Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
No auge da crise lembro-me de ver nas televisões reportagens sobre o roubo de fios de cobre, aqueles utilizados para fazer chegar electricidade às casas e alimentar as torradeiras e as bimby´s. Os postes de eucalipto ficaram despidos, nus. Os criminosos vestiam fato de macaco e actuavam na calada da noite munidos de lanternas e escadotes. Fast-forward e eis que nos encontramos na sala do conselho de administração da EDP. Os que ocupam as cadeiras nas reuniões executivas nunca vestiram macacões azuis, mas descendem de primatas. Em vez de pegaram no corta-fios, ou no alicate, têm as unhas rasas, polidas e a falinha amansada pela prática de jargão corporate durante anos a fio. Sabem perfeitamente que o emaranhado governance é perfeito para camuflar desvios, dissimular contratos desequilibrados e, de watt em what?, nunca chegaremos ao volt-face da justiça célere que reúne as provas, constrói os processos e dita sentenças. Se foi Sócrates o relâmpago maior não sei, mas tenho a certeza que Mexia e companhia sabem que nunca veremos a luz ao fundo do Maat. Será a complexidade tri-fásica de suspeições que ilibirá a culpa de negligentes ou não, dolosos ou nem por isso. Não há feixe de electrões que nos valha. Chamem uns jornalistas para a conferência impromptu que eles ajudam a limpar o carbono da reputação daqueles que gerem uma boa parte da energia de Portugal. O outro ampere desta história é o Estado que deu amparo para os apagões e os choques eléctricos que os portugueses têm de mamar. Cheira a fusíveis queimados.
Os artistas não são culpados, mas um boicote à EDP não seria mal-visto. Já não é prestigiante ser patrocinado pela EDP, como não é politicamente recomendável subscrever a multinacional americana Monsanto. A humanidade, quer o deseje ou não, terá de enfrentar dilemas éticos. Os homens definem-se também pelas companhias que escolhem. Com tanta prosápia da marca Sobral sobre "salvar o mundo do cinismo e dar guarida a refugiados", não seria de todo desadequado se um intérprete ou outro desse um coice na mão que dá pão para a boca. Mas o cachet é irrecusável. E os artistas fecham os olhos à corrupção. Dinheiro sujo é lá com eles. Actvismo político é uma coisa muito bonita, mas não passa disso.
Há uma década, durante uns dias algo se disse acerca do estranho roubo de jóias pertencentes à Coroa portuguesa. Peças inestimáveis pelo valor histórico, artistico e gemológico, eram testemunhos escondidos de outros tempos e de uma outra forma de organização do Estado.
Foi pago o valor do seguro acordado, uns míseros seis milhões de Euro que provavelmente, nem sequer cobrem o valor das pedras surripiadas por profissionais contando com a conivência de gente responsável pelo museu holandês, onde por infelicidade foram expostas. Surgiram petições, consecutivos programas televisivos, entrevistas a cicrano e beltrano? Não. Deu-se o caso de qualquer demissão por parte de quem autorizou a saída das peças? Não. Alguém despoletou qualquer processo para a averiguação de responsabilidades? Não me lembro. Porventura foi aventada a urgência da exposição permanente daqueles símbolos da realeza, uma forma das peças poderem ser apreciadas e valorizadas por portugueses e estrangeiros? Nunca ouvi um murmúrio acerca dessa óbvia necessidade. Pelo contrário, sempre que alguns exemplares da colecção surgiram em exposições no estrangeiro, por lá se levantou a razoável interrogação acerca das razões pelas quais as peças não eram mostradas em Portugal. Aliás, esta sugestão apresenta desde logo alguns inconvenientes, desde logo aquela incómoda e remota possibilidade de despertar ideias que de todo agradam à gente do actual esquema vigente. Em suma, durante alguns dias choramingaram à maneira do crocodilo e logo de imediato viraram as atenções para um adenovírus qualquer.
