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Pedro Nunca Santos

por John Wolf, em 06.03.24

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De maneiras que é assim, de acordo com Pedro Nunca Santos: vota como eu digo que vou fazer e não como não fiz enquanto lá estive. Basicamente, é este o mantra do candidato-socialista. O secretário-geral-ex-ministro-demitido é também juiz desembargador do supremo tribunal da memória ténue dos eleitores hipnotozados. Fez delete do seu cadastro enquanto governante de pastas e afins. Serve-se do mata-borradas para eliminar gralhas de ingestão política. E agora quer renascer, mas não se diz ressuscitado. Faz fé cega na carreira que saiu da plataforma da geringonça e que descarrilou no apeadeiro da maioria absoluta. O homem não consegue lipoaspirar-se, mas diz que já fez a dieta necessária. Identificou as verrugas que sobraram da cirurgia plástica para embelezar os últimos oito anos e afirma ter no bolso uma lima para desbastar as agruras. Este post é dirigido aos militantes-camaradas socialistas. Mas não é dirigido por mim. É take-away ou Uber político cuja plataforma de distribuição assenta arraial no Largo do Rato, onde uma poderosa máquina de comunicação há 50 anos tem vindo a aperfeiçoar o desempenho dos bytes de propaganda. Deveriamos estar a lamentar meio século de usurpação da coisa pública pelo Partido Socialista. A subtração que fizeram ao povo Português. Porque tiraram mais do que deram, embora afirmem o contrário. Não foram oito anos de governação. Foram muitos mais. Mas para contas certas é melhor pedir ao secretário-geral. Ao outro. O da ONU.

crédito imagem: Horácio Villalobos/Cerbis via Getty Images

publicado às 10:20

Taça de Portugal das eleições

por John Wolf, em 01.03.24

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Ao contrário do que vai suceder na Taça de Portugal (falo de futebol, obviamente!), as eleições legislativas de 10 de março não sucedem a dois tempos, com eliminatórias. A Aliança Democrática (AD) e o Partido Socialista (PS) assumem-se deste modo como finalistas, mas existe um terceiro jogador que poderá inclinar o terreno de jogo — o Chega. O Chega será uma espécie de árbitro, ou VAR, se quiserem. Os portugueses têm visto e revisto os lances da governação, nos últimos oito anos, e podem deixar a sua paixão clubística de lado neste campeonato por manifesta insatisfação em relação aos resultados. Podem dar alguma razão ao partido da arbitragem. A equipa inicial da Geringonça, com jogadores de outras cores que nunca saltaram do banco, foi substituída para além do tempo regulamentar pela seleção da maioria absoluta, recheada de craques e com grandes planos para a liga dos campeões políticos. Mas as coisas não correram de feição. Os avançados socialistas simularam faltas, mas falharam os penáltis inventados. Os extremos marcaram os cantos, mas a bandeira nem se mexeu. E os centrais do executivo não foram capazes de conter as jogadas de ataque dos rivais da semi-circular do parlamento. Estamos assim a poucos dias do fecho do mercado de incumbências com muitas incógnitas a pairar no boletim de voto. O novo treinador do PS não conseguiu galvanizar a sua massa adepta e gizar o seu esquema táctico. Não sabemos sequer que equipa organizará para dar continuidade a Mr. Costa que saiu do clube do Rato. A AD, uma equipa em construção, sente que chegou o seu momento na segunda volta do campeonato. Mas provavelmente terá de ir buscar o apoio de uma equipa que joga noutra liga ideológica, mesmo que alguns jogadores da divisão de honra possam ser contratados para certas alas.  Aguardemos então pelo apito final. E com ainda maior entusiasmo pelo tempo extra que começa logo no dia 11 de março após a contagem dos pontos...

publicado às 11:58

Tintins de activistas

por John Wolf, em 29.02.24

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Os ditos activistas pelo clima pensam que têm tintins. Mas apenas atiraram tinta acrílica verde. Podemos extrapolar, a partir das amostras que irrompem estúdio adentro ou que arremessam substâncias cromáticas sobre políticos, que aqueles que "fazem" (citando Pedro Nunca Santos) estes preparos não detêm estrutura ética e moral. São excessivamente jovens para produzir argumentos racionais civilizados, não têm descendentes nem responsabilidades familiares, mas são filhos de alguém que transmitiu grandes valores humanos. Têm tempo a mais, cabeça a menos e vontade de aparecer. São discípulos em idade pueril da outra em idade adolescente — Greta. Todos concordamos que o clima e as questões ambientais são temas centrais para a sustentabilidade civilizacional, mas também podemos concluir que o futuro corre sérios riscos. Estes embriões de putativas lideranças de causas não conseguem articular um discurso coerente e, à falta de meios intelectuais, enveredam pela violência. Sim, porque é disso que se trata. Não devemos fingir que não existe filiação ideológica neste género de assalto à intregridade física. Foram instigados a avançar sobre adversários sem olhar a meios, sem contemplar os danos. São extremistas na mais pura acepção do termo. Nem vou especular quem é que lhes deu corda ou gás para proceder de tal modo. Se ao menos fossem coerentes, teriam feito uso de algo biodesagradável como estrume. Assim não passam de climínimos...

