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Tenho a maior consideração e respeito pelos militares. São capazes de estruturar pensamento e são hábeis na prossecução de missões - se tiverem meios, se tiverem fundos, se tiverem o backing político adequado. Sabemos há muito tempo que vivem com parcos meios, mas muitos ignoram que os militares portugueses estão activos com assinalável sucesso em mais de vinte teatros de operações por esse mundo fora. Se os civis não são capazes de instigar a mudança, se os políticos e os governos são deficitários na defesa de princípios invioláveis associados à democracia, à soberania e a manutenção da ordem, acho muito bem que os militares passem da reserva a indignados em manifestação activa, na rua. Os capitães de Abril que ostentam tantos louros podem agora ser secundarizados pelos capitães de Julho - estes que agora irão depor espadas à porta da presidência da república. As medalhas que ostentam os obreiros de 1974 perderam o lustre, já não reluzem, nem têm um efeito mobilizador. São meras antiguidades românticas que evocam baladas e pouco mais. Sem terem dado conta, os sucessivos governos foram condescendentes com precisamente aqueles que enfrentam as broncas, que defendem a nação. O que aconteceu em Tancos é da exclusiva responsabilidade de governos. Não tenho uma espada em casa, mas se a tivesse também a dispunha em Belém.
Esta é para aqueles que me acusam de estar sempre a bater no (mesmo) velhinho. Já disse, e torno a dizê-lo, a ideologia e os partidos, pouco ou nada têm a ver com a minha suposta acutilância crítica. Quando se levanta a poeira em torno da nomeação de assessores para o primeiro-ministro, devemos fazer uma pausa, respirar fundo e olhar à nossa volta. António Costa pode ser amigo de ocasião de Marisa Matias e companheiro de pesca de Jerónimo de Sousa, mas sendo astuto e realista, sabe que as propostas peace and love dos parceiros do tempo novo não servem os tempos perigosos que atravessamos. A segurança interna e a defesa são dimensões que exigem cuidados acrescidos. O primeiro-ministro está certo, neste caso. Contudo, esta decisão não fará descarrilar a inevitabilidade da torrente de ameaças que pairam sobre as nossas sociedades. As nomeações em causa podem contribuir para uma outra dimensão pré-conceptual - a agilização e a partilha de informação entre os diferentes corpos e entidades em causa. Eu teria ido mais longe. Teria constituído um conselho de segurança interna para agrupar em torno da mesma mesa as chefias das diversas polícias e organismos com vocação securitária ou não (ASAE, SEF, Protecção Civil e Polícia Marítima, a título de exemplo). Mas sabemos que muitos destes organismos não se entendem - há colisão das respectivas hierarquias e excessivas lealdades políticas. Basta ser um cidadão comum para perceber que a Polícia Municipal e a PSP não se embrenham de um modo fluente e natural. O polícia municipal é excelente a guardar a betoneira da obra na via pública, mas não me parece que esteja atento à missão policial no seu sentido mais abrangente. Se o trânsito estiver emperrado, este nada faz - não é com ele (pediram-lhe para guardar a grua). Em suma, falta a Portugal, um país pequeno e de fácil interpretação logística, a plena integração de todas as forças, a consubtanciação da reciprocidade de objectivos e missões. Não sei se António Costa tem noção destas disparidades e separação de águas, mas o ambiente geopolítico e a probabilidade da ocorrência de eventos fora de caixa, obriga o governo a pensar holisticamente. Sim, eles andam aí. Alguns políticos e uma mão cheia de terroristas.
