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Dias difíceis para Trump

por Samuel de Paiva Pires, em 06.09.18

Como se não bastasse o novo livro de Bob Woodward, em que Trump aparece recorrentemente retratado pelos membros da sua Administração como uma criança ignorante, este artigo vem confirmar a resistência de muitos destes membros e, creio, vai certamente espoletar uma acesa discussão na sociedade americana, desde logo porque, provavelmente, não tardará que alguém levante a questão da ausência de legitimidade democrática de membros da Administração e funcionários governamentais que frustram ou, pelo menos, limitam o alcance de decisões tomadas pelo Presidente dos EUA, mesmo que estas sejam disparatadas e contrárias ao interesse nacional. Por outro lado, a alusão à 25.ª Emenda irá certamente reforçar os que pedem que se incie um processo de impeachment. Entretanto, no Twitter, Trump invoca a segurança nacional para exigir ao New York Times que entregue o autor do artigo à Administração, revelando, mais uma vez, os seus tiques autoritários e mostrando que continua sem perceber como funciona uma democracia liberal e a liberdade de imprensa.

 

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publicado às 01:40

Make America Weak Again

por Samuel de Paiva Pires, em 14.07.18

Amy Zegart:

Trump has a foreign-policy doctrine, all right. He’s been advancing it with remarkable speed, skill, and consistency. Its effect can be summed up in one neat slogan: Make America Weak Again.

America’s preeminence on the world stage rests on five essential sources of power: neighbors, allies, markets, values, and military might. The Trump Doctrine is weakening all of them except the military."

(...).

International-relations scholars have long found that great powers typically fall for two reasons: imperial overstretch or rivalry with other great powers. Never in world history has a country declined because of so many self-inflicted attacks on the sources of its own power.

publicado às 14:01

Populismo à Portuguesa

por John Wolf, em 01.07.18

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Não existe uma estirpe de Populismo que possa ser considerada benigna. O hino "a minha alegre casinha" adjudicado pelos Xutos & Pontapés ao coro da Santa Geringonça não pode escapar à doutrina que postula a apropriação de símbolos avulso para fins propagandistas, políticos. A subida ao palco do Rock in Rio de diversas representações soberanas não é um populismo melhor do que o nacionalismo de Orbán ou o Trumpismo da Casa Branca. Com a aparente candura e inocência da bochecha rosadinha, Marcelo, Costa, Ferro e Martins (entre outros bivalves da comitiva mandante, consortes ou nem por isso) lá entoaram a versão pimba da melodia, já de si questionável em termos ideológicos, por ser uma faixa remanescente do Antigo Regime. É nessa pequena e alegre casinha onde deve pernoitar o cidadão português - quietinho e sem causar alarido - é essa a mensagem apaziguadora que passa em rodapé. Fernando Santos também lá podia estar a rufar versos da mesma melodia com a sua noção de desígnio-maior, assente no endeusamento intocável de Cristiano Ronaldo. Essa fé, repelente da objectividade analítica, é uma praga que tem vindo a atraiçoar a falsa-brandura dos costumes de Portugal. Sob a pretensa aura-suave da chefia das migrações ou da Organização das Nações Unidas, o país recruta e confirma o serviço de limpa-vidros tão útil para aliterar percepções e paixões. A graxa interna é semelhante à pomada esfregada no exterior. Com a ingenuidade da decoração atribuída, Portugal coloca-se a jeito da sua auto-valoração. A agência de rating política suprema passou a ser o Rock in Rio. Os tronos "branco-bronco" assentes sobre rodinhas, amestrados no palanque da realeza-selfie, atestam sem margem para dúvida o grau de sordidez que traja o poder em Portugal. O que o povo precisa é de circo. Um grande circo volante que dê guinadas para encobrir a falência do Serviço Nacional de Saúde, assim como a crónica e paliativa doença da Educação em Portugal e a nova crise financeira que não tardará a eclodir à luz da feroz guerra de tarifas entre a União Europeia e os Estados Unidos. Portugal não é os Estados Unidos. Mas aposto que Cristiano Ronaldo ainda se torna Presidente do Governo Regional da Madeira deixando os demais daquele coro com dor de corno. E sim, Cristiano, já o sendo, seria ainda mais populista do que é, e do que aquela cambada que diz que não sabe de nada sobre aventurismos políticos e perfis extremados. A pergunta colocada por Donald Trump é pertinente.

publicado às 15:10

A procissão ainda vai no adro

por Samuel de Paiva Pires, em 13.06.18

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Entre os vários modelos de análise de negociações internacionais, merece particular destaque o modelo provavelmente mais aproximado à realidade, proposto, em 1982, por Zartman e Berman, no clássico The Practical Negotiator. Este modelo, que se mantém actual, ainda que revisto e actualizado por G. R. Berridge, é simples e permite evitar resvalar para um dos dois extremos que se têm manifestado nos últimos dias, a celebração efusiva e a desvalorização do que Trump alcançou na já histórica cimeira de Singapura.

