apresentava-se a laicização, como um imprescindível instrumento para encontrar um outro ethos que facilmente resvalou na impressionável oratória republicana, para um histriónico pathos que acabou por fatalmente contaminar o restrito, mas decisivo microcosmos nacional que era a capital do país.
Não tendo em conta a necessidade da concentração de esforços familiares para a obtenção de recursos monetários que tornassem aceitável a vida do núcleo, propagou-se a ideia de uma forçosa e imprescindível política de educação que na óptica dos directórios republicanos, só ao Estado competiria. A criação de centros republicanos - alguns ainda nominalmente existentes - que faziam a vez da educação primária, consistiu antes de tudo, numa tentativa de fidelizar futuros contingentes militantes para a luta política de conquista do poder do Estado que proporcionava rendas, lugares administrativos e também, aquelas interdependências com um sector empresarial sempre carente de meios financeiros.
Tal como mais tarde Salazar ressuscitaria esta política, o nacionalismo foi habilmente aproveitado na grande fase de comemoração de diversos Centenários, sobressaindo o de Camões e o de Vasco da Gama, habilmente republicanizados como exemplos de uma perdida grandeza. Pombal serviu como esteio, naquele sentido centralizador que hegemonizava o Estado e principalmente, os detentores do seu poder. Logicamente, o PRP transformou a questão do analfabetismo, como a pedra fundamental do atraso português e como bem explicita Joaquim Pintassilgo, não tendo em consideração o próprio desinteresse dos núcleos familiares sempre dependentes do trabalho de todos os seus componentes. Aparece então a refulgente luz da "alfabetização por decreto", princípio basilar que tem sofrido algumas alterações de adequação aos tempos, mas que ainda hoje faz de tarimba na luta política. Numa fase conturbada da evolução para novas realidades sociais, a adequação do país aos ímpetos modernizadores provenientes da Europa, dependeu quase sempre de iniciativas de entidades ou figuras cimeiras do Estado. Na verdade, as obras mais perenes - e que foram pelo PRP ostensivamente secundarizadas, quando não combatidas - chegaram pela decisiva acção da própria rainha, uma francesa educada naquele sentido bastante regalista de dever que a sociedade liberal impunha. O que os exaltados tribunos pela República não souberam ou quiseram entender, foi a certa similitude de situações que se verificavam no seio das mais prósperas sociedades industrializadas europeias, onde numa Londres financeiramente hegemónica à escala mundial, existia uma colossal massa de miseráveis que remetia os pés descalços lisboetas, à categoria de aceitável componente social do tempo. No entanto, um factor fundamental que passou despercebido, consistiu na própria dinâmica da sociedade britânica, onde a contestação das instituições liberais conformadas pela Monarquia, não foi além da luta pelos direitos cívicos - as sufragistas, por exemplo - e o labour do sindicalismo que jamais puseram em causa a estabilidade do regime político. Em Portugal, prevaleceu a superstição salvadora de uma súbita quebra da continuidade ou evolução gradual, identificando-se uma instituição, ou melhor, um homem, como a grande questão nacional a resolver de imediato, surgindo todas as demais, como naturais dependências. O Ultimatum e a demente e nefasta espiral populista dele decorrente, acabaram por conformar a opinião pública de Lisboa, especialmente aquela que ociosamente enchia as ruas da capital e se prestava ao serviço da agitação, no tempo em que os "anarquistas" apareciam como justificativo que rotulava as mais díspares ocorrências denunciadoras do mal estar. Daí à mitificação de um passado distante e ainda possível de recuperar através do abrupto e paradoxal corte com um tempo presente que afinal o justificava, tornou-se naquela necessidade que o belicoso sector que o PRP representou. Este heteróclito partido, decididamente afrancesou os fervilhantes impulsos nacionalistas republicanos, que à "esquerda" - uma parte da maçonaria e ramificações carbonárias, o "anarquismo" - e à "direita" - maçonaria e sectores abastados de proprietários rurais e empresários urbanos -, criariam as condições que o Estado Novo aproveitaria para consolidar a própria República que tão bem lhe serviu. O extenso programa oratório de construção de escolas primárias e secundárias, tendo sido iniciado na fase final do reinado do rei D. Carlos I - e incentivado durante o governo do caçador no terreno republicano que foi João Franco -, encontraria o seu apogeu durante o governo de Salazar, acompanhado pelo culto aos símbolos da bandeira, hino e instituição presidencial, cuja explicação era remetida para um passado com o qual os precursores republicanos disseram querer definitivamente cortar.
A República portuguesa deve afinal a sua sobrevivência, à imperiosa necessidade orgânica da sua segunda versão, o Estado Novo que nela colheu o nacionalismo e construiu a sua escola.
Sempre que deparo com o nome de Dª Amélia numa montra de livraria, franzo o sobrolho. As más experiências que a minha curiosidade tem sofrido, ditam a desconfiança. É que não existem Corpechots, Rochas Martins e Ruis Ramos ao virar de cada esquina.
