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Rescaldo da noite de eleições europeias

por Samuel de Paiva Pires, em 27.05.19

Lá fora, ainda não foi desta que a onda populista se tornou tsunami.

Cá dentro, à esquerda, se um partido no governo, com um péssimo cabeça de lista, consegue este resultado, imagine-se o que não conseguirá nas legislativas se as circunstâncias sociais e políticas se mantiverem estáveis; à direita, se esta não for capaz de se entender, de gerar um projecto inovador e agregador, de concorrer a eleições em coligações amplas, dificilmente voltará a ser governo nos próximos anos - e não será com as lideranças de Rio e Cristas, ambos sem ideias para o país e com o carisma de uma couve de Bruxelas, e ignorando ou descurando o potencial da Aliança e da Iniciativa Liberal, que conseguirá conquistar o poder. 

A grande vencedora, porém, continua a ser a abstenção, que, como é habitual, foi vilipendiada durante toda a noite por vários políticos e políticos-comentadores. A este respeito, e em modo telegráfico, saliento apenas que os sistemas partidário e eleitoral portugueses são bastante elitistas, fechados, pouco representativos da sociedade portuguesa e avessos à participação política. Podemos sempre colocá-los em perspectiva histórica e levar em consideração as condicionantes com que se defrontou uma recente e frágil democracia nos anos seguintes ao 25 de Abril de 1974. Mas passados 45 anos, temos partidos-cartel que dificultam a entrada de novos partidos no jogo democrático, não há a possibibilidade de candidaturas independentes à Assembleia da República, o mandato livre dos deputados é, na verdade, um mandato imperativo pertencente aos partidos que impõem uma profundamente anti-democrática disciplina de voto, não há eleições primárias nos partidos, não temos voto preferencial, não temos círculos uninominais e a tão propalada reforma do sistema eleitoral é mero ornamento de programas eleitorais de partidos que, obviamente, nunca irão abdicar voluntariamente de um sistema que lhes dá o poder que detêm e lhes permite continuarem a desdenhar a sociedade civil. A representação é cada vez mais ténue e a participação política para a generalidade da população, porque os partidos assim o querem, limita-se ao voto em listas previamente feitas pelas máquinas partidárias, ou seja, a uma mera ratificação do que os partidos decidem à porta fechada. É claro que há pessoas que têm pouco ou nenhum interesse pela política, mas colocar inteiramente o ónus da abstenção na generalidade dos portugueses, demitindo-se os partidos de quaisquer responsabilidades pelo actual estado de coisas, é, no mínimo, incorrecto e injusto. Por tudo isto, de cada vez que oiço da boca de políticos, em noites eleitorais, a ladainha da abstenção e do desinteresse dos portugueses pela política, apetece-me logo puxar da pistola. Isto é assim e continuará a ser assim porque os partidos querem que assim seja. 