 

Resumidamente, o modelo prevê a existência de 3 fases em qualquer negociação internacional: a pré-negociação, a negociação e a pós-negociação/follow-up. A fase da negociação (ou around-the-table negotiations), por sua vez, subdivide-se em duas fases, a da fórmula e a dos detalhes. A fórmula é, essencialmente, um conjunto de ideias simples e abrangente que enquadra a questão a ser negociada, estabelecendo uma percepção partilhada sobre esta e uma estrutura cognitiva de referentes para uma solução ou um critério ou ideia de justiça a concretizar por via da negociação. No caso do acordo assinado em Singapura, a fórmula resume-se à ideia de "security guarantees for complete denuclearization", na medida em que Trump promete criar condições de segurança para a Coreia do Norte e esta, por seu turno, se compromete a desenvolver esforços no sentido da total desnuclearização, algo que muitos analistas não consideram uma possibilidade verosímil. 

 

Agora compete às equipas de negociadores darem conteúdo prático aos compromissos, na fase dos detalhes, aquela em que se estabelecem medidas e passos concretos. Ainda vai demorar algum tempo até percebermos se a Coreia do Norte irá realmente avançar no sentido da desnuclearização (algo que até só poderá ser perceptível na fase de pós-negociação), pelo que resta-nos esperar para ver como se desenvolverão as negociações, não sendo despiciendo assinalar que o modelo é meramente uma ferramenta analítica, sendo possível, na prática, que as fases se sobreponham e também que se regrida de uma fase posterior para uma anterior.

 

Sublinhe-se que isto não retira valor à cimeira de Singapura. O que Trump alcançou encontra-se fundamentalmente no domínio do simbólico, mas o encontro com Kim Jong-Un foi um passo essencial para o eventual desbloqueio da situação na península coreana. Do acordo assinado não se poderia esperar algo mais que uma manifestação de intenções generalistas, mas não se pode desvalorizar o facto de Trump ter sido o primeiro presidente norte-americano a sentar-se à mesa das negociações com um líder norte-coreano, nem a forma como conseguiu criar as condições para o encontro, recorrendo a uma retórica invulgar num presidente dos EUA. Se a retórica de Obama, que nos deixou um mundo certamente mais inseguro que aquele que tinhamos em 2008, mereceu um Prémio Nobel da Paz, o que premiará, gostando-se ou não da sua abordagem algo primária, a actuação de Trump no domínio da desnuclearização?

 

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publicado às 15:43

Trump e o Prémio Nobel da Paz

por Samuel de Paiva Pires, em 30.04.18

Miguel Sousa Tavares, na SIC, afirmou há pouco que se o Prémio Nobel da Paz for entregue a Trump, algo que foi hoje sugerido pelo Presidente da Coreia do Sul, a instituição do Prémio Nobel acaba e até a própria família de Trump se rirá a bandeiras despregadas. Sendo eu insuspeito nesta matéria, dada a minha opinião negativa acerca de Trump, e considerando as devidas cautelas quanto à concretização da desnuclearização proclamada por Kim Jong-Un, não deixa de ser irónico que Trump possa ser um factor determinante para a pacificação da Península da Coreia. 

 

Ora, atentemos na justificação do Comité Nobel Norueguês para atribuir o Prémio a Obama em 2009: “The Norwegian Nobel Committee has decided that the Nobel Peace Prize for 2009 is to be awarded to President Barack Obama for his extraordinary efforts to strengthen international diplomacy and cooperation between peoples. The Committee has attached special importance to Obama's vision of and work for a world without nuclear weapons.”

 

Claro que as visões e ideias são importantes, mas a concretizar-se a desnuclearização da Coreia do Norte, talvez valesse a pena relembrar, em linha com Maquiavel, que em política o que importa é a verdade efectiva das coisas e os resultados, não a imaginação. Como escreveu o florentino: “Nas acções de todos os homens, e mormente dos príncipes, em que não há um tribunal para onde reclamar, olha-se é ao resultado. Faça, pois, um príncipe por vencer e por manter o estado: os meios serão sempre julgados honrosos e por todos serão louvados, porque o vulgo prende-se é com o que parece e com o desenlace das coisas.” 

 

Mas claro que o Comité Nobel Norueguês pode sempre preferir continuar a desvalorizar a importância do Prémio Nobel da Paz. Afinal, a Academia Sueca tem feito o mesmo, com bastante sucesso, com o Prémio Nobel da Literatura. São, aliás, cada vez mais aqueles que atribuem pouca ou nenhuma importância à instituição dos Prémios Nobel - bem como às opiniões de Miguel Sousa Tavares.

