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Sempre desconfiei da concepção malrauxiana/langiana de intervenção na política cultural, intervenção essa, da qual nós, tugas imitadores de tudo o que sopra alhures, somos largamente tributários. Outra coisa bem diferente é a lógica da generalização malévola que perpassa todo o debate público acerca da política cultural. Não se esqueçam de um pormenor relevantíssimo: o dirigismo cultural do Estado é péssimo, o problema é que em Portugal não há mecenato, isto é não há sociedade civil que esteja disposta a despejar o vil metal na dita "cultura oficial", sem esperar grande retorno económico. O dilema é este, difícil e complexo, sem respostas pré-fixadas, nem guiões ideológicos suficientemente ajustáveis.
Deixo uma breve passagem retirada do terceiro capítulo da obra O Caminho para a Servidão, mais concretamente da versão disponível no site Ordem Livre, de Hayek:
"A centralização absoluta da gestão da atividade econômica ainda atemoriza a maioria das pessoas, sobretudo pela idéia em si mesma, mas também devido à tremenda dificuldade que isso implica. Se, todavia, estamos nos aproximando rapidamente de tal situação, é porque muitos ainda acreditam que seja possível encontrar um meio-termo entre a concorrência "atomística" e o dirigismo central. Com efeito, à primeira vista nada parece mais plausível, ou tem maior probabilidade de atrair as simpatias dos homens sensatos, do que escolher como meta não a extrema descentralização da livre concorrência nem a centralização completa representada por um plano único, mas uma judiciosa combinação dos dois métodos. Não obstante, o simples senso comum não se revela um guia seguro neste campo. Embora a concorrência consiga suportar certo grau de controle governamental, ela não pode ser harmonizada em qualquer escala com o planejamento central sem que deixe de operar como guia eficaz da produção. Tampouco é o "planejamento" um remédio que, tomado em pequenas doses, possa produzir os efeitos esperados de sua plena aplicação. Quando incompletos, tanto a concorrência como o dirigismo central se tornam instrumentos fracos e ineficientes. Eles constituem princípios alternativos usados na solução do mesmo problema e, se combinados, nenhum dos dois funcionará efetivamente e o resultado será pior do que se tivéssemos aderido a qualquer dos dois sistemas. Ou, em outras palavras, planificação e concorrência só podem ser combinadas quando se planeja visando à concorrência, mas nunca contra ela."