publicado às 13:15

Boletim de voto para tótós

por John Wolf, em 26.02.24

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  • Fez parte de um governo do passado que levou Portugal à bancarrota e à intervenção da Troika? 
  • Check mark, Wingdings font, character code 254 decimal. 
  • Foi Ministro das Infraestruturas envolvido em escândalos com a TAP?
  •  Check mark, Wingdings font, character code 254 decimal. 
  • Concordou com a compra de ações da CTT que em nada beneficiou a empresa ou o país?
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  • Procedeu à indemnização por "Whatsapp" de gestora no valor de 500 mil euros?
  •  Check mark, Wingdings font, character code 254 decimal. 
  • Afirma ter deixado obra feita na CP que é um "orgulho nacional"?
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  • Encenou uma demissão para "inglês ver" para se lançar à liderança do seu partido?
  •  Check mark, Wingdings font, character code 254 decimal. 
  • Foi discípulo de um primeiro-ministro constituído arguido por corrupção? 
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  • É político que repete sempre o verbo "fazer"?
  •  Check mark, Wingdings font, character code 254 decimal. 
  • Sabe o que funciona e não funciona no país?
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  • Fez parte da governação nos últimos oito que levou os portugueses à miséria económica e social?
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  • Prometeu um novo aeroporto à revelia do primeiro-ministro?
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  • Esteve associado a greves de motoristas que deixaram os condutores com graves problemas no abastecimento de combustíveis?
  •  Check mark, Wingdings font, character code 254 decimal. 
  • Esteve tempo suficiente no governo para deixar obra, mas não há nada que se veja? 
  • Check mark, Wingdings font, character code 254 decimal. 
  • Tem um pai cujas empresas fizeram negócio com o Estado no valor de 1,16 milhões de euros?
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  • Pensa que reúne os atributos de um bom lider, mas não passa de um fanfarrão?
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  • Afirma que a justiça funciona em Portugal, mas não sabe ao certo o que funciona?
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  • Irá no dia 11 de março resistir até o limite à possibilidade democrática de haver um entendimento à direita para governar legitimamente o país?
  •  Check mark, Wingdings font, character code 254 decimal. 

 

publicado às 18:29

O desespero do Pedro Nuno Santos

por John Wolf, em 25.02.24

 

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Pedro Nuno Santos, no primeiro dia oficial de campanha, já denota o enorme stress que o atormenta. O desespero é mais que evidente. Começa a sentir a grande probabilidade de sofrer várias derrotas em simultâneo na noite de 10 de março. O defraudar dos camaradas por ter sido uma aposta totalmente errada, o defraudar da esquerda por não reunir condições para a sua agregação, e a traição do povo português — por fazer promessas furadas e oferecer fantasias governativas. Mais uma vez, hoje, à falta de argumentos do presente, acena com o papão da austeridade, resgatando Passos Coelho do passado arqueológico, e omitindo que foram os socialistas que estenderam a passadeira rosa à Troika com o descalabro provocado pelo governo de José Sócrates. Resta saber quem no Partido Socialista o hipnotizou ao ponto de não perceber como vai ser sacrificado, como está a ser usado para fazer a limpeza da casa. Temos a certeza de que o cinismo reina no Largo do Rato. Porque enviar para a linha da frente um soldado raso que julga que um dia será general é tenebroso, não se faz. Veremos agora o nível de adrenalina dos socialistas aumentar e contaminar ainda mais os media. Porque a angústia crescente também infecta os comentadores avençados para darem o seu contributo para tentar inverter o rumo dos acontecimentos. Os portugueses, na sua maioria, a maioria que elege, já não é ferrenho ideologicamente como já fora no passado. Já não quer saber de sondagens ou orientações partidárias. Quer melhores condições de vida. Quer trabalhar e dormir sossegado. Quer dinheiro para pagar as contas e médicos para tratar da saúde. Os últimos oito anos falam por si. É deixá-los andar, a falar sozinho, os camaradas, que eles já caíram, mas ainda julgam o contrário. O balão não tarda nada rebenta. Porque cheio de basófia já ele está...

publicado às 19:46

Serviços de Informações do Carneiro

por John Wolf, em 24.02.24

 

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Os Serviços de Informações Eleitorais  (SIE) de José Luís Carneiro garantem que já estão em curso negociações entre a Aliança Democrática (AD) e o Chega para formar governo. Carneiro quer meter medo aos portugueses. Se Carneiro não apresenta provas que corroborem as suas certezas, o que declara a pés juntos não passa de fake news. Mas se o Partido Socialista (PS) conversa com extremistas como o Bloco de Esquerda (BE) ou o Partido Comunista Português (PCP) sobre cenários pós-eleitorais a coisa muda logo de figura — não vem algum mal ao mundo. É esta dualidade de critérios políticos e morais que rege o modo de fazer política dos socialistas. Em dia do 2º aniversário da invasão russa da Ucrânia é bom que nos lembremos onde se deve posicionar Portugal e onde se localizam os partidos de extrema esquerda de Portugal em matéria de política interna, mas também de política extrema, perdão, externa.