 

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publicado às 22:35

Da violência política

por Samuel de Paiva Pires, em 23.08.17

Niall Ferguson, "There's more than one side to the story":

I do not remember Biden, much less his boss, tweeting “There is only one side” after any Islamist atrocity. On the contrary, president Obama often used his considerable eloquence to make just the opposite point. In his speech following the 2012 Benghazi attacks, he even went so far as to say: “The future must not belong to those who slander the prophet of Islam,” as if there were some moral equivalence between jihadists and those with the courage to speak critically about the relationship between Islam and violence.

Last week one of the chief executives who repudiated Trump, Apple’s Tim Cook, announced a $1 million donation to the Southern Poverty Law Center. Yet that organization earlier this year branded Ayaan Hirsi Ali (full disclosure: my wife) and our friend Maajid Nawaz “anti-Muslim extremist.” That word “extremist” should be applied only to those who preach or practice political violence, and to all who do: rightists, leftists, and Islamists.

Trump blew it last week, no question. But as the worm turns against him, let us watch very carefully whom it turns to — or what it turns turn into. If Silicon Valley translates “There is only one side” into “Censor anything that the left brands ‘hate speech,’” then the worm will become a snake.

 

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publicado às 12:22

Trump é um péssimo negociador

por Samuel de Paiva Pires, em 06.08.17

É o que fica patente na análise de David A. Graham a duas chamadas telefónicas de Trump, uma com o presidente do México, Enrique Peña Nieto, e outra com Malcom Turnbull, Primeiro-Ministro australiano. Graham conclui assim o seu artigo na The Atlantic:

Two countries, two leaders, two approaches—yet both succeeded, for different reasons. The calls with Malcolm Turnbull and Enrique Peña Nieto are not only a valuable document of how diplomacy works; they would also set a pattern. Time and again, foreign leaders have found that Trump is hardly the hardened negotiator he claims, but is instead a pushover. If they can get into a one-on-one conversation with Trump, they can usually convince him to come around to their position. If that was true on paying for the wall and taking refugees, it stands to reason it would be true for lesser Trump priorities, too.

 

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publicado às 18:34

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Aaron David Miller e Richard Sokolsky, "Trump is a Bad Negotiator":

Granted, international diplomacy is a lot tougher than cutting real estate deals in New York, and there’s still a lot of time left on the presidential clock to make Trump great again. But half a year into the Trump era, there’s little evidence of Donald Trump, master negotiator. Quite the opposite, in fact: In several very important areas and with some very important partners, Trump seems to be getting the short end of the proverbial stick. The president who was going to put America first and outmaneuver allies and adversaries alike seems to be getting outsmarted by both at every turn, while the United States gets nothing.

(...).

Let’s start with the president’s recent encounters with the president of Russia, a man who admittedly has confounded his fellow world leaders for nearly two decades. Apparently without any reciprocal concessions, the world’s greatest negotiator bought into Russia’s plan for Syria, where U.S. and Russian goals are in conflict; ended America’s covert program of support for the moderate Syrian opposition, then confirmed its highly classified existence on Twitter; and had an ostentatious one-on-one meeting with the Kremlin strongman at the G-20 dinner, sticking a finger in the eye of some of America’s closest allies. It’s bad enough to give Putin the global spotlight he craves while accepting Russia’s seriously flawed vision for Syria. But to do so without getting anything in return gives “the art of the deal” a whole new meaning. Trump’s failure to hold Putin accountable for Russian interference in the presidential election is the most egregious example of putting Russia’s interests first and America’s interests last, but it’s hardly the whole of the matter. There’s no other way to put it: Trump has become Putin’s poodle. If it weren’t for Congress, public opinion and the media, Trump would be giving away more of the farm on sanctions, Russian aggression in Ukraine and other issues that divide the United States and Russia. That’s not winning; it’s losing.

 

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publicado às 14:29

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Durante a última campanha eleitoral nos EUA, foram surgindo muitos apoiantes e acólitos de Donald Trump que, de certa maneira, se assemelhavam aos apoiantes de Obama que acreditavam que o primeiro presidente americano negro seria uma espécie de enviado divino com a missão de resolver todos os males no planeta. Claro que o entusiasmo pueril em torno de determinados líderes políticos (numa linguagem weberiana, alguns podem ser classificados como carismáticos), assim como a diabolização de outros, fazem parte da essência das campanhas eleitorais. Passada a campanha, quando o eleito é confrontado com a realidade política da governação, muitos dos seus eleitores acabam, inevitavelmente, por ver as suas expectativas frustradas, ao passo que muitos dos seus detractores, mesmo que não o admitam, acabam por perceber que o mundo não acabou e que a vida continua. Como ninguém está imune a este tipo de emoções, uma certa dose de pessimismo é, portanto, uma saudável recomendação para quem prefere afinar pelo diapasão da temperança. Por isto mesmo, não acreditei que Trump fosse um anjo ou o diabo, preferindo aguardar para ver no que resultaria a sua presidência. Quem tem acompanhado a política americana ao longo dos últimos meses reconhecerá que talvez fosse difícil fazer pior, salvando-se, no campo da política externa, como honrosa excepção, a mensagem que enviou à Rússia e à China por via do ataque lançado contra a Síria. Mas após o polémico episódio de há uns dias, em que Trump tweetou um vídeo de si próprio a esmurrar alguém com o logo da CNN no lugar da cabeça, estou convencido de que, embora não seja um anjo nem o demónio, Trump será, provavelmente, o mais patético líder político contemporâneo, um adolescente que, para mal dos EUA e do mundo, se encontra no mais poderoso cargo político existente.

