Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Se Paul Lafargue fosse vivo pensaria duas vezes antes de escrever o célebre panfleto "O direito à preguiça". Hoje, na era das troikas, dívidas e calotes, a preguiça deixou de ser um desígnio para tornar-se numa imposição insuportável. Uma obrigação exigida pelos poderosos aos pobres de alma e pecúlio. Desocupados e desempregados, sem alegria nem propriedade, os pobres pé-rapados, os descamisados de hoje e de amanhã são e serão os grandes preguiçosos da Humanidade desumanizada. Lafargue provavelmente sorriria com a ironia desta estória, com a preguiça esparramada em conjunto com a miséria inapelável, no entanto, e como a vida não é feita só de ironias, o sofrimento que perpassa muitos estamentos sociais das nossas sociedades opulentas e anafadas é uma lição que nós, os que sabemos e verberamos este estado de coisas, jamais poderemos desprezar. O fim da felicidade aparente de alguns é sempre o começo do desespero de outros. Cuidado, nada é eterno, muito menos a paz dos sepulcros.
A tirania da boçalidade começa, muitas vezes, no esquartejamento da alma dos humildes de pecúlio. Ela chega quando à maré consumista arreada pelo crédito segue-se a miséria da desesperança. A miséria dos que, iludidos pelas promessas dos coronéis e mangas-de-alpaca da Política politiqueira, creram na felicidade perpétua. A realidade é bem mais dura, e quando ela nos bate à porta sob o signo da desocupação, a revolta nasce e a indignação floresce. Contra o Poder, contra os instalados. Não há democracia nenhuma que sobreviva a esta maré de mendicância.