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José Sócrates detém uma quota-parte da responsabilidade em relação ao sucedido em Alcochete. O facto de andar a fintar a Justiça com artimanhas de toda a espécie, instiga nos demais concidadãos a ideia de impunidade - a noção de que é possível prevaricar, adiar o sistema jurídico à exaustão, e sair em liberdade a tempo de ver a final da Malga de Portugal. Ou seja, os cerca de 50 encapuzados que se fizeram à Academia do Sporting levavam debaixo do braço marretas, mas também teses alicerçadas no argumento "apanha-me, se puderes". Por outro lado, Bruno de Carvalho lembra António Costa, mestre da normalidade pós-flagelo, sem mazelas traumáticas a apresentar. Pedrógão e Alcochete partilham o adjectivo - "foi chato, mas amanhã é um novo dia." Ambas as patologias são afinal a mesma doença decorrente da ausência de verdade e consequência. Assim anda Portugal - há tanto tempo. Se não cuidarem de certas premissas o bico de obra será ainda maior. Costa gosta muito de comissões e autoridades. Venha de lá mais uma para encher o olho.
No século XIX Antero de Quental propôs três razões para o estado do País de então:
A Reforma Católica e a acção dos Jesuítas;
O centralismo do país como resultado da Monarquia Absoluta
Uma economia debilitada pela Expansão Portuguesa.
Ora, hoje a Igreja não tem qualquer poder na sociedade portuguesa, não existe Monarquia (muito menos absoluta) e da Expansão Portuguesa resta pouco mais do que dois arquipélagos e a ilhota das Berlengas.
Se Antero voltasse, quais seriam, pois, as suas explicações para a recente quase bancarrota da República, o tempo de austeridade e o subsequente período de euforia?
Talvez o grande intelectual açoriano olhasse para as questões macroeconómicas, para os laços que hoje nos ligam à Europa e não aos territórios ultramarinos que tanta discussão geravam no seu tempo. Talvez questionasse a própria República, a partidocracia e os seus índices de corrupção. Talvez não se revisse no Socialismo tal qual ele é arvorado hoje em dia como garante de um escol de líderes e não como socorro dos mais necessitados.
Mas vendo a perda de influência da Igreja Católica, hoje reduzida a um lugar quase pitoresco, talvez Antero se voltasse para um fenómeno que parece ter ocupado o seu lugar: o Futebol. É curioso e ao mesmo tempo macabro e irónico que o «foot-ball» tenha chegado a Portugal pela mão da nossa «Aliada» Inglaterra, na mesma altura que esta nação «Amiga» nos impôs um Ultimatum (1890) e a cujo acto devemos uma das maiores crises da nossa História. Crise que, aliás, contribuiu para o suicídio de Antero em 1891.
Ora, nunca, como hoje, se impõe voltar a procurar as Causas para a Decadência dos Povos Peninsulares. Portugal e Espanha vivem reféns do futebol: ele determina a ascensão e queda dos políticos e até de nações (veja-se o caso da Catalunha), contribuiu para o adormecimento da opinião pública e do eleitorado e é utilizado como forma de propaganda para exacerbar identidades locais, regionais ou nacionais.
Para que servem os símbolos das nações de hoje que não seja para abrir, assistir ou justificar jogos de futebol?
Todo o ócio e toda a vida desportiva (e cultural) das massas gira em volta desse desporto. E os seus intervenientes tornaram-se semideuses, para os quais se voltam milhares de fãs e adeptos, procurando modelos e conforto para as suas vidas - de resto muito distantes das deles, ricos e poderosos.
Dificilmente em algum tempo algo foi tão consensual como o futebol. Na nossa política caseira, por exemplo, o futebol é algo que une a Esquerda à Direita, o Rico e o Pobre: é tema intocável, indiscutível e inalienável.
Ainda hoje se critica a Igreja Católica, outras igrejas e seitas religiosas e até alguns regimes ditatoriais pela facilidade com que operam mudanças e lavagens nas mentes dos indivíduos, mas desconfio que se o Cristiano Ronaldo ou outro qualquer jogador-ídolo sugerisse aos adeptos que o veneram como modelo heterossexual, de homem rico, bonito e mulherengo para baixarem as calças, poucos seriam os machos lusitanos que resistiriam ao apelo.
