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Os pequenos devedores lá vão fazendo o que podem para pagar as suas prestações, quando em risco de incumprimento mal conseguem renegociar os seus créditos e aqueles que entram em incumprimento não se livram de ter as empresas de cobrança de créditos à perna durante anos, sem esquecer que são ainda incluídos na lista negra do Banco de Portugal, ficando impedidos de contrair empréstimos junto de qualquer instituição bancária. Por isso, da próxima vez que pensarem em pedir um empréstimo à CGD não sejam tímidos. Peçam logo em grande e não dêem quaisquer garantias. Se a coisa correr mal, paga o Zé Contribuinte. Não conhecem ninguém na Administração? Azar o vosso. Todos os animais são iguais, mas uns são mais iguais que outros, já dizia Orwell. Talvez esteja na hora de pararmos de brincar com o erário público e privatizarmos a CGD. E já agora, se não for pedir muito, responsabilizar criminalmente quem esteve nas Administrações que autorizaram estes empréstimos escandalosos.
No primeiro semestre do doutoramento, no âmbito da cadeira de Temas Aprofundados de Economia Política Internacional, escrevi um ensaio sobre a crise do euro que, eventualmente, virá a público até ao fim deste ano. O argumento central é o de que o diagnóstico alemão da crise é errado e, logo, a receita da austeridade também. Afirmo ainda que é politicamente insustentável manter o status quo e que ou acabamos com a zona euro como a conhecemos (partindo-a em duas ou acabando com o euro) ou há que aprofundar a integração europeia, provavelmente por via do federalismo. Boa parte das considerações económicas fundamentam-se em Paul De Grauwe (vide este artigo e a obra Economics of Monetary Union, já na sua 10.ª edição, embora eu tenha recorrido à 9.ª, a mais recente à altura), e as considerações de ordem política resultam essencialmente das minhas observações. Claro que os Maçães desta vida - o governo português - , discordarão. E, nos últimos meses, sempre que, recorrendo a argumentos que utilizei no ensaio, debati estas questões com economistas, alguns, talvez para disfarçar a falta de argumentos ou a incapacidade de duvidar das suas próprias perspectivas, não hesitaram em atacar-me apenas por não ter qualquer grau académico nessa magna ciência que é a economia. Dado que este ensaio foi avaliado em sede própria com 19 valores, por alguém doutorado em economia, nunca me preocupei muito com este tipo de críticas. Mas, nem de propósito, permitam-me dedicar-lhes uma entrevista a um economista formado na LSE, Philippe Legrain, que foi conselheiro de Durão Barroso. Pode ser que, sendo um economista a dizê-lo, consigam finalmente vislumbrar que há mais vida para lá da perspectiva alemã e que esta é profundamente errada e prejudicial não só a Portugal como à União Europeia. E, já agora, pode ser que também percebam a falácia da autoridade em que têm incorrido.