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E quando muitos outros vêem nesta o obstáculo principal ao progresso do país, vale a pena lembrar um post sempre actual do Dragão:
«Conseguem imaginar? E já agora, imaginem também a mesma choldra mascarada de povo, entre eleiçados e eleiçores (representação, babam eles), que se entregou a todos os desregramentos, que converteu todas as leis e códigos legais numa nova espécie de papel higiénico regimental, que se marimbou para quaisquer regras milenares do civismo, vá lá, só mais um pequenino esforço, e tentem imaginar toda essa ciganagem cheia de inibições com a Constituição. A cultivar traumas e stresses...fobias angustiantes... O Código Penal não os inibe; as próprias leis da natureza não os inibem, o Diário da República funciona por conta, balcão, recreio e encomenda. Mas a Constituição inibe-os, coitadinhos. Revista e descafeinada, podada e recauchutada, ainda os inibe. Demove-os. Causa-lhes aquela disfunção eréctil mental em que vivem diante da realidade. Com a inteligenciazinha mirrada, a moral descartável e a coluna vertebral gasosa, assistindo, frustes e gelatinados, às contínuas violentações socialistas. A constituição é que não os deixa, é que os impede, é que os obriga a ficar assim, hirtos, meros portadores dum acessório inútil, triste, pendente.. Todavia, uma gaitita mágica, fadada misteriosamente, intimamente agregada ao futuro da nacinha. Este só se endireitará quando eles endireitarem aquela. Mas primeiro, detalhe crucial, condição sine qua qua, há que lhes tirar a Constituição da frente. Porque então, então sim, livres dessa maldicinha, a realidade vai ver e, sobretudo, eles vão conseguir ver e encarar a realidade.Sem complexos. E a economia vai trepar nos gráficos à medida e ao ritmo com que a sapiência protuberante for capaz de lhes trepar na barriga, à conquista do umbigo. E ninguém duvide: no mínimo, será vertiginoso!...»
Apetece-me relembrar dois posts do Dragão. O primeiro, Para que conste - I:
«Estado e Finança são inseparáveis. Entretecem-se e reforçam-se. Afinal, sempre foi preciso financiamento para exércitos e obras públicas. Só que como o Estado em relação à Nação, também a Finança começa por servir o Estado e acaba a servir-se dele. Por outras palavras, assim como a Nação desenvolve um Estado, o Estado desenvolve uma Finança. À medida que se hipertrofia o Estado, hipertrofia-se ainda mais a Finança. Necrose com necrose se paga. Quanto mais o Estado devora a Nação, mais a Finança digere o Estado. De modo que a sujeição nanificante (e nadificante) da nação a um estado descomunal agrava-se pela subserviência deste a uma Finança desorbitada e exorbitante. E tanto assim é, e tem sucedido, que podemos hoje em dia testemunhar o nosso próprio Portugal a ser estrangulado por um Estado que a Finança traz pela trela.»
E o segundo, Os otários que paguem a crise. É para isso que eles existem:
«Entretanto, o país de regresso à sua penúria tradicional, do ponto de vista dos ricos e seus acólitos, é positivo: quer dizer que o país, de volta ao terceiro mundo e à realidade, está a transformar-se num país mais competitivo, com mão de obra mais barata e menos esquisita. Para os pobres, os verdadeiros, também não faz grande diferença: abaixo de pobres não passam, e já estão habituados. Concentram-se no futebol, na pinga e lá vão. Os únicos que, de facto, têm motivos para se preocupar seriamente são aquela classe heteróclita e intermediária – daqueles que vivem digladiados entre a angústia de regredirem a pobres e a ilusão de, num golpe de asa, ou por qualquer súbita lotaria do destino, ascenderem a ricos. Esses, temo-o bem, vão ter que sacrificar-se, mais uma vez, pela competitividade do país. É, aliás, urgente que desçam do seu pedestal provisório e se compenetrem dos seus deveres atávicos. São para isso, de resto, que, cíclica e vaporosamente, são criados.