A Europa, ou mais correctamente, a União Europeia (UE), enfrenta dilemas de vária ordem. A questão securitária passou a ocupar a primeira fila do teatro de operações políticas. Enquanto escrevo estas linhas, no coração da UE, militares belgas patrulham as ruas de Bruxelas na expectativa negativa de ataques terroristas semelhantes àqueles ocorridos em Paris há uma semana serem reeditados. A Política Externa e de Segurança Comum (PESC) fora concebida como um dos pilares de sustentação do projecto de construção europeu, mas ao longo das últimas décadas, não se desenvolveu uma efectiva estrutura de defesa pan-europeia. A Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) existia para a eventualidade de um ataque a um dos seus Estados-membros, e o Artº 5 definia claramente o âmbito da reciprocidade do mecanismo de defesa. Os europeus, encostados à aliança transatlântica, tornaram-se desleixados e inconsequentes, e foram incapazes de atingir a maturidade e a independência securitária que seria de esperar de um projecto político desta envergadura. Mas a União Europeia está a acordar repentinamente para uma realidade que exige grandes doses de pragmatismo. Uma doutrina de segurança da UE, deve, nessa medida, ser urgentemente definida e com um intenso sentido estrutural. O acordo de Schengen, nascido no ambiente festivo do livre movimento de pessoas, capitais, bens e serviços, conhece agora alguns efeitos suspensivos colocando em causa as suas boas intenções originais. Os militares e os blindados ligeiros que patrulham as ruas da capital belga não devem causar espanto. Teremos a breve trecho grande número de paisagens urbanas europeias decoradas com semelhante aparato militar. E a questão deve ser entendida como uma extensão natural dos mais recentes desenvolvimentos geopolíticos com epicentros mais ou menos longínquos e com intensidades variáveis. O debate em torno da missão dos militares em tempos de "paz" ganha agora ainda mais relevância. Será que as sociedades europeias estarão dispostas a conviver com o policiamento realizado por militares apetrechados com armas de calibre de guerra na baixa das suas cidades? Para o cidadão comum, poupado às vicissitudes da guerra, a mera presença de unidades militares na malha urbana pode causar um sentido acrescido de insegurança, por esta lançar a suspeição da iminência de um evento violento, mas numa segunda fase, a sua aceitação será entendida como vantajosa, pela sua expressão declaradamente dissuasora de intentos desviantes e detonadores da ordem pública. A União Europeia está, deste modo, a projectar o seu poder com uma ligeira alteração do sentido conceptual inerente ao mesmo. A urgência, embora externa e geograficamente entendida, exprime-se numa dimensão endémica. A Europa está obrigada a apontar as armas aos seus próprios cidadãos. A destrinça clássica que permite identificar inimigos foi intensamente posta em causa e o modelo de gestão desta crise ainda se encontra longe de uma noção estável. Declarar guerra a um inimigo distante não produz os efeitos que os políticos desejariam obter nos seus domínios domésticos. Sabemos todos, lamentavelmente, que os adversários têm uma doutrina altamente eficaz e escandalosamente corrosiva. A Europa ainda não saiu do laboratório - ainda não tem um antídoto eficaz. A União Europeia é uma construção assimétrica, mas o perigo de contágio dos ataques terroristas terá um efeito nivelador das preocupações. O medo e a insegurança são emoções transversais a dictomias Norte-Sul, a clivagens de Direita ou Esquerda, a sistemas políticos com diferenças assinaláveis. O terrorismo, nessa medida, deve servir de catalisador da integração tantas vezes adiada por imperativos de ordem económica e financeira.
Há qualquer coisa que não bate certo neste guião. A Grécia vive dias muito difíceis. Tem a corda na garganta. Prometeu libertar o seu povo da Austeridade imposta pela Alemanha e chora desalmadamente porque não tem como pagar as contas. Mas isso não a inibe de negociar a compra de sistemas de mísseis à Rússia. Tsipras confirma os nossos piores receios. Não é um libertador da Europa periférica. É um perigoso apostador que arrisca lançar a Europa na maior das imprevisibilidades. A Grécia está à espera de um ataque turco? De uma investida de Panzers alemães? A União Europeia procura salvar a face, mas estes eventos exigem uma tomada de posição intransigente. Será o povo grego que em última instância pagará a factura, mas repartirá a mesma pelos restantes europeus. A política de casino, bluff, e o cinismo de Tsipras terão certamente os seus dias contados. O problema, no entanto, serão os danos colaterais deixados ao abandono. A poesia lírica do Syriza, que serviu para encantar as Esquerdas da Europa, está a ceder o seu lugar a algo intensamente explosivo. Há limites que devem ser respeitados por aqueles que afirmam pertencer à grande família europeia. O mais irónico deste enredo é que serão os Estados-membros da União Europeia a financiar a compra do sistema de mísseis à Rússia. Tsipras faz lembrar outros chicos-esperto de praças conhecidas. Se deixarem, pegará nos dinheiros de "salvamento" para comprar brinquedos para fazer a sua guerra. Não se esqueçam, Tsipras é um produto europeu. Certificado democraticamente, eleito por cidadãos no seu perfeito juízo. Dêem dinheiro ao Varoufakis e Tsipras. E depois não se queixem quando o mesmo se extraviar.
