Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Considerando que se trata da Alemanha, não pode deixar de ser um pouco surpreendente que um único partido obtenha maioria absoluta, embora já se adivinhasse que Merkel sairia reforçada internamente em virtude da política de austeridade estendida por esta Europa fora, que é possivelmente o sinal mais claro do domínio alemão sobre a União Europeia. Mas verdadeiramente surpreendente é ouvir Martim Cabral dizer que Merkel não tem política externa, para uns minutos depois afirmar que é ela que manda na Europa. São uns ases, certos comentadores da nossa praça.
Estou a perceber o que diz Freitas do Amaral, mas não posso deixar de reparar numa certa contradição de natureza política e conceptual. Diz ele que "a independência nacional está em causa", mas que as eleições devem ser convocadas depois das eleições alemãs. Estão a ver o mesmo que eu? Se as decisões nacionais estão dependentes das decisões tomadas na Alemanha, então Portugal já perdeu a sua independência. Está a mercê do destino dos outros e deixa de ter o seu próprio presente. Se é necessário esperar para que a política alemã mude, para acertar na terminação certa, significa que o ex-lider político assemelha-se àqueles selecionadores nacionais que sacam a calculadora do bolso e começam a fazer contas à vida. Portugal já não pode ir a reboque de comentadores de bancada. Não estamos a jogar a feijões. Estamos sob o jugo alemão e sabemos que a táctica de jogar à defesa dá mau resultado. Se esperamos pelos germânicos, porque não esperar pelos turcos ou pelos auturcos, perdão, autarcas. No meu entender, Freitas do Amaral não acertou o relógio. Está sob o efeito de um jet lag político, de uma viagem atrasada por hipotéticos cenários. Portugal já não pode esperar sentado pelo fecho das urnas da região da Baviera. Portugal já vive o efeito de um halo, de um ralo alemão. A receita a aplicar tem de ser um tout-court - é para ontem. Caso se tenha de pedir um segundo resgate? Se Freitas do Amaral atira esta possibilidade ao ar significa que ele sabe muito bem da sua inevitabilidade, que não há volta a dar. Se ele entende a independência nacional enquanto jurisdição territorial e cultural, eu diria que a mesma não está em causa. Quanto à independência económica e financeira, essa parece estar comprometida. Esperar pelas eleições na Alemanha é assinar a rescisão de contrato da independência portuguesa. Portugal encontra-se além do redline e o motor está a gripar. Que fique bem claro; as eleições alemãs servem para salvar aquele país. As eleições na Alemanha dizem respeito ao seu interesse nacional. Por vezes não acredito na ingenuidade de certos indivíduos que já estiveram no topo do mundo das nações unidas. Um posto a partir do qual se deveria observar com maior nitidez a linha do horizonte. Está um dia cinzento em Portugal. Os meses que se seguem não serão muito diferentes.