Acabei de ver em escaparate nas Amoreiras, o livro Dª Amélia, da autoria de Isabel Stilwell. Apenas folheei as derradeiras e demasiadamente sucintas páginas referentes à passagem da rainha no Portugal de 1945, parecendo corresponderem à verdade histórica, embora Stilwell pudesse ter sido mais rigorosa no epílogo, quando da imponente e multitudinária manifestação de pesar popular no funeral da Grande. Mas a obra não pretende ser uma análise histórica do momento social e político do Portugal da 2ª república.
Há uns anos, um francês dado actualmente à frenética promoção cor de rosa da "senhora" Sarkozy, decidiu dar o gosto ao dedinho na tecla e aventurou-se a uma espécie de "romance estórico" bastante ficcionado. Teve o descaramento de induzir milhares de leitores em erro, pois intitulou o snack de Eu, Amélia, última rainha de Portugal. Um chorrilho de lugares comuns repescados da intriga republicana, a par de inexactidões, desatentas visitas a um Portugal que conhece através de uma ida aos fados e um cocktail na Caras e pouco mais. Arrota as habituais tranches de merlan aux moules, afirma inequivocamente sem provar através da apresentação de um único fac-simile, enreda-se nos rodriguinhos próprios da mesma lenda negra que acompanha todas as rainhas dos últimos dois séculos. O pior de tudo é julgar-se cheio de talento, razão e sageza. Fazendo pela vidinha, não se preocupou minimamente em ler umas linhas, antes de decidir arrastar a memória de D. Carlos pela lama e no tradicional esbracejar chauvinista gaulês, quis apresentar o casal régio como a perfeita dicotomia sobre a Terra, numa total incompreensão pela realidade social subjacente a um contrato matrimonial - que naquele caso até envolveu uma inicialmente forte atracção física -, à postura de Estado que jamais faltou ao casal D. Carlos e a Dª Amélia. Stéphane Bern "bem serviu os republicanos" e divagou, alimentou com gosto a intrigalhada, rebolou-se em frou-frous, chocalhou braceletes e ajeitou rendas, num grotesco amontoado de folhinhas bem próprias da literatura de cordel da Belle Époque, bem na senda do Marquês da Bacalhoa. Enfim, uma pérola falsa, nem sequer digna de produção em cultura de viveiro oriental. Mau serviço fez à História, péssimo serviço póstumo fez à rainha e à sua hoje controversa famille de France. Para cúmulo e em dia de champanhada - o eterno móbil primeiro -, "monárquicos" houve que até lhe fizeram fosquinhas nas costas!
Não arriscaremos muito ao afirmar que a rainha Dª Amélia foi até aos nossos dias e a qualquer patamar atingível, o derradeiro grande vulto da família real Bourbon (Orleães) que outrora reinou em França.
No ano do Centenário do desastre nacional, surge uma obra que a todos chama a atenção para uma personagem rica, multifacetada e inesquecível da História de Portugal. Oxalá Isabel Stilwell lhe faça a devida honra e evite assim, ver catalogado o livro como peça de estante giratória numa loja de revistas de um qualquer aeroporto perto de si. É que a publicação de uma bela fotografia ou a simples menção Dª Amélia numa capa, é um motivo para best-seller e aí estará o potencial perigo. Vamos ler ?
9 de Agosto de 1902, consagra o verdadeiro início do século XX na Inglaterra. Nesta data foi coroado Eduardo VII e a Europa despediu-se do longo período vitoriano, durante o qual conquistou o mundo e se forjaram novos Estados, pela unificação imposta por nações e exércitos. A Itália e a Alemanha tinham deixado de ser meras expressões geográficas e cumpriam o seu decisivo papel no frágil equilíbrio de forças plasmado em alianças que mantinham o staus quo de fronteiras e regimes.
Ascendendo ao trono aos sessenta anos, o monarca assistira ao longo processo de consolidação dos nacionalismos continentais e à rápida transformação imposta por uma revolução industrial que tendo na sua pátria o berço, rapidamente teve réplica além-Mancha, originando uma outra realidade política e económica que não deixava de ameaçar a até aí incontestada supremacia britânica.
Como Príncipe de Gales e sucessor designado de Vitória, viajou e conheceu os grandes vultos do seu tempo, fossem eles políticos, financeiros ou artistas. Conviveu com os parentes que ocupavam os mais importantes tronos da Europa e foi talvez o primeiro habitante das Ilhas Britânicas a verificar a vantagem implícita no conhecimento in loco de outras sociedades potencialmente rivais da sua. O Grand Touronde criou fama de bon vivant frívolo e mulherengo, permitiu-lhe o estabelecimento de contactos que décadas mais tarde, seriam preciosos esteios de um Foreign Office sempre mal amado pelas chancelarias europeias.