publicado às 20:17

O princípio do fim de Seguro

por John Wolf, em 27.05.14

A ténue vitória dos socialistas nas Eleições Europeias serviu para agitar as águas da liderança do Partido Socialista (PS). António José Seguro saiu enfraquecido pelos resultados alcançados, e nem mesmo António Costa esconde o seu desalento. A percentagem obtida não pode ser considerada um sucesso político. Vitor Ramalho, embora não seja um dos barões do Rato, afirmou de um modo inequívoco que os socialistas estão obrigados a repensar a organização da sua casa. Não é preciso ser socialista para entender que o país beneficiaria com outro lider naquele partido. Não significa isto que António Costa seja a pessoa indicada para o substituir - é quem está mais à mão. O actual presidente da Câmara Municipal de Lisboa também tem o seu track-record, e, embora possa parecer que não faz parte do grupo com responsabilidades no descalabro de Portugal, a verdade é que Costa também emana dessa mesma matriz de tráfico de influências e redes. O PS poderia aprender algo com a estrondosa "vitória" de Marinho Pinto. E o mesmo se aplica aos outros partidos políticos. A época dos jokers está aberta e a abstenção poderia ser reciclada e aproveitada para fazer renascer um nova vaga de confiança na política. Certamente que existirão por aí candidatos tresmalhados e com a folha limpa que poderiam ser a expressão dessa ideia de renovação. Penso que é positivo para o país que António José Seguro seja posto em causa de um modo intenso. O erro de casting de que foi alvo é brutal, a não ser que tenha havido uma agenda cínica que se serviu do secretário-geral como carne para canhão na guerra perdida à partida. A tarefa de oposição ao imposto pela Troika, sabíamos, de antemão, que seria sempre uma batalha em vão. As regras do jogo nunca poderiam ser postas em causa por quezílias internas ou por uma oposição agarrada a argumentos demagogos e populistas. Nessa medida, os grande estrategas socialistas preferiram não queimar o cartucho-Costa, reservando-o para outros voos - essa bala nunca poderia ser gasta num campo de batalha totalmente desnivelado. Talvez Seguro, embalado pelo entusiasmo hipócrita dos camaradas, não tenha dado conta, mas a sua missão está praticamente cumprida. O seu prazo de validade está a chegar ao fim. E não será tratado pela História de um modo particularmente interessante ou carismático. Foi apenas algo que aconteceu, alguém que passou pelo Largo do Rato sem passar pelo país real.

publicado às 09:27

O PS e o fim de mon ami Mitterrand

por John Wolf, em 26.05.14

 

Não pretendo insultar a inteligência dos leitores, nem ofender a teimosia de alguns, mas tenho uma simples pergunta que gostaria de colocar às hostes mais analíticas, àqueles dispostos a ver para além de Badajoz, mentes hábeis na leitura de quadros maiores. Que relação existe entre a "vitória" socialista  portuguesa e o fim da crise na União Europeia? Que relação existirá entre uma putativa vitória socialista nas legislativas e a crise económica e social na zona Euro? A resposta é simples: não existe relação, uma vez que a arquitectura política da União Europeia não se baseia na equidade entre o que se passa a montante e a jusante. O que acontece em Portugal não tem efeitos na Europa, por mais que alguns se queiram armar em campeões da liga do sul. Os socialistas padecem de uma condição auto-endorfínica, quase endémica - alimentam-se do seu próprio sangue, numa espécie de ritual narcisista-masturbatório. Saberá Seguro por que razão a Marine Le Pen arrombou os caciques do poder francês? Não tenho a resposta completa, mas Hollande deu uma ajuda enorme. O aventureirismo fiscal à la Robin dos Bosques colidiu com a seta da livre iniciativa, do self-made man do banlieu e, ao contrário do que seria de esperar, foram largas camadas de oprimidos que produziram os resultados que deixaram a Europa em estado de choque ontem ao cair da noite. Portugal corre perigo imediato, mas também correrá a breve trecho se depositar confiança nas impossibilidades avançadas por Seguro, nas falsas promessas. Não, os portugueses não derrubaram o poder vigente nem elevaram os socialistas a sérios candidatos. Ainda não entendeu Seguro, que aconteça o que acontecer no bairro mais próximo, a Europa dos grandes nunca deixará Portugal se extraviar dos carris do acerto e consolidação orçamental - a austeridade vai muito para além deste governo que se encontra em funções. Se os socialistas quisessem mesmo ajudar o país, deveriam concentrar os seus esforços noutras corridas, nomeadamente em tentar perceber quais os aliados com que podem contar no Parlamento Europeu. Com a nova disposição de cadeiras e a ocupação de muitas delas por euro-cépticos e a direita extremada, as forças políticas "convencionais" da ala socialista ou da ala social-democrata, devem, com um elevado sentido de urgência, tentar perceber como podem travar as ondas de populismo que muito dano podem causar à ordem democrática europeia. Por isso, um pequeno partido como o partido socialista português deveria estar preocupado em angariar aliados ideológicos. As coisas mudaram em França. De terra de liberdades e garantias, exílios e mestrados, França passou a ser entendida como terreno non grato por aqueles que ainda acreditam no projecto europeu. Os socialistas portugueses parecem ligeiramente atordoados com a vitória agridoce de ontem. Fiaram-se na velha receita do voto útil, do castigo aos governantes, mas a coisa deu para o torto. E o que aconteceu nem sequer aconteceu num esplendoroso dia de praia. Foi abstenção pura e dura - e os dias de mon ami Mitterrand acabaram em definitivo.

