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Neste post, John Wolf muito bem faz em mencionar a memória electiva do dr. Soares. Na nona década de vida, o homem lembra-se de coisas que a maioria há muito esqueceu e uma delas será o que está por detrás desta busca de "unidade da esquerda". É um desígnio há muito prosseguido pelo soarismo que sucintamente pretende atrelar o PC e outros marginais ao arco da governação, à tal aliança na qual o PS inevitavelmente ditará a lei imposta pela posição que Portugal ocupa no mundo. Ao contrário daquilo que muitos esganiçados hoje peroram no alto dos palcos, a aliança em pouco poderá escapar às políticas que têm sido norma nos últimos tempos. Pelo contrário, apenas servirá para a sua legitimação num país ainda refém dos delírios, baladas e badaladas de há quarenta anos. Verão que num ápice santificar-se-ão os cortes, a redução de regalias, os aumentos de taxas e impostos. Até a senhora Avoila dirá "voilá!, isto é mesmo necessário ao progresso e aos interesses das massas."
Soares sonha com outra situação que vem do início dos anos oitenta, quando Mitterrand conseguiu levar ao poder a Union de Gauche que nada mais significou senão o desmantelar eleitoral do PCF, relegando-o à condição de coisa sem qualquer importância e apenas instrumental na luta pela manutenção da exclusão da FN - herdeira directa dos votos do PC nas banlieus - na Assembleia Nacional francesa. Soares quer de uma vez por todas liquidar o PC, pura e simplesmente anexando os seus eleitores ao voto útil. Nem sequer por um momento pensa que o PC doméstico, velho e relho de manhosas manias, decerto estará pouco interessado num haraquiri sem sentido. Neste já longo período de crise, o artifício poderá revelar-se desastroso para o próprio PS sempre em busca de hegemonias à mexicana. Tudo isto consiste num jogo infantil e este ex-secretário geral devia ter em atenção que Portugal é um caso muito diferente do francês, de pouco lhe valendo incutir a ideia de uma reedição das nacionalizações e controlo operário, num país onde a "classe operária" hoje veste fato e gravata da Zara, tem perfil no Facebook, vai para o trabalho ao volante da sua nova e flamante viatura adquirida a crédito e é proprietária de um T3 algures, na periferia.
Qualquer veleidade de arrivismo frentista, terá efeitos que pesadamente se farão sentir em todos os sectores da vida nacional. Nos tempos em que Soares chamou o FMI e a sra. Minassian, Portugal possuía moeda própria, alfândegas, todo o tipo de regras proteccionistas, apertado controlo de fronteiras e outras minudências do estilo.
Soares julga ainda flanar no mesmíssimo mundo dos tempos em que era primeiro-ministro "sem relatórios para ler" e rondava os seus sessenta anos. Alguém haja que à volta de uma mesa bem posta e copiosamente servida de petiscos e bons vinhos no Pap'Açorda, lhe explique que "Ó Tempo Volta Pra Trás", não passa de uma canção.