Os liberais apontam o dedo aos socialistas, estes apontam o dedo aos primeiros, e os constitucionalistas (os verdadeiros e os putativos) gritam "isso é inconstitucional" a toda a hora quando se formos a ver bem, há muitas coisas que se fizeram nas últimas décadas que são inconstitucionais. O Dragão resume bem esta loucura, num texto que já li umas quantas vezes e que aqui deixo na íntegra:
Mais um magnífico e inspiradíssimo post do Dragão, cuja leitura integral constitui um regalo intelectual. Ficam alguns excertos para abrir o apetite:
«Toda esta gente, bem no fundo, padece apenas dum mal das tripas -dado que neles o aparelho digestivo é mais complexo que nas pessoas normais, fazendo o cérebro parte crucial dele, na forma de tripa superior, ou intestino grosseiro -, que se resume num nome simples:: estrangeirite. Se o resto da europa tinha tido, nós também tínhamos que ter. Fascismo, claro. Se os outros partidos comunistas se tinham coberto de glória na luta contra a besta fascista, era imprescindível que eles não ficassem na hora do desfile triunfal. E assim, da noite para o dia, em patrocínio da farinha Amparo, o país amanheceu não apenas inundado de socialistas, comunistas e social-democratas efervescentes, aos molhos e aos saltos, mas, todos eles, com kit e curso anexo de antifascismo instantâneo e, em muitos casos, por correspondência. Ou mera osmose manifestante.
Este antifascismo de alguidar continua presente nos actuais anticoisos, só que reforçado agora dum anti-socialismo belicoso de ocasião. Porquê? Porque pertence ao passado, o putativo socialismo, e como lhes compete varrer e romper com todo o passado, urge obliterá-lo sem dó nem piedade. E mesmo que já não exista enquanto realidade, mas apenas enquanto fantasma, trauma ou resquício, isso só amplifica a urgência e o alarido extirpador. Em nome de quê? Já nem se percebe bem. Qualquer coisa que há lá fora, qualquer receita estrangeira. Tanto melhor quanto agora, mais que copiada estupidamente, até é imposta e administrada pelos próprios estrangeiros. E nem já a crédito, ou engodo, como a desbunda anterior, mas a descrédito, e por castigo de todos os pecados colectivistas, como manda a boa prática sado-masoquista. Do Portugal SA, passamos assim, sem transição nem anestesia, ao Portugal S&M.
(...)
Os anticoisos esquisitos, avançados mentais da hora presente, também estão imbuídos da convicção plena que para fazer a economia crescer é imprescindível primeiro reduzi-la a quase nada. (É consabido que crescer a partir de quase nada é bem mais fácil e provável do que crescer a partir do que quer que seja em dimensão apreciável. Do nada fez Deus o universo, e do zero qualquer unidadezinha que seja bota figura. Aliás, quando o crescimento no 1º mundo se torna proplemático ou periclitante, nada como regredir o país ao terceiro para vê-lo ganhar balanço e trampolim).
(...)
O Dragão, Exibicionistas & mirones. Lda:
«Neste país ressaltam dois tipos de indignados militantes: os que se indignam com tudo; e os que se indignam com nada. Os que se indignam com tudo, qualquer coisa lhes serve, não são esquisitos, a mínima pentelhice os acende- são os chamados tipos de indignação fácil. Estão sempre em prontidão indignativa, à espreita de qualquer ninharia crocante.. Já os que se indignam com nada, geralmente nenhuma coisa concreta os indigna (o país podia ser até invadido por marcianoss em metódica chacina de criancinhas e velhotes só por mero capricho tecnológico, que isso não lhes causaria o mínimo espanto, nenhuma revolta e, nem por sombras qualquer esboço de indignação; afinal, os marcianos eram mais ricos e evoluídos...) - são as criaturas de indignação difícil. E não digo impossível porque, na verdade, há um caso excepcional e único em que se indignam e barafustam ruidosamente: é com as indignações dos anteriores. Estão sempre de plantão, à coca deles, e quando os detectam a indignar-se com qualquer ninharia crocante, rompem de imediato a indignar-se com essa indignação fácil, ad nihil. Não sei se além de difícil, não será também ciumenta dessa potenciazinha demiúrgica.. Requentada é, invariavelmente.
Há realmente, entre nós, uma direita de conveniência intrinsecamente mirone: passa a vida a espreitar a esquerda. A excitar-se muito com ela. Há nisto qualquer coisa de perverso... Eventualmente, nem se indigna: onaniza-se.
PS: Outra fórmula de definição seria os disentéricos da indignação versus os dispépticos.»
O Dragão, Frases Assassinas X:
«A liberdade não se apregoa: exerce-se!
A liberdade, como exemplifica (segundo Aristóteles) o único Ser realmente livre do cosmos, tem um preço: a solidão.»
O Dragão, Naufrago, logo existo:
O Dragão, "Introdução ao Paradoxo - III.A nobreza do carácter antes da pureza do sangue":
- Aristóteles, "Retórica"
Porém, qual o termo na língua grega com que Aristóteles (e a antiguidade) designava "nobreza"? Eugenia, nem mais. Uma palavra que, como calculam, irá fazer uma grande - e abissal - viagem..."