publicado às 14:11

Sobre as europeias

por Samuel de Paiva Pires, em 25.05.14

Portugal encontra-se órfão em termos de famílias político-partidárias em relação a uma das maiores que tem assento no Parlamento Europeu desde há muito tempo a esta parte, e a outra que poderá vir a compor boa parte deste em resultado destas eleições. Falo dos liberais e dos eurocépticos não comunistas. E é pena. Sou um adepto do pluralismo e do bom debate político. Preferia que tivéssemos partidos que suscitassem a discussão em torno de questões europeias do que este marasmo e pobreza franciscana em que umas eleições europeias servem para tudo menos para falar do futuro da União Europeia. Porque, em abono da verdade, os partidos dominantes ou não sabem o que pensar sobre isto, ou concordam em seguir o que for moda em Bruxelas. Insultos, beijinhos às peixeiras, visitar feiras e fazer arruadas e jantaradas é que importa. Foi bonita a festa, mas hoje quem ganha, provavelmente com uma esmagadora maioria, é a abstenção. Pelo que o mais interessante neste Domingo será assistir às interpretações da abstenção pelo Prof. Marcelo. Afinal, há que continuar a inventar desculpas para os fracassos do regime, justificar o injustificável e avançar com a ideia do voto obrigatório.

publicado às 14:58

O esperma da abstenção

por John Wolf, em 25.05.14

Em dia de Eleições Europeias, e da mais que provável vitória da abstenção, a questão que devemos colocar é esta: como se planta no espírito do indivíduo a importância do acto eleitoral? Eu diria que esse processo tem início na própria concepção que precede a existência. O espermatozóide obedece a esse mesmo princípio de escolha - apenas um é eleito em detrimento de tantos milhões que aspiram à titularidade. E depois assistimos a um enorme vazio. Na idade pueril da escolha múltipla, é o adulto que substitui a criança nos processos de tomada de decisão. O filhote, descartado dos considerandos, é tratado como um atrasado mental pelos progenitores, que o acham incapaz de listar as razões que fundamentam um caminho em detrimento de outro. Ou seja, aquilo a que assistimos na plenitude da nossa maturidade política, no vazio da nossa participação cívica, resulta de uma matriz de ausência na participação. Nas escolas básicas e secundárias já nem sei como se elegem delegados de turma. Se é a passividade dos "tá-se bem" que leva a professora a nomear o caixa de óculos com ar de marrão ou se há um "macaco-alfa" que esmaga as aspirações democráticas suspensas pela anuência dos outros. Não sei como as coisas acontecem. Na idade jovem (vamos assumir a faixa estária dos 25 aos 40 anos de idade) a coisa repete-se. A malta, distraída com festivais e certames, quer lá saber. E depois queixa-se que os representantes legais que colocáram no poder não valem um chavo, e isso, de certo modo revela alguma coerência. Esses mesmos detractores nunca se quiseram envolver no que quer que fosse e agora ficáram pendurados, atolados na porcaria. Portugal denota, de um modo intenso, o espírito da demarcação. Como é que um país que não conhece a verdadeira comunidade de interesses, alicerçada nos conselhos de cidadãos, na pequena decisão, pode esperar que delegados afastados da aldeia defendam os seus interesses? Os candidatos, por seu turno, já nem apelam ao verdadeiro interesse das populações. Sabem que podem chegar aos lugares de direcção servindo-se dos aparelhos partidários e do fosso jurídico que não impõe a obrigatoriedade do voto aos cidadãos. Nessa medida, as Eleições Europeias são uma bizarria. São ambiciosas pela abrangência geográfica que comportam, mas demonstram a sua fraca legitimidade, a frustração expressa pelos poucos eleitores que se apresentam ao serviço político, passivo.

