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Sabemos todos que money doesn´t sleep (lembram-se de Gordon Gekko e do filme Wall Street?) e que flui para onde é efectivamente melhor tratado. O Diário de Notícias revela alguns traços de nacionalismo-imobiliário com o artigo que "expõe" a apatia de investidores estrangeiros, que compraram imóveis de vulto no sentido de os restaurar e revender, mas que ainda não o fizeram. Não esqueçamos que grande parte desses palacetes e casas nobres foram erguidos com capital "excêntrico". Foram dinheiros oriundos de negócios internacionais que permitiram tamanha expressão faustosa ao longo da história de Portugal. Se pesquisássem com mais cabeça e menos paixão, cedo descobririam que João Frederico Ludovice era de facto Johann Friedrich Ludwig, ou seja um arquitecto "estrangeiro". Pela mesma lógica da batata, um investidor português que se aventure em projectos imobilários na Provence francesa, também seria obrigado a fazer obras no dia seguinte. Mas não é assim que acontece. Talvez seja boa ideia solicitar um estudo sobre a relação entre governos de Esquerda e a apetência para investir de entidades estrangeiras. Quem sabe, talvez tenham tido second thoughts. Talvez estejam a pensar com mais afinco sobre decisões tomadas em ambientes económicos e fiscais mais favoráveis. Os fundos de investimento imobiliário têm à sua disposição ex-políticos que sabem muito bem onde a vaca torce o rabo. Vieram de fora comprar? Em que século vive a autora desta peça jornalística. Não existe um fora e um dentro. A não ser que se construa um muro bem alto.
As CNN e New York Times deste mundo já não ocupam o palco central das conferências de imprensa organizadas pela presidência Trump. Os últimos da fila com a senha na mão passaram a liderar o processo jornalístico. A Fox News e o The New York Post são agora as estrelas da companhia. Os lugares cativos de certos opinion makers estão a ser redistribuídos. Hoje o Expresso e o Diário de Notícias, amanhã as Linhas da Beira ou as Notícias da Terra. Temos assitido ao pasmo e ao queixo caído de muito jornalista internacional, ou desta aldeia, que ainda não perceberam a revolução sistémica em curso. O excêntrico Donald, há poucas semanas não fazia parte do clube, mas agora ele é o country club - tem os tacos na mão. Os comentadores, aqui e acolá, ainda acreditam no regresso à convenção, à normalidade. Mas estão enganados. As regras do jogo são outras. No entanto, e em abono do karma jornalístico, foram décadas de preferências e versões coloridas que nos conduziram a este estado de arte, a esta vendetta. Foram muito poucos aqueles que ousaram partir a loiça. Retenho alguns na memória e poucos no presente. Penso no jornalista e investigador John Pilger, e na reedição da sua obra - The New Rulers of the World -, que pensava eu, por ter Chomsky na badana, ser um hino às virtudes de um campo ideológico em detrimento de outro, mas estava enganado. O homem distribui chapada a torto e a direito, à esquerda, em cima e em baixo. São relatores deste calibre os únicos com argumentos para confrontar Trump, ou seja quem for, em nome do processo democrático. Em vez disso, vemos microfones vendidos a simular entrevistas a presidentes da república, colunistas ao melhor preço de mercado, e a verdade dos factos a escoar por um cano de minudências e chatices. Ainda não entenderam que a tendência da política é hardcore, XXX? Enquanto os jornalistas andam aos papéis para ver se saem bem na fotografia e eternizam os favores, os danos são prolongados. E muito por sua culpa. Trump está a fazer tremer mais do que mera gelatina de cobertura mediática. O epicentro pode ter sido lá, do outro lado do Atlântico, mas aqui, seja qual for a jornada parlamentar, cheira mal e há tempo demais. As conivências políticas e os encostos de ombro de determinados jornalistas são flagrantes - as primeiras páginas parecem ser agora as derradeiras. Vai rolar muita tinta e algo mais.
Talvez alguém me possa responder: o Diário de Notícias (DN) pertence ao grupo de comunicação do Partido Socialista (PS)? Pelos vistos deve pertencer. Porque este artigo não consubstancia os princípios que devem orientar o jornalismo. Ou seja, a isenção. A objectividade de uma narrativa que corrobore os factos apresentados. A história publicada responde apenas a metade do inquérito, se quiserem, e inscreve-se na categoria de imprensa de campanha pré-eleitoral. O relatório apresentado pelo colaborador do PS, perdão, jornalista do DN, não explica como a dívida da Câmara Municipal de Lisboa foi reduzida na ordem dos 40%. Perguntemos então quantos bens imobiliários foram vendidos em hasta pública (muitos dos mesmos ao desbarato); perguntemos quais as taxas e impostos municipais que mais contribuíram para reduzir o défice autárquico (ou seja, que medidas de austeridade municipal foram implementadas); perguntemos quantos dos montantes em causa foram renegociados por forma a transitarem para a contabilidade de anos vindouros. Minhas senhoras e meus senhores, a Lisboa de António Costa não é o espelho do país. Reflecte mais. Vejamos a coisa por outro prisma. Se Lisboa é o menino bem comportado de Portugal, certamente que o governo deve ter tido alguma coisa a ver com isso. Por outras palavras, o governo não concedeu tratamento discriminatório a Costa e companhia só porque este se recusou a apresentar as contas, se é que estão bem lembrados. Acho bem que Costa queira ser transparente, mas convinha que também fosse da cintura para baixo, que fosse um exibicionista como deve ser. Para confirmarmos se há merda ou não.