 

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publicado às 15:42

Quando o partidarismo se sobrepõe ao interesse nacional

por Samuel de Paiva Pires, em 09.06.17

Jamelle Bouie, "Who Needs Rule of Law?":

Just one of our two parties is interested in checking this president’s abuse. The other, the Republican Party, is indifferent, content to tolerate Trump’s misconduct as long as it doesn’t interrupt or interfere with its political agenda. What defined Thursday’s hearing, in fact, was the degree to which Republicans downplayed obvious examples of bad—potentially illegal—behavior and sought to exonerate Trump rather than grapple with Comey’s damning allegations about the president. Sen. James Risch of Idaho, for example, pressed Comey on his claim that President Trump had asked the then–FBI director to drop the investigation into Flynn, suggesting that—because Trump didn’t give a direct order—we ought to ignore the clear subtext of the president’s statement. Sen. James Lankford of Oklahoma described Trump’s actions on behalf of Flynn as a “light touch.” Other Republican committee members, like Sens. John Cornyn of Texas and John McCain of Arizona, steered the conversation toward the FBI’s investigation of Hillary Clinton’s private email server. Still others, like Sen. Marco Rubio of Florida, defended Trump’s actions, blasting leaks to the press as efforts to undermine his administration.

 

Republican committee members were aided in all of this by the official organs of the GOP, which treated the hearings as a distraction—a partisan frivolity driven by Democrats and the press. “Director Comey’s opening statement confirms he told President Trump three times that he was not under investigation,” said a statement from the Republican National Committee that recommended a strategy of deflection. The RNC additionally argued that “Director Comey lost confidence of both sides of the aisle, and the president was justified in firing him.” House Speaker Paul Ryan, commenting on the procedures, defended Trump’s potentially illegal behavior as the mistakes of a novice. “He’s just new to this, and probably wasn’t steeped in long-running protocols,” he said.

 

(...).

 

James Comey’s sworn Senate testimony, both written and spoken, is evidence of one political crisis: A president with little regard for rule of law who sees no problem in bringing his influence and authority to bear on federal investigations. The Republican reaction—the effort to protect Trump and discredit Comey—is evidence of another: a crisis of ultra-partisanship, where the nation’s governing party has opted against oversight and accountability, abdicating its role in our system of checks and balances and allowing that president free rein, as long as he signs its legislation and nominates its judges.

 

Americans face two major crises, each feeding into the other. Republicans aren’t bound to partisan loyalty. They can choose country over party, rule of law over ideology. But they won’t, and the rest of us will pay for it.

 

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publicado às 17:00

A mensagem de Trump para Putin e Xi Jinping

por Samuel de Paiva Pires, em 07.04.17

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Não se consegue ainda perceber bem as consequências do ataque que Trump lançou esta noite sobre a base militar síria de onde alegadamente saíram os aviões que protagonizaram o recente ataque com armas químicas na Síria - ainda não foi confirmada a autoria deste ataque, embora a administração norte-americana afirme que tudo indica que a responsabilidade recai sobre Assad e a posição russa seja realmente risível. Alguns começaram já a condenar Trump por trair a retórica isolacionista em termos de política externa utilizada durante a campanha para as eleições presidencias do ano passado, outros afirmam que o ataque desta noite mostra um aventureirismo perigoso.

 

Eu prefiro sublinhar que Xin Jinping chegou ontem aos EUA para reunir com Trump e que tanto a China como a Rússia têm apoiado a Síria na ONU, o que me faz crer que a acção algo imprevisível de Trump comporta essencialmente uma mensagem para Pequim e Moscovo: há linhas que não podem ser atravessadas mesmo em contextos de guerra e os EUA não vão assistir impavidamente às acções de russos e chineses que atravessam essas linhas ou que apoiam quem as atravessa.

 

O ataque lançado pelos EUA é cirúrgico o suficiente para ser uma justa retaliação pela acção inqualificável de Assad, mas também, e mais importante, para servir como demonstração de força e enviar uma mensagem a Putin. E não deixa de ser ridículo ver o presidente russo, tantas vezes aplaudido por muitos por decisões imprevisíveis e demonstrações de força que ignoram ou violam o direito internacional e são justificadas por pretextos dúbios recorrendo a argumentos tipicamente utilizados por potências ocidentais, vir agora argumentar que a decisão de Trump viola o direito internacional, é uma agressão a um Estado soberano  e prejudica as relações entre EUA e Rússia. Ora, afinal, o que foram as invasões da Geórgia e da Ucrânia, e em particular a anexação da Crimeia, senão provocações da Rússia a todo o Ocidente e agressões a Estados soberanos violadoras do direito internacional?

