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«(...) O que estamos acostumados a ler nos boletins de convocação do Dia da Mulher é a história de uma greve, que aconteceu em Nova Iorque, em 1857, na qual 129 operárias morreram depois de os patrões terem incendiado a fábrica ocupada.
A primeira menção a essa greve, sem nenhum dos detalhes que serão acrescentados posteriormente, aparece no jornal do Partido Comunista Francês, na véspera do 8 de Março de 1955. Mas onde se dá a fixação da data do 8 de março, devido a esta greve, é numa publicação, que apareceu em Berlim, na então República Democrática Alemã, da Federação Internacional Democrática das Mulheres. O boletim é de 1966.
O artigo fala rapidamente, em três linhas, do incêndio que teria ocorrido em 8 de março de 1857 e depois diz que em 1910, durante a 2ª Conferência da Mulher Socialista, a dirigente do Partido Socialdemocrata Alemão, Clara Zetkin, em lembrança à data da greve das tecelãs americanas, 53 anos antes, teria proposto o 8 de Março como data do Dia Internacional da Mulher.
A confusão feita pelo jornal L ´Humanité não fala das 129 mulheres queimadas. Aonde se começa a falar desta mulheres queimadas é na publicação da Federação das Mulheres Alemã, alguns anos depois. Esta historinha fictícia teve origem, provavelmente, em duas outras greves ocorridas na mesma cidade de Nova Iorque, mas em outra época. A primeira foi uma longa greve real, de costureiras, que durou de 22 de novembro de 1909 a 15 de fevereiro de 1910.
A segunda foi uma outra greve, uma das tantas lutas da classe operária, no começo do século XX, nos EUA. Esta aconteceu na mesma cidade em 1911. Nessa greve, em 29 de março [corrigindo: 25 de Março], foi registrada a morte, durante um incêndio, causado pela falta de segurança nas péssimas instalações de uma fábrica têxtil, de 146 pessoas, na maioria mulheres imigrantes judias e italianas.
(Foto do incêndio na fábrica Triangle Shirtwaist, Nova Iorque, em 1911. Fotos deste acontecimento têm circulado como sendo da suposta greve de 1857. Fonte: Wikipedia)
Esse incêndio foi, evidentemente, descrito pelos jornais socialistas, numerosos nos EUA naqueles anos, como um crime cometido pelos patrões, pelo capitalismo.
Essa fábrica pegando fogo, com dezenas de operárias se jogando do oitavo andar, em chamas, nos dá a pista do nascimento do mito daquela greve de 1857, na qual teriam morrido 129 operárias num incêndio provocado propositadamente pelos patrões.
E como se chegou a criar toda a história de 1857? Por que aquele ano? Por que nos EUA? A explicação, provavelmente, é a combinação de casualidades, sem plano diabólico pré-estabelecido. Assim como nascem todos os mitos.
A canadense Renée Côté pesquisou, durante dez anos, em todos os arquivos da Europa, EUA e Canadá e não encontrou nenhuma traça da greve de 1857. Nem nos jornais da grande imprensa da época, nem em qualquer outra fonte de memórias das lutas operárias.
Ela afirma e reafirma que essa greve nunca existiu. É um mito criado por causa da confusão com as greves de 1910; de 1911, nos EUA; e 1917, na Rússia.
Essa confusão se deu por motivos históricos políticos, ideológicos e psicológicos que ficarão claros no fim do artigo.
Pouco a pouco, o mito dessa greve das 129 operárias queimadas vivas se firmou e apagou da memória histórica das mulheres e dos homens outras datas reais de greves e congressos socialistas que determinaram o Dia das Mulheres, sua data de comemoração e seu caráter político.
Já em 1970, o mito das mulheres queimadas vivas estava firmado. Rapidamente foi feita a síntese de uma greve que nunca existiu, a de 1857, com as outras duas, de costureiras, que ocorreram em 1910 e 1911, em Nova Iorque.