Na senda dos disparates em que o actual regime mergulhou desde que viu a luz do dia, o Palácio de Belém reedita o mapa Cor de Rosa, desta vez em tons azulados. Trata-se precisamente do mesmo princípio subjacente ao gorado projecto de expansão imperial no hinterland africano, mas desta vez colide com alguns interesses que não se resumem aos da Grã-Bretanha.
Estados Unidos da América e Espanha - descontando os marroquinos que surgem em segunda linha -, são potenciais focos de rejeição de mais este delírio. Delírio, porque não fundamentado numa política consentânea com o pendor reivindicativo a apresentar na ONU. A própria União Europeia, uma entidade de contornos muito difusos, poderá significar uma ainda maior complexidade deste problema.
Sem Marinha, sem poder garantir a patrulha e segurança daquela vasta superfície oceânica, Portugal adianta-se no campo diplomático, pretendendo um reconhecimento de jure. Num país onde falar de Defesa - logo de Economia, Educação e Negócios Estrangeiros - é algo susceptível de provocar violentas convulsões intestinais nos agentes do poder e da oposição, este é mais um caso que poderá vir a terminar na pior maneira.
Não perderão por esperar, até porque têm sido avisados.
Não é novidade alguma, pois já aqui - e noutros posts - tínhamos dito algo acerca deste assunto. As Forças Armadas deveriam obrigar a chamada "sociedade civil", o regime, a prescindir da gestão de alguns activos considerados estratégicos, colocando-os sob controlo especial. O país deve possuir uma indústria de Defesa. Qual é a dúvida? Sendo a construção naval - que engloba produtos militares - de interesse estratégico para o país, há que dar-lhe um novo rumo.
Após três anos consecutivos a aumentar as despesas militares, a China anunciou hoje um novo aumento, desta vez de 10,7%.
Se um aumento desta proporção já é qualquer coisa de extremamente invulgar em tempos de Paz, naquele que é o segundo orçamento de defesa do Mundo é simplesmente gigantesco. E mesmo que os EUA gastem seis vezes mais que a China, a desproporção é muito menor se tivermos em conta que o armamento chinês é incomparavelmente mais barato que o norte-americano (enquanto que o nível tecnólogico já é equivalente em muitos domínios) pelo que a Pequim é muito mais barato armar-se do que a Washington. E a intenção da China é, claramente, de rivalizar com os EUA, sobretudo no domínio naval inclusive no Atlântico.
Em contraste, há perto de um mês, a Marinha dos EUA cancelou o envio de um porta-aviões para o Médio Oriente dois dias antes da data marcada por... falta de orçamento. Nem a mais patética ficção de Hollywood alguma vez imaginou uma situação como esta. Assim vai o Mundo.