E nisto se resume o Estado da Nação.
«Não se discute Deus e a sua virtude; não se discute a Pátria e a Nação» - disse António de Oliveira Salazar. Talvez não tenha acrescentado o futebol, por pudor. Acrescentemo-lo agora a propósito das recentes comemorações benfiquistas.
O futebol é uma prática desportiva. Até aqui tudo bem. O desporto é uma característica que distingue a humanidade da sua biologia animal: hoje o Homem já não precisa de caçar para alimentar-se, nutrir-se e manter-se em forma para evitar ser caçado. Apesar disso no presente o Homem pode existir sem que isso implique mover-se.
Mas o futebol, ao contrário de muitas outras práticas desportivas, saiu, há muito tempo, fora das quatro linhas, tornando-se um espectáculo de massas, consubstanciado com o recurso a um vasto conjunto de artifícios, em grande parte motivados pelo luxo, pelos excessos e pelo desejo de poder – coisas que o comum dos mortais deseja como as pegas desejam os objectos brilhantes e que topam no seu longínquo voo.
O futebol não é, por isso, apenas, uma prática desportiva. A sua organização em equipas torna os seus fãs ou adeptos em milícias que visam enaltecer, proteger e defender (se preciso até à morte) uma pequena oligarquia de jogadores que vive acima das possibilidades do comum dos humanos. Mesmo nas equipas menos bem pagas, o clubismo transforma-se numa expressão longínqua da antiga vida em tribo. Sem necessidade de alianças para caçar e defender-se das grandes presas pré-históricas o Homem moderno usa o futebol como forma de catarse e exercícios de violência mantendo assim os níveis de epinefrina capazes de aguentarem a sua virilidade em pé.
Claramente difundido em algumas sociedades ocidentais (sub ou sobredesenvolvidas – o índice de desenvolvimento económico não é para aqui chamado como muitos argumentam) o futebol constitui, assim, a mais clara expressão de um comportamento hominídeo primitivo que articula a expressão violenta da subsistência com a sustentação de uma rivalidade inter geracional e rácica.
Toda esta conversa pseudo-sociológica e intelectual serve para resumir que há décadas que o futebol significa, mais do desporto: significa dinheiro, violência e absoluto desrespeito pela convivência entre indivíduos. Que se faça de um momento de violência um discurso pró ou contra agressores ou agredidos, nem sequer é ridículo. É escusado.
Devia, isso sim, discutir-se o futebol, o seu papel educacional e pedagógico enquanto desporto. Isso e só. Tudo o resto tem contribuído para a transformação da sociedade numa enorme massa uniforme de unanimismos. De facto não há assunto, pelo menos em Portugal, tão consensual como o futebol. Nem a democracia é tão consensual quando se trata de defender a imagem de um futebolista ou de um treinador. E isso é preocupante. Talvez assim se justifique que da Esquerda à Direita, todos os políticos, quando entrevistados introduzam o tópico do futebol como uma expressão de clubismo ou amizade saudável.
Mas o que se tem visto ao longo do último século é tudo menos saudável: além de uma excessiva participação estadual nos grandes clubes, a comunicação social aproveita-se daquele desporto em detrimento de outros assuntos, bem mais prementes do ponto de vista cívico.
Enquanto o futebol for assunto tabu dificilmente avançaremos do grau civilizacional onde estamos e que conduzem às imagens degradantes que as televisões, jornais e redes sociais têm repetido ad nauseam.
É que violência não é só a física e corporal…
Depois de muitos anos fechada, eis que a nova Piscina dos Olivais reabriu ao público. A notícia, tal como tem vindo a ser transmitida na comunicação social – sempre a boa imprensa de António Costa!! -, parece muito boa mas, enquanto lisboeta, olivalense e antigo frequentador deste espaço ímpar nos Olivais, parece-me que o espaço ficou bem pior. 1000 vezes pior, para ser mais preciso.