Nesse ano de 1970, com centenas de milhares de mulheres americanas participando de enormes manifestações contra a guerra do Vietnã e com um forte movimento feminista, em Baltimore, EUA, é publicado o boletim Mulheres-Jornal da Libertação. Neste já se reafirmava e se consolidava a versão do mito de 1857.
Mas, na França, essa confusão não foi aceita tranqüilamente por todas e todos. O jornal nº 0, de 8 de março de 1977, História d´Elas, publicado em Paris, alerta para esta mistura de datas e diz que, em longas pesquisas, nada se encontrou sobre a famosa greve de Nova Iorque, em 1857. Mas o alerta não teve eco.
Dolores Farias, no seu artigo no Brasil de Fato, nº 2, nos lembra que, em 1975, a ONU declarou a década de 75 a 85 como a década da mulher e reconheceu o 8 de março como o seu dia. Logo após, em 1977, a Unesco reconhece oficialmente este dia como o Dia da Mulher, em homenagem às 129 operárias queimadas vivas.
No ano de 1978, o prefeito de Nova Iorque, na resolução nº 14, de 24/1, reafirma o 8 de março como Dia Internacional da Mulher, a ser comemorado oficialmente na cidade de Nova Iorque.
Na resolução, cita expressamente a greve das operárias de 1857, por aumento de salário e por 12 horas de trabalho diário, e mistura esta greve fictícia com uma greve real que começou em 20 de novembro de 1909. O mito estava fixado, firmado e consolidado. Agora era só repeti-lo.
Por que a cor lilás?
A partir de 1980, o mundo todo contará esta história acreditando ser verdadeira. Aparecerá até um pano de cor lilás, que as mulheres estariam tecendo antes da greve. Daquela greve que não existiu. A mitologia nasce assim. Cada contador acrescenta um pouquinho. “Quem conta um conto aumenta um ponto”, diz nosso ditado.
Por que não vermelho? Porque vermelhas eram as bandeiras das mulheres da Internacional. Vermelhas eram as bandeiras de Clara Zetkin, Rosa Luxemburgo e Alexandra Kollontai, delegadas dos seus partidos, à 1ª Conferência das Mulheres Socialistas, em 1907; e da 2ª, na Dinamarca, em 1910. Nesta última foi decidido que as delegadas, nos seus países, deveriam comemorar o Dia da Mulher Socialista.(...)»
Artigo completo: «O Dia da Mulher nasceu das mulheres socialistas», por Vito Gianotti, no Núcleo Piratininga de Comunicação (que não é propriamente de extrema-direita...).
Diz que hoje é Dia Internacional da Mulher. Entre o politicamente correcto e um certo desprendimento em relação a este tipo de datas - neste caso, talvez fruto da nossa matriz cultural católica e do culto mariano, que colocam a mulher num pedestal não apenas num dia em particular, mas durante todos os dias do ano - impõe-se desejar um dia feliz às mulheres. Aos homens, recordar apenas as palavras do Capitão Jack Sparrow: "A gentleman allows a lady to maintain her fictions." Elas fazem-nos o mesmo favor. É o que nos vale.
Alberto Gonçalves, crónica Esta rotunda pátria, sub-título "Os homens que dormem contigo na cama":
«Mais um ano, mais um Dia Internacional da Mulher. Alguns acham escandaloso que em pleno século XXI ainda haja necessidade de assinalar a data. Eu estranho que em pleno século XXI alguns ainda achem a data neces- sária. E sobretudo que algumas se empenhem tanto na respectiva comemoração.
