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Bem-vindos ao teatro do absurdo

por Samuel de Paiva Pires, em 25.01.21

O meu balanço das eleições presidenciais, no Sapo 24:

Salvou-se o bom discurso de Marcelo Rebelo de Sousa, uma espécie de Presidente-Rei do Portugal contemporâneo, numa noite que representa, por diversas razões, um novo capítulo da história democrática. O regime precisa de se modernizar para promover uma maior participação eleitoral e aprofundar a representatividade e tem forçosamente de responder aos problemas económicos e sociais que enfrentamos para evitar a fragmentação social e a polarização política em que o populismo medra. Marcelo demonstrou ter consciência disto mesmo, mas encontra-se perante uma conjuntura de difícil gestão. Tanto a esquerda como a direita democráticas têm de se regenerar e reconfigurar para procurarem reconquistar aqueles que se sentem injustiçados e ignorados pelo sistema. A contagem decrescente já começou.

publicado às 23:38

Macronóscopia

por John Wolf, em 24.04.17

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Arrisco mais uma vez com palpites sobre o resultado final das eleições presidenciais francesas. O meu track-record recente é deplorável. Enganei-me com o Brexit e estampei-me com Hillary. Ou seja, não ofereço garantias do que quer que seja. No entanto, avanço com alguns cenários conceptuais, com um modelo operativo ideológico questionável. Assumindo a vitória final de Macron devemos levar em conta o seguinte. O Emanuel tem de cantar uma parte da cantiga pop. Afinal foi mais de 20% do eleitorado que escolheu Le Pen nesta primeira ronda, e nessa medida, como em semelhante medida de um choroso socialista Fillon, Macron terá de acomodar vontades e desejos que não os seus. Nesse terreno alegadamente amorfo de centralidades ideológicas, se Macron for de facto o próximo presidente, terá de incluir uma parte da agenda patriótica de Le Pen, outra parte socialista-tributária-penalizadora de Fillon, e agradar ao firmamento financeiro de onde provém, onde fez escola na banca de investimento. O pilar de desmontagem da globalização de que se serve Le Pen não é totalmente descabido. Afinal, foi em nome da eficiência produtiva que a mesma avançou e simultaneamente cavou o fosso largo de justiça económica e social, entre abastados e nem por isso. Nesta panóplia de considerações a ter em conta, Macron formará a sua presidência numa espécie de geringonça atípica, ou, traindo os intentos enunciados, e nesta ante-câmara de derradeira campanha política, assumindo sem pudor o espaço ocupado por Le Pen. Os socorristas Fillon ou Hamon, ao fazerem-se ao piso de Macron, servem duas causas; por um lado procuram derrotar Le Pen, e por outro lado entusiasmam-se com a possibilidade de serem recrutados politicamente. Em todo o caso, devemos levar em conta que as ocorrências francesas determinarão novas ordens. No plano doméstico da nação gaulesa, mas sobretudo ao nível da arqueologia da União Europeia (UE) que ainda vive a ilusão das grandes famílias políticas europeias. Embora se sirvam com saudosismo de grandes chavões de referência e figuras abstractas, a verdade é que muitos terão de mudar de chip rapidamente. Portugal, mas sobretudo os socialistas cá do burgo, em vésperas de comemoração democrática-revolucionária, terão de encontrar figuras de referência no algo decadente quadro socialista pan-europeu - os socialistas franceses não estão disponíveis, não servem para grandes ideários. Não esqueçamos que existem muitos que desejam a eutanásia da UE, o desfalecimento endémico do projecto. Encontramo-nos sem dúvida num momento chave da história da Europa. Mas tardamos em encontrar a porta certa neste labirinto de possibilidades.