Anda por aí um tremendo berreiro a respeito da colecção Miró. Compreendo a justa indignação. Pelo que se diz, o valor atribuído às peças rondará os quarenta milhões de Euro, uma mísera gota de água naquele oceano de institucional roubalheira terceiro-republicana que foi o BPN, um perfeito símbolo do Estado que temos e do estado a que a nação portuguesa chegou.
Bem vistos os números e os factos, qualquer jackpotista do Euromilhões, por muito maguérre que seja, poderá adquirir as obras e num estalar de dedos converter-se-á num émulo do Sr. Joe Berardo. Vender as peças em leilão, consiste num disparate que em primeiro lugar prejudica quem autoriza tal coisa. A opinião pública mainstream anda sempre à cata de indignações, vistam-se elas de que roupagens forem e neste caso, umas dúzias de telas são motivo de regozijo para a jogatina política e correspondente preenchimento de telejornal. Ao mesmo tempo do apresentar desta decisão como ..."mais um crime lesa-pátria!", há quem desde logo coce a rotundona barriga e a inevitável barbicha, vendo assim confirmada a narrativa da direita estúpida, inculta, boçal. O pior é que quanto a este assunto dou-lhes razão, embora suspeite que no caso da decisão ter sido outra, as mesmíssimas vozes poderiam ter gritado "continua a roubalheira BPN, em vez de venderem activos que cubram uma parte do buraco, conservam as telas e optam pelo roubo de pensões". Seria assim, alguém duvida?
Pouco ou nada entendo de arte e muito menos ainda de mercados, leilões, trendysmo, instalações de ferragens, canned shit, tampaxes decorativos, tijolos empilhados ou vidros partidos. Muito a sério, apenas me parece que esta colecção Miró deveria ser aproveitada para exibição permanente em Portugal. Saiu-nos caríssima, tem um valor ínfimo quando comparada com o buracão financeiro em que o Estado voluntariamente se atolou e pasme-se, decerto fará as delícias de muita gente ansiosa por passar a considerar o catalão como um já-quase português de gema. Imaginem a possibilidade dominical de uma dona Judite de Sousa, risonhamente comentando o artista como ... "o mais português pintor espanhol! Teremos mirosistas profissionais para todos os gostos, capazes de fazer escancarar as espantadas bocas de quem nunca ouviu a estória do rei que ia nu. Talvez o Sr. Sócrates tenha algo de filosofal a acrescentar daqui a uns dias, até porque para alguns, é o tudólogo do momento: ..."ahuéra, Miró és él más pórtuguês pintór espánhuél!"
No meio desta balbúrdia, apenas os ingleses parecem ter tino. Se é certo consistir numa asneira a concentração de todas as peças no museu do Chiado - que nesse caso deveria denominar-se Museu Miró & Outros - , não existe qualquer dúvida de poder ser a colecção incluída no agora recorrente rol de produtos de valor acrescentado, enfim, num chamariz de turistas. Com um bocadinho de sorte, a EDP que já anda a erguer um "Centro Cultural" mesmo diante do persistentemente vazio novo Museu dos Coches, poderia ser persuadida a albergar a mostra.
Houve há uma semana um temporalzinho da treta. Uma perturbação que devia ter sido irrisória, se ao menos o país tivesse aproveitado bem as benesses que lhe foram concedidas. Aproveitado o clima plácido, aproveitado a geografia acolhedora, aproveitado a ausência de guerras e pestes, aproveitado o dinheiro que recebeu da Europa, aproveitado a abertura da Cidade e do Mundo ao progresso trazido pela globalização, aproveitado a sorte.
Como sabemos, nada disso foi aproveitado. Os portugueses continuam a não governar-se nem a deixarem-se governar. Ninguém lhes come as papas na cabeça, a não ser os chico-espertos dominantes, que entre uma promessa e um tacho lá vão comendo e deixando migalhas aos tansos.
Volvidos sete dias sobre a tempestade, há gente que ainda não tem água nem luz nas suas casas. Os monopólios vigentes, sendo por natureza impávidos às vicissitudes de quem lhes paga a existência, estão perfeitamente a lixar-se para a situação.