publicado às 14:48

A bordo da Doroteia Verónica...

por Pedro Quartin Graça, em 22.05.14

 

publicado às 20:26

Bandeira branca na praia eleitoral

por John Wolf, em 22.05.14

Há vários factos irrefutáveis que não podem ser branqueados, adoçicados para bel-prazer de certos protagonistas ou clubes. A "vitória" do PS nas Europeias não será retumbante. Francisco Assis não sairá em ombros pela porta grande com direito a vivas, duas orelhas e rabo. O resultado das eleições irá deixar um sabor amargo aos socialistas que têm andado a picar à Direita e à Esquerda com promessas de vingança ao governo, de serem os maiores do mundo. Seguro pode se dar mal com os festejos antecipados. Mas não é assim que funciona. No espaço que medeia entre a saída de cena do PS, a chegada da Troika e os tempos presentes, o povo português aprendeu uma parte da lição. Não se pode confiar às cegas em quer que seja. E isto aplica-se a quem está no poder ou a quem está no lobby à espera, no intervalo da mudança. Na euforia da campanha, os actores parecem, de um modo conveniente, se ter desligado da realidade. Convém relembrar o seguinte: Portugal é o país do mundo que mais deve ao FMI e sim - viveu acima das suas possibilidades. De nada serve invocar a síndrome Jonet ou cuspir no prato do Ulrich. Estes são os factos e não podem ser escamoteados. E onde pára o debate essencial a que o país está obrigado? Numa prancha à vela sem vê-la? Se Soares ou Sócrates vêm à festa de encerramento da semana de promoções e descontos eleitorais? Se a minha campanha é melhor do que a tua? Lutam todos de alma e coração pelas suas listas, mas Portugal ficou de fora. O país vive este espectáculo como se fosse uma conferência de imprensa sobre treinadores de futebol. Os misters substituem-se, mas a bola que rola será a mesma de sempre. A ligação umbilical entre a paixão política dos "campanhistas" e o cidadão eleitor está cada vez mais frágil, muito perto da perda de contacto de tantas lides ocorridas no passado. A abstenção e os votos em branco parecem estar bem lançados para ganhar esta corrida. Só mais uma pergunta: como vai estar o tempo no Domingo de eleições? Acho que vai estar um belo dia de praia.

publicado às 08:54

Estrasburgo

por João Quaresma, em 21.05.14

Em princípios de 2009, assisti na Fundação Gulbenkian à apresentação de um livro escrito por um grupo de eurodeputados (entre os quais a portuguesa Maria João Rodrigues) sobre o modelo social europeu, cujo título não me recordo. Mas recordo-me que todos os autores concordavam na necessidade imperiosa de defender a todo o custo as conquistas do modelo social europeu, algo que não poderia ser posto em causa pela crise económica internacional. Crise essa que consideravam sem precedentes e que, apesar de também ninguém saber bem como tinha surgido, só poderia ser resolvida com o aprofundamento da integração europeia. Um dos eurodeputados, um escandinavo veterano da política e também (orgulhoso) do Maio de 1968 nas ruas de Paris, confessou que esta crise era tão grave, tão preocupante que o tinha levado a fazer algo que nunca tinha feito na vida: ler a The Economist e o Financial Times.

É claro que quando um decisor e representante (muito bem pago, por sinal) num órgão com poder para influenciar a vida de centenas de milhões de cidadãos nunca na sua longa carreira política se sentiu na necessidade de ler duas das publicações internacionais de referência - e não ter vergonha de o dizer publicamente -, é legítimo perguntar que espécie de gente é que os partidos mandam para Estrasburgo e até que ponto este parlamento tão pouco escrutinado deverá ser levado a sério e legitimado com o nosso voto.

