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Qual a relação entre as aspirações políticas de António Costa e o timing da destruição das gravações de José Sócrates? Just asking (logo à noite não teremos a resposta...).
Sabemos muito bem que este tira-teimas entre António Costa e António José Seguro, a propósito dos debates e a duração dos mesmos, não passa de uma encenação para captar a atenção dos mais incautos. Faz parte da novela. Faz parte do esforço de atribuir importância ao próprio umbigo. Antes de mais, convém referir que alguns pressupostos intelectuais nem sequer serão observados. Ou seja, um debate implica discussão de ideias, mas como podemos observar, quer Costa quer Seguro apenas repetem chavões que foram coleccionando ao longo dos anos. Seja qual for a natureza das tertúlias inscritas no calendário, e no período de tempo acordado pelos concorrentes, em termos práticos nada se alterará no que diz respeito às grandes opções de Portugal. Como já havia dito por diversas vezes, não interessa qual o governo que sucede ao actual. Os elementos operativos financeiros serão os mesmos. A necessidade de gerar receitas será a mesma. Os impostos continuarão por anos vindouros e todas as facilidades que estes ou aqueles venham a prometer, não passam de falsas promessas, mentiras. Não sei quantos simpatizantes já se registaram no largo do Rato, mas mesmo que sejam 100 mil, o Benfica ou o Sporting (para mencionar apenas alguns) têm muitos mais adeptos. Em suma, mesmo que batam todos os recordes de Portugal, o número de simpatizantes arrebanhados para as primárias, não representam nem de perto nem de longe Portugal. Nessa medida, os debates televisivos entre Costa e Seguro deveriam acontecer num canal fechado com subscrição. Aliás, sugiro que se crie uma TV Primárias (TVP) para não esbanjar a paciência de tantos portugueses que não estão interessados nos arrufos das comadres. A TVP até pode combinar as perguntas e as respostas com os convidados por forma a que todos fiquem felizes e contentes. Portugal definitivamente não pode perder tempo com figuras de estilo e retórica, que uns apresentarão em detrimento de outros. Os minutos que separam Costa de Seguro pouco têm a ver com a hora de Portugal.
Houvesse um mecanismo que permitisse acompanhar a mudança do sentido de voto do eleitorado que PSD e CDS disputam enquanto Passos Coelho e Paulo Portas debatiam, e tenho poucas dúvidas que pudéssemos observar o decréscimo do PSD e a subida do CDS em directo. Portas é de longe o melhor preparado para ser Primeiro-Ministro. Passos Coelho esteve algo nervoso, chegou a irritar-se, subindo o volume da voz, e mostrou uns tiques com um certo pendor autoritário e de quem toma por garantido o eleitorado e não faz por merecer os votos do mesmo, por exemplo, pedindo uma maioria absoluta ou dizendo que "realisticamente é o PSD que tem que liderar a coligação com o CDS".
Realisticamente, falta muito tempo até às eleições, e facto é que o PSD está a descer e o CDS a subir. E se Passos Coelho, enfrentando um Paulo Portas sereno e que lhe ia dando conselhos como se se tratasse de uma conversa entre o aprendiz e o mestre, sem qualquer tom paternalista, se irritou levemente e não conseguiu convencer, só se pode esperar o pior no que diz respeito ao debate que terá com José "animal feroz" Sócrates.
Do debate de Manuela Ferreira Leite com Paulo Portas, parece-me que há a ressalvar a defesa do indefensável por parte de MFL. Alberto João Jardim pode ter repetidamente excelentes resultados nas eleições regionais, mas isso não significa que a Região Autónoma da Madeira seja verdadeiramente democrática. MFL revelou a falta de conhecimento quanto à teoria e prática da democracia, legitimando-a com base apenas nos resultados das eleições. A isso chama-se democracia eleitoral e/ou iliberal. Para quem não saiba o que é, perguntem a Hugo Chávez.
Do debate de ontem retive algumas ideias que me parecem essenciais para entender os postulados que o Bloco de Esquerda defende. Logo a começar, Louçã fugiu à pergunta de Portas sobre a forma como conduziria as tão propagandeadas nacionalizações, nada referindo relativamente aos investidores estrangeiros e às indemnizações que teria (o contribuinte) que pagar. Nada referiu ainda em relação aos cerca de milhão e meio de pequenos investidores que têm participações na EDP ou na GALP. Louçã com o dinheiro dos outros era até fartar vilanagem!
Fugiu novamente à questão que Portas lhe colocou relativamente à nacionalização das patentes dos projectos de investigação científica. Na prática isto seria não reconhecer o mérito dos talentos que (ainda) temos em Portugal, impelindo-os a sair do país.
Quanto ao racismo social, de que dei conta aqui, a desculpa de Louçã para não fiscalizar os abusos na atribuição do RSI prendeu-se essencialmente com os abusos que se verificam na atribuição de subsídios à agricultura ou nas baixas médicas. Ou seja, só porque uns abusam, vamos deixar abusar todos, é isso não é? Entretanto continuamos a ter pessoas a viver em casas com rendas irrisórias, a receber o RSI e a ter actividades legais e/ou ilegais que lhes permitem ter grandes carros e outros sinais exteriores de riqueza, enquanto ao lado continuam pensionistas e reformados a viver na miséria, é isso não é? Fico sempre espantado de cada vez que oiço os argumentos bloquistas, não haja dúvida. Esteve bem Paulo Portas quando apontou as diversas medidas de apoio social criadas por governos de direita, desmontando o falacioso lugar comum de que a esquerda é que "tem o monopólio do coração e da solidariedade".
No tema que se seguiu, imigração, viu-se um Louçã desconhecedor das indicações provenientes de Bruxelas, e um Portas pragmático de acordo com essas mesmas recomendações. Em resumo, é necessário regular a imigração em função das oportunidades de trabalho e da exigência de deveres dos estados de acolhimento para com esses imigrantes, i.e., propiciando-lhes dignas condições de vida. De resto, esta política vai de encontro ao que estados como o Canadá e Austrália praticam de há vários anos a esta parte.
O debate finalizou com o tema da segurança. Louçã defende uma polícia de proximidade e de integração na comunidade, embora esteja contra o aumento de efectivos e acredite na socratista teoria da melhor organização, assente na transferência de agentes que estão afectos à burocracia das forças de segurança para o terreno. Como apontou Portas, muitos já não têm idade para ser operacionais. São, por isso, necessários mais efectivos, e leis mais firmes no combate à criminalidade, especialmente quanto à reincidência.
Agora falta aguardar pelo último debate antes do início formal da campanha. Ou muito me engano, ou Sócrates vai sair a ganhar do embate com MFL.
(também publicado no Novo Rumo)