Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]



Portugal é um inconseguimento permanente

por Samuel de Paiva Pires, em 09.12.20

Hoje, a propósito de três acontecimentos da semana passada, escrevo no Observador sobre alguns traços da cultura nacional. Termino assim:

Em suma, no nosso país imperam a “tudologia”, um debate político pobre, uma crónica incapacidade organizacional e lideranças políticas medíocres. Continuaremos certamente a pensar a cultura portuguesa, a identidade nacional e o nosso declínio em torno de temas como o sebastianismo, o pessimismo ou a saudade, mas a causa principal do nosso atraso estrutural, na esteira do que Nuno Garoupa escreveu há quase três anos, é a infelicidade de termos elites de má qualidade. Como canta Samuel Úria, “Se fosse meritocracia/ Nem serviam para comida de cão”.

publicado às 20:56

Dos manuais no ensino moderno

por Samuel de Paiva Pires, em 14.03.15

Eduardo Lourenço, "Da filosofia e da sua relação com a ideologia":

Em lugar das obras a escolaridade secundária serve de preferência manuais. O manual tornou-se assim no ensino moderno (curiosa correspondência com o mundo económico das “sociedades anónimas de responsabilidade limitada) uma espécie de terra de ninguém da sabedoria, que não é outra coisa que uma sabedoria degradada. Em vez dos mestres são-nos servidos compiladores. O ensino moderno é o ensaio incrível de fazer compreender o mais pelo menos, o superior pelo inferior. É a inversão da ordem natural, a inversão da educação antiga, comunicação dos que sabiam aos que sabiam menos ou não sabiam.

publicado às 17:57

A euforia poetizante de Lourenço

por João Pinto Bastos, em 22.01.14

À semelhança do meu mui estimado Eduardo Lourenço, também não pedi às nossas elites dirigentes para acumularem a dívida que, levianamente, acumularam, fazendo tábua rasa dos mais elementares princípios da boa governação económica. O problema é que, sem que ninguém, no seio da cidadania, dissesse fosse o que fosse para obstar à deriva dividocrática da República,  exceptuando alguns "jovens" do Restelo, a partidocracia portuguesa desgraçou, em meia dúzia de anos, um país que, por força dos sofrimentos pretéritos, merecia melhor sorte. A situação "humilhante" de que fala, com alguma pitada de ironia, Lourenço é, muito resumidamente, o triste corolário de uma cultura de facilitismo que penetrou de alto a baixo toda a sociedade portuguesa, recauchutando um sistema político já de si bastante permeável à demagogia e ao bloqueio. É por isso que, sem esgaravatar muito, o soi-disant "milagre português", assente nos "esquemas de sobrevivência", é, inevitavelmente, uma espécie de arrimo último da intelectualidade que se recusa a raciocinar fora da caixa. Eduardo Lourenço, não obstante a sua profunda inteligência, não foge, nestas declarações, da mediania intelectual infelizmente tão característica do regime. Não é que, note-se, eu refute a validade da tese que prescreve que o português, ao longo dos séculos e das mais complexas situações, foi e é um homem, inerentemente, desengonçado, capaz de fugir, passe o plebeísmo, com uma perna às costas dos obstáculos mais periculosos. Não nego, repito, esta obviedade, que é, aliás, facilmente perscrutável numa análise atenta da nossa história. Porém, o desafio que impende sobre o nosso país, atentas as dificuldades presentes, exige uma resposta de outro recorte, que começa, em primeiro lugar, naquilo a que, indirectamente, Lourenço se referiu, ainda que sem lhe dar o verdadeiro nome: a cultura do consenso. De facto, como disse o filósofo-mor da identidade portuguesa, a democracia não pode nem deve excluir ninguém, e o primeiro passo para levar avante este preceito reside na interiorização por banda dos dirigentes dos principais partidos do regime da necessidade de pactuar sobre o essencial. Essa cultura pactista exige o compromisso máximo de todos, desde os partidos até à restante sociedade civil, e demanda, também, uma compreensão diferente sobre a portugalidade e a cultura que se deseja (re)construir para que o Portugal dos nossos filhos e netos tenha viabilidade. O consenso, democraticamente deliberado, é o alfa e o ómega da sobrevivência futura, e não será, com toda a certeza, com "euforias" desbragadamente revolucionárias que se logrará ultrapassar a presente crise. O consenso faz-se da cedência com convicção, acordando no fundamental, sem deixar, contudo, de lado os princípios norteadores de cada um. É disto que Portugal precisa, e não de devaneios poetizantes que não levam, manifestamente, a lado algum. E Eduardo Lourenço sabe, melhor do que ninguém, que as coisas são mesmo assim.