O espaço reabriu através de uma concessão a uma empresa espanhola, que nele investiu 10 milhões de euros depois de ter encerrado desde o início do século.
Primeira critica: Socialismo na gaveta; este espaço, outrora um espaço municipal foi cedido a interesses privados. Os munícipes, ou utentes, passam a clientes. A concessão é de 35 anos. Sim, leu bem, 35!!
Segunda critica: desvirtuamento do projecto inicial, no qual eram valorizadas as actividades ao ar livre, por entre espaços verdes bem cuidados, como, aliás, é apanágio dos Olivais. Ar livre? Espaços verdes? Não. O mercado pede é actividades indoor.
Terceira crítica: Então e o espaço exterior, anteriormente constituído por jardins, campos de ténis, campos de jogos e mini-golf? Não. O mercado pediu um parque de estacionamento para 300 automóveis.
Quarta critica: Em que se distingue este fitness club dos demais? Aparte o seu gigantismo, em nada. Mas como o povo gosta de coisas gigantes, aqui temos o Colombo dos fitness-clubs, com seis estúdios para aulas em grupo, uma sala de fitness, sala de máquinas, zona termal (piscinas, sauna, banho turco), padel e 300 lugares de estacionamento, claro.
Quinta critica: Projecto feito às três pancadas. Além das árvores arrancadas, relvados destruídos, campos de jogos abatidos, estacionamento XL, temos também a antiga bancada de 50 metros da piscina da anterior piscina olimpica virada para... a parede exterior das piscinas... Será projecto do Salgado?
Sexta critica: Os munícipes, perdão, clientes, passam a pagar 39,90€ mensais por um livre trânsito. Segundo Jorge Máximo, Vereador do PS da Câmara Municipal de Lisboa, “vamos ver até que ponto temos legitimidade para interferir na regulação de preços”, como disse em entrevista recente ao Público.
Coisas positivas? Bem o preço é competitivo face a outros empreendimentos da mesma natureza, esqueça-se o facto (já agora, importante) que este era um espaço municipal que agora passou a ser um espaço comercial.
Que dizer então da Piscina do Campo Grande e da Piscina do Areeiro? Estão ambas a ser alvo de investimentos da mesma natureza, igualmente de investidores espanhóis, ficando ainda por apurar se vai ser sujeito a abate espaço do jardim do Campo Grande em favor de mais um gigante espaço de estacionamento. Referiu ainda Jorge Máximo que o valor de investimento do grupo espanhol na Piscina do Campo Grande ascende a 10 milhões de euros e que estão igualmente a ser feitos investimentos avultados na piscina do Areeiro com vista à apresentação do mesmo tipo de serviços. Todos estes investimentos privados proporcionaram à câmara de Lisboa abster-se de fazer investimentos de cerca de 21 milhões de euros, de acordo com o mesmo autarca.
Refira-se ainda que em termos de piscinas municipais as coisas não vão muito bem. A Piscina Municipal da Penha de França encontra-se encerrada desde 2011. A Piscina da Avenida de Ceuta, inaugurada por Santana Lopes, encontra-se encerrada desde 2008. As restantes encontram-se encerradas ou altamente condicionadas aos munícipes em regime livre depois das 18 horas em virtude de estarem concessionadas a clubes ou associações.
(imagem picada daqui)
Há poucos desportos que me façam vibrar tanto como o futebol. Um deles é o atletismo. Por sorte assisti em directo à final dos 1500 metros masculinos nos europeus de pista coberta que decorrem em Turim, e qual o meu espanto quando vejo que Rui Silva estava em prova, naturalmente liderando. A dada altura parecia que os três espanhóis arrebatariam as medalhas, e foi com prazer que vi em directo Rui Silva aproveitar um erro destes e partir definitivamente para a conquista do ouro. Já hoje de manhã fiquei a saber pela televisão que Sara Moreira conquistou a prata nos 3000 metros. Fica talvez o indício ou o incentivo para que se recupere a tradição portuguesa da excelência em provas de fundo e meio-fundo. Parabéns a ambos e a Portugal!
(imagem picada daqui)