Naturalmente que esta não será a regra entre os eurodeputados e que o Parlamento Europeu não é apenas isto. Mas o problema é que também é isto.

 

publicado às 13:30

Portugal vai levar com a taça

por John Wolf, em 19.05.14

Sabemos que a política e o futebol trabalham para o mesmo chulo. Pagam tributos na expectativa de sacar dividendos. Alimentam paixões, ódios e rancores. E com as Europeias ao virar da esquina e o Mundial a aproximar-se a passos largos, e tendo em conta a loucura que tomou conta do país nas últimas semanas, de Turim ao Jamor, julgo ser apropriado tecer algumas considerações. Sabemos que António Costa é benfiquista sem pudor, Santana Lopes sportinguista presidencial e Cavaco Silva taçista de ocasião. Depois temos uns imitadores de bairro, que desejam ser como os crescidos, e lá correm atrás da bola em Belém. Sim, João Almeida serviu-se (embora sem sucesso) desse acesso dos balneários. E Seguro? Joga em que equipa? (não há segundos sentidos aqui. Ok?). E Passos Coelho nutre amizade por que clube? Nem sequer pergunto por Assis que tem ar de emulador de Costa (aposto que é benfiquista). Mas atentemos ao seguinte. Já repararam que Passos Coelho nunca ousou declarar-se adepto deste ou daquele clube? E sabem porquê? Porque ele sabe que há coisas sagradas neste país que não devem ser arrastadas para a arena do jogo sujo. Mas eu tenho uma pergunta: se a austeridade fosse um clube de futebol que emblema seria? E qual seria o seu estádio? Não é que o futebol interesse muito ao país. Que eu saiba a bola apenas gera emprego e fortuna para uns quantos sortudos saídos na rifa desportiva - os que idolatram os homens da bola não participam nos lucros. Não senhor. Recebem apenas pequenas doses de falsa auto-estima (se a coisa correr de feição ao clube ou à equipa de eleição). Veremos se Seguro ou Passos Coelho, em desespero de causa, não deitam as patas ao esférico. A boleia do campeonato do mundo de futebol no Brasil é politicamente tentadora. Mas há um quadro ainda mais devastador que define este país. Mal acaba um festival começa logo o seguinte. Nem sequer falo do alinhamento na sua totalidade. Faço um mero apontamento. Portugal precisa tanto de se colocar em pé e estrabuchar que até dói. Para isso os portugueses têm energia e resmas de vontade. E não parece faltar nada; temos o Rock´in Rio, o Festival do Sueste, o Festival disto e daquilo, a Festa deste e daquele, e por aí fora. Seja qual for o analgésico empregue para afastar as mágoas e tristezas, a ressaca não se vai embora assim sem mais nem menos. Vai-se agravando até que o país caia em coma, atónito, mas pronto para a festa que se segue. Ao amanhecer, no lusco-fusco.

publicado às 15:45

Sobre as eleições europeias

por Samuel de Paiva Pires, em 17.05.14

Pacheco Pereira, As eleições que só servem para o exacto oposto daquilo para que existem:

 

"Nas eleições europeias não se discute a Europa porque a Europa que existe não interessa aos seus apoiantes que seja discutida. E a discussão da Europa que se pretende fazer, nas candidaturas do “arco da governação”, na comunicação social ainda mais europeísta, nos meios dos negócios, no “arco dos fundos”, não tem objecto, nem existe, é uma fábula. É a Europa virtual dowishfull thinking para os bem-avontadados e aquela cuja retórica serve os empregos e os negócios dos que estão “por dentro”.

 

(...)

