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O santo protector dos pequenos partidos, João Galamba, não tem fé na redução do número de deputados parlamentares. Eu compreendo a lógica da batata por detrás do seu raciocínio. Um número avultado de deputados serve para disfarçar a sua falta de qualidade e diluir o sentido de responsabilidade. Um país rico como Portugal deveria ter mais parlamentares para sugar ainda mais recursos ao "errário" público. É gente retrógrada como Galamba que atrasa o caminho do país. É gente desta que deseja eternizar as oligarquias partidárias que tornaram Portugal refém de favores e privilégios. É gente desta que tem medo da racionalidade que deve guiar as reformas que um país exige. É gente desta que ainda tem uma horda de crentes a seguir as pisadas de um caminho de desvio. É gente desta que defende o seu interesse, mas afirma proteger a auto-determinação dos partidos. É gente desta que Portugal coloca nos centros de pensamento e decisão. É gente desta que não aceita opiniões diversas quando a cantiga não lhe é favorável. É gente desta que se serve de uma imagem hippie, mas que acaba por ser reaccionário, conservador.
O que acontece a um simples empregado que não se apresenta ao serviço? O trabalhador que decide não aparecer no horário de expediente? Numa primeira fase será administrativamente repreendido, chamado ao gabinete do chefe para ouvir das boas, e, os dias de ausência laboral serão certamente descontados do salário. É mais ou menos este o procedimento. Nem sequer estou a considerar o despedimento com justa causa ao fim de um número assinalável de faltas. É assim que funciona o mercado laboral, o conceito de emprego e assiduidade no trabalho. E o que sucede na Assembleia da República? Existe um conjunto de justificações que pode servir os deputados. Esta é especialmente simpática: (...) "O n.º 4 do mesmo artigo estipula que, “em casos excepcionais, as dificuldades de transporte podem ser consideradas como justificação de faltas”. Segundo as contas do "centro de emprego do parlamento", o deputado João Soares é o mais faltoso de todos. Mas deixemos em paz o filho do pai da democracia em Portugal. Ele não é melhor nem pior que os outros colegas. No meu entender a solução é simples. Não aparece, não recebe. Ponto final. Não sei por que razão os deputados devem merecer tratamento discriminatório positivo - apresentam um atestado assinado pelo encarregue de educação política e fica tudo resolvido? É isso? Não. Se não contribuem para a produção legislativa e não estão presentes na Assembleia da República, acho que devem explicar muito bem a "missão parlamentar" e o "trabalho político" levados a cabo fora de portas. Porque como em tudo na vida há bons e maus. Tidos e achados. Perdidos. Pagos por cada um de nós.
Mr. Brown, A casta sagrada:
«Segundo alguns, o PR tem qualidade duvidosa. A Presidente da AR tem qualidade duvidosa. O PM nem tem qualidade duvidosa, pura e simplesmente não tem qualidade. O Seguro tem qualidade duvidosa. Os deputados, grosso modo, são de qualidade duvidosa. A maior parte dos que exercem cargos de nomeação política são de qualidade duvidosa. No entanto, os juízes do Tribunal Constitucional, escolhidos pelos deputados de qualidade duvidosa, são de uma qualidade suprema que os deixa imunes à crítica e que nos deve deixar plenamente tranquilos quanto à qualidade das decisões que tomam.»
Andou um pai (Adriano Moreira) a criar uma filha para isto. Como escreve António Araújo, "Numa leitura mais desprevenida, concluir-se-ia estarmos perante um simples rancho de palhacitos idiotas, um conjunto de betos urbano-depressivos imbecis com inclinações passionais suicidárias." E como assinala Filipe Nunes Vicente, este post "Concentra tudo o que é a cultura lambeadolescente, sexofílica, chupamédia e hipercorrecta de hoje." Ocorre-me ainda que a dita é deputada da nação. Faz sentido.
Miguel Castelo-Branco, "Quando é que os deputados vão para o desemprego?":
«Debate no Parlamento sobre o desemprego. Discursatas mal lidas e monocórdicas, com a elegância de desabafos na Ginginha do Rossio, gravíssimas falhas de dicção, de sintaxe e concordância, um português vão-de-escadas, umas figuras pouco menos que inexistentes; eles na pragmática do fateco cor-de-rato cinzento, elas a brincar às senhoras; todos de uma pobreza confrangedora deslustrando o sistema representativo e a democracia. Ouvi um homenzinho do PC, que Demóstenes condenaria às galés, mais uma serigaita do BE, uma máquina canora com a elegância de um piaçaba e uma Barbie envelhecida do PSD metida num embrulho rosa-choque acabado de comprar na loja do chinês da esquina.»
