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Mercado de falências éticas

por John Wolf, em 24.09.16

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O mercado de falências éticas não está fechado. Aliás, nunca fechou. É um centro comercial aberto 24 sobre 24 horas. O mais difícil é chegar a um preço justo, dados os valores em causa. Quanto vale meia dúzia de homenagens a Sócrates? Será que se podem trocar duas por uma nomeação quente na Goldman Sachs? E os Isaltinos podem ser transaccionados no mercado secundário? Não existe uma entidade reguladora para estabelecer as paridades? Dois Cadilhes por uma Felgueiras? Uma antiguidade Oliveira e Costa por um Pedroso restaurado? Um SISA Vitorino por um terço de BPN Rendeiro? Acho vergonhoso que não exista um supervisor que ponha cobro a este mercado negro. Já agora quanto rende um Carlos Alexandre? Meio Pinto Monteiro? Ou três paletes de Procuradores da República? Será que cabe tudo numa caixa geral?

 

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publicado às 10:36

Bomben Auf Engeland

por Nuno Castelo-Branco, em 28.06.16

 

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Quando pensamos que descer mais é impossível, eis que somos surpreendidos por aqueles que em princípio mais moderação e distância deveriam mostrar. Está-lhes no adn apontar o dedo a todo o tipo de extremistas, desde os recauchutados ex-maoístas agora impantes de bazófia e que chegam a Lisboa para debitar mais umas tantas lições que apenas eles próprios escutam, até aos outros, aqueles geralmente anónimos à imensa maioria que distraidamente vai clicando o zapping à cata da bola do momento. 

O que hoje se passou no areópago europeu, foi bem a prova final daquilo que há muito todos suspeitávamos. Um Juncker enigmaticamente sóbrio, desferiu todo o tipo de impropérios em direcção a N. Farage, o eterno risonho que tem a certeza de que todas as suas provocações cairão infalivelmente no saco profundo de entes tão bestiais como o desaparecido van Rompuy e aquele outro belga de nome impronunciável, aspecto duvidosamente gelatinoso e melena longa artificialmente colorida.  Tudo isto muito divertido e que afinal preenche o tempo de um "parlamento" que nada propõe nem decide a não ser aquilo que lhe chega de outros gabinetes. Para além das missas de corpo presente, conferências abastecidas de gordos pastéis, chorudos salários e subsídios pessoais para as mais inimagináveis coisas, para pouco mais tem servido. 

O Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte, inesperada e subitamente foi transformado numa espécie de Líbia dos tempos de Kadhafi, ou na gémea europeia da Coreia do Norte, à falta do Uganda de Idi Amin. Tornou-se num Estado pária.

Chovem os insultos, rosnam irritações e querem rapidamente expulsar o país que inventou a democracia da qual beneficiam todos eles. Afinal de contas, tooa este desabar de frustrada raiva não passa de um rápido encontrar de medidas preventivas que evitem a descoberta da lixeira que guardam sob a faustosa carpete estrelada.

A votação foi clara e entre os nacionais, cobriram-nos de vergonha a tríade PSD, PS e CDS com a sua exigência lesa-tratados que eles próprios fizeram aprovar sem dar cavaco ao seu próprio constituinte, neste caso, o povo português. Correm com os britânicos a pontapé, eis o que fizeram. Estão loucos e agem como tal.

Não sabem nem agora querem saber o que é e o que significa para a Europa o Reino Unido, refugiando-se numa campanha onde o mais infecto racismo é apresentado como rápida consequência do resultado referendário que não lhes agradou. Não se ralam minimamente com a mais descarada censura desde há muitos meses prodigamente ministrada a centenas de milhão de europeus que ao alcance de um computador, são informados de inconvenientes realidades que a todo o transe os nossos donos procuram mediaticamente ocultar. Eles sabem que nós, todos nós, sabemos. Sabemos e pior ainda, tememos e não queremos. Aqui está a razão bem escondida do resultado do recente referendo.

Só lhes falta rapidamente aproveitarem o buraco britânico e preencherem-no com a Turquia, essa lídima representante do desaparecido Império Romano do Oriente, como há algum tempo o cada vez mais suspeito quase-ditador Erdogan teve o descaramento de invocar como argumento. 

Entram em contradição, apresentando as suas televisões um chocante episódio há pouco ocorrido em Manchester, onde três miudosques ladrando um inglês indecifrável, agrediram verbalmente alguém que porventura vive naquele país muito antes deles próprios terem nascido. Isso mesmo, os tais miúdos que o repelente Barroso esta tarde fartamente suando diante dos holofotes, ousou distinguir como civilizados entes a proteger, apontando assim o futuro que espera este cada vez mais evidente recanto do grande continente asiático. 

No estado de histeria colectiva em que o parlamento europeu está, apenas faltará um deputado alemão propor a substituição daquela ode-coisa composta por Beethoven, por isto: Bomben auf Engeland. 

publicado às 23:03

A entrevista de Durão Barroso

por Nuno Castelo-Branco, em 02.11.14

 

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Sem o incómodo da apreciação daquilo que é a chamada União Europeia e sem veicular qualquer pró ou contra esta existência de múltiplos cambiantes, aqui ficam alguns dos pontos mais importantes focados pelo ex-presidente da C.E.

1. A questão da situação portuguesa nas vésperas do resgate de 2011. Gostem ou não gostem os baladeiros das  narrativas dominicais, a verdade era mesmo aquela que sabemos, ou seja, a da iminente bancarrota.