 

Hoje, o debate europeu centra-se na crise económica e nas sequelas da gestão do euro. Mas nem sequer é a curto prazo o mais grave efeito da disformidade actual da União. A mistura de autoritarismo e de aventureirismo conhece o seu maior risco e perigo numa pseudopolítica externa da União, feita por proclamações de países que não estão dispostos a gastar dinheiro para ter forças armadas credíveis e colocar tropas no chão e por isso dependem sempre dos EUA. Isso não tem impedido a União de um ciclo de intervenções insensatas e ignorantes da História, cujos resultados agravaram as perspectivas da paz mundial. A Líbia feudalizada e bárbara resultou de um ajuste de contas com um amigo especial, Kadhafi;  a Síria foi empurrada para uma guerra civil com clara interferência europeia, e o caso mais grave da Ucrânia, porque envolve uma potência nuclear, onde a União brincou às barricadas para impor um governo de uma parte do país contra a outra parte, provocando um processo de destruição do próprio país e um reforço do expansionismo russo. Devia haver um tratado que impedisse a União Europeia, mais os seus governos e a Baronesa, de jogar aos grandes do mundo, quando não se tem força nem se pensa nas consequências.

 

Esta Europa, disforme e perigosa, não é de todo discutida nas actuais eleições europeias, que são em si mesmas um claro sintoma de tudo o que está mal por essa Europa fora, e pior em Portugal. À tentativa, na qual se gastam milhões de euros, de fazer com que as pessoas se interessem pela Europa e pelas eleições, soma-se o facto de não haver substância nem diferenças nas candidaturas principais. PS, PSD e CDS são hoje Dupont e Dupond. Dependem dos seus grupos europeus, cada vez mais poderosos numa dimensão que escapa ao escrutínio em cada nação. São uma espécie de Internacional Europeia com regras de inclusão, bom comportamento e exclusão, cada vez mais rígidas. Votam em conjunto no Parlamento Europeu em tudo o que é fundamental.

 

Os portugueses que vão às urnas vão, na sua esmagadora maioria, para punir ou defender o governo. Os portugueses que nem isso fazem, e não vão votar, ficam em casa por considerarem estas eleições inúteis. Votam na praia contra a ficção europeia, porque consideram que, votando ou não, não serve para nada, quem manda é a senhora Merkel e a troika e eles não vão a votos. Por isso, estas eleições, pela positiva, não valem para nada a não ser para a política interna. Pela negativa, vão ser mais um acto de deslegitimação da actual União Europeia, pelos europeus que não consideram que haja qualquer reforço da democracia nestas eleições."

publicado às 14:32

Conchita e marketing de Portugal

por John Wolf, em 13.05.14

Barbas por fazer, depilações íntimas ou pêlos no peito inscrevem-se todos no mesmo programa de maquilhagem política da Europa. Mas, de um modo conveniente, as ilações surgem sempre depois do caldo ter sido entornado. Não me parece que tenha havido um esquema gizado por "liberalistas" para levar por diante os ideais ecuménicos de uma União Europeia multi-color, tutti-frutti, aberta ao movimento de bens, serviços, capitais e travestis. Seja qual fôr o âmago da questão, a verdade é que um freak-show também serve para atrair públicos, quiçá investidores. E é isso que está em causa. Para o ano que vem mais uns quantos milhões de espectadores irão sintonizar a antena da Eurovisão, na expectativa de serem surpreendidos com uma proposta ainda mais híbrida, ousada. Em época de descrédito da Europa, de crises sucessivas e fracturas que dividem o Norte e o Sul, a barba "Wurst" de pouco servirá para tapar buracos e pontos negros, mas uma lição pode ser extraída. O público aprecia bizarrias e invulgaridades, e a excentricidade rouba as atenções todas, distrai da falta de qualidade de outras promessas, musicais ou não. Cada reino tem os seus bobos da corte e, se não os tem, deveria pensar nos benefícios que estes podem trazer. Sabemos que no dia 24 de Maio a final da Champions League irá gerar dinâmicas e audiências televisivas assinaláveis, e que imagens de Lisboa irão correr por esse mundo fora. E onde e como é que se pode encaixar uma oferta especial para temperar a ocasião? Não se arranja nada à altura de uma Conchita? Uma figura bordalo-pinheiresca que faça a bola descer à terra? Oh Turismo de Portugal e agências de marketing - toca a mexer, mãos ao trabalho. Vejam lá o que arranjam, mas não nos metam em sarilhos. Portugal deve saber aproveitar todas as oportunidades para extrair valor e dar a volta por cima. Sexo vende, mesmo que não se saiba o que o homem traz por debaixo das sete saias.