 

A utilização recorrente deste tipo de argumentos por Putin, que não correspondem à prática russa, deixa bem patente a duplicidade do presidente russo que ainda vai passando algo incólume, mas a sua utilização no dia de hoje mostra também que Putin foi surpreendido por Trump e não sabe bem, pelo menos para já, como reagir - o que é muito positivo.

 

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publicado às 11:25

Sobre o populismo

por Samuel de Paiva Pires, em 01.02.17

Do que tenho lido por aí sobre o populismo, Donald Trump e os tempos em que vivemos, este é, sem dúvida, o melhor, mais claro e mais recomendável artigo.

publicado às 22:59

Trump, Pilger and Meet the Press

por John Wolf, em 23.01.17

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As CNN e New York Times deste mundo já não ocupam o palco central das conferências de imprensa organizadas pela presidência Trump. Os últimos da fila com a senha na mão passaram a liderar o processo jornalístico. A Fox News e  o The New York Post são agora as estrelas da companhia. Os lugares cativos de certos opinion makers estão a ser redistribuídos. Hoje o Expresso e o Diário de Notícias, amanhã as Linhas da Beira ou as Notícias da Terra. Temos assitido ao pasmo e ao queixo caído de muito jornalista internacional, ou desta aldeia, que ainda não perceberam a revolução sistémica em curso. O excêntrico Donald, há poucas semanas não fazia parte do clube, mas agora ele é o country club - tem os tacos na mão. Os comentadores, aqui e acolá, ainda acreditam no regresso à convenção, à normalidade. Mas estão enganados. As regras do jogo são outras. No entanto, e em abono do karma jornalístico, foram décadas de preferências e versões coloridas que nos conduziram a este estado de arte, a esta vendetta. Foram muito poucos aqueles que ousaram partir a loiça. Retenho alguns na memória e poucos no presente. Penso no jornalista e investigador John Pilger, e na reedição da sua obra  - The New Rulers of the World -, que pensava eu, por ter Chomsky na badana, ser um hino às virtudes de um campo ideológico em detrimento de outro, mas estava enganado. O homem distribui chapada a torto e a direito, à esquerda, em cima e em baixo. São relatores deste calibre os únicos com argumentos para confrontar Trump, ou seja quem for, em nome do processo democrático. Em vez disso, vemos microfones vendidos a simular entrevistas a presidentes da república, colunistas ao melhor preço de mercado, e a verdade dos factos a escoar por um cano de minudências e chatices. Ainda não entenderam que a tendência da política é hardcore, XXX? Enquanto os jornalistas andam aos papéis para ver se saem bem na fotografia e eternizam os favores, os danos são prolongados. E muito por sua culpa. Trump está a fazer tremer mais do que mera gelatina de cobertura mediática. O epicentro pode ter sido lá, do outro lado do Atlântico, mas aqui, seja qual for a jornada parlamentar, cheira mal e há tempo demais. As conivências políticas e os encostos de ombro de determinados jornalistas são flagrantes - as primeiras páginas parecem ser agora as derradeiras. Vai rolar muita tinta e algo mais.

publicado às 20:19

Make me normal again

por John Wolf, em 21.01.17

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Não é preciso ser cidadão norte-americano para sentir os efeitos de uma presidência nos EUA. Mas é preciso ser cidadão norte-americano (como eu) para sentir os EUA. Por mais que opinem e produzam statements a propósito da eleição de Donald Trump, há vários estereótipos que devem ser rejeitados. A ideia de que eventuais desvios aos princípios que se encontram na fundação da federação americana, e que consubstanciam o genuíno espírito da nação, serão tolerados, sem agravo ou consequência, por largos espectros da população, pela inteligência académica ou pelas grandes corporações de Wall Street. Estamos apreensivos em relação à inauguração de uma nova modalidade, porque nada disto é inédito, mas também não é exclusivo. Se realizarem a sobreposição de slides, verão, sem grandes equívocos, que Theresa May não é uma versão de Donald Trump. May, declama a sua pauta, uma palavra similar embora com variantes de discurso. Em todo o caso, trata-se de um slogan nacionalista e patriota, carregado de sentimento anti-imigração - Make Britain great again. O que está em causa essencialmente é um quadro mental de previsibilidade a que estávamos habituados. Fomos doutrinados durante tantos mandatos políticos que existe uma convenção estável, imutável. Fomos treinados a viver na sombra das consternações que seriam tratadas pelos lideres e representantes partidários. Recebemos em troca amostras de grandes promessas que se esfumaram em metas por alcançar. Aqui e agora, here and now, registamos o inverso. O juramento totalitário à partida, à cabeça. Um conjunto de absolutismos de tudo ou nada, sim ou não, you´re in or get the hell out. Há muito que vinha observando a patologia civil dos EUA - a ideia de autosuficiência intelectual. A ideia de que os outros são dispensáveis. O isolacionismo, implícito na narrativa, é apenas uma extensão natural da genética política, económica e social, construída no país que é a maior amálgama de nações extraviadas do mundo. Agora imaginem o sentimento de indefinição que se atravessa no meu ser. Para todos os efeitos, bons e maus, eu sou um cidadão dos EUA.