publicado às 19:34

Sobre as eleições no Brasil

por Samuel de Paiva Pires, em 28.10.18

Por estes dias, diversas pessoas enveredaram por uma perigosa equivalência moral entre corrupção e fascismo, para justificarem a sua abstenção (no caso de Fernando Henrique Cardoso), apelo à abstenção (nos casos de Assunção Cristas e José Manuel Fernandes), ou apoio declarado a Bolsonaro (caso de Jaime Nogueira Pinto). Ora, ao contrário do que escreveu José Manuel Fernandes, Haddad é mesmo um mal menor em relação a Bolsonaro, e não, corrupção e fascismo não são dois males maiores equivalentes. Sem entrar em grandes teorizações, direi apenas que a corrupção é inerente à condição humana e ao estado de sociedade, permeia qualquer sociedade e qualquer regime político, democrático ou não, embora, claro, em diferentes graus. Isto é uma observação factual, não qualquer tentativa de justificação ou desculpabilização da corrupção, até porque acredito que é moralmente desejável reduzi-la ao menor grau possível. Ainda que seja compreensível que muitos brasileiros estejam cansados da corrupção que grassa no país em resultado do exercício do poder político pelo Partido dos Trabalhadores, quem acredita que Bolsonaro irá eliminar a corrupção está iludido e enganado a respeito da condição humana e do que é a política, especialmente se acreditar que um regime autoritário, fascista, é conditio sine qua non para proceder a uma "limpeza" da corrupção no Brasil. Já que a memória histórica de boa parte dos brasileiros (e não só) parece olvidar que também durante a ditadura militar brasileira existiu corrupção (e em tantas outras ditaduras por este mundo fora), ou que os regimes autoritários são, também eles, permeados por este fenómeno, então que atentem no índice de percepção da corrupção da Transparency International para perceber uma coisa bastante simples: os países cujos regimes políticos são democracias liberais são os menos corruptos do mundo, ao passo que os regimes autoritários são precisamente os mais corruptos. Posto isto,  sugiro ainda que perguntem às vítimas de qualquer regime autoritário ou totalitário, os mortos, os presos políticos, os torturados, os exilados, os perseguidos, se preferem viver num país com corrupção mas em que haja liberdade  (de pensamento, de expressão, de informação, de associação) ou num país cujo regime político imponha a censura ao pensamento divergente do pensamento único, a tortura, os trabalhos forçados e a morte por critérios tão arbitrários e desumanos como a mera discordância política ou diferenças de qualquer tipo (raciais, nacionais, de orientação sexual).  

publicado às 12:38

Autárquicas da bola

por John Wolf, em 14.09.17

 

A Comissão Nacional de Eleições (CNE) deve ser composta por bananas. Apenas trabalha quando o rei faz anos, mas mesmo assim não acorda a tempo e horas do serviço. Borra a pintura. Tem expediente a cada 4 ou 5 anos, mas é incapaz de dar conta do recado. Nem umas miseráveis eleições é capaz de marcar no calendário. É uma infeliz coincidência essa estória dos jogos acontecer no mesmo dia. Azar. Os adeptos do Porto, se carregarem em massa em Alvalade, terão de organizar muito bem o seu dia. Terão de descer à Ribeira, inserir o boletim na ranhura e depois rumar a Lisboa. Pois. Estou a ver o filme. Isto precisava de um vídeo-árbitro-autárquico para controlar a jogada - amarelo, no mínimo. Falamos de uma estimativa de abstenção afectada negativamente pelo espectáculo da Primeira Liga. Não me venham com estórias. Querem convencer-me que a CNE não analisa todos os factores de perturbação dos actos eleitorais? Os eleitores da coligação Benfica-PS também terão de fazer um esforço acrescido para ver se não ficam retidos na ilha da Madeira devido a um inesperado vento cruzado. Contudo, independentemente da bola, os portugueses terão mais uma desculpa para não exercerem a sua obrigação cívica. Depois é o que se sabe. Continuarão a queixar-se deste ou daquele, mas mandam dar uma volta àqueles que ousem perguntar: votou? Ou foi ver a bola?

publicado às 13:33

Medina e Lisboa a metro

por John Wolf, em 07.09.17

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Aviso desde já que vi bastantes segmentos da grande tertúlia promovida pela TVI e a anfitriã Judite de Sousa. Não escutei de fio a pavio o debate. Mas ligando os pontos, facilmente chegámos à conclusão que o Partido do Turismo marcou assento mesmo sem ter sequer um lider em estúdio. Fernando Medina, o único político não eleito dos presentes, não soube aproveitar essa condição. Não soube e não quis, porque sabe que qualquer tentativa de se apresentar como "independente", e herdeiro de um legado que não escolheu, cairia por terra num ápice. Assunção Cristas sintetizou - "Medina anda de braço dado com o governo" e "foi secretário de Estado sob a batuta de José Sócrates". Mas adiante, deixemo-nos do acessório e passemos ao essencial da noite. A questão das taxas turísticas parece estar envolta na mesma aura de mistério dos donativos de Pedrógão. Não se percebe muito bem para onde foi ou para onde vai o dinheiro. Não se sabe ao certo de que modo é feita a alocação das receitas. A taxa respeitante à Protecção Civil,  a grande bandeira de financiamento das emergências da capital, afinal peca por inconstitucionalidade se for adoptada a mesma orientação jurídica que foi determinada em Vila Nova de Gaia. Cristas tem razão. A Protecção Civil não pode ficar dependente de mais ou menos meios angariados através de taxas ou taxinhas -  é um encargo em relação ao qual não se pode abrir mão. João Ferreira do PCP esteve bem ao saber demarcar-se da expressão geringonçal que o define a si e ao seu partido. Soube fingir muito bem a sua irreverência, mas sabemos que nos bastidores os acertos serão determinados. Ricardo Robles do BE foi uma agradável surpresa - é uma versão diluída e não histérica da Catarina Martins. Parece ser alguém com quem se pode discordar sem levar com um compêndio moral em cima. Teresa Leal Coelho é um erro grosseiro de casting. Infelizmente não tem o que é necessário para o cargo em questão. É incapaz de estruturar um pensamento ordeiro e é péssima no contraditório. Se é para fazer escola aqui nestas andanças, sair-lhe-á caro. Adiante. A discussão dos metros do Metro coloca Lisboa numa posição incómoda. A cidade não pode ser pensada a partir do prisma da mobilidade, como se a mesma fosse a geradora de outras soluções estruturais. Nada de conceptual foi discutido. A saber; qual o conceito de qualidade de vida que define Lisboa e quais as ambições dos seus residentes? Que implicações terão as propostas dos candidatos no desenvolvimento dos concelhos adjacentes? Qual a abordagem inter-municipal para integrar as mais que expectáveis alterações que se farão sentir na periferia? Onde começa e acaba Lisboa, e como pode a mesma ser pensada a partir do prisma do Turismo? Será que são entidades exógenas que determinarão o curso político de acção? Se deixarem o Turismo ditar o rumo da capital, poderemos apresentar um novo conceito operativo político: a perda de soberania autárquica. A cidade de Lisboa não pode pertencer aos maltrapilhos dos turistas que apenas se apresentam por interesse hedonista. E os que residem ficam para segundo plano? Fico algo chocado que não tenha sido atribuída a ênfase devida à condição alfacinha. São os que cá vivem que mais importam. O turismo é um vento favorável que sopra, mas devemos temer furacões e aguardar as tempestades geradas por políticos que acreditam nas benesses das cirurgias plásticas dos canteiros de avenidas. Como em todos os outros processos eleitorais de Portugal, não me assiste votar. Não sou uma coisa nem outra. Não sou nacional, mas também não sou turista. Sou residente de pleno direito e estou alinhado com os da terra que merecem muito mais do que presentemente lhes é oferecido. E não me venham com essas histórias encomendadas pela geringonça de que Portugal é o 5º melhor país do mundo para se trabalhar. Não é assim que se faz. Não é assim que se faz campanha. A masturbar prémios em cascata.