publicado às 15:15

Boys socialistas e a carroça do governo

por John Wolf, em 11.05.14

O grande problema da oposição é centrar a sua vida na derrota do governo. António José Seguro vive obcecado com essa promessa. A sua melhor proposta política assenta na negação, numa palavra apenas - NÃO. E só poderia ser assim, porque não tem mais nada para oferecer. Apela à mudança e assenta o seu futuro em utopias. Diz que não despedirá funcionários públicos e que não aumentará impostos. Mas todos sabemos que as mentiras de hoje passam à história quando os candidatos ocupam as cadeiras de poder. No entanto, bastante mais preocupante do que António José Seguro, é a equipa que saltará do banco para formar governo. São esses nomes sobejamente conhecidos da praça que voltarão aos lugares a partir dos quais plantaram a ruína do país. A lista é extensa, mas são os mesmos de sempre que serão aliciados a regressar às administrações; Maria de Belém Roseira, Francisco Assis, Jorge Coelho, Ferro Rodrigues, entre outros, e, para dar o tal ar de mudança uns quantos estreantes lá estarão, como José Sócrates. Seguro insiste no discurso da derrota quando deveria avançar com a solução mágica para tirar Portugal das presentes dificuldades. Como é que o fará? E os portugueses? Porque não pedem a Seguro para partilhar quem tem em mente para formar o executivo deste país daqui a um par de anos? Não se trata de pôr a carroça à frente dos bois, mas de saber que boys estarão à frente carroça. Acho que o eleitorado nacional merece saber o que o futuro lhe reserva - que tipo de cornada.

publicado às 17:33

E quando é que se discute o futuro do projecto europeu?

por Samuel de Paiva Pires, em 06.05.14

Ainda não dei por qualquer debate digno desse nome no âmbito das eleições europeias. Mas convites para almoços e jantares com candidatos a Bruxelas chegam-me todos os dias. Diz que é isto uma campanha eleitoral.

publicado às 23:18

Quem quer ser Eurodeputado?

por John Wolf, em 31.03.14

Porque será que desejam tanto ser Eurodeputados?

 

publicado às 11:20

O vazio de ideias em relação à União Europeia

por Samuel de Paiva Pires, em 22.03.14

Pedro Morais Vaz, União Europeia: dogma e tabu:

 

"Em primeiro lugar, que os partidos do dito “arco da governação” deixaram, há muito, de ter qualquer perspectiva ou opinião sobre o projecto europeu. Não se discute se queremos mais ou menos integração; não se discute se nos queremos ou não manter na zona euro; não se discute se queremos transferir mais ou menos competências para o Parlamento Europeu; não se discute que papel reservamos para a Comissão Europeia; não se discute de que forma queremos eleger o seu Presidente; não se discute a união bancária, a mutualização da dívida ou o papel do BCE; não se discute que reformas queremos fazer na arquitectura institucional europeia para enfrentar a actual ou futuras crises. Este “esvaziamento” de ideias materializa-se na candidatura “Aliança Portugal”, composta por um partido cujo cabeça-de-lista se assume federalista e um outro que se arroga, nas palavras do próprio programa, “o partido da soberania nas questões essenciais” e também na acesa troca de acusações pérfidas que Rangel e Assis têm protagonizado (e que, bem vistas as coisas, mais não é do que uma extensão daquilo que tem sido o nosso debate político interno dos últimos meses). A verdade é que, no plano substantivo, as duas candidaturas são, como apontou Jerónimo de Sousa, «siamesas». E é por isso que os candidatos apostam mais na injúria e na calúnia do que propriamente na discussão de ideias."

publicado às 18:46

Feira de antiguidades

por Nuno Castelo-Branco, em 19.02.14

O velho Partido Progressista, perdão, o Partido Socialista, entrou em pré-guerra interna antes da pré-campanha eleitoral. Em Portugal, a memória da história é coisa tão presente, como nevões no deserto do Kalahari. 