Apoiado no seu imponente património colonial e numa Royal Navy de dimensões jamais vistas na história, a Inglaterra parecia beneficiar daquela perenidade outrora reservada aos impérios da Antiguidade. Contudo, o ferro, os químicos e as máquinas, despertaram Eduardo para a necessidade de enfrentar uma situação, onde o posicionamento do seu país já não era aquele que no início de oitocentos, dissipara o vendaval napoleónico em Trafalgar e Waterloo. Privou com Napoleão III, visitou os chefes da III república francesa e estabeleceu os habituais laços de identidade profissional com os soberanos dos Estados alemães, onde a Prússia predominava e indicava ao mundo a sua missão unificadora com desígnios imperiais.
Visitou Portugal, onde reinavam parentes da Casa de Saxe-Coburgo-Gotha, confirmando o estreito relacionamento desde sempre mantido pelo príncipe Alberto e pela rainha Vitória. Durante a sua adolescência, era frequentemente admoestado pelos pais que lhe apontavam o exemplo de D. Pedro V, como um perfeito modelo de príncipe liberal, moderno e estudioso que devia ser seguido. As dificuldades de compreensão da complicada situação dos monarcas portugueses, conduziram a situações equívocas, pois as atribuições constitucionais que a Carta Constitucional lhes reservava, implicavam a Coroa no jogo político, um facto absolutamente estranho à normal vida parlamentar e de governo na Grã-Bretanha. Desde a queda dos Stuart, os ingleses consagraram o princípio de supremacia de Westminster, descomprometendo a monarquia e estabelecendo-a como o factor primeiro da unidade nacional. Eduardo compreendia perfeitamente o limitado poder de intervenção política dos monarcas britânicos, mas sempre teve a justa medida das potencialidades que o seu lugar propiciava no campo diplomático.
Após os Ultimatos a Portugal e à França, a Inglaterra parecia condenada ao isolamento face às potências continentais que esperavam obter um melhor quinhão na partilha de uma até então negligenciada e desconhecida África. A Alemanha onde reinava o seu sobrinho Guilherme II, enveredava ruidosamente por uma Weltpolitik, construindo uma nova esquadra de alto mar que dentro de pouco tempo poderia ameaçar directamente a supremacia inglesa. O início do frenético processo de conquista de alianças, alastrar-se-ia a toda a Europa e mesmo os pequenos Estados eram objecto de atenções especiais, atraindo-os à órbita dos núcleos onde se concentravam as forças que hipoteticamente se confrontariam num futuro já previsível.
É neste contexto que Eduardo VII empreende a sua primeira visita oficial como soberano. Em Abril de 1903 desembarca no Cais das Colunas em Lisboa, onde é recebido pelo seu primo D. Carlos I, com quem partilhava opiniões de ordem política e por quem nutria uma evidente simpatia pessoal. Esta visita reafirmou o interesse britânico na manutenção da antiga aliança, garantindo a permanência de vastos e importantes territórios na posse dos portugueses e impediu reivindicações ou unilaterais actos de força por parte de outras potências, como a França ou a Alemanha. No seguimento desta viagem a Portugal, Eduardo VII seria recebido em Paris, onde a Entente Cordiale indicou aos alemães, a irreversível constituição de uma aliança que a ocidente e a leste (Rússia), obstaria a qualquer agressivo projecto militar de índole expansionista.
O assassinato de D. Carlos transtornaria os projectos de estreita colaboração com Portugal e a até aí inabalável confiança no futuro e sobrevivência da monarquia no nosso país.
Tal como o regime da Carta, Eduardo VII morreria em 1910.
A propósito do post no Combustões Kaisermania, seria muito interessante conhecermos as famosas cartas trocadas antes e depois do Regicídio, entre o Paço das Necessidades e o Partido Socialista de Azedo Gneco. Após o 5 de Outubro, foram utilizadas pelos novos ditadores do regime, para a liquidação das veleidades do PS em ir caminhando em direcção á participação no poder. Parece que esses contactos visavam o reordenamento do espectro partidário constitucional, criando verdadeiras alternativas e assim, teríamos no futuro, os Regeneradores-Liberais e os Socialistas. O prp dinamitou a possibilidade. Conhecemos o resultado: violenta repressão sindical, esmagamento do "populacho" nos cadernos eleitorais, liquidação da imprensa independente, coacção física e moral da oposição. O socialismo português - que nada tem em comum com aquilo que hoje vemos - ficou para sempre remetido à simples recordação de uma hipótese perdida. Na Alemanha, o SPD conseguiu mais, muito mais, assim como na generalidade dos países do norte da Europa. Aqui, contentámos-nos com as cartolas e os fraques do Costa e do Bernardino.
*Na imagem, o Kaiser Wilhelm II com D. Carlos I e a rainha D. Amélia (Lisboa, Março de 1905)