publicado às 20:38

Costa não está preparado para Trump

por John Wolf, em 04.11.16

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Aviso à navegação: o meu voto já chegou ao grande Estado da Pensilvânia. Agora não há mais nada que eu possa fazer a não ser especular sobre o resultado das eleições presidenciais norte-americanas. Na noite eleitoral estarei em Lisboa num evento oficial de acompanhamento dos resultados. Começa pelas 9 da noite e dizem que estaremos despachados pelas 3 da manhã. Mas tenho sérias dúvidas que a coisa ficará resolvida nessa mesma madrugada. Do meu ponto de observação privilegiado, ou seja Portugal, observo dimensões que pouco interessam ao comum dos mortais americanos. Uma coisa é certa: os europeus estão obrigados a desenhar alguns cenários que poderão determinar substantivas consequências nas suas existências. Se Hillary for a próxima presidente dos Estados Unidos, será um "mais do mesmo" -  nada de dramaticamente distinto será colocado em cima da mesa em termos de política doméstica ou externa. Por outro lado, e para referirmos o conceito de doutrina presidencial, somos forçados a rever as prioridades de Trump, e de que modo as suas opções poderão impactar a vida no resto do mundo. E penso na União Europeia e em Portugal em particular. Para quem não tenha ainda percebido, Trump já emitiu uma declaração de guerra económica ao resto do mundo. O slogan make America great again é mais do que um mero chavão. Implica efectivamente uma hierarquização acentuada do interesse nacional americano. A ênfase na geração de emprego para americanos. A relocalização de unidades fabris nos EUA. O repatriamento de dinheiros extraviados noutros destinos económicos. A insistência de que o dólar americano deve novamente ser uma divisa de força. O alinhamento de acordos estratégicos parcelares e limitados temporalmente. A colaboração com outras forças desequilibradores a leste e a oeste, a norte e a sul. O reconhecimento de iniciativas excêntricas movidas pelo destronamento de poderes instalados - penso no Brexit e penso em Putin. Ou seja, no quadro actual de volatilidade e incerteza, Trump acrescenta combustível à fogueira de um mundo que se encontra inegavelmente na fronteira de algo novo, mas certamente imprevisível. Por outras palavras, Trump é um produto da realidade que se estendeu e que consequentemente se esgotou nas últimas décadas. Mas não está sozinho na marcha de deconstrução. A Europa tem os seus próprios exemplos de agentes que visam a ruptura sistémica. Eu também acredito na mudança, mas não acredito que a mesma possa ser instigada de um modo passional e intensamente populista. Corremos alguns perigos por haver efeitos secundários que nunca devem ser subestimados. Nessa guerra que Trump declara, nem a União Europeia nem a NATO estão a salvo, e, numa escala ainda mais minuciosa, países com a dimensão de Portugal também não estarão à margem de ventos desfavoráveis. Darei apenas um exemplo. Se um intenso desordenamento de mercados resultante de certas iniciativas presidenciais americanas tiver tempo de sedimentação suficiente, os efeitos conjunturais dos mesmos passarão a ser crónicos. Se a tesouraria do Banco Central Europeu, que depende da banca global que por sua vez é controlada por conglomerados americanos, for afectada, é muito provável que Portugal e o governo de ficção de António Costa não consiga salvar o país de um descalabro. Existe sim uma cadeia alimentar política-económica-financeira que determina o destino das nações. Centeno pode inventar as teses que quiser, mas de nada servirão numa visão que transcende as ideologias monetárias e fiscais clássicas. E nessa medida, ao escutar o debate do Orçamento de Estado na Assembleia de República Portuguesa, vejo sobretudo crianças, alguns políticos, mas nenhum estadista capaz de interpretar os verdadeiros desafios que se nos apresentam. E essa ingenuidade corre em sentido contrário à acutilância cínica de Donald Trump. Os membros do governo e os deputados do parlamento português estão encostados à mesma árvore de sempre e tardam em perceber os perigos que Portugal, e para todos os efeitos, a Europa correm. Na próxima quarta-feira cá estaremos com uma sensação qualquer a dar a volta ao estômago. Não sei qual é. Não sei qual será. Aguardemos, com alguma ansiedade à mistura.