Jacinto Bettencourt sai em defesa de João Galamba no Facebook do Professor José Adelino Maltez, afirmando que aquele foi o segundo melhor aluno do seu curso. Parece-me que, entre a deselegância de Carlos Costa e o atrevimento de João Galamba, o problema são os nervos à flor da pele de quem já vai tendo pouca paciência para aturar a falta de verticalidade e a infinita capacidade de dobrar a espinha de certos deputados que mais parecem andar a brincar à política e a fazer dos outros parvos. Se, como refere Jacinto Bettencourt, João Galamba foi o segundo melhor aluno do seu curso, nem quero imaginar os outros. Espero que não andem pelo parlamento português.
Nota, em réplica ao Jacinto Bettencourt: quando falo em falta de verticalidade não é minha intenção entrar em questões de honra, longe disso. Apenas que, sendo o João Galamba um economista com credenciais que aparentemente o deveriam qualificar, deverá com certeza saber que muita da sua argumentação se baseia em mitos e falácias, pelo que ao incorrer nestes é intelectualmente desonesto, especialmente atendendo à sua função de deputado que, idealmente (mas eu já deixei de ser ingénuo), deverá ter uma componente de esclarecimento do debate público e dos eleitores. O mesmo acontece com Francisco Louçã, por exemplo.
A cobra atirou-se para cima do bote cheia de água na boca e logo gulosamente se enroscou no objecto de desejo. Engoliu a perigosa presa e preparou-se para uma reparadora soneca digestiva. Eis senão que surge um desmancha prazeres acompanhado por uns tantos curiosos e a pobre bicha é brutalmente assassinada. Embora o repasto fosse seguramente indigesto, o rastejante não merecia um tão triste fim.
E que tal se os nossos amigos brasileiros começassem a chegar à Portela com várias dúzias de clandestinos exemplares-bebé de sucuris, largando-as nos nossos rios? Isto é que era uma grande solidariedade lusíada!
Renato Sampaio é um deputado do PS. E é um deputado que nem em português correcto sabe escrever. É de uma execrável vergonha que um dos representantes da nação incorra com uma frequência e consistência atrozes em erros que são de levar qualquer um às lágrimas, sem falar nas suas deambulações que chegam a roçar o infantil. É ver as suas notas no Facebook. Deixo alguns excertos:
"Esta crise era evitável, desnecessária e inoportuna que colocam Portugal numa situação mais difícil ainda e os Portugueses sofreram as consequências desta irresponsabilidade."
"Com José Sócrates o PS vai enfrente e vai vencer"
"A partir de ontem tudo vai mudar no plano político, o PSD que até agora nunca apresentou qualquer proposta alternativa às propostas do Governo do PS, no primeiro dia após de terem derrubado o Governo legitimo da Republica, apresentou a primeira proposta – AUMENTO DO IVA – durante os últimos anos sempre rejeitou aumento de impostos e por aqui se vê o que aí vem."
"o PSD cada vez mais deixa cair a mascara"
"O Primeiro-ministro falou aos Portugueses e explicou bem e tudo o que havia para explicar"
"os Portugueses estão à altura e têm a capacidade para resolvermos os seus problemas e ultrapassar a crise"
" ajuda à muleta do FMI para atingir os seus objectivos, que são a de criar instabilidade política na tentativa de provocar eleições antecipadas"
"lançar o Pais numa crise politica encima de uma crise económica e financeira, mas a irresponsabilidade é ainda maior quando tem motivações internas e dentro do PSD."
E porque já não tenho mais paciência para me continuar a estupidificar com este senhor, termino com a minha favorita:
"Haver vamos o que nos esperam os próximos capítulos."
Ainda hoje em conversa com o meu estimado amigo Melekh Salem esse me dizia em relação a este post que a política portuguesa tem sim um grande sentido de humor. Só pode, como bem assinala Manuel Azinhal:
Eu arriscaria a dizer que é de facto um sentido de humor inigualável. Proponho é o que o meu amigo Melekh Salem ainda há pouco me dizia, se assim é esperamos que isso implique cortes salariais. É que sempre são menos dois dias úteis por semana.