1. Era perceptível desde o Verão que algo se iria passar no Norte do Mali, com o reforço de forças especiais francesas na região, a que se juntou a concentração de forças americanas no Mediterrâneo em Setembro (após o ataque ao consulado norte-americano em Benghazi). Ambos os países têm feito a vigilância de movimentos e a identificação de possíveis alvos. Desde que a região foi tomada pelos islamitas, França tentou virar os tuaregues contra os movimentos jihadistas ligados à Al Qaeda (Al Qaeda no Magrebe Islâmico e Ansar-Dine), criando uma luta interna de forma a permitir que o exército maliano, reforçado por contingentes dos países da região, lançasse um contra-ataque. Triplo fracasso. Não só não conseguiu criar essa divisão, como boa parte do exército governamental do Mali desertou para o lado dos rebeldes e o que existe é extremamente ineficaz, mal treinado, mal equipado e pouco motivado. Por último, o governo de Bamako tentou evitar a vinda das tropas aliadas, consciente de que se sabe quando os aliados chegam mas não se sabe quando partem. Ou seja, não podia resolver o problema sozinho mas também não queria ajuda externa. Neste impasse, e para resolver este problema que se arrastava havia já demasiado tempo, nos últimos meses França foi criando as condições para uma intervenção militar internacional (que seria dos países da CEDEAO) com o aval das Nações Unidas.
2. O fundamentalismo islâmico implantado pela Irmandade Muçulmana (organização que goza de grande apoio e financiamento do Qatar) está em progressão desde as «primaveras árabes», e nada indica que o processo seja reversível. Mesmo em Marrocos, país moderado e última monarquia do Magrebe, o governo é afecto à Irmandade Muçulmana e apesar da moderação conseguida pelo Rei através de concessões, não é certo que este regime se aguente; por um lado tem sido um regime sólido, prestigiado e popular, por outro a pressão para o derrubar e instalar uma república islâmica é grande. A Argélia é o único país do Norte de África que até agora escapou ao processo, e é também o maior e o mais forte, gozando também do poder de influência conferido enquanto um dos principais fornecedores energéticos da Europa. Mas há também a questão do povo tuaregue, presente numa vasta região dividida entre vários países com fronteiras traçadas a régua e esquadro, e que reclama um estado seu. Se se concede a independência a um estado tuaregue num desses países, isso criará problemas a todos os outros. A repetição da independência do Sudão do Sul não pode ser consentida.
3. Naturalmente que sempre que falamos dos interesses franceses na região do Sahel, temos de ter presente a Areva, o gigante francês da energia nuclear e as suas explorações de urânio. No entanto, e mesmo que esses interesses existam nesta guerra, será manifestamente exagerado considerá-los como um motivo para esta guerra. Se fosse, certamente não teria havido unanimidade no Conselho de Segurança das Nações Unidas no apoio a esta intervenção (o que é digno de registo sobretudo sabendo-se que a China também tem interesses na região), nem haveria aviões ingleses, americanos ou canadianos a apoiar directamente esta expedição. A intervenção deverá explicar-se pela necessidade de travar os islamitas e evitar que se forme um grande Afeganistão na região do Sara/Sahel, o que seria uma ameaça para a Europa. Infelizmente, e mais uma vez, a União Europeia tem primado pela passividade, até porque o Norte da Europa acha que o islamismo na margem sul do Mediterrâneo não lhe diz respeito e que é apenas um problema para os países do Sul. E será para estes países (Espanha, Portugal, França, Itália, Malta e Grécia) que a tensão que se está a acumular no Norte de África tenderá - e mais cedo do que se pensa - a transbordar.
4. França é actualmente, a maior potência militar europeia, e dispõe de forças numerosas, bem equipadas e treinadas. No entanto, com os cortes orçamentais a que a defesa tem sido sujeita, em algumas áreas as capacidades ressentem-se e isso é visivel. Por exemplo, o stock de bombas da Força Aérea foi quase esgotado na campanha da Líbia, em 2011, e ainda não foi completamente reposto. Grande parte do equipamento é dos anos 80 e, no caso dos aviões de transporte, anterior a isso e com muito uso. A ajuda solicitada aos aliados tem sido, justamente, de aviões de transporte, dos quais depende toda esta operação. Por seu lado, a capacidade combativa dos islamitas, determinados, bem treinados e bem armados (com a pilhagem dos depósitos do exército líbio, no momento da queda de Kadaffi) e movendo-se rapidamente em simples pick-ups, tem sido uma surpresa. Normalmente, não deveriam conseguir resistir dias a fio às forças francesas, como tem acontecido. Isto confirma que o know-how da guerra do Afeganistão e provavelmente muitos combatentes, mudaram-se para o Norte de África. Esta Sexta, a cidade de Konna foi tomada pós uma semana de combates, mas - por enquanto - não são reveladas baixas malianas nem francesas.
