Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Nomeado a 11 de Março, sendo uma boa forma de Duarte Cordeiro dizer à sociedade portuguesa: "Estou-me ca*ando para a polémica das nomeações". Aliás, ao afirmar que "Nenhuma relação familiar pesou na minha escolha", demonstra o que continua a ser a falta de ética do PS nesta questão, pois seriam precisamente as relações familiares que deveriam afastar quaisquer possibilidades de nomeações. Explicava Montesquieu que "todo o homem que tem poder é levado a abusar dele” indo até onde encontra limites. Já se percebeu que não há limites, checks and balances, no sistema político português a este respeito. Agora ficamos a saber que já nem a vergonha constitui limite para os socialistas, comportando-se ostensivamente como donos do regime. Ora, como aprendi com um dos meus mestres, nós inventámos a política para deixarmos de ter um dono, um dominus ou pater. Quando se governa a polis como o pater domina a casa, a oikos ou domus, não estamos no domínio da democracia, mas sim do paternalismo e do despotismo. Por mais tergiversações e justificações que utilizem, nada disfarça a falta de ética e de vergonha do PS e os seus tiques de pendor autoritário.
O homem-massa está a entrar em ebulição. O fim do modo de vida dissipador empoleirado no pastiche pequeno-burguês terminará em breve, disseminando os seus escombros por todo o lado. O universalismo democrático, que produziu este homem atomizado, e que fez, também, as delícias de tanta intelligentsia ignara, sucumbirá sob o peso da dívida interminável. E a liberdade? Eis a questão do milhão de dólares. O Miguel Castelo Branco descreveu bem a coisa, alertando para um problema que, bem vistas as coisas, é o nó górdio da questão: os homúnculos que compõem os modernos regimes democráticos são "gente igual, violenta e incontrolável, presa dos instintos, falando com os punhos." Acreditam que, nestas condições, a liberdade será defendida? Não me parece. Mais, acredito que o que vem aí será, em grande medida, um futuro liberticida. Com a suprema unção dos estatistas do costume.
O Samuel De Paiva Pires, pertinente como sempre, fez alusão a um artigo de José Pacheco Pereira em que o sábio da Marmeleira afirma, preto no branco, que o Governo português é hayekiano cá dentro. Hayekiano? Concretamente em quê? No aumento de impostos? Na asfixia da economia privada? No inchamento do Leviatã? Pacheco tem a obrigação de saber que o espectáculo de incompetência a que estamos sujeitos nada tem a ver com Hayek. Rigorosamente nada. Os rótulos ideológicos não interessam nada, o que importa é, isso sim, a práxis política, isto é a acção política quotidiana. Quando muito isto assemelha-se mais a uma variante lusa de uma espécie que eu julgava em vias de extinção: o modo de governação à Calígula. O despotismo começa sempre assim: aumento de impostos e esmagamento do indivíduo. Em todas as épocas e em todos os lugares.