publicado às 07:45

Paris, início dos anos 90

por Nuno Castelo-Branco, em 23.04.17

 

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 Devido a afazeres profissionais, durante um certo período tive de visitar Paris bastas vezes e foram tantas que praticamente dividia a residência entre Lisboa e aquela capital. Era um penoso dever bastante agradável numa cidade que cumpria fielmente todos os lugares comuns das luzes cintilantes, quilómetros de museus, vitrinas opulentas e tudo o mais que se sabe.


Ficava então instalado no XVIéme, nas imediações do Trocadero, uma zona a abarrotar de celebridades, gente de pasta, uns tantos exilados voluntários ou não como a grandiosa Xabanu Farah Diba ou a esquiva Marlene Dietrich. Era este o ambiente. O apartamento? Intermitentemente vazio e pertencente a uns amigos, claro.

Naquele prédio sito nas imediações da G. Mandel, imperava uma imponente porteira cuja nacionalidade facilmente se adivinha, pois isto também fazia então parte integral dos já citados lugares comuns acima apontados. Era uma belíssima alentejana alta, bem torneada, lábios e peitorais protuberantemente carnudos e com um não sei quê de Amália fisicamente muito mais dotada. Nunca, jamais a vi de bata e ar tristonho e pelo contrário saía à rua impecavelmente vestida, bem ciente de saber sempre ser notada. Para cúmulo da felicidade era orgulhosa, altiva e apenas ficava naquele meio sorriso bem educado que não dava azo a confianças. Inacreditavelmente não tinha aquele sotaque típico que tão bem caracteriza as nossas elites caseiras em todas as suas pretensões cosmopolitas. Ia todas as semanas ao teatro, lia, visitava exposições e comigo jamais soltou boca fora qualquer galicismo. Nunca. 

Como se sabe, aquela zona de Paris é pródiga em blondasses naturais ou químicas, umas que já viram melhores dias e outras que mesmo o passar dos anos em nada mudam o aspecto geral bastante razoável. Naturalmente corteses e friamente distantes, davam-se a ares não se sabe bem de quê e viviam recolhidas nos seus não-afazeres quotidianos. Era o caso daquele prédio onde a luso-majestática Maria Antonieta ditava a sua lei que em boa verdade era timidamente obedecida por todos. Os residentes resmungavam pela surdina e abandonado o átrio, os decibéis dos latidos iam subindo à medida que galgavam as escadas, afastando-se da despótica Senhora que fazia sombra a todas as outras. A Antonieta abertamente se ria e virando-se para mim, disparava com um esgar desdenhoso:

- Estás a ver, é assim que devem ser tratados, é metê-los a todos nas suas tocas! Pffffff...era só o que mais me faltava!

E passava adiante, falando das suas saudades do nosso país que ainda imaginava ser o seu. Nunca me atrevi a dizer-lhe que de facto a França, ou melhor, o ambiente que ali existia muito fizera por ela e como inteligente pessoa que era, nem sequer disso dava conta, tudo aquilo que mostrava tornou-se numa naturalidade que advinha da sua forte personalidade rica e multifacetada.

Um dia, chegando a meio da manhã, deparei com esta Senhora numa acalorada discussão com uma pequena e rechonchuda blondasse do edifício, uma verdadeira doméstica burguesa sem qualquer tipo de chamariz e bastante vulgar na expressão portuguesa do termo. Não sei qual teria sido a origem da disputa, mas a certa altura a famosa ditadora da portaria acabou com o assunto de forma lapidar, vincando bem cada palavra:

- Est ce que vous savez mon nom, Madame? Ma-ri-e An-toi-ne-tte, Ma-ri-e Ant-toi-ne-tte! ICI, LA REINE C'EST MOI!

Clac! (porta fechada com estrondo na cara da pequena bourgeoise atrevida)

E era mesmo a rainha do prédio, batia todas as outras por KO absoluto. 

Guardo para mim as desconfianças, mas o que terá ela decidido para hoje? 