5. O conflito está a tornar-se regional. O ataque ao complexo de gás de In Aménas (um dos mais importantes do país) por parte de jihadistas vindos de território líbio (que controlam, no Sul) poderá levar a Argélia a uma intervenção no país vizinho para os perseguir nas suas bases, o que seria justificado perante a comunidade internacional dada a necessidade de segurança dos recursos energéticos. Por outro lado, o Leste da Mauritânia tem sido atravessado pelos jihadistas e nos últimos dias deram-se passos para o alastramento da guerra a este país, com o presidente local a oferecer auxílio ao Mali (contra a opinião da esmagadora maioria das forças vivas do país, que são pró-jihadistas). No início da semana, Espanha ofereceu a França a disponibilidade das suas bases aéreas e navais para as operações em África, tendo os franceses solicitado o uso das Canárias para apoio da sua aviação, o que prenuncia operações sobre território Mauritano (já que o espaço aéreo argelino está acessível às aeronaves francesas, nas ligações com a Europa). Já esta Sexta à noite, os franceses referiam que os combatentes jihadistas estavam a escapar atravessando a fronteira com a Mauritânia. Nos últimos meses, Espanha reforçou o seu dispositivo militar nas Canárias, algo que as circunstâncias estão a justificar.
6. Portugal, face a esta situação, fez até agora o mínimo dos mínimos que se lhe exigia: demonstrou apoio político a França e prometeu apenas apoio militar no seio da missão da UE de treino do exército maliano - uma missão de utilidade algo duvidosa, já que demora meses a formar novas tropas - valendo-se da boa desculpa da situação financeira. Naturalmente que Portugal não deve favores nenhuns a França (que há muito que faz o que pode para prejudicar a presença portuguesa em África, nomedamente na Guiné-Bissau) nem à CEDEAO, que alinha com França e que apoia directamente com as suas tropas o regime golpista que em 2012 tomou o poder em Bissau. Mas, caso se dê um maior envolvimento de outros países europeus no conflito, será difícil alhear-se da situação, e ficar apenas a assistir numa questão em que somos parte interessada: o islamismo no Norte de África é uma ameaça à segurança nacional e algo de mais efectivo provavelmente terá que ser feito, seja no apoio a França, seja a outros países envolvidos. Além de que o fluxo de refugiados que a guerra está a gerar poderá vir a afectar-nos, sendo que o envio de uma missão humanitária (provavelmente para a Mauritânia) também deverá ser de considerar. Por fim, é preciso olhar para a situação com realismo e responsabilidade. O Ministério da Defesa tem agora mais com que se ocupar do que a reprivatização dos estaleiros de Viana do Castelo ou a disparatada venda de parte dos caças F-16 (que não são muitos e que há muito deviam estar presentes também na Madeira, como defende a Força Aérea).
Aguiar-Branco deseja umas forças armadas e uma política de Defesa partilhadas com Espanha. Ou de como um Ministro da Defesa revela que pouco ou nada sabe de Política Externa Portuguesa e, em particular, da História desta.
Há quem, apesar da sua neutralidade, não deixe nada ao acaso. A isto chama-se planeamento.
A 7 de Fevereiro do presente ano proferi um discurso sobre Transatlanticismo e valores Transatlânticos no Século XXI num dos eventos internacionais da Comissão Norueguesa do Atlântico (Norwegian Atlantic Committee - Den Norsk Atlanterhavskomite) a pedido da mesma. Sendo que venho acusando algumas falhas em termos de assiduidade na minha escrita, procuro agora compensar tal situação - mesmo que ligeiramente - postando aqui o discurso que proferi. Em Inglês, claro.