publicado às 21:16

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A eleição de Marcelo Rebelo de Sousa no primeiro tempo é muito mais determinante do que o autoproclamado tempo novo de António Costa. Digam o que disserem os detractores e os rancorosos ideológicos, a chegada a este destino presidencial não é fruto do acaso, da orquestração da Direita, da manipulação partidária, do poder de grandes corporações ou do tempo de antena de que se serviu o professor nos derradeiros dez anos. A vitória eleitoral de ontem à noite reporta-se a um conceito muito mais primário, a um arquétipo que está na genése de comunidades - os elementos de agregação fundados nos afectos, na intuição, no instinto de sobrevivência. Nos últimos dez anos, Marcelo Rebelo de Sousa aproximou-se da cidadania abstracta, afastou-se da sua sede ideológia e partidária, e afinou a ferramenta mais poderosa ao serviço da política - a comunicação. O discurso de vitória eleitoral, distribuído na Faculdade de Direito, não foi pleno de letras vazias. Assistímos ao auto-juramento, ao acto de confissão de valores e sentido de missão, à prática efectiva, na sua hora grande, do lançamento de linhas de fraternidade para com aqueles que partilham o mesmo ideário de civismo político. Os jornalistas, ávidos por provocar a reacção destemporizada, foram preteridos sem entender o corte definitivo que o presidente Marcelo Rebelo de Sousa faz em relação ao comentador Marcelo Rebelo de Sousa. Para aqueles candidatos que fizeram de sua bandeira a observação dogmática dos cânones constitucionais, esquecem o seguinte; o professor Marcelo Rebelo de Sousa é mecânico jurídico há dezenas de anos. Se existe alguém que pode interpretar as nuances de desagrado em relação ao tratado constitutivo da nação, essa pessoa é Marcelo Rebelo de Sousa. Não vale a pena remexer nas falências dos outros candidatos. A página foi virada. António Costa, herói da Esquerda unida, teve de provar o princípio do contraditório. O povo, que é sereno e supremo, afinal não se despistou na segunda curva à Esquerda. Mas isso não importa. E não importa porque Marcelo Rebelo de Sousa está para além da intriga ideológica. Não sei se Portugal tem noção do que lhe acaba de acontecer, mas irá ter importância no plano de uma verdadeira sociedade civil. Quando olho para Marcelo não vejo o PSD, não vejo o PS, não vejo o BE ou o PCP. Não vejo as cores que tantas vezes contaminaram a missão de políticos que nunca serão estadistas.

publicado às 09:20

Porque não voto

por Nuno Castelo-Branco, em 21.01.16

 

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..."quando essas molas, deslocadas, se cruzam, se combatem e se embaraçam é preciso uma força que as restitua ao seu lugar. Esta força não pode estar em nenhuma destas molas, porque lhe serviria para destruir as outras. É preciso que esteja fora delas, que seja dalgum modo neutral para que a sua acção se aplique onde for necessário aplicar-se, e para que seja preservadora e reparadora sem ser hostil".

Não se trata de escrita de um qualquer perigoso e passadista intelectual do tradicionalismo, nem jamais o poderia ser. É da autoria de Benjamin Constant e dado o regime em que vivemos, permanece tão actual como quando foi vertida em letra de imprensa. Assim sendo, temos então a perfeita resposta às alegações de imparcialidade que vão espumosamente pontilhando consulados eivados de descarado favoritismo desde o alvorecer da actual situação de trinta anos em que Portugal sobrevive. Ninguém imagina um Poder Moderador e perfeitamente limitado por um dado texto constitucional a participar em ágapes sectários, planeando conspiratas de péssima literatura de cordel, favorecendo e mal escolhendo as intimidades com escusas personagens. É o que infelizmente temos assistido ao longo de demasiadas décadas - desde os tempos dos nossos bisavós - e o elemento transversal aos três regimes que a imposta presente fórmula já encerra. 

Relendo a obra D. Carlos (de Rui Ramos, um historiador que melhor faria em abandonar o jornalismo a pronto), eis alguns excertos que no presente momento convém  lembrar, num puxar da vossa imaginação ou descuidada leitura da imprensa, avivando-nos a memória acerca daquilo com que agora quase comparativa e diariamente deparamos. Recordemos então o famoso "escândalo dos adiantamentos" que serviu para um punhado de sediciosos demolirem o regime.