 

publicado às 09:05

Ver Le Pen e navios passar

por John Wolf, em 24.03.17

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A ver vamos quem ganha a corrida. Se o festival europeu da canção populista ou se a melodia da traição de Trump. Falamos de Democracia, naturalmente. Em qualquer um dos casos, os processos decorrem de prerrogativas firmadas em Constituições e materializam-se quer em processos eleitorais ou mecanismos de controlo. Afastemo-nos por alguns instantes da contaminação ideológica e concentremo-nos nas liberdades e garantias. Em França, Le Pen tem o direito inalienável de se propor como solvente do dilema existencial daquele país. Nos Estados Unidos (EUA), Trump, que já se senta na cadeira do poder, é agora obrigado a rever algumas premissas de sustentação. Na grande competição de legitimizações, os lideres efectivos ou prospectivos não se livram dos mecanismos de controlo. Nessa medida, os EUA  levam a vantagem. Trump não pode abandonar o dólar americano e iniciar um Americexit. Está preso nessa federação consolidada e responde perante o FBI. Le Pen, por seu turno, pode rasgar sem dó ou piedade o Tratado de Lisboa, o Euro e fazer-se à vida soberana. Nos EUA, a soberania também se exprime na acção da agência federal de investigação que virará o prego caso seja necessário e à luz de evidências de traição que parecem estar a ganhar contornos inegáveis. A União Europeia (UE), com todos os seus salamaleques burocráticos e danças de comissão, pura e simplesmente nada pode fazer. Está de mãos atadas à cadeira da sua própria construção política fantasiosa. Parece-me ser mais um pecado mortal, para além de tantos outros, que a alegada "Constituição" da UE não tenha sequer pensado em mecanismos jurídicos de controlo recíproco. Se houver mão russa nas eleições francesas, os estados-membro da UE ficam a ver navios passar. Até ao momento registámos vontades eleitoriais unilaterais. Foram os britânicos que democraticamente decidiram alargar o canal e cortar o cordão que ligava o Reino Unido ao "continente" e iniciar o Brexit. Mas imaginemos por um instante, integrando no nosso espírito uma extrapolação radical, que a expulsão passa a ser necessidade de auto-preservação da UE. Suponhamos que, volvidos alguns meses, se vem a descobrir a mão invisível de Putin nas eleições em França e que o excelso acervo democrático transparente e idóneo da Europa é posto em causa. O que farão os magníficos Junckers e Dijsselbloems da UE? Será que chamam nomes indigestos aos gauleses? Será que lhes atiram à cara que são uns camemberts malcheirosos e uns míseros flauberistas? E será que ficam a ver Le Pen passar?

 

publicado às 09:42

Fillon mignon

por John Wolf, em 21.11.16

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Os democratas franceses nada aprenderam com os mais recentes eventos que abanaram o sistema político norte-americano. A lição de Hillary não foi assimilada. São tantos os participantes a concurso nesse campo ideológico que Marine Le Pen deve estar a esfregar as mãos de contente. Sarkozy jafoste. E agora Fillon mignon apresenta-se com grandes desígnios que se inscrevem nessa velha escola de funcionalismo público, impostos mais ou menos baixos, e depois, como se ninguém reparasse, lá mete um referendo sobre a quota de imigrantes como se a virtude democrática das massas pudesse ser exultada de um modo honesto. Ou seja, defende o que Trump defende, mas não assina o despacho. Remete para o povo essa decisão nefasta. Sacode preventivamente a água do capote do nacionalismo residente na marselhesa. Em plena época de falências do politicamente correcto o filão de Fillon não pega. Nas cidades e nas serras, e nos banlieu, o código de sobrevivência é outro. Os franceses de pleno direito, que em tempos não o eram, são os primeiros a pôr trancas à porta, a barrar a porta a "ladrões" de empregos. E há mais. A alegada moderação de Trump apenas ajuda a consolidar a ideia de que afinal o conservadorismo não se faz equivaler a extremismos proto-fascistas. Vivemos uma época de grandes rupturas. O descarrilamento das instituições clássicas, mas também da linguagem que tarda em se refrescar para acompanhar o novo glossário de intenções políticas.

publicado às 10:51

Trumpismo

por John Wolf, em 11.11.16

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Estou a mudar. E não sou o único. Não deixei de acreditar. Mas as minhas convicções também não se encontram em territórios perfeitamente delineados. Dentro de dias farei anos, e se me confinasse a uma matriz definida estaria arrumado, seria um velho - mais velho do que o mero ano que irei adicionar à minha existência. Durante anos a fio fomos arremessados sem dó nem piedade de um sistema de valores políticos para o seguinte, de uma promessa grandiosa para um juramento ainda maior, e sem pudor, fomos aceitando essa modalidade de fé, essa religião política. Encontramo-nos agora num cruzamento, no confronto entre os medos, as expectativas, as convenções e preconceitos que se sedimentaram no nosso espírito e toldaram as nossas consciências. Somos adeptos de uma modalidade de descrença em particular. Por força da dependência crónica do juízo dos outros reduzimo-nos a unidades de conformidade, de passividade perante uma narrativa agora corroborada por eventos que alguns designarão de surpreendentes. No entanto, não existe nada de excêntrico na eleição de Trump. Os americanos esbanjaram tanto tempo para encarar a sua própria decepção. Não souberam repartir a tarefa de um modo gradual, faseado. Atingiram a velocidade de cruzeiro de uma máquina desgovernada, contrafeita. Pactuaram com os termos de identidade e residência em Washington dos demais actores da mesma epopeia de ascensão e apenas ascensão. Agora que a encomenda chega, o espanto parece ser a expressão facial mais corrente. Mas fomos nós que produzimos o estado da Nação, e seremos nós que iremos escrever os próximos capítulos europeus. Os discursos e a letra dos mesmos darão lugar a algo distinto, com grau de parentesco ou não. Somos simultaneamente responsáveis e testemunhas de um processo irreversível. Mas somos letárgicos, lentos. Sabemos sempre tarde demais como poderia ter sido, como desejaríamos que tivesse sido. A política assente na antecipação é uma natureza morta. Estamos sempre em dívida e estamos quase sempre atrasados. E como deixamos que outros tomem a dianteira, queixamo-nos de um modo injusto. Fomos nós que nos paralisamos em convenções e ideologias consideradas estanques e vitalícias.