publicado às 11:41

Costa - o grande ditador de Esquerda

por John Wolf, em 23.11.16

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Costa está todo lançado. Está inspirado. Trump deu-lhe a volta à cabeça. A Europa está a ressacar de 50 anos de promessas furadas de estado social, liberdades e garantias, de pão e paz para todos, casa, carro e férias sem restrições, e agora, que a coisa deu para o torto, os conservadores fazem a festa. Ainda não perceberam que a cenoura à frente do burro já foi charro que deu urros? É o passe infantil da Carris para o menino e para a menina, é o falseamento das prestações devidas ao FMI, e de lenga-lenga a peta maior ou menor, a Esquerda continua a basear o seu guião no mesmíssimo filme que nos conduziu a este estado de arte. A promessa ou ameaça de António Costa permanecer para uma década de governação enferma de diversos vícios democráticos. Assume  a imaculada estância de verdade das suas propostas e concentra na sua figura o sucesso de um país inteiro. Apenas um crápula arrogante pode declarar deste modo despudorado ao que vem - poder fascina-o, o país logo se vê. A época do politicamente correcto acabou em definitivo. A sua confissão de peito aberto lembra regimes autoritários, ditadores que à época não dispunham do beneplácito dos media para ombrear intenções - eram a voz. Portugal prima pela excepcionalidade. Mas não será desta natureza. A Europa está a dar uma guinada forte e António Costa quer ser o cubano do continente. O último a descolonizar-se das balelas que já nos foram cantadas vezes sem conta.

publicado às 10:19

Trump e a banda The Socialists

por John Wolf, em 12.11.16

 

 

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O vocalista pop Eddy Cabrita, da banda Trump and the Socialists, percebe muito pouco de arranjos democráticos. Faz-lhe espécie que o princípio da maioria absoluta dos votos populares não tenha sido honrado nas eleições presidenciais dos EUA. Diz o intérprete que Hillary Clinton teve mais votos populares do que Donald Trump. Pois bem, teve sim senhor. Mas não é assim tão linear e "excêntrico" como ele julga. Que fique assente: eu sou a última pessoa à face da terra para tentar ser paternalista ou dar lições a almas extraviadas, mas a ovelha tresmalhada do rebanho do Rato anda a pedí-las. Nem sequer percebe da arquitectura democrática da União Europeia que tem o seu próprio sistema de "colégios eleitorais". A saber, e no que diz respeito ao Parlamento Europeu (em inglês, para não haver brigdes...):The allocation of seats to each member state is based on the principle of degressive proportionality, so that, while the size of the population of each country is taken into account, smaller states elect more MEPs than is proportional to their populations. As the numbers of MEPs to be elected by each country have arisen from treaty negotiations, there is no precise formula for the apportionment of seats among member states. No change in this configuration can occur without the unanimous consent of all governments. Como podem ver, os princípios subjacentes aos colégios eleitorais americanos fazem parte do sistema operativo dos Tratados da União Europeia. E a razão de ser dos mesmos pode ser explicado historicamente. Os EUA instituíram esta prática eleitoral que concede mais peso a uns Estados do que outros em virtude dos danos decorrentes da escravatura. Ou seja, um sistema político dinâmico deve integrar processos de reposição de equilíbrio que sirvam para limar assimetrias anacrónicas. Não sei por que causas o Cabrita se anda a bater nestes últimos tempos, mas talvez pudesse reclamar junto das instâncias europeias a revisão do sistema de quotas, por forma a que países-membros da União Europeia, vítimas da Austeridade, pudessem ter mais peso na produção política dos tempos que se avizinham que certamente farão ruir certas convenções mentais. A pastorícia socialista não sei se merece a subvenção política que tem recebido. Não se esqueçam do seguinte; durante mais de 40 anos prometeram justiça económica e social, mas está a sair-lhes algo diverso na rifa. Numa análise de continuidade, a eleição de Trump é também um processo a ter em conta em todos as sedes políticas deste lado do lago - largo do Rato e afins. A música pode ser outra, mas que é parecida é.