 

2. A  clara assunção de Portugal não ter uma política europeia. A nosso ver, não tem porque não pode e intimamente ninguém a quer como exclusiva. Para isto decisivamente pesam outros relacionamentos plurisseculares e qualquer programa de estado-unificação continental, consiste numa negação daquilo que este país sempre foi e quis ser, posição esta consolidada pelo nosso alinhamento com a nossa antiga e agora, de forma decisiva, com os países da CPLP.  A dualidade da política externa portuguesa deve ser para alguém como Durão barroso, uma constante que o próprio demonstrou como ministro dos negócios estrangeiros e mais tarde, como 1º ministro. 

 

3. Angela Merkel.

Neste país demasiadamente habituado a chefes de governo que não liam dossiers e preferiam cantarolar o bem-bom e jogar na chicana politiqueira, alheando-se do profundo conhecimento dos verdadeiros assuntos do Estado - houve quem por isso mesmo tivesse chegado ao Palácio de Belém - , a Chanceler alemã surge sempre como uma oportuna válvula de escape da nossa incompetência e desleixo, mesmo recorrendo-se a intragáveis argumentos revolvidos naquelas décadas em que os nossos avós ainda eram muito jovens. Segundo Barroso, Merkel é mesmo a chefe de governo mais atenta aos problemas globais da Europa e aquela que tem uma visão para a União Europeia, concorde-se ou não com o modus operandi ou o projecto alemão. Mais ainda, D.B. diz algo que embora seja uma evidência diária, a quase todos escapa por mero oportunismo ou estupidez: a Alemanha cumpre o seu papel e tornou-se preponderante por mérito próprio e pela incapacidade, falta de organização e nula vontade dos demais parceiros europeus. Esta é a verdade. Se em vez de Soares, Cavaco, Sócrates e outros, tivéssemos beneficiado da frieza e capacidade de trabalho de uma Merkel caseira, a nossa situação seria bem diferente. Note-se que não sendo a Chanceler uma águia política comparável a Adenauer, Schmidt ou até Kohl, é sem dúvida muito eficaz no seu relacionamento com a França, Itália, Espanha e demais países componentes do grupo continental. Qual é então a dúvida?

4. Rússia. 

Mesmo considerando o seu regime que nos surge como exótico no contexto para parte central e ocidental da península europeia, Putin é infinitamente mais benigno do que todos os caídos secretários-gerais que o PCUS arrogantemente exibia ao mundo como oráculos da única verdade plasmada no velho  Pravda, essa verdadeira alucinação colectiva  encarada como dogma de papel. O relacionamento com uma super-potência - estatuto que a Rússia jamais deixou de ter, apesar das ilusões cultivadas por muitos incautos e sad sweet dreamers com quem nos relacionamos em aliança - , será sempre um dos primordiais problemas da liderança europeia, seja ela a exercida pela Comissão ou aquilo que um dia lhe sucederá, ou pelo país em melhor situação para falar em nome da Europa. 

Barroso disse algo que é muito importante, pois provem de alguém que não é suspeito de anti-atlantismo ou anti-americanismo. Não soubemos ou não quisemos aproveitar as oportunidades apresentadas pela fragorosa queda do Muro de Berlim e do regime soviético.  Pelo contrário, a Rússia foi ostensivamente humilhada, alijada da sua legítima participação e consulta nos assuntos da grande política internacional. Hoje reduzida às fronteiras grosso modo correspondentes às do reinado de Pedro o Grande - quase coincidindo com as da capitulação em Brest-Litovsk -, já não é nem de longe o grande império de Nicolau II e muito menos ainda, a expansionista e agressiva União Soviética de todos os justificáveis medos. O ex-presidente da C.E. teve ainda a coragem de apontar o nome do principal responsável por esse catastrófico programa de rebaixamento de uma Rússia com quem, independentemente do regime ali vigente, imperiosamente teremos sempre de contar: nada mais nada menos, senão os Estados Unidos da América. Talvez agora os mais insistentes red-necks apostadores da política do tudo ou nada - ou por outras palavras, da guerra -, comecem a aperceber-se do verdadeiro perigo que esta política gizada além-Atlântico representa para a própria manutenção de uma NATO sem brechas. 

publicado às 19:19

É certo e sabido que a sociedade portuguesa já não se espanta e pouco se indigna com casos de cunhas, tráfico de influências, corrupção e afins. Por aqui, o John Wolf escreveu um post amplamente partilhado nas redes sociais ao longo do dia de ontem, e muitos foram os jornais e blogs que deram conta deste caso - curiosamente, no Observador, onde tanto se tem defendido a necessidade imperiosa de avaliar os professores, com a qual concordo, não encontramos uma única palavra sobre o assunto. Mas, como é habitual, a indignação acabará por se desvanecer e o filho de Durão Barroso continuará alegremente a exercer actividade profissional nos quadros do Banco de Portugal. 

 

Desconheço Luís Durão Barroso, o seu percurso profissional e a eventual comprovada competência que permite ao Banco de Portugal contratá-lo dispensando a necessidade de concurso público. Mas vamos partir do pressuposto que é realmente tão competente que o Banco de Portugal nem se quer dar ao trabalho de abrir um concurso ao qual poderiam concorrer candidatos ainda mais competentes e muito menos pretende perder tempo a promover um concurso público de fachada, como é prática comum em Portugal. Ainda assim, o que este caso revela é a miséria moral dos seus intervenientes, que é facilitada e possibilitada pela miséria moral generalizada no nosso país:

 

i) Banco de Portugal: ignorando que nem tudo o que é legal é legítimo e que nem tudo o que é lícito é honesto, evidencia como aqui e agora impera a sociedade de corte onde o que importa é ser filho de algo e a meritocracia assente na igualdade de oportunidades é apenas propaganda para enganar papalvos; 