publicado às 18:14

Última hora! Hillary já é presidente!

por John Wolf, em 07.11.16

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Querem saber o resultado das eleições presidenciais? A resposta certa é: follow the money. Embora os mercados sejam apreciadores de estabilidade, anseiam por volatilidade. Mas essa dictomia, como tantas outras, encerra em si contradições. Os especuladores vivem à custa das rupturas sistémicas, mas a espinha dorsal de uma economia depende de previsibilidade, de racionalidade. Os ciclos tecnológicos não acompanham os mandatos políticos, ou o seu inverso. Nem Donald Trump é o revolucionário que afirma ser, nem Hillary Clinton será a simples continuadora como muitos a pintam. O problema que enfrentamos prende-se com o seguinte - a virtude já não se encontra no meio. As nossas sociedades vivem, mais uma vez, a era de extremos. E os mecanismos de controlo institucional do sistema político americano funcionam para evitar descalabros radicais. A investigação e o encerramento do processo de e-mails de Clinton funciona como um lembrete, uma mnemónica. Cada movimento de um detentor de um cargo público é escrutinado. Mesmo que Trump lá chegasse estaria condicionado pelo Congresso, a Câmara dos Representantes, o Senado e um vasto corpo de instituições dedicado à prerrogativa do checks and balances. Aliás, essa realidade decorre de um simples facto processual. A Constituição dos Estados Unidos da América (EUA) não dá azo a grande elaborações e subterfúgios - é curta e grossa, simples no seu enunciado. Na Europa a tradição constitucional é diversa, quase antagónica. Tantas vezes países da orla democrática se vêm perdidos no marasmo da complexidade constitucional. Veja-se o caso de Portugal. Aquele armazém legal permite acomodar tantos direitos consagrados, mas tal facto não implica que o país tenha processos democráticos mais transparentes ou seja mais consensual nas decisões que os seus governantes tomam. O dinheiro, por sua vez, não está sujeito a constrangimentos normativos de ordem política. Os meios financeiros elegem e derrotam candidatos numa base diária. Os mercados determinam a viabilidade ou não de projectos ou devaneios. Nessa medida, e servindo-nos de meros indicadores monetários que reflectem estabilidade ou volatilidade, podemos desde já declarar o vencedor da noite eleitoral de amanhã. Hillary Clinton, sem grande sobressalto, será a próxima presidente dos EUA. Não corro grandes riscos ao produzir esta ousadia de afirmação. Os mercados já colocaram na ranhura Trump. E quem somos nós para discutir com eles? Elas.

publicado às 10:14

A migração ideológica da Europa

por John Wolf, em 24.05.16

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Desejava deixar a poeira assentar, mas os eventos que assolam a Europa ultrapassam a falsa expectativa de um status quo. Encontramo-nos na torrente de transformação, na tempestade que se multiplica por maiores ou menores remoinhos, a Leste e a Oeste. Em política não existem coincidências. Existe um alinhamento que extravasa análises retrospectivas, depois do sucedido. Por exemplo; a efectivação da decisão tomada pelas autoridades gregas para remover migrantes do campo de refugiados Idomeni, acontece apenas após o desfecho das eleições presidenciais na Áustria. E porquê? Porque se Hofer tivesse ganho as eleições, os gregos certamente que não avançariam com a remoção autoritária dos refugiados. Seriam imediatamente equiparados a  outros quadrantes ideológicos (distantes mas próximos) - à extrema-direita. Ou seja, deste modo a acção dos gregos passa despercebida. Não causa grande alarido ideológico. Afinal trata-se da Esquerda que não se deixa contaminar por desfalecimentos éticos, pelo uso da força - a troco de dinheiro fresco? Este encadeamento de ideias não é de todo rebuscado. É assim que funciona a política que não distingue as dimensões domésticas e internacionais, a oportunidade do calendário apertado. É isso que se está a passar na Europa - um mecanismo de trocas convenientes no contexto de uma União Europeia cada vez mais falha no que diz respeito aos seus princípios constitutivos. Os nacionalismos assumem-se porque já não se consegue realizar a destrinça dos desafios. Enquanto que em Portugal a ideologia divide privados de públicos, estivadores de patrões, em França, a ferida aberta causa mossa directa no motor económico. A greve das refinarias já se espalhou à quase totalidade do país. O que pretendem? Inflacionar repentinamente o preço do crude nos mercados internacionais? Gostava de saber qual o impacto (positivo) que estes acontecimentos terão nas operações da gigante petrolífera francesa Total, e aqui, na vacaria instalada no burgo por Costa e Centeno que delira com a recuperação plena e faustosa. Francamente. As verrugas já estão plantadas no panorama. Agora é só ligar os pontos. Negros.

