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- Ó pá, tenho aqui uma exigência das gajas que o vai chatear ainda mais do que a mim!
- Conta lá!
- Então não é que agora querem que eu legisle quanto aos depósitos acima de 50 mil pacotes? A ser assim, a maior parte dos meus camaradas vai ficar a descoberto e pior ainda, danados! Está a ver o problema, não está?
- Olá, se estou, mas o que posso fazer para te dar mais uma mãozinha?
- Já discuti isso lá na c.p. Faremos assim: eu proponho, ou melhor, o governo propõe e você veta com uma desculpa esfarrapada que lhe venha à cabeça. Lembra-se da estória da vichyssoise? Invente mais ou menos uma do mesmo estilo, ahahahahahahahahaha. Depois logo se verá como pararão as modas. Dado os nossos índices de popularidade, as coisas acalmarão.
- Ah, isso é o que farei, não te rales, ahahahahahahahaha, elas espernearão um pouco para fazerem de conta nos media e quanto ao gajo do chinquilho, esse será mais moderado, logo arranjará qualquer coisa para salvar a face. É o que dá terem quase cem anos de experiência em truques, ahahahahahahahahahaha!
- Pois, mas o pior é se depois as gajas me exigirem que eu volte a apresentar o diploma naquela casa! Tá a ver a coisa?
- Resta-nos o Constitucional, não imagino os tipos deixarem passar uma coisa destas, acho que ficarão encalacrados. Imaginarão qualquer coisa como muito bem sabes. Deixa-os por minha conta, assim que saíres pego logo no telefone.
Se as palavras ainda valem o que valem, as frases que resultam delas devem servir para revelar uma determinada intenção. Nesse caso, resta-nos interpretar cuidadosamente a mensagem que nos mandam para tentar extrair significados profundos. Quando Cavaco afirma que a única relação que manteve com o BPN foi na qualidade de depositante, soa a Bill Clinton quando jurou a pés juntos que não se enrolou com a Monica Lewinsky. "I did not have checks with that bank" - seria mais ou menos assim se fosse traduzido para linguagem de depósito a prazo -, mais juro menos juro. Mas prestem atenção. Há aqui palavras-brinde metidas na conversa como quem não quer a coisa. Como se fosse um fait-divers - en passant. O presidente da república parece se servir da condição de professor para atenuar as agravantes. "Estão a ver. Eu até era um desgraçado professor que foi a esse... como se chama o banco? Isso - BPN -, guardar os meus trocos, as minhas pequenas poupanças" - a miséria ganha por um docente. Cavaco Silva, ao afirmar que estava ocupado academicamente, parece que o faz para poder dizer que "tinha lá tempo para andar metido em esquemas de dinheiros". Depois, ao não responder à letra a Mário Soares, que o intimida a comparecer em tribunal, provavelmente fá-lo para ver se a coisa acalma. Se Cavaco irrita Soares, está o caldo entornado - este ainda vai buscar umas pastas que devem andar por aí perdidas em arquivos e fundações convenientes. Mas regressemos ao espírito e à letra da troca de galhardetes. Cavaco, que estará no mesmo estado avançado em que se encontra Soares, dentro de muito pouco tempo (reformado, pensionista e mais ou menos gágá), ainda lança umas indirectas que podem ser resgatadas por entendedores de meias-palavras. Quando Cavaco vem com aquele floreado que o povo de Portugal deve estar reconhecido pelo papel de Soares no processo conducente à adesão às Comunidades Europeias, no fundo, e trocado por miúdos, está a dizer que quem nos meteu nesta alhada há muitos muitos anos foi o amigo Soares. É subtilmente cínico, mas não passa despercebido. No meio disto tudo, só acho desonesto que a troca de galhardetes envolva a casa civil. De civil resta muito pouco. Parece que Soares tem enviado as reclamações por correio azul para essa casa em Belém. Claro está que a resposta que os portugueses exigem nunca chegará à barra do rio Tejo, quanto mais à barra do tribunal.
Durante mil anos, muitos quiseram acreditar numa ficção que dava pelo excêntrico nome de Sacro Império Romano Germânico. A realidade era bem diversa. Nunca foi Sacro - todos o atacavam ignobilmente, inclusivamente aqueles que o compunham - e nunca foi um Império, uma vez que jamais existiu a unidade e o poder central que definem aquelas grandiosas realidades políticas. Durante a maior parte da sua teórica vigência, Roma não se incluía entre as suas regiões e o Romano apenas mostrava um intuito de continuidade e de apego à Cristandade representada pelo sucessor de Pedro. Restava o epíteto Germânico, mas mesmo sendo os alemães a maioritária base étnica e cultural, naquele conglomerado centro europeu encontravam-se uns tantos checos, polacos, italianos e ainda uma nada desdenhável quantidade de francófonos. Em suma, o Sacro Império, não sendo uma divertida ficção como a Brobdingnag dos gigantes, apenas significou um não-desejo milenar que ainda hoje a Europa olha com nostalgia e até, com intuitos de restauração sob outro nome.