A menos que a coisa possua virtudes insuspeitas, debater, louvar e sequer considerar o papel da "mulher" genérica é enlatar cada senhora numa categoria que lhe esgota a identidade e, à semelhança de qualquer categoria, a limita. Também é um embaraço para as mulheres que levam as suas vidas sem complexos ou favores e uma condenação das mulheres que não beneficiaram de idêntica sorte. Não imagino que uma criatura pensante goste de se ver totalitariamente definida pela etnia, orientação sexual, simpatia partidária ou níveis de colesterol. Ou pelo género. Não me admiraria que o ruído alusivo à efeméride fosse uma conspiração do macho da espécie para subalternizar a fêmea mediante piropos vazios e bajulação. Entre resmas de banalidades, juro que um "telejornal" exibiu Carlos Mendes a cantarolar Amélia dos olhos ooces a título de homenagem ao feminino. Se o objectivo não era reduzir o feminino a uma anedota, parecia.
E depois há o resto. Só por si, o facto de o Dia Internacional da Mulher ter começado como uma reivindicação sufragista e prosseguido como uma bandeira da propaganda soviética torna-o um bocadinho anacrónico, por um lado, e desagradável, por outro. O facto de o louvor das mulheres que ascendem ao poder tender para uma selectividade ideológica que exalta Pinta.silgo ou a "presidenta" do Brasil e achincalha Manuela Ferreira Leite ou Thatcher torna todo o exercício pouco credível. O facto de muitos dos entusiastas actuais se mostrarem aflitos com a discriminação, real ou imaginária, de uma "mulher" mítica nas sociedades ocidentais enquanto se deixam fascinar por culturas que continuam a tratar mulheres de carne e osso com desprezo e crueldade torna o exercício ligeiramente repugnante.
Na melhor das hipóteses, o Dia Internacional da Mulher legitima o cliché da mulher indefesa e carente de ajuda varonil. Na pior, serve-se das mulheres para alimentar interesses particulares. Vale que uma incauta capaz de cair em tão grosseiro truque é digna dele.»
Ainda que com mixed feelings quanto à existência deste, aqui fica o meu desejo de que todas as mulheres tenham um óptimo Dia Internacional da Mulher. Quanto aos homens, lembrem-se que estas não são iguais a nós, mas bem mais especiais do que alguma vez poderemos almejar ser. Têm dúvidas? Visitem o blog do Miguel Marujo, E Deus Criou a Mulher.
(Natalie Portman)
Eram muito "simpáticos e libertários", estes republicanos...
"As mulheres na sua maioria são verdadeiras crianças, com caprichos singulares, excêntricas exigências, são histéricas, nervosas, morbidamente tímidas, deploravelmente ignorantes. Em frente desta fotografia, o que pretendem as feministas, onde quer que elas existam?
Para disfarçar a sua infantilidade, os seus caprichos, as suas exigências, envergam um trajo tanto ou quanto possível semelhante ao do homem, para proteger o nervosismo, o histerismo, e a sua timidez, usam pistola e para acabar de vez com a ignorância, uma formatura. (…) Basta que ela saiba ser mãe para o que é preciso aprender. Uma parte desta sublime missão sabe-a ela instintivamente, outra desconhece-a geralmente - a educação dos filhos.Para isto é preciso despartilha-la; despi-la de muitos preconceitos que a perseguem e gritar-lhe bem alto ao ouvido: não sacrifiques a tua saúde ao rigor artístico dos figurinos porque ao desenhista nada custou a manejar o lápis sobre um pedaço de papel! "
Leia o resto do naco A Q U I !
E porque todos os dias são bons para ouvir Caetano Veloso, espero que todas possam encontrar reciprocidade nos seus sentimentos em alguém que lhes cante esta canção e que não só as faça sentir como iguais aos homens, que não o são, mas sim bem mais especiais do que esses alguma vez podem almejar ser:
Minha bem amada
Quero fazer de um juramento uma canção
Eu prometo, por toda a minha vida
Ser somente teu e amar-te como nunca
Ninguém jamais amou, ninguém
Minha bem amada
Estrela pura, aparecida
Eu te amo e te proclamo
O meu amor, o meu amor
Maior que tudo quanto existe