publicado às 14:18

Alemanha e o voto dos refugiados

por John Wolf, em 13.03.16

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Portugal queixa-se da sua Direita, mas a estirpe benigna da mesma deve ser louvada. Paulo Portas, definido pela Esquerda como perigoso e ultra-conservador, afinal foi um dos políticos mais moderados que a história democrática de Portugal conheceu. Mas passemos adiante. A Alemanha enfrenta perigos muito maiores, e, por arrasto, a Europa corre o risco de replicar certas tendências ideológicas. Pela primeira vez na história da Alemanha os refugiados vão "eleger" políticos, e não são uns "quaisquer". O AfD (Alternative für Deutschland), o partido mais jovem de extrema-direita, irá, nas eleições que se seguem, desferir um duro golpe no partido de Angela Merkel e nas demais forças do espectro político moderado daquele país. Putin, malentendido e subestimado, tem sido um formidável jogador europeu, um híper-realista capaz de confundir os seus adversários e lançar o caos na política de salão da União Europeia, ainda crente nas virtudes das suas instituições, mas coxa no capítulo da política externa comum (PESC) - podemos incluir os refugiados no conceito de guerra híbrida da Rússia. Se juntarmos a tudo isto umas pitadas de irreverência monetária de Mário Draghi e do Banco Central Europeu, estão reunidos os factores para uma tempestade perfeita. Os eurocratas têm sido lestos na interpretação dos genuínos desafios que se lhes apresentam. Portugal deve ter algum cuidado com aquilo que deseja. A sorte do país continental é ter apenas duas fronteiras - a do Oceano Atlântico e aquela de Espanha. Se Portugal fosse a Áustria, com as suas sete portas de entrada, não estaria a dançar o bailarico canhoto da Esquerda. Os portugueses devem agradecer a moderação e o civismo político de Paulo Portas que se encontra a milhas de distância dos monstros que estarão para nascer na vossa Europa civilizada. Não vale a pena referir o governo de António Costa e parceiros. Imaginem se o preço da gasolina fosse mais baixo nas ilhas Canárias?

publicado às 10:54

"Deixem-me comer" - diz Maria de Belém

por John Wolf, em 14.01.16

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Apresento-vos o novo humorista de Portugal - Jorge Coelho. Qual homem-forte do PS qual carapuças. O político que apenas mereceu o meu respeito no dia em que se demitiu (estais recordados da tragédia de Entre-os-Rios? Esteve bem. Foi-se embora). Não sei se o guião estava combinado com a Maria de Belém, mas o arruaceiro Coelhão, à falta de melhores piadas, pôs-se a contar umas anedotas. Citou de memória Marx (Groucho, mas poderia ter sido o outro, esse mesmo da Esquerda esclarecida), partilhou a depressão que atravessa, mas deixou transparecer o seguinte: tem uma certa dor de cotovelo, uma pequena inveja de Maria de Belém. Fala alto, de um modo desengonçado, embora sem estilo, como se ele próprio fosse candidato a qualquer coisa. E depois, para rematar, foi deselegante para com a senhora candidata. Chamou Maria de Belém de velha - uma mulher madura, com muito para ensinar do alto do seu "pensamento estruturado" e com a sua bagagem de "experiência". Enfim, não sei que mais poderemos esperar desta campanha. Nos cartazes de rua da candidata já não se lê "a força do carácter"; agora é tempo de "unir os portugueses", e aproveitou o seu entusiasmo para indicar que se for presidente da república será para governar Portugal. As 35 horas semanais já servem de mote, de munição de campanha. Ao referir que o presidente da república deve manter-se à margem das negociações entre o governo e os sindicatos, confessa precisamente o oposto: que quer dar os seus bitates, meter a colher. Não sei o que ela pretende, mas deve desejar elevar o estatuto de candidato a algo mais permanente. Para já aqui vos deixo com a sua frase do dia: "Temos aqui estes tabuleiros fantásticos à nossa frente, com um cheirinho fabuloso e agora não nos deixam começar a comer".

publicado às 19:25

A força dos caracteres e dos candidatos

por John Wolf, em 11.01.16

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Cada um dos candidatos presidenciais depende da força dos caracteres - a capacidade para formar palavras e frases que exprimam a força das suas ideias.  A força do carácter (que é uma coisa distinta) não chega, como julga Maria de Belém. Existe algo ainda mais importante. Os (stors) Rebelo de Sousa e Sampaio da Nóvoa, o (padre) Edgar, o Tino (de rãs), o Jorge (Sequeira, ou se quiser), o D. Henrique (o neto), a Marisa (que não é fadista), o Morais (de nome e de ética) ou o (cândido, doce) Ferreira disputam entre si o primado da palavra. A palavra é a trabalhadora da esquina política, amestrada pelos chulos que disputam territórios. Os proxenetas também tentam convencer os clientes da sua superioridade, do seu talento. Os candidatos presidenciais em cena, praticam a língua portuguesa de acordo com o seu património cultural (duvidoso nalguns casos), fazendo uso de um cabaz de chavões e frases-feitas. Arremessam versos sem que se possa descrever a sua origem ideológica, etimológica, alegriana ou não. No domínio do jargão propriamente dito estamos servidos. A tragédia que se apresenta aos portugueses é de outra natureza, mas igualmente nefasta. Onde estão as reflexões profundas que se exigem? Onde encontramos um conceito de presidência que oblitere a conversa de taberna a que temos assistido? O nível intelectual, o sentido de Estado, a cultura de um povo ou a visão estratégica que culminariam no refundar da missão da presidência, simplesmente não se avistam. Os debates havidos, a que se somará mais uma bela dúzia, continuará a confirmar os nossos piores receios. Portugal, na sua recente história democrática, não conseguiu produzir uma verdadeira escola de presidentes. Ou são ex-militares moderados ou já foram presidentes de câmara, ou primeiros-ministro, mas não parece ter servido para grande coisa. O casting de candidatos à presidência obedece à matriz tipicamente lusa - a arte do desenrascanço, do aproveitamento das sobras, do oportunismo do momento.  Nesta tosta-mista de considerações, somos servidos por mais chefes que índios. Não havia necessidade de lançar tamanha confusão. Até parece que as eleições vão servir para nomear um presidente para cada capital de distrito (?). E depois temos de levar com certas contradições de ordem filosófica. O carácter, essa dimensão de alma insondável pela estatística política, deve permanecer no seu silêncio sepulcral. O carácter não se comunica, embora se afirme. O carácter não se vence, e não pode ser sujeito a derrotas. O carácter não se confunde, portanto é singular. E o carácter não se hierarquiza e humilha o dos outros. Enfim, o carácter não se imprime em outdoors gigantes quando falta tudo e mais alguma coisa. Os homens e as mulheres por vezes também se medem aos palmos. E as palmas não irão abundar nos póximos tempos. Miséria.