 

ii) Durão Barroso: sabe que esta situação até o poderia prejudicar pessoal e politicamente, mas também sabe que estamos em Portugal, pelo que basta aguentar a pressão durante uns dias e logo todos se esquecerão do caso e só por isto é que se atreve a deixar e/ou incentivar que o filho seja contratado nestes termos. No fundo, relembremos que "todo o homem que tem poder sente inclinação para abusar dele, indo até onde encontra limites", como escreveu Montesquieu, e procuremos não nos esquecer que estamos perante alguém cuja ambição o levou a trocar o cargo de Primeiro-Ministro pelo de Presidente da Comissão Europeia, abrindo a porta ao consulado socrático, e que ainda pretende ser Presidente da República;

 

iii) Luís Durão Barroso: pode até ser realmente muito competente, mas nunca se livrará da fama de ter sido contratado pelo Banco de Portugal apenas por ser filho de quem é. Também não se pode livrar desta condição, mas se fosse moralmente íntegro não se sujeitaria a ser contratado nestes termos. Provavelmente já terá passado por situações idênticas, pelo que possivelmente nem sequer compreenderia que isto lhe fosse exigido, ou seja, que o próprio tivesse a exigência moral, a autonomia e a capacidade de rejeitar ser contratado nestes termos e preferir submeter-se a um concurso público em condições de igualdade com outros candidatos, ou não ser contratado de todo pelo Banco de Portugal.

 

O que isto nos mostra é que mais vale ser esperto do que íntegro, porque a integridade moral não enche a conta bancária e a moral social poucos limites consegue colocar a estas situações. Continuamos em regime de neo-feudalismo onde manda quem pode e obedece quem deve, onde há uma lei para quem governa e outra para quem é governado, onde quem é rico e/ou filho de algo tem a vida feita e quem é pobre e/ou não é fidalgo tem de deixar-se ser enganado pela ilusão da meritocracia. 

publicado às 11:00

Filho de cherne sabe nadar

por John Wolf, em 12.08.14

O filho de Durão Barroso é tão competente tão competente, mas tão competente, que seria um insulto submetê-lo a um normal processo de candidatura a um emprego. O facto de ser filho de Durão Barroso não tem relevância alguma. O que interessa a alavanca política de que dispõe o futuro ex-presidente da Comissão Europeia? O que interessa se Portugal inteiro entende este "convite" como suspeito? O que interessa se dezenas de outros possíveis candidatos são igualmente qualificados, mas não dispõem de números de telefone de gente importante? O que interessa se o país inteiro necessita urgentemente de exemplos de ética nas relações profissionais, mas lhes sai algo distinto na rifa? O que interessa que o excelso filho de Durão Barroso tenha passado por escritórios de advogados com processos em mãos que dizem ou já disseram respeito ao interesse nacional? O que interessa se o ex-primeiro-ministro não é o primeiro a aconselhar o filho a declinar o convite que tanto lhe custou a organizar? O que interessa se o Banco de Portugal passou a ser uma agência de emprego para os filhos dos amigos? O que interessam as relações pessoais num país caracterizado pela sua isenção e imparcialidade nas relações profissionais? O que interessam os filhos dos outros? O que realmente interessa neste país?

publicado às 20:06

The boys are back in Portugal

por John Wolf, em 29.03.14

Já repararam no seguinte? Pouco a pouco, mas garantidamente, the boys are back in town. Hosé Duran Barroso que em breve terminará os seus dias bruxelenses, e que esteve ausente todos estes anos ao serviço de grandalhões da política mundial (Bush e Merkel, entre outros), começa a ser mais ousado e a assomar a cabeça para mandar umas bocas sobre a governação nacional. Como quem não quer a coisa, dirige-se a Passos para moralizar sobre os limites das medidas de austeridade, mas essencialmente pisca o olho ao coração mole de eleitores portugueses (as presidenciais ainda não foram descartadas dos seus planos, não senhor). Mas não é o único "retornado". António Vitorino fez uma pausa para almoço na sociedade de advogados para se apresentar como mandatário da candidatura do PS às Europeias. E não são os únicos que regressam triunfantes para mais mandatos ou cargos de ocasião. Um pouco por toda a paisagem política, refundidos da governação, que nos conduziram à actual estação de descarrilamento, tornam às lides com o beneplácito dos seus pares, perseguindo os objectivos da sua agenda pessoal e contando com a passividade e memória curta dos cidadãos nacionais. A grande pergunta que deve ser colocada aos portugueses (em forma de petição ou não), é: será que querem os mesmos de sempre e mais uma vez? Em tantos anos de falsas procrastinações e engodos, Portugal parece não ter sido capaz de se reinventar, de apresentar novos actores políticos com folha limpa, sem passados questionáveis e uma ideia boa para o futuro de Portugal. Nem vale a pena mencionar António José Seguro - o homem errado na hora auspiciosa de Portugal -, ou considerar a única Esquerda que merece o respeito pela sua coerência intransigente: o eterno PCP. A cena política deste país faz lembrar aqueles velhos teatros que apresentam o mesmo elenco ano após ano, os mesmos actores que estamos fartos de ver e que não são como o vinho do Porto - não melhoram (nem arredam pé). E é esse o problema. Os anos passam e os cães que mordem a caravana são velhos conhecidos. Quase que nem merece usarmos a expressão "alternância democrática" ou "rotatividade política". O conceito académico indicado ainda não foi definido para explicar a consanguinidade política que minou este país. Estes políticos, entranhados na derme, podem até ser de cores políticas distintas, mas são todos amigalhaços nos negócios que ocorrem nos bastidores, na boca de cena onde o português pequeno não tem papel de relevo. Não sei o que nos reserva o futuro, mas o passado já o conhecemos de ginjeira.

