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Vitor Gaspar demitiu-se, Paulo Portas apresentou a demissão e Passos Coelho já foi demitido, embora não o saiba. A democracia portuguesa está a funcionar. Foi o povo que exerceu o seu anti-voto. Foi a população portuguesa que exerceu pressão alta ao longo de largos meses e que tornou a situação insustentável. A economia, o emprego e os mercados também ajudaram - porque também se demitiram de Portugal. Não foi Seguro que alcançou estes resultados extraordinários. Por essa razão não merece um bónus por bom desempenho - não foi bom e não podemos chamar à sua actuação de desempenho (disse umas coisas para figurar entre parêntesis). O lider socialista não chegou aos pés da opinião pública e colocou-se prematuramente à porta de São Bento com as malas feitas para o check-in, só que o voo não chegou. E ao fazê-lo com tanta ânsia pelo poder, também se demitiu. Demitiu-se e foi demitido por inerência de presunções. À medida que o governo sai à peça, passa em nota de rodapé uma mensagem de alerta máxima. As pessoas tentam imaginar o Seguro como o suplente que salta do banco e chegam à conclusão que não serve. Por essa razão Portugal está encalhado no purgatório da demissão. Anda um diabo à solta que nem sequer tem uma forquilha para ostentar. Essa é uma das leituras que deve ser realizada, mas não constitui a leitura principal. Todos estes fascículos são pequenos tomos da mesma mossa política. O desmoronamento do governo, realizado faseadamente, é um exemplo da reforma do Estado que se inicia com o próprio executivo. No meu entender, a cada demissão não deveria haver uma nomeação. O governo ao emagrecer, tende à extinção, ao seu desaparecimento, mas esse acto de desvanecimento arrasta sem piedade o país inteiro para o abismo de um segundo resgate. E acresce a esta vontade interna de "põe-te daqui para fora" (atiçada de um modo irrascível), uma magistratura que mingua o processo demissionário em curso. Há uma entidade que não conseguem demitir. Há um inimigo que galvaniza o país mas que não pode ser chutado para o canto. Por mais entradas e saídas que ocorram, por mais portas que girem, o monstro omnipresente não pode ser excluído e não se demite. Acho incrível que se tenham esquecido do décor que se mantém sejam quais forem os actores em cena. A Troika e as condições impostas não se demitem. Vivem numa espécie de eternidade infernal, política. Esse pequeno facto parece ter sido omitido, esquecido no calor do momento, no entusiasmo que sempre caracterizou a pequena política, os afazeres de um pequeno bairro de embirrações e rancores. A matriz fracturante nacional nunca autorizará um governo de salvação nacional. Os partidos e os seus políticos ao recusarem colaborações de recurso, demonstram que a demissão foi a regra e nunca a excepção. Se os políticos tivessem presentes o sentido de urgência nacional, colocariam de lado o seu ego ideológico. Se Cavaco "os tivesse no sítio", se fosse corajoso, punha em andamento a construção de uma equipa de salvamento. Recrutaria membros de todas as facções políticas e dos movimentos cívicos. Mas o chefe de Estado é o maior de todos - o mais demitido de todos. Um auto-demitido que ainda não foi admitido na instituição adequada. São palavras excessivamente fortes e desrespeitosas, aquelas que eu prefiro? Não me parece. A situação é gravíssima, temos de demitir, perdão, admitir.