publicado às 08:58

Os media fascistas

por John Wolf, em 10.11.16

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Não irei poupar-me a termos e qualificativos de grande repúdio dos Media. E incluo na admoestação os meios de comunicação social locais, as antenas cá do burgo, as redacções europeias, os jornalistas-estrela e as suas empresas de inquérito de opinião. Como é que se puderam enganar de um modo tão flagrante em relação ao desfecho das eleições presidenciais nos Estados Unidos? A resposta: não se enganaram. Não foi um erro. O que aconteceu foi algo mais cínico. A comunicação não é livre, se é que alguma vez foi. Os canais de televisão pertencem ao aparelho. As networks pertencem ao establishment. É sobretudo a Esquerda que apregoa a liberdade de expressão, mas não a vejo indignada com os sucessivos enganos. E sabem porquê? Porque todos, sem excepção, alimentam a mentira. Todos sem excepção estão nas mãos de conglomerados de comunicação que os próprios criaram. O que aconteceu deveria implicar a criação de comissões para investigar as práticas convencionadas pelas empresas que realizam os inquéritos de opinião. Numa escala mais pequena, mas igualmente preocupante, também em Portugal os Media se encontram na dependência de poderes instalados. A eleição de Trump, se é para partir a loiça toda, e realizar um reset, não deve excluir uma abordagem transversal à questão. Quanto custa a mentira? Quem dá a ordem para a decepção? Se não obtivermos a resposta, apenas existe um termo a aplicar aos Media: fascistas.

publicado às 10:50

Mea culpa Trump

por John Wolf, em 09.11.16

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Começo por realizar um mea culpa. Deixei-me levar pelos media dos EUA. Acreditei, de facto, na imparcialidade dos jornais e estações de televisão, nas emissões com paineis de especialistas, nos fabricantes de sondagens e no status quo dos meus compatriotas. Não votei em Trump, mas à luz da sua eleição, devo conservar o espírito construtivo e procurar acreditar que o povo americano deve saber interpretar e moldar a excepcionalidade deste desfecho. Seria faccioso e fundamentalista político, mas acima de tudo hipócrita, se não responsabilizasse a própria Hillary Clinton pelos resultados e os limites das suas ambições. Houve, na senda do partido Democrata, uma insistência na velha escola, nos valores autofágicos, e na rejeição da revolução que não veio a acontecer. Enquanto conhecedor do sistema político americano sei que qualquer exagero comportamental de Donald Trump encontrará barreiras e fará soar alarmes. Quer o desejemos ou não, uma nova ordem mundial está a ser construída e assenta numa premissa fundamental. Os diversos povos do mundo há muito que vêm reclamando uma alteração das regras de jogo. Veremos como a Europa nos seus diversos processos electivos se reconfigura. Como já foi democraticamente enunciado no século XIX: I don´t agree with what you say, but I´ll defend to death your right to say it.  Em nome da nossa própria sanidade mental aguardemos então que as palavras descabidas de Trump apenas parcialmente sejam convertidas em actos, e que uma epifania política possa brotar do pântano de Washington que alguém diz que prontamente será drenado.

publicado às 09:03

Última hora! Hillary já é presidente!

por John Wolf, em 07.11.16

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Querem saber o resultado das eleições presidenciais? A resposta certa é: follow the money. Embora os mercados sejam apreciadores de estabilidade, anseiam por volatilidade. Mas essa dictomia, como tantas outras, encerra em si contradições. Os especuladores vivem à custa das rupturas sistémicas, mas a espinha dorsal de uma economia depende de previsibilidade, de racionalidade. Os ciclos tecnológicos não acompanham os mandatos políticos, ou o seu inverso. Nem Donald Trump é o revolucionário que afirma ser, nem Hillary Clinton será a simples continuadora como muitos a pintam. O problema que enfrentamos prende-se com o seguinte - a virtude já não se encontra no meio. As nossas sociedades vivem, mais uma vez, a era de extremos. E os mecanismos de controlo institucional do sistema político americano funcionam para evitar descalabros radicais. A investigação e o encerramento do processo de e-mails de Clinton funciona como um lembrete, uma mnemónica. Cada movimento de um detentor de um cargo público é escrutinado. Mesmo que Trump lá chegasse estaria condicionado pelo Congresso, a Câmara dos Representantes, o Senado e um vasto corpo de instituições dedicado à prerrogativa do checks and balances. Aliás, essa realidade decorre de um simples facto processual. A Constituição dos Estados Unidos da América (EUA) não dá azo a grande elaborações e subterfúgios - é curta e grossa, simples no seu enunciado. Na Europa a tradição constitucional é diversa, quase antagónica. Tantas vezes países da orla democrática se vêm perdidos no marasmo da complexidade constitucional. Veja-se o caso de Portugal. Aquele armazém legal permite acomodar tantos direitos consagrados, mas tal facto não implica que o país tenha processos democráticos mais transparentes ou seja mais consensual nas decisões que os seus governantes tomam. O dinheiro, por sua vez, não está sujeito a constrangimentos normativos de ordem política. Os meios financeiros elegem e derrotam candidatos numa base diária. Os mercados determinam a viabilidade ou não de projectos ou devaneios. Nessa medida, e servindo-nos de meros indicadores monetários que reflectem estabilidade ou volatilidade, podemos desde já declarar o vencedor da noite eleitoral de amanhã. Hillary Clinton, sem grande sobressalto, será a próxima presidente dos EUA. Não corro grandes riscos ao produzir esta ousadia de afirmação. Os mercados já colocaram na ranhura Trump. E quem somos nós para discutir com eles? Elas.