O sublinhado é meu:

"A popularidade sempre foi cara. Ora D. Carlos não tinha dinheiro.  As suas principais fontes de rendimento eram o subsídio do Estado (chamado como em Inglaterra a Lista Civil e as propriedades da sua família, a  chamada "Casa de Bragança". Por carta de lei de 28 de Junho de 1890, D. Carlos passara a receber a mesma Lista Civil que fora atribuída ao seu bisavô* D. João VI, em 1821: 365 contos por ano, isto é, um conto de réis por dia, para cobrir todas as despesas da Casa Real, dos empregados à manutenção dos palácios, viagens, etc. (...) Se tomarmos a despesa pública  como um sinal da riqueza do país, D. Carlos recebia um valor equivalente a cerca de um quinto  do que tinha sido concedido ao seu bisavô* . Além disso, todos os reis, desde D. Maria II, tinham abdicado de parte da Lista Civil para participarem no esforço de equilíbrio das contas públicas. Em 1890, D. Carlos cedeu 40 contos  à Grande Subscrição Nacional, e a partir de 1892, 73 contos por ano a favor do Estado - cerca de 20% da sua Lista Civil. O dinheiro para a monarquia  foi sempre encolhendo ao longo do século XIX. (...) A comparação com outros monarcas estrangeiros era humilhante. (...) 
A principal razão para a modéstia da dotação do rei de Portugal não estava na pobreza dos recursos do país, mas na cobardia e manha política de sucessivos governos, que tinham preferido recorrer a truques em vez de proporem frontalmente o aumento da Lista Civil. Para evitar a bancarrota do rei, os ministros decidiram adiantar-lhe dinheiro às escondidas. D. Carlos não tinha alternativa. A Casa de Bragança, quando a herdou, encontrava-se completamente endividada. A amortização de dois empréstimos, contraídos antes de 1889, um ao banco parisiense Comptoir National d'Escompte e outro ao Crédito Predial Português, deixavam ao rei não mais de quatro contos e quinhentos mil réis por ano. Era este o dinheiro do "bolso particular do rei": apenas duas vezes o que ganhava um ministro. (...) Foi então que recorreu ao expediente de exigir rendas pelos prédios da Casa Real usados pelo Estado, segundo tinha sido previsto na carta de lei de 16 de Julho de 1855, mas que o Estado nunca pagara. (...) As suas aflições de dinheiro e as da família real eram motivo de chacota nos cafés de Lisboa. (...) Embora fossem feitos pelos ministros sem consulta do parlamento, não eram exactamente ilegais. Em parte, porque, como notaram vários juristas, a carta de lei de 28 de Junho de 1890  não estabelecia o dia  em que devia ser feito o pagamento da dotação: o adiantamento de rendimentos era assim possível sem ofensa à lei. Os pagamentos seguiam os trâmites normais. O dinheiro era entregue pelo Banco de Portugal por ordem da Direcção-Geral da Tesouraria , segundo instruções do ministro da Fazenda, contra recibo. Tudo pôde, depois, ser documentado com despachos, ordens, vales e recibos. Em 1907, a Direcção-Geral da Tesouraria apurou que tinham sido feitos adiantamentos a D. Carlos no valor de 771 contos de réis. Para os liquidar, a Casa Real desistiu então dos prédios e terrenos arrendados ao Estado, no valor de 465 contos, e do Iate Amélia a favor do ministério da Marinha, no valor de 306 contos.  O relatório, de 31 de Março de 1911, inventou cerca de 5000 contos de adiantamentos, dos quais 3246 contos teriam sido feitos ao rei (...) Além disso, ter-se-iam gasto mais 3000 contos em obras nos palácios reais. A família real teria custado ao país cerca de 1000 contos por ano, o dobro dos 525 contos inscritos no orçamento. Mas para chegar a estes números, a comissão de responsável pela sindicância recorreu a todos os truques: incluiu, por exemplo, os 6 contos das despesas da aclamação, os 4 contos do funeral do imperador do Brasil e os 224 contos da recepção dos reis da Inglaterra e Espanha, uma despesa que já tinha sido assumida  pelo Estado por lei de 24 de Novembro de 1904. A fraude era tão descarada que a própria comissão a admitiu, ao reconhecer que contara com "algumas quantias que devem ser consideradas despesas de legítima representação do país", mas que não tinha "elementos para destrinçar até onde chega essa legitimidade"

Em suma, os bens privados da Casa de Bragança teriam servido para sustentar o próprio Estado da Monarquia Constitucional. Actualmente, se excluirmos alguns casos belenenses que têm discretamente surgido na imprensa especializada em teres e haveres, e imposto o silêncio que acicata ainda mais um certo deixa andar. 