O Estado, afoito no controle fitossanitário das ostras e na certificação das rendas de bilros, afaga o lombo aos monopólios, onde tem a patorra aconchegada. Asinus asinum fricat.
Entretanto foi criada uma petição pública que me honra aqui referir. Subscrevê-la-ei e faço votos de que surta o efeito pretendido, para que seja dado mais um passo seguro no sentido de obliterar esta gente cujo carácter desafia qualquer descrição. Recomendo ainda a leitura do editorial do Jornal de Leiria, onde pode ser encontrado um retrato mais próximo da situação terceiro-mundista que aflige agora muitos dos nossos compatriotas.
E fica, de facto, no ar a pergunta para que todos e cada um de nós, os mais e os menos complacentes, deveríamos ter, na ponta da lingua, a resposta: e quando vier um temporal a sério, ou outra coisa qualquer daquelas "que só afectam os outros lá longe"?
Não digam nada, já estou a imaginar. Refila-se muito e não se muda nada, paga-se os impostos porque eles é que mandam e é melhor não criar muitas ondas porque senão ficamos malucos.
José Gomes Ferreira diz toda a verdade na SIC.
António Mexia, sobre o estudo que mostra o exagero de rendas que todos pagamos à EDP: "O estudo tem erros básicos, que o tornam basicamente grosseiro." Mais ou menos como o português de Mexia, básico, e incapaz de disfarçar a grosseira falta de argumentos.
Como disseramos neste mesmo blog dias atrás, num post que foi lido por quase 9000 internautas, a campanha em causa revestia publicidade enganosa. Hoje soube-se que, conscientes disso, e pelo facto de terem omitido um dado essencial que importava transmitir ao consumidor, em concreto a mudança de contrato, ou seja, a necessidade de celebração de um novo contrato e o fornecimento, em consequência, do serviço por um novo fornecedor, a EDP e o Continente decidiram alterar a publicidade em causa. Afinal quem tinha razão, quem era?
"Há dez minutos atrás, ao preencher o formulário para aderir ao descontinho de 10%, deparo-me com a obrigatoriedade de inserir um NIB para pagamento bancário. Como já tenho pagamento por conta bancária, recorri à menina EDP, através do 808 501 501 (linha dedicada aos patos que querem este descontinho e eu fui um deles).
-Fulana de tal... EDP... em que posso ser útil?
- Estou a tentar preencher online a adesão ao desconto de 10% e não há nenhum campo para indicar que já tenho pagamento pelo banco.
- Este será um novo contrato, por isso tem de introduzir o NIB, mesmo que seja o mesmo.
- Um novo contrato? Porquê?
- Porque a senhora está a deixar de ser cliente da EDP Universal e está a passar a ser cliente da EDP mercado liberalizado.
- E... isso quer dizer o quê???
- Que passa a estar no mercado liberalizado de fornecimento de energia que a TROIKA obrigou.
- E se eu não sair da EDP Universal?
- Mais tarde vai ter de sair, porque o mercado regulado vai acabar, por ordens da TROIKA.
- E vai acabar quando?
- Em 2015 vai deixar de haver.
- Então quer dizer que até 2015 ainda posso estar como cliente do mercado regulado!?
- Sim, mas depois tem de sair.
- E se sair já, o que acontece ao preço que vou pagar?
- Até final da campanha os preços mantêm-se...
- E depois de Dezembro de 2012 (final da campanha)?
_ ????
- JÁ PERCEBI! NÃO QUERO ADERIR, MUITO OBRIGADA.
Espero que os caros comentadores e leitores também consigam perceber a tempo o que aí vem. Cump."
__________________
EXPLICAÇÃO BÁSICA:
No Mercado Regulado, tal como o nome indica, os preços são devidamente controlados por uma entidade competente, não podendo subir além dum determinado valor.
No Mercado Liberalizado não há qualquer regulação, ou seja, temos de estar atentos ao que nos cobram mensalmente.