publicado às 17:36

Um candidato presidencial mui verdadeiro

por João Pinto Bastos, em 09.12.13

Durão Barroso, perdão, José Manuel Barroso, tem o engraçadíssimo hábito de querer mostrar a meio mundo que existe, fazendo uso de estratagemas que só demonstram à saciedade a sua completa irrelevância. Esta notícia do The Guardian não teria muita importância não fosse o facto de o presidente da Comissão Europeia asseverar que (peço desculpa aos leitores que não acompanham a sapiência socrática no concernente ao domínio do inglês técnico) "frankly, we're not here to receive lessons in terms of democracy or in terms of how to handle the economy. By the way, this crisis was not originated in Europe. Seeing as you mention North America, this crisis originated in North America and much of our financial sector was contaminated by, how can I put it, unorthodox practices from some sectors of the financial markets." Reparem nos sublinhados, e tirem as vossas próprias conclusões. Estamos a falar, note-se, da instituição mais inoperante na gestão da denominada crise das dívidas soberanas, uma instituição que, em rigor, pouco ou nada tem feito para dirimir positivamente o profundo défice democrático que acoberta a constelação institucional europeia. Mas o pormenor mais curioso das declarações atrás mencionadas prende-se, ironicamente ou não, com a insistência desbragada na tese de que a crise económica não teve a sua origem em terras europeias. Wolfgang Munchau diz aqui que as palavras de Durão não constituem, propriamente, uma surpresa, mas, em boa verdade, o colunista alemão oblitera um dado fundamental na análise: o que as palavras do presidente da Comissão transluzem é a enormíssima falta de vergonha dos principais responsáveis políticos europeus. Tantos anos volvidos, e a converseta continua a mesma: a culpa é dos americanos obesos e super-hiper-ultra-liberais e, também, dos europeus que viveram irresponsavelmente acima das suas possibilidades. Quanto à Europa comunitária, os seus responsáveis têm feito, democratica e liberalmente, tudo o que está ao seu alcance para corrigir os desvarios da cidadania endividada. Como é bom de ver, esta práxis justificatória cai literalmente por terra quando se olha seriamente para a realidade chã da Europa em crise. No fundo, o que isto comprova é que Durão Barroso continua o mesmo bigorrilhas de sempre, um político que fez carreira à sombra da mais absurda falta de convicções. Não se esqueçam disso quando o putativo candidato presidencial pedir o vosso voto. 

publicado às 23:58

Bem-vindos Sócrates, Guterres e Barroso!

por John Wolf, em 15.11.13

Uma vaga de imigração está a assolar Portugal. O primeiro a chegar à Portela foi Sócrates. Sabemos que Guterres já se instalou em território nacional e agora chega-nos a notícia que José Manuel Barroso provavelmente voltará a ser Durão Barroso. Observo que a casa portuguesa começa a ficar apertada, cheia de visitas políticas de última hora. Resta saber que profissões desejam exercer na Lusitânia. Como forma de acreditação junto dos esquecidos, Sócrates e Guterres já têm livros para contar versões integrais ou parciais dos seus percursos - falta Durão Barroso lançar um volume no seu regresso oficial. Um livro de capa dura à Diplomacia de Kissinger com o título: "Breves notas sobre o abandono de Portugal e o meu regresso". Para já, Sócrates está a agitar as hostes socialistas - António José Seguro e António Costa que se cuidem porque não me parece que o ex-lider se quede pelas noites de Domingo. Guterres ainda não deu muito nas vistas - está a cumprir um período de nojo antes de provavelmente iniciar um estado de graça. António Costa, Seguro ou Sócrates não se têm de preocupar com Guterres. Se este correr para algum lado, será quase de certeza para Belém. Durão Barroso, que ainda não sabemos ao que vem, vai ter de acertar agulhas com o PSD para saber se é o homem presidencial (ou se tem lugar no novo partido da esquerda de Rui Tavares, para revisitar as suas origens ideológicas). Marcelo Rebelo de Sousa fará aquele jogo que conhecemos - não irá colocar as cartas todas em cima da mesa. Vai deixar os outros tomar a iniciativa, como tem sido o seu estilo, e depois, dirá à Judite de Sousa o que irá fazer (e ela, comovida pela confidência oferecer-lhe-á um cabaz de Natal ou um ramalhete de flores). Ainda faltam uns quantos que não caem na categoria de regressados à pátria. Refiro-me a outros que andam por aí a bailar e à espera do momento propício. O que deve ser sublinhado nestes regressos auspiciosos, tem a ver com a noção que inunda os seus espíritos - a ideia de que ainda podem prestar serviços à nação. Eu disse serviços. Não disse bons serviços, nem lindo serviço. Os portugueses que decidam que destino dar a estes trabalhadores - que eu não tenho voto na matéria.

publicado às 11:12

«Consegue perceber porque é que a agricultura é tão desconsiderada?

A nossa sociedade é muito apressada. Mesmo as pessoas que têm uma origem rural apressaram-se a urbanizar-se e a esquecer o mais depressa possível as suas raízes. Somos muito superficiais, o que quer dizer que os nossos filhos ou netos têm tendência para achar que os ovos nascem nos supermercados. E também temos um ADN colectivo pouco rigoroso, não ligamos aos números.»

 

Armando Sevinate Pinto, antigo Ministro da Agricultura do governo Durão Barroso, entrevistado pelo jornal I deste Sábado. Uma interessante entrevista que pode ser lida aqui.

publicado às 23:25

Merkel deve estar satisfeita

por Nuno Castelo-Branco, em 25.06.13

 

Nous te voulons!