Espero que seja do vosso apreço; como sempre, os comentários construtivos são bem-vindos. A versão do discurso aqui 'postada' será a editada a dia 13 de Fevereiro de 2012.
Segue a dita:
"Honourable members of State, diplomatic delegates and representatives, colleagues and friends of the Atlantic Treaty Association and of the YATA:
During the past day we heard many claims regarding a power shift from the West to the East and, thus, we were all confronted with the questionable nature of the relevance in the U.S. – E.U. relation. However, we must consider that there is no actual power shift - there’s an occurrence of power dispersion, which is mainly motivated by the various forces of globalization and by the unsurpassable fact of erosion in collective Western capacity. This gap opening signifies an opportunity for the Eastern players (mainly in Asia), and even players in the South-Atlantic (like Brazil), to occupy - for the moment - key roles in global geopolitics, but while maintaining positive interaction (or even tight cooperation) with pre-existent key players – all of which are born within and operate on a Western framework.
When considering the phenomenon of power dispersion in this new multi-polar paradigm we must also be attentive to the fact that the new players have patrimonial-like relations of power and wealth (see Russia and China), which means globalization serves them more as a tool rather than an equalizing process of methodologies and ideology. As such, this power dispersion - or multidimensional redistribution of power - most likely will not mean the harnessing of new and comfortably integrated allies, but rather will signify the necessity of a more affirmed western identity that will simply have to deal with the undeniable relevance of ideologically differing agents and players. The only global identity is indeed human nature itself.
This means the US-Europe (E.U.) relationship will be and still is the spearhead of the West and western values (and thus of trans-Atlantic values), albeit the E.U. has lost some of its western identity to post-modernism and a slightly anti-conservatism posture.
In practical terms, the European Neighbourhood Policy (ENP) is extremely relevant to the U.S.A. due to how it allows the European Union and its respective member-states to deal with the Middle-East through the Mediterranean partnerships within a developmental security framework. On its own side, the U.S. may just function as a gateway to the broader east, and the transatlantic link can bring players like Russia into aiding with that proximity; additionally, we need to consider the influence of current Chinese investment in European economies – mainly the southern ones which will, in fact, determine the future of the Eurozone itself and, by extension, the future of the European Project.
As such, it is very relevant for The Alliance to get on board with the Eastern players making the best possible geostrategic use of the U.S.-E.U. connection. Trans-atlanticism has indeed not been this relevant since the Cold War, thus I believe it is far from decaying or over.
But many relevant questions still remain and some of them have indeed been mentioned before, here at Leangkollen...what is the modern trans-Atlantic relationship supposed to be founded on? Is it values, institutions or interests?
Well, all relationships between power blocks within the international system are invariably motivated by interests and circumstantial economic climates. The values and institutions are simply that same motivation made manifest through formalizing processes – the founding interest for NATO and the trans-Atlantic effort was stopping the advance of the Soviet system, ideologically, politically and strategically. From this interest were birthed the many institutions and the formal and emotional ties that would later develop into framework values for NATO and the trans-Atlantic Link. Values that would help further the notion of Western identity.
The so-called core values are born from the allegiance to core interests; we must not forget that my country, Portugal, was a dictatorship when it became one of the founding members of NATO and, supposedly, at the time there were already core values regarding civil liberty and the freedom of the individual; we now know, of course, that back then this was just pure rhetoric. Today it is not, however, and indeed Portugal grew towards being able to call itself an Atlanticist Nation-State in what regards security and defence policy, as well as ideology. Again, values become the consequence of the prolonged convergence of common interests and, mainly, common threats – they are the fruit of allegiance.
I must stress however that it is also true that we need to return to a policy of values and principle. The somewhat Liberal views of the Alliance were actually connected to North-American Conservatism, and when the European member-states of the Alliance embraced post-modernist logics as the European Project winded on we were stuck with a fragmented and even slightly divided western identity (even if still sharing a common framework); as such, it is by using the historical values of The Alliance (which were, in their beginning, relative) that we might strive to create common ground.
