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Ainda com dois posts por escrever, para completar o diário de viagem, cheguei cansado mas a dar bons-dias e a sorrir a toda a gente com quem interagi no aeroporto. Do outro lado só macambúzios e nem um 'bom dia' ou 'obrigado'. Esqueci-me que já não estou nos EUA. Depois desta decepção em vez de recepção à chegada a Lisboa, sendo presenteado por várias pessoas com a má educação/disposição característica de muitos portugueses (desde o tipo da alfândega ao dos câmbios, culminando com o taxista do qual não ouvi uma palavra e ainda tive que aturar os maus modos), cheguei a casa esta manhã, liguei a tv e ainda se falava do Pingo Doce. Dá vontade de ir já embora outra vez.
A terceira viagem levou-nos até ao estado da Flórida, mais precisamente à cidade de Pensacola e a Wakulla Springs. Em Wakulla tivemos a oportunidade de fazer uma pequena viagem de barco numa paisagem simplesmente deslumbrante, onde não faltaram os jacarés, ou melhor, os alligators.
De seguida visitámos a Apalachicola National Estuarine Reserve, a segunda maior reserva estuarina nos EUA, localizada na Baía de Apalachicola, onde 90% das ostras da Flórida e 10% dos EUA são produzidas.
Após uma longa viagem (4 horas) de autocarro, finalmente chegámos a Pensacola, onde nos dias seguintes reunimos com as autoridades locais, que nos elucidaram sobre a história da cidade e os diversos aspectos ambientais, esclarecendo-nos especialmente quanto aos problemas advindos do derrame de petróleo do Deepwater Horizon que ainda hoje se fazem sentir (continuam a ser recolhidas toneladas de petróleo todos os dias). É de realçar que actualmente a BP mantém-se na região, tendo até ao momento gasto 40 biliões de dólares para ajudar a recuperar as zonas afectadas e em compensações pelos prejuízos ambientais e comerciais a particulares e às autoridades públicas.
Outra situação particularmente interessante é a das chamadas Water Wars entre os estados da Flórida, Alabama e Geórgia. Resumidamente, a questão prende-se com as necessidades de água no sul da Flórida (uma região com pouca água doce e uma elevada densidade populacional) e no Alabama, que são afectadas pelo desvio de água para a Geórgia, visando suportar o desenvolvimento da cidade de Atlanta, e arrasta-se há já cerca de duas décadas nos tribunais estaduais e federais, pelo que eventualmente chegará ao Supremo Tribunal.
Por último, visitámos o parque das Gulf Islands, uma zona praticamente intocada pela intervenção humana e com uma areia branca paradisíaca (como toda a região de Pensacola), onde se pode visitar também o forte Pickens.
Esta estadia teve ainda dois momentos de particular relevo. Um, a chamada home hospitality, que consiste em jantar em casa de uma família americana. Para além de termos sido acolhidos por anfitriões extremamente simpáticos, o jantar estava simplesmente divinal, tendo sido até ao momento a melhor refeição que tive em solo americano. O segundo, e para concluir este post, foi a atribuição da Cidadania Honorária da Cidade de Pensacola. Aqui fica o registo fotográfico desse momento:
Ainda em Washington, usufruímos de várias reuniões com diversas ONG’s, gabinetes do Department of State, Department of the Interior e do Smithsonian, visitámos o Theodore Roosevelt Island National Memorial Park e ainda o Air and Space Museum. A 19 de Abril lá seguimos viagem até Burlington, Vermont. Por estes dias, visitámos o Vermont Institute of Natural Science (um instituto dedicado à reabilitação de aves como águias, corujas e falcões), o Marsh-Billings-Rockefeller National Park, o Echo (um aquário junta ao Lago Champlain), a primeira fábrica da Ben & Jerry’s em Waterbury, a vila de Stowe e a State House em Montpelier.