Quando aderimos à Campanha do sistema de Pontos do Continente, obrigatoriamente temos de passar do mercado regulado para o mercado liberalizado e, por conseguinte, assinar novo contrato.
Além dos esclarecimentos acima reproduzidos, impõe-se acrescentar:
Por contacto feito com a linha EDP (808501501) fomos informados que ao aderir à campanha em referência, teriamos de renunciar à tarifa bi-horária (em que o custo do kWh tem uma redução de 46,2%);
____________
O QUE FAZER:
Aconselhamos a quem não concordar com esta “habilidade” da EDP (com a colaboração do grupo SONAE/Continente) configurando um flagrante caso de “ambush marketing” (marketing de emboscada) e publicidade enganosa, que apresente as suas queixas junto da Direcção Geral do Consumidor e/ou ICAP (Instituto Civil da Autodisciplina da Comunicação Comercial), para além da ERSE (Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos).
Líder da China Three Gorges avalia negócio
O presidente executivo da China Three Gorges (CTG), que comprou 21,35% da EDP, admitiu esta sexta-feira que o negócio com o Estado português, que arrecadou 2,7 mil milhões pela privatização da eléctrica, foi barato.
É só ouvi-lo(s). Quando o Presidente da Three Gorges diz que foi barato comprar a participação na EDP, é caso para os governantes lusos se interrogarem sobre a escolha que fizeram e o valor que aceitaram. Ainda estão "todos" convencidos dos méritos da proposta? Afinal foi ou não vendida ao desbarato? Pois...
Um erro histórico de governação com consequências, infelizmente, bem previsíveis. Ou, apenas, a triste constatação de que, no Governo, a ausência de pensamento estratégico é, não apenas parcial, mas total. Alternativamente, alguns dos ministros sofrem actualmente de manifesta capitio diminutis. Outros poderão chamar-lhe de temor reverencial. No fundo o resultado é o mesmo.
Parece enganar-se, ou pelo menos, não ter em conta as novas realidades daquilo que precisamente invoca: o posicionamento geoestratégico de Portugal.
Num momento em que a Europa parece ter definitivamente perdido a sua condição de centro do mundo, a posição geográfica portuguesa ressalta à vista de qualquer observador, dada a emergência de países como a China ou o Brasil, não descurando o caso indiano. Apenas a "Europa" insiste em considerar-nos "periféricos". O Atlântico é assim e uma vez mais, a grande auto-estrada líquida do planeta e a prova disso, serão as previstas obras no Canal do Panamá, a intensificação da construção naval, o melhoramento das infra-estruturas portuárias em todas as costas banhadas pelo oceano e o cada vez maior interesse que a nova superpotência industrial, a China, manifesta pelos países da sua orla.
Uma outra questão será a do infeliz insucesso da candidatura brasileira à compra da EDP, mas há também que ter em conta a forte presença desta empresa no Brasil e nos EUA, alvos preferenciais do interesse chinês e tal como dissemos no post anterior, os cada vez mais apertados laços económicos entre a China e os Estados da CPLP. Embora continue a existir a prudente desconfiança, as boas relações com o gigante asiático poderão facilitar a nossa presença num continente que encerra um colossal potencial de crescimento. Se a questão política é a que se sabe, há contudo que ter a habilidade necessária - e Portugal é muito experiente, a nossa sobrevivência secular assim o demonstra - para contornar os problemas de forma a que não se ceda no essencial. Por muito que isso "preocupe" os nossos comunistas de serviço, Portugal não se transformará num abarracamento de trabalho forçado ao estilo stakhanovista, não liquidará as liberdades públicas em prol do "Partido" e da sua nomenklatura e jamais aceitará o estabelecimento de qualquer ditadura... comunista. O caso chinês é longínquo e neste capítulo, não podemos alimentar os velhos receios de sempre.
Nicolau Santos nem sequer poderá garantir uma previsão de durabilidade do actual sistema na própria China e os próximos anos poderão ser pródigos em surpresas. O tempo o dirá.