A segurança dos depósitos bancários, consiste no princípio fundamental que justifica a existência dos próprios bancos. Com o seu calmérrimo ar de sempre, o ministro das Finanças garante que os vossos depósitos bancários são sacrossantos. Quem neles tiver aqueles mealheiros onde apenas consegue guardar uns vinte mil contos em Euro, poderá ficar descansado. Poderá mesmo? Quanto ao resto, enfim, talvez seja melhor pensarem todos se realmente valerá a pena jogarem no Euromilhões, ou abrirem aquela conta que se destina ao erguer de um negócio que promova o emprego e dinamize a economia. O Politiburo de Bruxelas, respectivos comités do BCE e sucursais bancárias país a país, vão mesmo apossar-se de uma boa parte das somas superiores ao montante atrás indicado.
Imagine que você acabou de vender o seu pequeno apartamento e depositou cento e setenta mil Euro na sua conta. No dia seguinte, tem ao mata-bicho, a desagradável novidade de lhe terem sacado 30 ou 40% daquilo que é seu e só seu. Isto é roubo ao nível de Estaline, antecessores e sucessores. Nem o histérico Gonçalves a tanto se atreveu.
Foi precisamente isto o que o ministro anunciou e como é basilar em qualquer político que se preze, por exclusão de partes.
Já não há qualquer dúvida. Também não se duvida do suicídio da Europa. Desta forma não pode haver confiança.
* A confirmar-se este processo de confisco, deixa de existir qualquer razão para a continuidade da ficção da banca privada. No caso português, não poderão inventar qualquer manobra que esconda este segundo resgate, devendo o Estado nacionalizar criteriosament, tornando-se então urgente a procura do paradeiro dos activos. Para o melhor e para o pior, Salazar e Gonçalves nacionalizaram e encontravam-se em campos ideológicos aparentemente opostos. Pois então que a chamada 3ª via o faça, a isso estará moralmente obrigada.
O que o Fernando Ulrich afirma pode ser refutado por uma criança que tenha chumbado no exame do 4º ano. O que o presidente de um banco diz é uma tontaria que não faz sentido seja qual for o grau de demência - o nosso ou o dele. O que pensam da seguinte ideia; faço um rico bolo de chocolate, coloco-o sobre a mesa para a festa de aniversário de um ente querido, e de repente um glutão irrompe casa dentro, e zás, com uma faca de mato, abarbata-me um terço do bolo? Ou então escrevo um livro e catrapum, um vírus maluco toma conta do pc e leva-me sete capítulos da minha obra, o equivalente a 40% da minha narrativa, da minha alegada criatividade. Pois é. É disso mesmo que se trata - roubo descarado. E há mais, a ideia de um monstro engolir os frutos do meu trabalho, funciona como um antídoto para mais nada fazer, para mais nada produzir, para ser um peso para a sociedade e passar a ser um vegetal. A mensagem enviada é a seguinte; não vale a pena acrescentar valor porque mais tarde será subtraído. Seja o limite de 100.000 euros ou de 10.000, não deixa de ser um assalto à mão desarmada, uma violência. Uma prática de um regime autoritário com todos os seus requintes. Mas há mais. Diz ele que não precisamos de investimento directo estrangeiro? Em que século vive este homem? O que é a emissão de dívida, meu amigo? É a compra de títulos de tesouro principalmente por entidades estrangeiras! Como é que este homem pode ser o presidente de um banco, se não percebe nada da dinâmica da economia e de psicologia de massas? Se o Ulrich acha bem a apropriação de uma boa parte dos depósitos daqueles que têm mais de cem mil euros, estará a contribuir para a concretização do seu segundo desejo. Se essa regra for constituída, que boa alma estrangeira ou que multinacional desejará investir numa república que rouba as bananas aos seus macacos? Levanto outra questão, embora admita não gostar de misturar o foro privado com questões do domínio público, mas o Ulrich (e concerteza que há mais, mais rich ou menos rich!) não me deixa grandes alternativas. Para este presidente de banco, sugerir, à laia do realizado no Chipre, meter a mão em bolso alheio, é porque o seu património se encontrará a salvo, numa qualquer ilha onde a comissão europeia não lhe consegue deitar a mão. Minha nossa senhora dos depósitos!, que rica prenda nos saiu este Ulrich.