A Chanceler deixou de ser o alvo na carreira de tiro dos desesperados. Se em Portugal temos o sempre sintomático Mário Soares a assestar baterias contra Barroso, isso apenas consiste num reflexo do que se passa na sua "pátria de eleição", a França. Para onde quer que olhemos, o resultado da acção de Hollande não é de molde a agradar até aos seus mais ferrenhos aliados. Politicamente, o ocaso francês é patente, avassalador, confirmando plenamente aquilo que há muito se sabia e que Sarkozy procurava disfarçar. Em termos internos, o descalabro é total, desde as questões de segurança interna, até à catástrofe financeira que a maioria dos europeus prefere ignorar, tal é o pavor por aquilo que poderá acontecer. 

 

Há um quarto de século, Mitterrand escancarou as portas da Assembleia Nacional a uma enxurrada de deputados da Frente Nacional de Le Pen. Justamente argumentava com um sistema eleitoral mais consentâneo com a realidade da vontade dos franceses, pois o artifício das duas voltas roçava a farsa, sendo esta deliberadamente assumida pelos defensores do status quo. Num só golpe julgava poder dividir a chamada "direita clássica", não contando com a fuga maciça de comunistas para as hostes da FN. Mitterrand esqueceu-se das suas próprias origens, esqueceu-se de Jacques Doriot e de um passado não muito distante. Mais tarde, o aflito regresso ao velho sistema de eleição, o tal "dique republicano", pressupôs a distorção da representação, daí o estupor de numerosos eleitores que a par da crise económica e financeira, da crise de identidade - em França, Mohamed é hoje o nome mais comum no registo de recém-nascidos - e da cegueira daquilo que se convencionou ser o "politicamente correcto", inauguraria um irreversível caminho para a desordem e subversão do estado de coisas até hoje julgado eterno. Embora esta pareça ser uma hipótese ainda distante, há que considerar  a futura presença de uma enorme representação da FN no parlamento francês, pois o sistema eleitoral que lhe tem impedido o acesso aos lugares conquistados pelo voto, poderá muito bem servir para um dia lhe garantir uma maioria. A questão será adivinhar até quando funcionará o voto útil. 

 

Apesar de todo o seu manobrismo e fácil adaptação às situações que mais lhe convêm, Barroso foi e é útil a Portugal, disso não haja qualquer tipo de dúvida. O actual regime fez a sua escolha e pendeu fortemente para o continentalismo europeu, em detrimento daquilo que seria mais desejável e que agora a todos salta à vista. É Barroso o homem dos americanos? Muito provavelmente assim é, e a sua nomeação para a Comissão Europeia a isso se terá devido. Mas não será este equilíbrio entre Europa e América, aquele que mais interessa à segurança europeia? Há legados que são incontornáveis, pois Barroso provém de um país inegavelmente atlantista e historicamente aliado da potência marítima dominante. Neste posicionamento Barroso não estará só, apesar de todas as reticências que os deputados britânicos lhe colocam devido à sua condição de cabeça da Comissão. Quanto ao "mundialismo e a globalização", Barroso nada mais faz, senão confirmar aquilo que a esquerda europeia durante tantas décadas pregou. Um mundo idílico e de iguais, exigia essa quebra de barreiras comerciais de que a Europa era talvez o expoente máximo. Durante demasiado tempo escutámos a nossa esquerda ditar sentenças acerca da situação de chineses, indianos, africanos e de uma infinidade de povos submetidos à exploração que a nossa PAC e as pautas aduaneiras impunham como armas de privilégio para o velho mundo. O capitalismo internacional caiu na tentação do lucro fácil e ao mesmo tempo que retirava da miséria dezenas de milhões na China e na Índia, destruía a tradicional base do poder europeu e americano. Ao contrário daquilo que o desesperado Hollande alega, foi a esquerda europeia quem pugnou por essa abertura sem peias, sem aquelas necessárias precauções que garantissem a não-colaboração com os sistema de trabalho escravo, as tais situações de desigualdade com as quais a Europa do Estado Social não pode nem deve competir. Internamente, essas "aberturas" trouxeram o terceiro-mundo para as nossas periferias e o nosso sector progressista deu-se ao excelso artifício de criar um sector capitalista e empresarial que lhe é afecto e que sem a esquerda no poder, não pode medrar. Ofendendo as tais tradições pelas quais hoje ironicamente reclama, a esquerda empurrou para a extrema-direita uma até há pouco impensável quantidade de eleitores irritados pelo sistema do duplo critério, da manipulação da democracia eleitoral, da cedência perante aquilo - a islamização, há que afirmá-lo sem rodeios - que liminarmente todos rejeitam. 

 

A culpa é dos americanos, é de Barroso, dos ingleses e um dia destes, dos seus eternos aliados portugueses. Isto é afirmado por quem ainda não reparou que à sua volta existe uma sociedade razoavelmente americanizada. Das Levi's e t-shirts que "fizeram o Maio 68", até à música, inovações tecnológicas e correspondente língua dominante, cinema e ao horrendo fast-food, de tudo isso a esquerda se serviu para se impor como "diferente". Atacar os americanos por causa da "diversidade cultural", é de facto insólito. A esquerda é hoje quem mais brada pelo regresso ao consumo e à despesa, imagem de marca Made in USA, confirmando assim que Marx está enterrado em Londres, a múmia de Lenine é atacada por fungos e os seguidores de Trostky não passam de picaretas falantes. Mas do que estavam à espera?

publicado às 10:40

Estado de espírito (3)

por João Pinto Bastos, em 06.06.13

Andrea Del Sarto, O Sacrifício de Isaac

 