O post de Nicolau Santos poderia ter atingido o alvo, limitando-se a uma única frase: "o Ocidente falhou".
Nesta luta pela sobrevivência, o governo português optou por apostar nos chineses, em detrimento do Brasil. Para já, o único resultado positivo respeita à esfera da política, porque economicamente, muitos agentes há que vêem com alguma circunspecção, o papel que empresas do Império do Meio desempenham noutras "anexadas" em períodos de dificuldades destas últimas: conquista de poder económico e logo, a quase infalível pressão política que não deixará de se fazer sentir. Mais ainda, é observado o corriqueiro processo de obtenção de know-how e a sua transferência para Oriente, dando início ao descurar dos interesses vitais das empresas adquiridas. Veremos se com a EDP se passará o mesmo, mas neste caso, há que contar com outra realidade, a do mundo lusófono. Assim, a situação parecerá mais equilibrada, não sendo de estranhar se proximamente assistirmos à conjugação de políticas entre a China e alguns dos países da CPLP, às quais Portugal não deverá escapar.
De facto, a Alemanha é a grande derrotada na contenda. Derrota económica e sobretudo politica, num momento em que a rispidez do ein befehl ist ein befehl, parece ser a norma adoptada pelo directório composto por alemães e seus assistentes franceses. A boa notícia consiste também em mais um escolho aos impulsos tendentes a forçar um federalismo que mais não é, senão uma clara "provincialização" dos "Estados secundários", sempre em detrimento dos interesses particulares que ainda justificam os resquícios da soberania. A oligarquia possidente, vem agora na pessoa do Sr. Paulo Rangel, despudoradamente reivindicar um certo decisionismo discricionário e em claro detrimento da vontade dos povos, consagrando aquele princípio do referendo "repete até ao sim" que deu início ao total descrédito daquilo que se chama União Europeia. Por outras palavras, de Berlim e via Bruxelas, estamos perante uma espécie de reformulação daquela política olivarista da "União de Armas" que no nosso país despoletaria o movimento do 1º de Dezembro de 1640.
Teria sido mais desejável a aquisição da EDP pelos brasileiros, não apenas por razões económicas e de proximidade - capaz de gerar outros resultados dentro da CPLP -, como também e sobretudo, políticas. Simplesmente, parece existir no Brasil e entre uma certa camada dirigente - principalmente da parte dos "recém-chegados de duas gerações" da Alemanha, Itália e de outros tantos países fornecedores de contingentes migratórios - que se estende das empresas às academias, uma clara má vontade ou declarado preconceito em relação a Portugal e aos portugueses. Se tal não é significativo entre o homem comum escolarizado, verifica-se, no entanto, uma acérrima oposição a tudo o que de Portugal chegue, estejam esses brasileiros em locais de decisão nas universidades americanas, ou nos círculos culturais ou empresariais locais, de Macau, Angola, Moçambique ou até, pasme-se, em Timor. Muito trabalho há a fazer por parte das autoridades políticas de Brasília, agora pertencentes a um sector político pouco propenso a sonhos de padronização Made in USA que eram apanágio de uma certa Direita local. A impressão que fica, é que dada a exiguidade portuguesa, os brasileiros tendem pura e simplesmente a olhar-nos por cima do ombro, ignorando-nos. Erro crasso, pois a situação geográfica portuguesa e a posse - mesmo que teórica - do amplo espaço do Atlântico Norte que vai de Lisboa até bem para lá da última nesga de terra açoriana, deveria fazê-los reconsiderar. Se a isto somarmos a ainda presença portuguesa na U.E., o interesse chinês e de outros "emergentes" - condição que o Brasil reivindica - nas grandes rotas comerciais que ainda são aquelas que o Atlântico retém e aspecto fundamental, a desejável articulação em todo este espaço através de uma coordenação de esforços entre o nosso país, o Brasil e Angola - com os arquipélagos portugueses e os outros que outrora fizeram parte do Ultramar -, temos um quadro onde é possível desenhar uma outra realidade. Não se trata apenas wishful thinking ou de salvar a soberania portuguesa, embora este seja um ponto obviamente interessante para o sucesso do processo de expansão da economia brasileira.