Cada vez mais patente e concreto na minha mente está o sistema de governo descentralizado dos EUA, com o seu foco no indivíduo e nos direitos individuais. Não existe Ministério da Economia, Ministério do Ambiente ou Ministério das Obras Públicas. Deixando de lado as questões de Defesa e Política Externa, prerrogativas do Governo Federal, a esmagadora maioria das decisões são tomadas ao nível estadual e, nos estados, nas cidades e vilas, pelos indivíduos que directamente se envolvem nos processos de decisão. Tomando como exemplo o Vermont, o planeamento sobre a utilização do território é feito por comissões locais compostas por voluntários, o que faz todo o sentido se pensarmos que 81% do território estadual é detido por proprietários privados. Claro que há uma tensão entre o indivíduo e a comunidade, mas a verdade é que o princípio da propriedade privada é sacrossanto. Sendo um limite à actividade governamental, isto obriga a que os processos decisórios sejam morosos mas tenham sólidas raízes na sociedade civil, que é verdadeiramente vibrante, com o espírito de associação que Tocqueville tão bem observou patente em toda a parte.
Em véspera de partida para Pensacola, Florida, saliento ainda como ponto alto destes dias o espectáculo de dança contemporânea da célebre companhia Alvin Ailey American Dance Theater a que tivemos o privilégio de assistir.
Deixo uma fotografia do Lago Champlain, com o estado de Nova Iorque do outro lado (quem quiser ver mais fotos e acompanhar estas 3 semanas mais directamente pode adicionar-me no Facebook):
Aquele estranho momento em que um americano me diz que não existe IVA nos EUA e que o chamado Sales Tax apenas em alguns estados vai além dos 9%, existindo ainda os que nem sequer cobram este imposto. Deviam ter visto a cara dele quando lhe disse que em Portugal o IVA está nos 23%.
Um tipo passa uns dias nos EUA, começa a perceber um pouco a cultura americana e como funciona na prática aquele que é provavelmente o melhor sistema de governo à face da Terra, que no seu cerne tem extremistas e radicais ideias “fássistas-ultra-neo-liberais” como o primado do indivíduo, o respeito e a valorização da propriedade privada, a importância das instituições da sociedade civil (o verdadeiro motor dos EUA), o federalismo como forma de difusão de poder e checks and balances que realmente funcionam e quando abre o Facebook e o Google Reader depara com os habituais disparates da paroquial esquerda portuguesa, não evitando perguntar-se como é que Portugal, ou melhor, a III República, com a sua constituição socialista e os 5 principais partidos políticos economicamente socialistas, chegou ao estado a que chegou. Quem os leia/ouça até fica a pensar que o socialismo funciona, que o Cavaquismo/Guterrismo/Socratismo, vulgo cainesianismo tuga, foi uma dádiva divina e não o que nos trouxe à actual situação humilhante – os papões dos mercados é que nos roubaram a soberania apenas porque acordaram para aí virados; nós, pobres coitados, herdeiros e representantes do socialismo/social-democracia, não fizemos nada de mal ao sobre-endividar 4 ou 5 gerações por nascer, por acaso aos mesmos mercados que agora insultamos –, que a União Soviética era uma maravilha e que Cuba, Coreia do Norte ou Venezuela lideram os rankings internacionais de desenvolvimento económico e humano. Enfim, humor involuntário de gente que se leva demasiado a sério, mas que só pode ser levada a brincar.
Ontem foi um dia tranquilo e com um tempo formidável em Washington, de fazer inveja a Portugal por estes dias. Após um tour guiado pela cidade e a tradicional paragem na Casa Branca, Lincoln Memorial, Washington Monument e Capitólio, e ainda pelo recente Martin Luther King Memorial e pela National Cathedral, aproveitei para ir à National Gallery of Art e ao National Museum of American History. Neste último, destaque para a Bíblia de Thomas Jefferson e um dos fatos de Benjamin Franklin, cujas fotos aqui ficam (quem quiser ver mais fotos e acompanhar estas 3 semanas mais directamente pode adicionar-me no Facebook):