 

Já fala quem julgue provável um não-sucesso nas próximas eleições europeias e perdidos por cem, perdidos por mil, parece ter chegado o momento de iniciar a demolição dos caboucos da liderança de A. J. Seguro. Demolições são coisa do pelouro de Costa e Lisboa é disso a prova cabal. Ao comentadeireiro de quinta à noite, juntam-se agora um César e um Jesus. 

 

Voltámos à Antiguidade.

publicado às 12:30

O "fim da direita"...

por Nuno Castelo-Branco, em 11.06.09

 

 

Após o escrutínio eleitoral do passado domingo, é este o novo mapa partidário europeu. Por mais estranho que possa parecer, existe uma certa tendência para insistir na acérrima crítica ou responsabilização das "políticas de direita" - entusiasmadamente prosseguidas por todos os partidos socialistas no poder - que fizeram despoletar a crise financeira  mundial.

 

Pelos vistos, quem se deu ao trabalho de ir às urnas, enganou-se redondamente, pois a cor azul parece mais hegemónica que nunca. Porque será?

publicado às 14:45

O Espaço de Vital

por João Pedro, em 04.06.09
 
 

No cartaz da JS de que falei há dias houve um pormenor de que na altura não me dei conta, e que passou ao lado de todos, a começar pelos seus autores: o slogan "A Europa é Vital". Sabendo que o cabeça de lista do PS é federalista, esta frase é muito infeliz. É que recorda outro modelo europeu de federação muito em voga nos anos 30 e 40, o do Espaço Vital, o Lebensraum alemão, que motivou a expansão do 3º Reich e a 2ª Grande Guerra. O trocadilho acaba por ser inevitável. Por sorte, o slogan e o nome Vital não são de nenhum candidato de outro partido, senão ainda tínhamos o "Professor Doutor de Coimbra", que muito tem falado de "roubalheiras", a tecer acusações de nazismo e fascismo. No fundo, nada que ele não tenha já feito de forma mais velada.
 

publicado às 17:49

Relembrar Lucas Pires

por João Pedro, em 03.06.09


 

            (Imagem tirada do Ephemera, via Portugal dos Pequeninos)

A minha atitude é sempre de infinita atenção. Tanto não adormecer sobre uma história que galopa, não adormecer em cima do cavalo - estar atento. a atenção é a única regra. (1983)


 

A poucos dias das "europeias", resolvi folhear e ler em parte A Revolução Europeia, uma antologia de textos de Francisco Lucas Pires publicada pelo gabinete português do Parlamento Europeu. Antes de se pensar em"discutir a Europa" de forma abstracta e blasée, confundindo-se agruras nacionais com problemas comunitários que nem sempre são os mesmos, ou magicando em "cartões amarelos" ao "sistema", faríamos melhor em ler o legado dos que pensaram na Europa na sua estrutura comunitária, mas também na sua essência e nas suas especificidades e contradições, como Lucas Pires. Também na blogoesfera nos chegaram os seus escritos. É claro que com o passar dos anos alguns ficaram datados, mas há sempre matéria para nos fazer pensar. E fica-se sempre a pensar em que lugar ou no que estaria ocupado o antigo dinamizador do "Grupo de Ofir" e líder do CDS se ainda fosse vivo.

publicado às 18:31

Uma democracia refém de alguns, os mesmos de sempre.

por Nuno Castelo-Branco, em 23.05.09

  

 

                                          

 Uma interessante reflexão acerca dos partidos que sistematicamente são ignorados pelas sondagens do sistema.  Visitem o Risco Contínuo e avaliem as possibilidades. .

publicado às 21:23






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