Numa era de sacrifícios mal contabilizados pela carnificina mental dos prebostes do europeísmo de salão, ainda há espaço para elucubrações de baixo nível. O preço a pagar pelo predomínio da mediocridade é demasiado alto. Acordai!

publicado às 17:16

A Europa dos ziguezagues

por João Pinto Bastos, em 29.05.13

A prosopopeia europeia está a atingir, por estes dias, o paroxismo da insanidade mental. José Manuel Barroso - retirem o Durão, caros leitores, porque de durão só mesmo o nome - já veio avisar os gauleses de que o adiamento das metas fixadas relativamente ao défice pressuporá o rigoroso cumprimento das reformas estruturais acordadas. Adivinhem, pois, a resposta francesa a este ultimato delicodoce? A réplica francesa, sob a voz do messias Hollande, foi um rotundo não. Sim, um não bem agudo. Por outras palavras, em solo francês mandam os franceses, assim sem mas nem aspas. A Comissão só deve imiscuir-se nos assuntos internos dos PIIGS e, vá, dos restantes países europeus, com a excepção, infeliz do ponto de vista francês, dos alemães chefiados por Frau Merkel. Ou seja, a Europa existe para validar os desejos dos países-membros mais poderosos. No fundo, nada disto causa a menor surpresa. Sempre foi assim e sempre será assim, enquanto não houver um sobressalto das nações europeias asfixiadas pelo barrete bruxelense. Eduardo Lourenço, um dos poucos intelectuais deste Portugal portugalinho que ainda vale a pena ler e ouvir,  dizia há dias que não há uma ideia europeia. Pois bem, a questão foi mal formulada. O que Eduardo Lourenço deveria ter feito era questionar se alguma vez existiu um arremedo dessa pseudo-ideia europeia? A resposta parece-me claramente negativa. Como escreveu Jaime Nogueira Pinto neste pequeno artigo, a "essência e a força da Europa foi a unidade na diversidade, uma cultura e um espírito idênticos em comunidades políticas bem definidas, independentes e competitivas entre si. E foi a resistência dos Estados-nações europeus às tentativas imperiais de Carlos V, de Napoleão, de Hitler, foi essa resistência ao Império, à unidade imposta por um centro que fez a força das nações europeias. No passado, foi pela competição militar, política, na Ciência e na Técnica e até na memória dessa rivalidade na Literatura e na Arte, que chegaram onde então chegaram". O conceito de Europa tem servido de máscara às mais vis elucubrações. Talvez seja este o grande pecadilho das elites que têm prosperado à sombra de uma ideia que, em bom rigor, nunca existiu. A Europa da União forçada findou. Falta apenas a celebração das respectivas exéquias. 

publicado às 23:51

Fadiga de Durão

por John Wolf, em 24.04.13

Cada vez que oiço um encadeado de palavras de Durão Barroso, uma sirene soa. Nada do que diz parece sincero. São chavões que atira para o ar. São lugares-comum sobre orientações genéricas que falam mais sobre o seu mal-estar pessoal, a sua carreira, a sua renúncia e abandono. Está a olhos vistos o que irá fazer. Durão prepara a sua saída, mas tenham atenção. Fará à Europa o que fez a Portugal. Vai-se embora, e deixa os que ficam, com uma mão à frente e outra atrás. Mas para a Europa não fará qualquer diferença. Este tipo de político abunda no mercado. Quando Barroso refere uma espécie de fadiga europeia e que os limites da austeridade foram atingidos, não serve nem os interesses da União Europeia nem a condição dos países sob programas de ajustamento. É este tipo de político que devemos evitar. Um político que não mata nem engorda. Um funcionário que quer salvar a sua pele e que age de acordo com uma agenda pessoal. Na primeira fase do seu comissariado, portou-se como um Marques Mendes da União Europeia. O porteiro, um rapaz submisso, que diz para agradar e granjear festinhas dos patrões. O Durão Barroso, ao longo dos anos europeus, não pensou uma de jeito para a caixa da construção europeia, mas não deixou de ter opiniões  para os cocktails de burocratas que são e foram as cimeiras europeias. Foi um excelente porta-voz de guiões colocados sobre a sua secretária horas antes da conferência de imprensa. Foi às Lajes armar-se em Churchill das Lajes, e desde que a crise eclodiu na Europa, tem vindo a escorregar desse poiso de falsa altivez, deixando escapar pequenas tiradas que devem ser levadas em conta pelo seu valor de face. Os dias de Durão Barrosos na União Europeia já foram contados. Terão sido cantados pelos estrategas europeus que trabalham nos bastidores e que são de facto os mais poderosos. Refiro-me a instituições financeiras (incluindo o BCE) e aos lobbies à europeia, que determinam o rumo dos acontecimentos. Quando o homem diz que "a unidade europeia não pode ser tida como certa", crava à má-fila um punhal nas instituições europeias. Mina o posto com uma bactéria de dissensão. Mancha esse lugar de governação com incerteza. Cria uma zona cinzenta onde nada acontece, quando o que necessitamos é de acção firme que inverta a situação na Europa. O político que todos conhecemos nunca foi um estadista. Numa época de falência ética e moral, o Barroso vive em pleno o esplendor estes tempos. Não age de acordo com um código de coerência. Se o homem não se revê nas políticas de austeridade impostas pelo core da União Europeia, só tem uma coisa a fazer - demitir-se. Mas como ainda não pode regressar de um modo triunfal a Portugal, tem de enviar recados de solidariedade para o povo de Portugal, especialmente em vésperas do 25 de Abril, uma efeméride que é um parente próximo do MRPP, uma experiência história que também encontramos na genealogia política deste senhor. Tudo isto somado, esta novela de arrufos e paixões nada tem a ver com a verdade das intenções. A presidência da república é desejável para Barroso, antes de poder candidatar-se a uma vaga no Banco Mundial ou na ONU. Não esqueçamos o que diz Barroso - "A União Europeia é, fundamentalmente, um projeto político e cultural baseado em fortes valores humanistas" - tenham dó. Já não temos pachorra para lenga-lengas.