publicado às 09:14

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António Costa julga mesmo que manda nisto tudo. Quer mesmo ser dono disto tudo. Mas não quer transformar a presidência da república num consulado socialista, embora dê ares dessa graça. Quer imitar o modo como se apropriou do parlamento e formou governo, mas de um modo mais perverso, cínico. Ao lançar a aposta múltipla nas eleições presidenciais, apelando às f(r)acções representadas por Maria de Belém e Sampaio da Nóvoa, não esclarece publicamente qual a posição que assume. Ou seja, não se coloca inequivocamente ao lado de um dos seus candidatos, mas generaliza e não fala a verdade quando descreve a área logística da sua preferência. E isso não passa de areia atirada aos olhos de Soares e dos diversos barões do Largo do Rato. Se formos minimamente astutos, percebemos a rasteira num piscar de olhos. António Costa apoia, com esta jogatana de "apoio aos dois camaradas", a candidatura de Marcelo Rebelo de Sousa, porque este será o alibi ideologicamente perfeito para poder contradizer a acção presidencial quando esta começar a estrangular os seus intentos governativos. Não convém nada ao governo socialista ter um dos seus em Belém. Isso restringe a sua área de actuação. Se estiver lá o Marcelo é mais fácil ser extravagante e ousado. Convém a António Costa ter uma réplica, mesmo que mais colorida, de Cavaco Silva. Desse modo, o status quo das relações institucionais mantém-se sem grandes alaridos. O mauzão continuará a residir em Belém. Marcelo Rebelo de Sousa será a válvula de escape ideal, o embaixador do princípio do contraditório. Maria de Belém e Sampaio da Nóvoa bem que se podem queixar, mas por outro lado, como são politicamente dispensáveis, o seu afastamento serve preciosamente outras guerras. Mais cedo ou mais tarde, com as atribulações de um governo feito a retalhos do Bloco de Esquerda e do Partido Comunista Português, a sua liderança será naturalmente posta em causa, e a haver guerras fratricidas, são menos uns quantos para confrontar. Veremos, mais adiante, como António Costa afasta a Ana Gomes que está mortinha por realizar um "regresso auspicioso". Não se esqueçam que as legislativas ou as presidenciais, por mais mediáticas e nacionais que sejam, servem para arrumar as casas partidárias de Portugal. Os portugueses e o interesse nacional são meros pretextos de ocasião. Um festival a 9 ou 10 candidatos, ou um rancho folclórico presidencial, é um mimo para a realização política deste calibre. Aguentem. Ainda vão ter de levar com muitos debates nas noites quentes da sensacionalista TVI, da vendida SIC e da pobrezinha RTP - uma TAP que rasteja pela paisagem de oportunistas nacionais. Marcelo ainda vai agradecer a alguém.

publicado às 18:04

Marcelo Rebelo de Sousa à meia-volta

por John Wolf, em 11.12.15

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Depois não digam que eu não avisei. No desfecho dos resultados das eleições presidenciais, Sampaio da Nóvoa, Maria de Belém e Marisa Matias podem chegar a "acordo" para derrubar Marcelo Rebelo de Sousa. Qual primeira qual segunda volta. Ao homem que apenas dorme quatro horas por dia (dizem que de noite), basta uma meia-volta para levar de vencida a competição. Nenhum dos "participantes" pode aspirar a Belém. Faz-me lembrar aqueles atletas de alta competição que trabalham no duro, mas que não perdem o tino. Aquele lançador de peso(s) ou o ginasta acrobático, que à luz da sua auto-percepção, afirma sempre, e de um modo humilde: "já é um privilégio participar nos jogos olímpicos" (ou), "vim para ganhar experiência" (ou então), "sou realista, não posso aspirar a ganhar medalhas". Mas aqui observamos algo diverso. Um candidato que cultivou a proximidade com o cidadão comum, que é capaz de estar à conversa com a Ofémia lá da praça, ou que é capaz de desafiar um proto-intelectual para um tira-teimas de retórica. Quem quer ir à bola com a Maria de Belém? Quem quer receber a taça de Portugal de Sampaio da Nóvoa? Quem quer levar com as tretas psico-ideológicas da Marisa? A resposta nem precisa de ser dada. Marcelo Rebelo de Sousa é o homem que não é de ocasião. O professor foi aos treinos. Entrou na casa (e na cabeça) dos portugueses sem ser calculista, porque ao longo dos anos alimentou mais dúvidas do que certezas em relação a uma tirada presidencial. Os outros candidatos simplesmente não reúnem os requisitos necessários - nem se conseguem olhar ao espelho. A excentricidade saudável, com uns temperos maníacos, não é para todos. Nem que se somem todos chegam aos calcanhares de Marcelo. Quanto mais a Belém.

publicado às 16:05






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