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Nuno Roby Amorim tem toda a razão, e passo a citá-lo:
"Não estou a perceber uma coisa. O advogado do ex-Primeiro-ministro José Sócrates, João Araújo, virou-se esta manhã para uma jornalista à porta do Supremo Tribunal de Justiça em Lisboa e disse-lhe: “A senhora devia tomar banho. Cheira mal!”. Mais à frente ripostou “Desampare-me a loja!”. À hora dos jornais televisivos, ao fazer zapping, tirando o Correio da Manhã onde a jornalista trabalha, não vi nenhum discurso de indignação nem nenhuma reacção critica por parte das direcções de informação, colegas, Sindicato de Jornalistas, ERC - Entidade Reguladora para a Comunicação Social ou mesmo da Ordem dos Advogados. Na minha modesta opinião, este não é um tema para se fazer apenas uma noticia, mas uma altura para mostrar indignação e sobretudo pedir desculpas públicas. Todos os que se calam agora amanhã não venham fazer criticas ao jornalismo porque aceitar com normalidade a javardice e a selvajaria é meio caminho andado para a instauração de uma sociedade mais bruta, estúpida e irresponsável. A justiça não pode ser transformada na Casa dos Segredos..." (...)
Não tenho nada a acrescentar. Não nos deixemos distrair com isto.
Por que razão a Secretaria de Estado da Cultura exige o regresso de alguém que alegadamente viola, de um modo consciente, os termos de um contrato? O governo não pode ser o padrinho de prevaricações, o promotor de oportunistas. A mensagem que Jorge Barreto Xavier atira para o ar lesa muito mais do que o Estado. Lesa os princípios deontológicos que devem orientar a vida de qualquer indivíduo. Não é a empresa Opart (ou o raio que o parta!) que deve conhecer a lei espanhola. É Pinamonti que deve saber ou não se está a cometer uma infracção, a fazer jogo duplo. Em vez de ser sacudido do Teatro Nacional de São Carlos, Barreto Xavier quer dar um prémio de desempenho a este gestor público - uma recompensa pela ambiguidade cultural e poligamia artística? Será Pinamonti o único consultor lírico do mundo? Ou haverá outros a dever quantias à Segurança Social? As artes e letras, pela subjectividade questionável da sua natureza, têm sido poupadas a regimes de auditoria mais apertados. Os portugueses merecem saber de que forma o seu dinheiro é gasto em encenações e dramas, revistas e óperas-bufa. Os bufos são mais que bem-vindos - se defenderem o interesse dos espectadores e a carteira dos contribuintes.
Não é necessário chegarmos à situação que se vive em Ferguson nos EUA, mas o Correio da Manhã faz a sua parte para que se caminhe nessa direcção. Não se pode admitir que nesta bela peça de jornalismo a seguinte frase tenha sido publicada a propósito dos desacatos ocorridos no centro comercial Vasco da Gama: "A PSP impediu a entrada de jovens de raça africana no estabelecimento comercial." (...). Raça africana? Se existe uma comissão de ética dos meios de comunicação social, esta já deveria ter notificado o pasquim da manhã e sancionado o seu desvio à deontologia que se exige no exercício da profissão. Não podemos aceitar alguma forma de insinuação ou distorção racial de qualquer meio de comunicação social e em relação a qualquer grupo étnico ou racial. Neste artigo sucede de um modo flagrante e intensamente condenável. Mais grave se torna a "gaffe" se tivermos em conta o passado colonial de Portugal. Neste mundo de guerras avulso, Palestina, Gaza, Israel, Muçulmanos, Católicos e Judeus, ao menos que haja correcção nos nomes que se chamam. A não ser que se tenham outras intenções.
Do mundo do espectáculo o que seria de esperar? Ilusões certamente. Ricardo Costa põe lugar à disposição. Que simpático, que nobre, que atitude carregada de princípios deontológicos. A administração do Grupo Impresa "obviamente" recusou. Nem valia a pena terem encenado o elogio da ética. Surpreendente e inovador seria Ricardo Costa rejeitar a decisão da administração do Expresso e arrumar a secretária e fazer-se à vida. Assim não passa de algo para inglês e português ver - de uma encenação. Ah, e foi promovido. A confiança no jornalista foi reforçada. Ou muito me engano, ou Balsemão e companhia já contaram as favas e dão como certa a eleição do próximo secretário-geral do Partido Socialista, e um pouquinho mais tarde a eleição do novo primeiro-ministro (ou seja, tudo farão que estiver ao seu alcance jornalístico e televisivo para derrubar Seguro). São "passos em falso" desta natureza que confirmam que a promiscuidade neste país é a norma - o mix de interesses e posições, uma condição permanente onde nada muda nem mudará. A relação de proximidade entre a política, os media, os opinion-makers, os blogs e seus bloggers e já agora a bola, também faz parte da matriz corrosiva, do sistema que está em curto-circuito há muito tempo. Desde sempre, e pelos vistos será para continuar.
Existe uma expressão portuguesa que encaixa que nem uma luva nas garras felinas: fazer render o peixe. Os Gatos Fedorentos, sendo gatos, apreciam o peixe. Contudo, desta vez demonstraram que existem limites ao se associarem a um anti-corpo sério, residente nos antípodas da paródia, mas disposto a prescindir da farda de trabalho em nome de não sei o quê - Rodrigo Guedes de Carvalho marcou o serão pela negativa - não estávamos à espera dessa. O combinado misto, jornalismo alegadamente sério - humor até cair para o lado, não funciona, e demonstra apenas que não existem escrúpulos ou deontologia no jornalismo quando o que está em causa são negócios, ou audiências, conforme lhes quisermos chamar. Os Gatos Fedorentos estão a chupar até ao tutano a sua faceta de cacheteiros, de mercadores dispostos a explorar todos os produtos de merchandising, como se o seu fim estivesse à vista e houvesse urgência em extrair dividendos de tudo e mais alguma coisa. Não sei se este oportunismo agressivo partiu das cúpulas da SIC, do Guedes ou de um dos Gatos, mas, quando associamos a parafernália do MEO e outras marcas, percebemos facilmente que os Gatos Farturentos querem lucrar o máximo possível em tantas e tão dísparas frentes. Rodrigo Guedes de Carvalho, tido como bom rapaz e responsável, que também aprecia a ficção na forma escrita, acaba de rasgar do seu uniforme alguns falos da alta patente de jornal das oito. Sem o desejar, e embora de um modo próprio, apimbalhou-se e aproximou-se do relax que define a Judite de Sousa ao seu melhor estilo domingueiro. Quanto ao piscadelas de olhos José Rodrigues dos Santos, irei poupá-lo porque ainda não li nenhuma das suas bíblias, nem lerei. Contudo, brincadeiras à parte, o lado mais cínico desta novela consubstancia-se na leviandade com que se trata a questão que realmente interessa ao país - a solução para a crise. Mas como demonstram os cinco amigos, qualquer pretexto serve para ganhar quota de mercado em horário prime - a crise pode ser embalada, distribuída e vendida ao desbarato como uma reles série de televisão.