Ainda não foi traçado o perfil psicológico do caso patológico que dá pelo nome de José Sócrates. À medida que a síndrome de prisioneiro se instalar no espírito do recluso, iremos ser contemplados com mais manifestações maníacas. A tinta vermelha da caneta BIC, que o ex- primeiro ministro usou para redigir uma nova reclamação, carrega outras angústias. Os especialistas, quando procuram estabilizar um certo padrão de comportamento de um alegado criminoso, servem-se de todos os indicadores para traçar o seu perfil. O vermelho (ou encarnado) reflecte, de um modo genérico, a tendência violenta, a predisposição para a agressão, e em consequência do desferimento do golpe, a fatalidade do sangue. José Sócrates ainda não desenhou todos os contornos do dilema do prisioneiro, mas para lá caminha. A teoria do jogo pode vir a tornar-se útil para tentarmos perceber o que nos espera. Sugiro também a leitura da obra de Konrad Lorenz - Sobre a Agressão -, embora esta última tenha a ver com comportamentos gregários. Ou seja, poderemos induzir que à medida que o recluso se sentir cada vez mais encurralado, irá, de um modo etológico, arrastar mais jogadores para o tabuleiro do desespero. Este caso está a tornar-se cada vez mais interessante. Nos meses que se seguem seremos fornecidos com muito material de estudo, bastante útil para redigir uma tése de doutoramento sobre ex-políticos com fétiches diversos - encarnados, encarcerados. Pouco importa. A cor dos factos não sofre grandes alterações.
São títulos deste género que me dão a volta ao estômago: "um médico, um piloto e um engenheiro entre os 852 sem-abrigo em Lisboa". Até podia haver um astronauta e um prémio Nobel a dormir na estação de Santa Apolónia. Ou será que existem sem-abrigo de primeira e outros de terceira categoria? Este tipo de notícia não serve grandes causas. Eterniza aquilo que retratou Portugal nas últimas décadas - a ideia de privilégio, a noção fortemente entranhada de estrato social, de hierarquia. Quais as implicações decorrentes deste relato? Que por haver diplomados nas hostes de sem-abrigo a matéria tem de ser endereçada politicamente como deve ser? Será que "o senhor engenheiro e sotôr" podem escolher os melhores locais no átrio da Estação do Oriente para encostar a cabeça? Francamente. Assim não vamos lá. O destaque dado a este pormenor de inquérito demonstra as distorções que susbsistem na sociedade portuguesa. Todos os homens tombam. E quando tombam, não interessa a patente que ostentam.
O Diário de Notícias relata neste apontamento de redacção que o governo pretende criar uma agência para atrair imigrantes ricos. "Pedro - o Lomba" (sim, Tadeu diz "Pedro - o Lomba", vejam o filme) foi encarregado de anunciar esta nova loja do cidadão abastado. A ideia, que parece ser um Sonho Americano invertido, serve para confirmar que a ideia de "self-made man" não funciona em Portugal. O governo quer a papinha feita. Quer que jactos privados aterrem na Portela com passageiros carregados de massa, dispostos a largar o guito assim sem mais nem menos. Ou que génios, netos de Einstein, venham estagiar em Aveiro a troco de uma bolsa furada ou coisa que o valha. Este proto-projecto esbarra com a ideia de mérito, de sucesso alcançado a partir do nada, da mala de cartão que chega, que vem e não vai - rumo a Paris. Esta solução apenas confirma que duas décadas de presença de brasileiros e ucranianos não foi suficiente para que estes vingassem e fossem bem sucedidos nos seus intentos. O ambiente não lhes foi propício. Vieram com uma mão atrás das costas e foram-se com as duas feitas num oito. Esta magnífica ideia, para além de discriminatória, por apelar às elites intelectuais e financeiras de outros países, constitui um atentado ao pobre coitado (nacional ou não) que não reúne os requisítos propostos. O conceito anda perto de práticas de regimes nacional-socialistas - um processo de selecção de uns em detrimento de outros. São estes os valores que Portugal agora encarna? O país que foi o primeiro a abolir a escravatura. E pensam que os outros são idiotas? Esses prospectivos milionários que querem captar, muito provavelmente foram eles próprios os indigentes nos seus países de origem. Homens e mulheres com um par de sapatos sem sola, nada no estómago e nos bolsos, mas que foram capazes de se construir a partir de muito pouco. Este atalho chico-esperto não passa disso e há outra questão ética e financeira que se apresenta na alfândega, nos serviços de estrangeiros e dinheiros. Serão notas limpas as que trazem na mala? Ou será que ninguém quer saber, desde que seja uma divisa consensual? Ao subscrever este tipo de medida, o governo passa um atestado de incompetência aos esforçados da casa e manda-os dar uma volta. Vai trabalhar malandro, não vês que estamos aqui a atender um cliente como deve ser? Isto é mau demais para ser verdade. Olha lá? Só agora é que me lembrei: eu também sou um imigrante!