There’s no such thing as core values though, there’s merely a framework for a common driving force (ideological) based on state-culture and its foundational ideas and values. So, to foster an effective cooperation between the growing European Union’s centralized authority for foreign action (not foreign policy, that is still a sovereign monopoly and rightfully so) and the U.S.A., the E.U. member-states that are also NATO members must be committed to the construction of a value based framework that makes the best possible usage of the many converging interests The Alliance naturally shares with the E.U.
The modern trans-Atlantic relation must also take into consideration modern circumstances. Not only does this relation have to deal with power dispersion it must also deal with identity dispersion.
The fractured mentality in Europe has dispersed many Youth’s identities, leading a vast majority of young people to find solace of existence in broader identities, quite separate or unrelated ad inicium from their original country’s perspectives and cultural heritage – as such, it becomes even more important to have a relevant common ground in which it must be possible to bring and bind together the Western Youth, promoting the convergence of diverging ideas and edifying a beacon for the trans-Atlantic ideal and western culture. There are even many young western people who don’t feel western at all, and it is exactly because of such a situation that this becomes an even greater necessity.
Returning to practical matters however, the issue of Security still remains to be tackled. What is it that binds us in terms of Security policy within the Alliance? And does the relationship with Asia make the E.U. irrelevant towards the U.S.?
Answering the second question, I believe that a potential irrelevance is a non-issue. The relationship with Asia is all the more reason why The Alliance should strive to build deeper ties with members of the E.U. that are not yet members of NATO; and the U.S. itself should keep fostering relations with NATO and E.U. members. Surely the U.S. has a greater economic interest in the Pacific and Asia since all the booming wealth and commerce markets are there – but this is also why many E.U. members have private enterprises located in that region. When we talk about issues of relevance in international relations we must talk Geopolitics, not just Economy since that part is (mostly) already handled well enough by private sector players and, thus, there’s no point in smoke-screening the already smaller relevance of Government in these aspects.
Asia is, as I mentioned, a gateway, not an invitation for stasis in the ongoing relationship between the U.S.A. and the E.U. Asia also binds together both of these regions due to its growing influence in the financial and manufacture based commerce sectors world-wide. It is also a fact that our common geopolitical interests paradoxically foster diverging benefits - which can be extracted from security cooperation.
Western based societies and states share similar views for Development and Security, as well as sharing many similar threats – even if their specific origins are different. Currently we are further bound together not only by that slightly more conceptual framework but also by a very palpable reality: the Arab spring and the Middle-East. Common threats (potential or materialized) breed common security interests, and common security interests are what bind states together in matters of security cooperation and common policy.
Both the aforementioned binding elements are currently the main sources of potential and materialized security issues, respectively. The E.U. must deal with what is going on in the south of the Mediterranean in the best possible way if it doesn’t want increasing instability in close geographical proximity; and that approach will undoubtedly affect the Middle-East, where the U.S.A. are still the main player – one must note that the E.N.P does not offer structures that allow for the same kind of influence, and the very framework and finance allocation of the E.U. does not allow it as well –, and, by extension, where NATO might also be a main player.
We must also remember that the E.U. has a very residual and ineffective common security policy, not really possessing the necessary coordination and legal framework (much less the resources as things currently stand) to have a “NATO of its own”. As such, The Alliance still plays a major role for the security of both the European states that are NATO and E.U. members and those that aren’t but are part of the E.U. And the U.S. knows it must still play this cooperative role, for the threats of one Block may quickly become the threats of the other; diverging economic interest notwithstanding, the U.S. and most of the E.U. member-states have not forgotten the relevance of the NATO cooperation framework and the importance of their continued relationship for ensuring a common survival in an ever changing and unpredictable international system.
We must not bury our heads in the idealist bubble of a fantasy world ran only by peaceful economic interest; NATO hasn’t and, as such, neither can the U.S.A. or the E.U. And neither can the rest of us.
João Teixeira de Freitas
- President of the Portuguese Atlantic Youth Association (YATA Portugal)
- Secretary-General for the Youth Atlantic Treaty Association "