Dito isto, veremos quais serão as imediatas consequências desta vitória chinesa. Não nos admiremos muito se dentro de pouco tempo, a "eterna promessa Sines" não conhecerá novos desenvolvimentos e se a sempre anunciada ligação ferroviária à Europa não será uma prenda chinesa.
Adenda: pese a desconfiança - como aqui dissemos, os chineses não se livram facilmente da fama de "seca-economias" - que já várias vezes manifestámos acerca da política de penetração chinesa, há que reconhecer que neste caso, o governo agiu bem. Enganou os "politólogos" de serviço, fez tábua rasa do propalado princípio de submissão a tudo aquilo que a Alemanha deseja e o processo EDP foi limpo, preenchendo todos os critérios exigidos pela credibilidade. O Brasil não conseguiu o que timidamente aparentou querer. Conseguir enganar uma opinião pública unanimemente formatada para "decisões inevitáveis", é obra. O que irá acontecer ao sr. Mexia?
Um nosso leitor deixou na caixa de comentários, um desabafo acerca do "latente antigermanismo" patente neste blog. Pelo contrário, há entre os colaboradores do E.S. admiradores confessos da Alemanha e entre eles me incluo. Isso não nos impede de verificar a falta de habilidade política de que enfermam muitas das actuais autoridades germânicas, esquecendo-se do facto de não estarem a lidar com uma novidade nacional recente de apenas uns, digamos... 500 anos. Portugal tem as suas fraquezas, mas a generalidade dos seus nacionais é extremamente orgulhosa quando quer e essa erupção pode ser súbita e violenta. Sabendo que jamais declarámos guerra à Alemanha ou participámos na exploração da sua população por duas vezes derrotada nos últimos 90 anos e tendo ainda a consciência de que Portugal excedeu em muito as obrigações que o estatuto de neutral lhe conferia, aos alemães restaria uma réstia de bom senso, evitando melindrar um povo que contra eles não nutre qualquer tipo de preconceito. De facto, a geração dos pais da sra. Merkel, bastas vezes matou a fome com produtos Made in Portugal, apesar do enorme alarido que a Grã-Bretanha e os EUA faziam junto do Palácio das Necessidades. Até podemos recordar a Chancelaria de Berlim, de um evento ocorrido em Maio de 1945, quando Portugal cumpriu escrupulosamente as necessárias obrigações protocolares, colocando a sua bandeira a meia haste.
Os alemães não se recordam, paciência, mas nós ainda temos bem presentes aquelas palavras que o embaixador francês em Roma, André-François Poncet dirigiu ao embaraçado Conde Ciano, no dia 10 de Junho de 1940, dia da declaração de guerra da Itália:
-"Os alemães são patrões duros e isso vão os senhores aprender à vossa custa".
De "privatização" só tem mesmo o nome. Porque, no fundo, o que muda é o Estado. Passámos a electricidade para as mãos dos chineses. O Administrador-delegado do Merkosy quis ser poupado das críticas de continuado favorecimento à Sra. Merkel e preferiu passar um Natal tranquilo.
Agora vamos ver se tudo isto se confirma mesmo:
- Oferta de 2,69 mil milhões de euros (3,45 euros por ação) pelos 21,35% - Cedência de uma linha de crédito de 2 mil milhões de euros, concedida pelo banco chinês CDB. Promessa de uma linha adicional de 2 mil milhões euros
- Controlo de apenas 21,35% da EDP, com a possibilidade de comprar os restantes cerca de 4% detidos pelo Estado
- Compra de participações minoritárias em parques eólicos da EDP Até 2 mil milhões de euros
- Construção de uma fábrica de turbinas eólicas em Portugal até ao verão de 2013
À atenção do pagode: a próxima factura já vem em mandarim.