publicado às 10:14

Costa não está preparado para Trump

por John Wolf, em 04.11.16

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Aviso à navegação: o meu voto já chegou ao grande Estado da Pensilvânia. Agora não há mais nada que eu possa fazer a não ser especular sobre o resultado das eleições presidenciais norte-americanas. Na noite eleitoral estarei em Lisboa num evento oficial de acompanhamento dos resultados. Começa pelas 9 da noite e dizem que estaremos despachados pelas 3 da manhã. Mas tenho sérias dúvidas que a coisa ficará resolvida nessa mesma madrugada. Do meu ponto de observação privilegiado, ou seja Portugal, observo dimensões que pouco interessam ao comum dos mortais americanos. Uma coisa é certa: os europeus estão obrigados a desenhar alguns cenários que poderão determinar substantivas consequências nas suas existências. Se Hillary for a próxima presidente dos Estados Unidos, será um "mais do mesmo" -  nada de dramaticamente distinto será colocado em cima da mesa em termos de política doméstica ou externa. Por outro lado, e para referirmos o conceito de doutrina presidencial, somos forçados a rever as prioridades de Trump, e de que modo as suas opções poderão impactar a vida no resto do mundo. E penso na União Europeia e em Portugal em particular. Para quem não tenha ainda percebido, Trump já emitiu uma declaração de guerra económica ao resto do mundo. O slogan make America great again é mais do que um mero chavão. Implica efectivamente uma hierarquização acentuada do interesse nacional americano. A ênfase na geração de emprego para americanos. A relocalização de unidades fabris nos EUA. O repatriamento de dinheiros extraviados noutros destinos económicos. A insistência de que o dólar americano deve novamente ser uma divisa de força. O alinhamento de acordos estratégicos parcelares e limitados temporalmente. A colaboração com outras forças desequilibradores a leste e a oeste, a norte e a sul. O reconhecimento de iniciativas excêntricas movidas pelo destronamento de poderes instalados - penso no Brexit e penso em Putin. Ou seja, no quadro actual de volatilidade e incerteza, Trump acrescenta combustível à fogueira de um mundo que se encontra inegavelmente na fronteira de algo novo, mas certamente imprevisível. Por outras palavras, Trump é um produto da realidade que se estendeu e que consequentemente se esgotou nas últimas décadas. Mas não está sozinho na marcha de deconstrução. A Europa tem os seus próprios exemplos de agentes que visam a ruptura sistémica. Eu também acredito na mudança, mas não acredito que a mesma possa ser instigada de um modo passional e intensamente populista. Corremos alguns perigos por haver efeitos secundários que nunca devem ser subestimados. Nessa guerra que Trump declara, nem a União Europeia nem a NATO estão a salvo, e, numa escala ainda mais minuciosa, países com a dimensão de Portugal também não estarão à margem de ventos desfavoráveis. Darei apenas um exemplo. Se um intenso desordenamento de mercados resultante de certas iniciativas presidenciais americanas tiver tempo de sedimentação suficiente, os efeitos conjunturais dos mesmos passarão a ser crónicos. Se a tesouraria do Banco Central Europeu, que depende da banca global que por sua vez é controlada por conglomerados americanos, for afectada, é muito provável que Portugal e o governo de ficção de António Costa não consiga salvar o país de um descalabro. Existe sim uma cadeia alimentar política-económica-financeira que determina o destino das nações. Centeno pode inventar as teses que quiser, mas de nada servirão numa visão que transcende as ideologias monetárias e fiscais clássicas. E nessa medida, ao escutar o debate do Orçamento de Estado na Assembleia de República Portuguesa, vejo sobretudo crianças, alguns políticos, mas nenhum estadista capaz de interpretar os verdadeiros desafios que se nos apresentam. E essa ingenuidade corre em sentido contrário à acutilância cínica de Donald Trump. Os membros do governo e os deputados do parlamento português estão encostados à mesma árvore de sempre e tardam em perceber os perigos que Portugal, e para todos os efeitos, a Europa correm. Na próxima quarta-feira cá estaremos com uma sensação qualquer a dar a volta ao estômago. Não sei qual é. Não sei qual será. Aguardemos, com alguma ansiedade à mistura.

publicado às 21:16






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