publicado às 08:12

Olho, oiço e pasmo

por João Pinto Bastos, em 23.04.13

José Manuel Barroso, portuguesmente conhecido por Durão ( não, o senhor não tem nada de durão), disse, e passo a citar, que "temos dito isto mas temos de dizê-lo de forma ainda mais clara: mesmo que as políticas de correcção do défice sejam correctas, (…) não serão política e socialmente sustentáveis". Ou seja, passados meses e anos a fio de austerismo e confisco da propriedade das depauperadas classes médias, Durão vem dizer-nos, com uma candura pungente, que a austeridade atingiu o limite. Isto é, segundo o enfático presidente da Comissão Europeia, a austeridade é contraproducente e não dispõe dos consensos sociais mínimos para produzir um resultado credível. Perante isto, ocorrem-me as seguintes questões: 1) Onde é que andou Durão Barroso durante estes anos todos para só agora chegar à conclusão de que o austerismo não funciona?; 2) o que tem feito a Comissão para obstar aos efeitos deletérios da austeridade congeminada pelas troikas europeias?; 3) Durão deseja mais integração e mais federalismo, mas a que custo e em que condições?; 4) esse federalismo implicará, por exemplo, a eleição democrática do cargo que Durão ocupa actualmente; 5) o timing destas declarações prende-se com algum desejo oculto de firmar uma putativa candidatura ao majestático cargo cimeiro da República desrepublicanizada? Durão padece do mesmo defeito que, amiúde, acomete os políticos do regime: fala demasiado, e, no fim, nunca se extrai algo de útil dos piropos verbais expelidos pelo preclaro habitante bruxelense. É o vácuo total e absoluto. É assim que se faz a política da deserção cívica, com muita palraria e pouca ou nenhuma adesão à realidade.

publicado às 00:26

Que rica "vantagem" esta...

por Pedro Quartin Graça, em 09.04.13

Comissão Europeia rejeita renegociar metas orçamentais

É precisamente nestas ocasiões que o logro de alguns vem ao de cima. Recorde-se esta passagem de declarações feitas pelo "barrosista" José Luís Arnaut sobre essa "grande figura da política internacional" que é, no seu entender, José Manuel (Durão) Barroso.

"Está [Durão Barroso] a fazer um trabalho notável e terá um futuro político em Portugal ou no estrangeiro assegurado. Não precisa de fazer as pazes com os portugueses porque nunca esteve em conflito com os portugueses. Sabemos bem a vantagem que tem sido para Portugal ter um presidente da Comissão Europeia".


Ó se sabemos!

publicado às 07:51

Os malucos do circo

por Nuno Castelo-Branco, em 07.01.13

Barroso, o ex-MRPP cada vez mais descarado e plenamente recauchutado, declara peremptoriamente a total irresponsabilidade da Comissão Europeia pela situação desastrosa em que a grande península a oeste da Rússia hoje se encontra.

 

Entretanto, aquele que não foi ex-MRPP ou ex-PC como os contingentes de Pinas Mouras deste nosso mundo e arredores, pronuncia-se insistentemente contra a sua própria obra, sugerindo agora a recriação de tudo aquilo que as malfeitorias e destruições despoletadas pela sua passagem no poder representaram para a vida económica nacional. Da forma um tanto ou quanto oportunista como é do seu talhe, o sr. belenense persiste na jogatana do esquecimento alheio, coisa que para além dos róseos muros do palácio do "stakhanovista sem salário", gastador dos 17,5 milhões de Euros e usuário de 500 moleques de facto e de fato, não existe. Não precisamos de tomar fosfoglutina para um súbito clarão da memória que longe de adormecida, encontra-se em plena pujança de "esmiuçamentos" bem necessários. Pior ainda, agora que o trabalho mais sujo parece estar praticamente concluído, eis que a residencial figura - talvez em conluio com uma boa parte do seu partido - vem encenar indignadas "contrariedades, oposições e reservas" à política praticada, escancarando as portas em estilo da cooperação estratégica de outros tempos, a uma parte da oposição que dentro em pouco, encostada ao paredão, não poderá recusar o duro ofício da partilha de cadeirões ministeriais. Aliás, é bem isso o que certos sectores pretendem, pois a existir algum sucesso, mesmo que ainda em total dúvida, tal coisa deverá ser imputada à sábia intervenção dos mexicanos do nosso ersatz do PRI. 

 

Não, sr. residente, não nos esquecemos. Vossa Excelência é disparatadamente previsível.

publicado às 20:20

Importa-se de repetir?

por Nuno Castelo-Branco, em 11.10.12

O Sr. Barroso (Durão), enxota as maçadoras responsabilidades para o âmbito dos governos dos países sob auxílio externo. Chamar auxílio à "boa vontade" que empresta a juros que fariam corar de vergonha a usura medieval de Lemberg,  já é uma cedência que custa, mas que se admite. Mas o que tem o Sr. Barroso a dizer acerca dos "exames da troika", das "tranches da troika", das "sugestões" dos preocupados fiscais internacionais? Se os governos não seguissem à Lagardère a política que a Sra. Lagarde hoje reconheceu como difícil de obter sucesso, como estaria agora a situação interna da Irlanda, Portugal, Grécia e Espanha? 