Ontem, aqui, abordei a inépcia assassina da Comissão Europeia. Pois bem, parece que hoje o sempre "pertinente" - sim, é mesmo com aspas - Fernando Ulrich disse que a proposta de taxação dos depósitos acima de 100 000 euros é, passo a citar, uma "boa notícia". Porquê, perguntarão os leitores. Porque, segundo o magnânimo banqueiro e opinarista, o anúncio desta medida obstará a uma repetição da gangrena cipriota. Toparam o esquema? O que o banqueiro desbocado nos anuncia é uma espécie de teoria da morte anunciada. O esquema é muito claro: "se vocês não me derem o vosso dinheiro, a vossa casa e os vossos pertences, eu espetar-vos-ei um tiro na carcaça". Perceberam? É bom que tenham percebido, pois o estratagema é simples: anuncia-se a todo o transe o roubo, de molde a que os papalvos fiquem desde já cientes de que serão assaltados. A palavra de ordem é: não resistam. Com banqueiros destes como é que poderemos estar verdadeiramente seguros quanto à intocabilidade das nossas poupanças? É impossível, não é?
Torna-se quase impossível determinar quais as consequências do controlo bancário que está a ser inaugurado na Eurozona. Qualquer que seja a designação do evento e a língua que se escolha (bank run, capital flight, corrida aos bancos, fuga de capital...), amanhã haverá uma reacção instintiva de uma comunidade alargarda de depositantes que passou a temer as instituições financeiras de um modo ainda mais intenso. A confiança no sistema bancário foi quebrada. Um sistema que agora tem rachas que estão a deixar entrar água, muita água. Nessa medida, e assumindo-me como uma pessoa não totalmente esclarecida, venho por este meio partilhar convosco algumas medidas de protecção para os tempos que se avizinham ainda mais difíceis. Independentemente do grau de riqueza ou pobreza de cada um, a noção de preservação de valor faz parte da consciência de qualquer pessoa. Sabemos que alguns bens mantêm o seu valor de um modo mais eficaz do que outros. Uma viatura, que não deixa de ser um péssimo investimento, tem um prazo de validade mais longo do que um iogurte natural. E essa questão de validade bate agora à porta de cada um com muita insistência. Esse cobrador de dúvidas não se vai embora e não veste um fraque. Perguntemo-nos então, o que poderá ser feito para minimizar os efeitos da confiscação financeira que se iniciou no Chipre e que se arrastará a outros belos destinos Europeus? Proponho que o aforrador, seja qual fôr a expressão das suas poupanças, passe a pensar em termos práticos. Se isto começar a descambar de um modo muito feio, a divisa Euro, cairá em descrédito, e naturalmente seremos obrigados a procurar outros veículos para salvar as mulheres e as crianças da nau do dinheiro. Começo por indicar que a diversificação será a pedra angular para minimizar os efeitos da volatilidade que iremos sentir. Há que espalhar o mal (o bem!) pela aldeia. Os Euros que estão depositados na sua conta podem ser retirados da mesma, mas procedendo a uma simples operação de transmutação. Uma operação de mudança de sexo - a conversão cambial. Ou seja, refiro-me à aquisição de Dólares Americanos, Francos Suiços ou Coroas Norueguesas. Falo de notas físicas que deverão ficar à guarda dos proprietários e nunca colocadas sob o controlo de gestores de conta, esses inimigos que andam aí à solta. Uma solução consiste em armazenar as notas numa caixa-forte. Existem empresas especializadas na tutela de bens de clientes a troco de um pequeno módico pelo arrendamento do espaço. A outra "divisa" histórica a considerar será o Ouro. Nada mais que pequenas barras que podem ser adquiridas em diversos tamanhos, com diferentes expressões de onças e valor. Para se ter uma noção, é possível começar com lingotes que custam um pouco mais de 100 euros. Não desejo ser alarmista nem sensacionalista. Teria sido entendido como um perfeito louco se recomendasse estas soluções há um par de anos, por exemplo durante a festa de uma Expo 98 ou de um Euro 2004. A história parece ser mais rápida agora, porventura porque ainda somos lentos na avaliação de risco que (não) fazemos, e não percepcionamos a urgência da situação em que nos encontramos, porque estamos entretidos a ver a bola passar. Passamos a viver numa época de favas descontadas. Resta-nos agora invocar Noé e tentar evitar a desgraça de um dilúvio que já afogou uma ilha e que irá galgar as margens do continente. Incontinente.