O Dragão sempre em grande forma, a respeito dos feriados:
«Senão, recapitulemos os tais "feriados civis"... Num desgraçado lugarejo onde impera o mais ignóbil feudalismo partidocrático e sectofágico, celebra-se que república no dia 5 de Outubro? Num insectódromo olímpico de venalidades, vacuidades e falsos-prestígios onde vigora a ditadura alarve do cacique eleito e telecomandado do momento, celebra-se que liberdade e democracia no dia 25 de Abril? Numa suinicultura de comadres, compadres, nepotes, mastins, pinóquios, esquemas endogâmicos a vapor e castas a diploma, onde viceja a açambarcamento do emprego pelas pseudo-elites e o desemprego, a precaridade ou o exílio para a generalidade da população, festeja-se que Trabalhador no Primeiro de Maio? Num país falido e restejabundo, entregue ao futebol, à telelobotomia, à ignorância ufana e roncante, e, para cúmulo da invertebrância pato-bravosa, à ditadura financeira externa, consagra-se que Independência no primeiro de Dezembro? E, finalmente, como dizia o Almada, num sítio mal frequentado onde Camões morreu de fome e Portugal morre de nojo e vergonha dos seus habitantes a cada dia que passa, exalta-se que Camões, comemora-se que Portugal?»
Há umas semanas, o Luís M. Jorge notava que o Maradona havia desaparecido da blogosfera nos meses que precederam o lançamento do recente O Meu Pipi - Sermões, daí decorrendo a sua sugestão de que poderíamos estar em presença da mesma pessoa. O vocabulário e a escrita do Maradona são, sem dúvida, de um plano muito superior ao que habitualmente se encontra na bloga. Contudo, há outra referência blogosférica que também desapareceu durante uns meses, para regressar nas últimas semanas, e em grande. Trata-se, claro, do célebre Dragão. Se bem que seria um caso verdadeiramente notável e surpreendente, pois ao contrário do Maradona, o Dragão não tem por hábito o tipo de escrita do Meu Pipi, a verdade é que nem mesmo o primeiro se compara ao segundo no que ao vocabulário concerne. E tal como o Pipi consegue escrever coisas verdadeiramente admiráveis, com uma erudição vocabular fenomenal, também o Dragão o faz. Ora atentem:
«Bem, à falta gritante de ideias próprias, o cromo que nos pastoreia teve a humildade de apelar às ideias dos outros. Louve-se o público reconhecimento e auto-penitência deste vácuo cabeludo. O problema é que, para bucólico enredo, as ovelhinhas são de todo dignas do pastor. E como se tal monturo não bastasse, sobram umas regras ainda mais lazarentas que o presépio. Atente-se só neste detalhe formidável: a melhor ideia é necessariamente a mais votada. Supimpa! Fazendo fé nos últimos trinta anos, o resultado acabado e resplandecente duma série de votações maioritárias em determinadas "ideias" a concurso é, entre várias outras maravilhas, a bancarrota, a perda da independência, a ruína moral e económica, a usurpação da república por seitas e séquitos, a administração da injustiça, a cleptocracia burocrática.»
O Dragão em grande, Para que conste:
«Concentremo-nos, para já, na frase "o regime fiscal destrói o país". Terá acontecido então, no crepúsculo do século XVIII, mas experimentamo-lo também agora, na aurora do século XXI. Pelos vistos, repetem-se as cenas históricas, como se repetem as crises e alguns dos seus ingredientes característicos. E não deixa de ser espantoso como o "estado" dum determinado país atenta contra ele, país, e, por conseguinte, e a limite, contra si próprio. Enigma capital: o que levará um aparelho de estado ao suicídio - à cegueira de não ver que quando agride alarvemente aquilo que o sustém é a sua própria derrocada que escava? Em suma, o que é que transporta aquilo que é suposto ser uma sofisticação civilizacional, num súbito roldão, à barbárie revisitada?
Espelho meu, espelho meu, no Dragoscópio:
O escarcéu que para aí vai, por esta blogosfeira a fora, só por causa de mais uma eleicinha folclórica!... Não percebo tanta peixeirada por coisa tão pouca. Aliás, percebo, mas hoje sinto-me a transbordar de bonomia. No fundo, boys and girls, tanto noise para quê? Vamos, deixem-se de fitas. Façam lá as pazes e abracem-se em santa confraria, numa amena vernissage oxiúrica. Todos sabemos (pelo menos os que não se auto-lobotomizam fervorosamente) que, em matéria de virtude, a honestidade do Pufessor Cavaco é praticamente tirada a papel químico do patriotismo do Poeta Alegre.