 

Ao longo de duas décadas, Bruxelas deliberadamente incentivou a destruição da nossa economia. Bruxelas permitiu todo o tipo de fraudes e de descarados roubos, concedendo fundos sem uma sólida fiscalização que impedisse as manigâncias do cavaquismo, guterrismo, barrosismo e socrateirismo de ruína. Nalguma coisa Barroso estará certo: Bruxelas sempre contou com os seus "comissários de serviço sujo" em Lisboa, ele próprio incluído. 

publicado às 17:25

Durão Barroso apunhala Rajoy pelas costas

por Nuno Castelo-Branco, em 12.06.12

Pouco importará quem tenha razão quanto ao esperado episódio do resgate da banca espanhola. No passado fim de semana, Mariano Rajoy afirmou ter sido ele quem pressionou para que essa ajuda fosse concedida. Hoje, o sr. Durão Barroso, precisamente o homem que devia manter-se calado por um básico princípio de oportuna decência, falou e desmentiu o espanhol em apuros. A situação interna em Espanha não é das melhores e as palavras de Barroso são um incentivo à desordem e subversão do próprio regime. Barroso não deve preocupar-se minimamente com aquilo que a imprensa espanhola escreve e muito menos ainda, com o tom insurreccional dos comentários.  Se não lê o El País, o Público e o ABC, devia fazê-lo logo pela manhã.

 

A tolice desta enfatuada gente que não vê mais longe que as cercanias da unha negra do seu pé esquerdo, é coisa ilimitada e sem direito a uma consulta de psiquiatria. Adeus, Europa.

publicado às 14:25

"Os Pachecos"

por Samuel de Paiva Pires, em 03.10.11

Um mordaz texto de António Manuel Venda, inspirado em Eça de Queiroz, que bem retrata certas personagens cá do burgo, de onde destaco os seguintes parágrafos:

 

"O Pacheco representa alguém sem valor intelectual, uma nulidade, um tonto que só obtém destaque porque vive rodeado de medíocres. Já diz um ditado que em terra de cegos quem tem olho é rei; bom, um Pacheco é sempre o rei na terra dos parvos, sendo que tais monarquias chegam mesmo a contar com diversos reis, tipo harém, mas ao contrário, ou próximo disso. Em «A Correspondência de Fradique Mendes», lê-se a certa altura: «Pacheco não deu ao seu país nem uma obra, nem uma fundação, nem um livro, nem uma ideia. Pacheco era entre nós superior e ilustre unicamente porque tinha um imenso talento (...). O talento imenso de Pacheco ficou sempre calado, recolhido, nas profundidades de Pacheco! Constantemente ele atravessou a vida sobre eminências sociais: deputado, director-geral, ministro, governador de bancos, conselheiro de Estado, par, presidente do Conselho - Pacheco tudo foi, tudo teve, neste país que, de longe e a seus pés, o contemplava, assombrado com o seu imenso talento (...). A testa de Pacheco oferecia uma superfície larga e lustrosa. E muitas vezes, junto dele, conselheiros e directores-gerais balbuciavam maravilhados: - Nem é preciso mais! Basta ver aquela testa!»"

 

(...)

 

"Pode, é claro, perguntar-se o seguinte… Mas como é que é? Desses Pachecos, nunca deve ter havido um único que não levasse para casa ao fim do mês uns bons milhares de euros, fora os extras… Às vezes, até me sinto tentado a acreditar que, na verdade, o mundo – enfim, Portugal – pertence aos Pachecos. Aliás, é um pouco a velha teoria de que o sucesso chega facilmente aos artolas, aos pobres de espírito e aos lambe-notas, perdão, aos lambe-botas. Mas adiante…

O meu amigo Tiago Salazar uma vez escreveu um artigo chamado «A mentira é o pão-nosso de cada dia». Nem vale a pena referir quem por lá se espojava, o curioso será copiar uma citação de Confucio, que aparecia logo a abrir. «Um intelectual escreveu, ao nascer o seu filho: As famílias, quando nasce um filho, desejam que ele seja inteligente. Eu, através da erudição, tendo arruinado a minha vida toda, desejo apenas que a criança se revele ignorante e estúpida. Então ela coroará a sua vida tranquila, tornando-se um Ministro de Estado.»"

publicado às 13:40

Um belo par de cornos

por Nuno Castelo-Branco, em 28.09.11

Numa das mais absurdas discursatas do nosso tempo, o Sr. Durão Barroso atreveu-se a exigir o "amor incondicional dos europeus" a um projecto que há muito não existe. Falou da necessidade de um "sim" sem qualquer moderador "mas".

 

Já que o apaixonado Zé Manel se decidiu pelos métodos orais tão queridos de gente como Cohn-Bendit - aah que grande discurseiro ele é! -, aqui deixamos uma hipótese meramente académica: os seus ardores seriam os mesmos se ao deparar com a(s) sua(s) cara(s) metade(s), verificasse a total ausência de dentes e a omnipresença de viscosos e fedorentos corrimentos de fluidos provenientes de diversas cavidades do capitoso corpinho? Beijaria uma boca carregada de protuberâncias arroxeadas mais que indiciadoras de herpes em incontrolável expansão? Colocaria o definitivo anel de aliança num dedo inchado por pústulas contagiosas?

 

Não. Temos a certeza de que o Sr. Barroso recorreria ao famoso expediente do "par de cornos", coisa que Portugal deve seriamente considerar. À sucapa, numa espécie de reedição do velho, querido e eficaz método Tora Tora Tora. Se é que ainda a ele poderemos recorrer. É no mínimo, duvidoso.

publicado às 15:36






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