publicado às 23:25

Nacionalistas e estrangeirados

por Samuel de Paiva Pires, em 21.11.12



Eduardo Lourenço, "Nacionalistas e estrangeirados", in Heterodoxias:


«António Sérgio age, paradoxalmente, como um superpatriota. A certos respeitos, e por mais estranho que pareça, a sua atitude tem pontos de contacto com a do racionalista místico, mas também nacionalista místico que foi Fernando Pessoa. Só que Pessoa levou a abstracção, ou o sonho, mais longe que Sérgio. No fundo, Sérgio queria descobrir uma nova Índia como Pessoa, desejava um Portugal digno dessa nova descoberta como o de Quinhentos que é o objecto supremo dos seus desvelos, ele que era da Índia e Pessoa de parte nenhuma. Sérgio e Pessoa são também, como quase todos nós, herdeiros da Geração de 70, das suas visões pessimistas e hiperpatrióticas virando-as do avesso, convertidas em ironia ou sarcasmo para se vingeram da nossa imagem do presente português de que se envergonham ou os envergonha. Só para Sérgio a imagem ideal da nossa cultura existia como imagem exemplar europeia, da Europa da revolução científica atrás da qual corremos em vão, enquanto para Pessoa essa mesma Europa era também reino cadaveroso a redimir por um Portugal, futuro das nações como para Agostinho da Silva, um Portugal cuja existência histórica orgânica (não poluída pela sobrevivência ao outro) finara em Alcácer.»

publicado às 14:42

Coisinhas boas do mercado editorial português por estes dias

por Samuel de Paiva Pires, em 21.11.12

Eduardo Lourenço, Heterodoxias, editado pela Fundação Calouste Gulbenkian.

 

 

 

Pedro Galvão (org.), Filosofia: uma introdução por disciplinas, editado pelas Edições 70.

 

publicado às 12:12






Arquivo

  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2023
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2022
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2021
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2020
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2019
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2018
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2017
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2016
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2015
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2014
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2013
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D
  157. 2012
  158. J
  159. F
  160. M
  161. A
  162. M
  163. J
  164. J
  165. A
  166. S
  167. O
  168. N
  169. D
  170. 2011
  171. J
  172. F
  173. M
  174. A
  175. M
  176. J
  177. J
  178. A
  179. S
  180. O
  181. N
  182. D
  183. 2010
  184. J
  185. F
  186. M
  187. A
  188. M
  189. J
  190. J
  191. A
  192. S
  193. O
  194. N
  195. D
  196. 2009
  197. J
  198. F
  199. M
  200. A
  201. M
  202. J
  203. J
  204. A
  205. S
  206. O
  207. N
  208. D
  209. 2008
  210. J
  211. F
  212. M
  213. A
  214. M
  215. J
  216. J
  217. A
  218. S
  219. O
  220. N
  221. D
  222. 2007
  223. J
  224. F
  225. M
  226. A
  227. M
  228. J
  229. J
  230. A
  231. S
  232. O
  233. N
  234. D

Links

Estados protegidos

  •  
  • Estados amigos

  •  
  • Estados soberanos

  •  
  • Estados soberanos de outras línguas

  •  
  • Monarquia

  •  
  • Monarquia em outras línguas

  •  
  • Think tanks e organizações nacionais

  •  
  • Think tanks e organizações estrangeiros

  •  
  • Informação nacional

  •  
  • Informação internacional

  •  
  • Revistas