Os chineses estão nervosos com a possibilidade de não conseguirem tomar conta da EDP. Ameaçam retirar-se da corrida á REN.
Ainda bem, menos um "seca-economias".
Este arregimentar de padrinhos estranhamente idênticos aos da Cosa Nostra, indiciam claramente a sobreposição de interesses pessoais, àqueles que são os do Estado português e consequentemente, dos contribuintes que ao longo de décadas foram sustentando o empório EDP. Segundo noticia o Jornal de Negócios, a Eletrobrás foi excluída pelo Conselho Geral e de Supervisão, em benefício da "cunha" mexida pelo cada vez mais gauleiter Mexia e que visa uma espécie de Anschluss da EDP pela E.ON alemã.
Por outro lado, Dilma Rousseff está interessada em fazer valer o peso do país lusófono. Esperemos que tenha sucesso e que se acabe de vez com a ingerência estrangeira neste caso. Quando aqui se escreve a palavra estrangeira, referimo-nos a alemães e chineses. Que se dediquem a outros curto-circuitos, até porque já basta, uma vez que a "privatização estatal estrangeira" da EDP, consiste num rotundo disparate.
Aqui se explica porquê: "será difícil imaginar que a EDP, no caso de venda para a E.ON, será instrumentalizada pelos interesses alemães, ainda mais quando estes interesses já influem na política nacional de forma tão devastadora? Vejam o que se passa no caso das energias alternativas, que financiamos com impostos e com preços de energia absurdos! Se a EDP for tomada pelos alemães, a situação chegará a um ponto que em outros tempos constituiria um casus belli, que é o de pagar tributos a uma nação estrangeira para que ela destrua a nossa." Aproveitem o link e leiam o texto completo.
Os brasileiros e os chineses estão revoltados com aquilo que parece ser verdade: a EDP vai ser vendida aos alemães, apesar destes apresentarem a proposta de compra pelo menor valor. Os entusiastas de tudo o que venha além-Reno, tentam encontrar justificações, como a "gestão cuidada, a inovação tecnológica", ou ainda, a sempiterna "Europa". Qual Europa...? Como aqui se nota, a questão é poderosamente política.
A verdade parece ser outra e não terá outro nome senão chantagem política - com "fábricas da economia/PIB" como escondida ameaça - e da mais descarada. Em troca dos bastante discutíveis favores monetários nesta situação da crise financeira, os nossos parceiros da "U.E." pretendem adquirir empresas a preço de saldo, controlando o apetecível mercado e podendo obter mais um posto na conquista pela total hegemonia. Experiência disso têm eles, não haja qualquer dúvida e pelos vistos, o DN noticia o Sr. Mexia como uma entidade que se tem mexido para dar a vitória à E.ON. O Jornal de Negócios diz mesmo que os alemães já prometeram a manutenção do rendoso cargo na administração da EDP e assim, aventa-se ser este o verdadeiro móbil do mexido vorwärts de Mexia.
Ignorantes como somos nesta matéria técnica, não sabemos se as autoridades portuguesas têm qualquer tipo de visão acerca de uma estratégia energética para o país e qual a coordenação que poderia existir a longo prazo, entre Portugal e alguns países do mundo lusófono. Os partisans da Alemanha - país que sem reservas admiramos, mas que inegavelmente se encontra muito distante dos tradicionais interesses nacionais de Portugal -, decerto darão tratos de polé à imaginação, sabendo-se que existem muitas e importantes empresas brasileiras e chinesas, tão ou mais aptas que as suas homólogas germânicas.
Uma loucura é prosseguirmos no caminho do abandono dos nossos antigos mercados além-mar, insistindo no monopólio europeu.
Politicamente, nem faz sentido qualquer tipo de aposta ou concurso. Pague o que pagar - e paga mais que os alemães -, o Brasil deve ter a prioridade.
Está por horas (ou dias), a informação de que o Governo de Portugal alienou a EDP aos alemães da. E.on. É a"primeira pérola" que se vai, a preço de saldo. É só esperar para ver!