Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Para quem observa o declínio de Portugal, como é o meu caso, e assiste, com pesar e inquietação, ao deslaçamento do contrato social, a sucessão de acontecimentos dos últimos dias não oferece uma boa disposição de espírito. Para qualquer observador minimamente arguto, é claro e cristalino que a resolução da crise terá de passar, inevitavelmente, por um compromisso de regime. O título desta posta é, aliás, premonitório. Porquê o Compromesso Storico? A política pactista alinhavada pelo PCI de Berlinguer - que teve entre os seus apoiantes nomes sonantes como Norberto Bobbio - visava acomodar os diversos interesses políticos em jogo na cena política italiana. Com o terrorismo em alta, e a emergência de um clima de caos político larvar, o PCI, pela iniciativa do seu secretário-geral, gizou uma política de aproximação aos interesses orgânicos do Estado italiano, de molde a controlar as forças centrífugas que então ameaçavam a unidade do poder político italiano. As semelhanças com o que Portugal necessita terminam, contudo, aqui. A experiência italiana não pressupunha uma reforma do Estado, nem o rejuvenescimento da economia. O PCI estava bem longe, longíssimo se quiserem, de aceitar, ou poder aceitar, uma política reformista. A ligação a Moscovo, esfriada é certo, ainda impunha alguma contenção na hora de admitir concessões políticas de vulto.
Esta resenha histórica tem a óbvia vantagem de indicar as vantagens de um espírito compromissório, mormente quando estão em confronto visões da sociedade diametralmente opostas. O espírito de compromisso quando existe, falho ou não, permite superar divergências políticas praticamente inconciliáveis. No Portugal "troikado" dos dias que correm temos um PS pouco disposto a participar na regeneração da pátria - sem que haja, todavia, a divisão política que existia entre o PCI e a Democracia Cristã italiana -. A insistência na histrionice política não cede o passo ao realismo das dificuldades. A recusa do PS é, em grande medida, a recusa das elites em aceitar a falência de um modus vivendi que arremessou o país no precipício da ruína generalizada.
De António José Seguro já não há muito a esperar: falta-lhe estatura política, um desígnio, um pensamento próprio, coerente e realista que vertebre um programa claro e exequível. Por mais que se bosqueje, por mais que se busque, não se encontra nada. A política socialista afogou-se no lamaçal do fechamento político. Há excepções, sempre as houve, o busílis da questão prende-se tão-só com o facto dessas vozes estarem apartadas da liderança do partido. Veja-se o caso de Luís Amado - bem sei que muito boa gente discorda desta opinião -, um político que, concordando ou discordando, vem mantendo uma linha que, se fosse adoptada pelos dirigentes máximos do seu partido, poderia auxiliar sobremaneira a consecução de um pacto de regime.
Entendamo-nos, a reforma do país dependerá, sobremodo, do espírito pactista dos principais partidos do regime. Ou há uma abertura para aceitar as alterações de fundo que o Estado e a economia demandam, ou então o regime acabará por pagar a factura da inadimplência política da partidocracia vigente. Um compromisso histórico, que verta o seu âmbito nas áreas fulcrais da governação, é a peça que falta na reforma do regime. Um compromisso que junte, congregue, englobe e não exclua. Um compromisso pragmático. Só assim lograremos sair do pântano político em que estamos imersos. Haja coragem!