 Feita a compilação da infestada mercearia que presentemente é aquilo mais interessa à esmagadora maioria assoberbada com casos arautados pela televisão - desde os Emáudio e Macau, às operações que envolvem nomes próximos de ciclones e titulares de outros tempos, até a acções obtidas fora de Bolsa - talvez guardadas em casos cujo registo alegadamente não consta nos gabinetes estatatais - e casos de pavilhões à beira Tejo passados para a posse de sociedades em que densíssimos genros surgem como que por encanto, ou à inacreditável chusma de ass(c)essores, gabinetes de apoio, enxames de moleques de toda a ordem que vampirescamente se contam às centenas -, façamos então a comparação com as estapafúrdias manigâncias políticas que Belém e os seus têm prodigalizado, tudo inventando para o esconder  de casos que se somam a outros tantos, numa voraz usura política por parte da cúspide do Estado e dando o péssimo exemplo às restantes instituições representativas. Soares, Sampaio e Cavaco talvez ficarão para memória futura, não por feitos que os sempre pressurosos áulicos aferram às suas excelsas personalidades, mas senão pelas tais contas de ábaco que debitam inimagináveis e bem escondidos ajustes directos, viagens com infindáveis comitivas ao Extremo Oriente - onde pululavam amigos de festa e quase nenhuns desculpabilizadores empresários desejosos de mostrar o que se fabrica em Portugal -, frotas de futura sucata de derradeiro berro num país em semi-ruína, uso e abuso de bastante pueris e escabrosos conúbios de fundo de salão atirados como pedrada política de intervenção junto do poder Executivo, total desprezo pelas atribuições do Legislativo com incompreensíveis dissoluções parlamentares como tempero da mistela, manipulação descarada do Judicial através de criteriosa escolha da magistratura e como epílogo, o facciosismo de casta como genérica pecha que resume aquilo que a presidência sempre foi e será.  

Numa bem presente entremeada de cavaleiros e cavaleiras da fortuna, alguns deles risíveis e babosos prestidigitadores sucedâneos dos PBX de outros tempos, escanções em provas de leite, treinadores de treinadores de treinadores de futebóis e outros casos facilmente olvidáveis, eis o lote de criaturas que nem sequer significam um decálogo a reter a curto prazo. São sem excepção, a mais cabal demonstração da completa desadequação de uma instituição a um Portugal que em vez de meia dúzia de gerações ou uns séculos contabilizáveis pelos dedos de uma mão, tem o miraculoso privilégio de ombrear com os mais antigos países da Terra.

A abstenção não ditada pelo desinteresse, é, num âmbito de um esquema capciosa e flagrantemente desenvolvido para não permitir a sua remoção pela vontade popular - que jamais foi consultada para aquilo que verdadeiramente interessa, desde a república de 1910 às golpadas anticlericais da 1ª república, da retorcida provocação e rapina naval que levou a Alemanha a declarar-nos guerra em 1916, ao 28 de Maio e instauração pelas espadas da 2ª república, até à adesão à OTAN e à pseudo-descolonização, do salvífico ingresso na CEE e logo a assinatura de cruz do Tratado de Maastricht, à hoje reconhecidamente desastrosa entrada para o Euro e patética assinatura de Schengen e do Tratado de Lisboa -, um acto perfeitamente legítimo para contornar a estúpida e prepotente  existência dos chamados Limites Materiais. Este articulado  constante no texto constitucional, nada mais significa senão um auto-reconhecimento da imposição do papel dirigente da vanguarda de uma minoria de iluminados pela luz eléctrica. Não estou para isso e consequentemente, creio que o melhor a fazer é retirar-lhes o máximo daquilo com que se empanturram: o voto.

Não voto, dedicarei o domingo a outros imprevistos afazeres.  


*D. João VI não era bisavô de D. Carlos I, foi um dos seus trisavós. 

publicado às 18:30

O presidente da república de Mr. Burns

por John Wolf, em 20.08.15

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Esqueçam os partidos. Esqueçam a Esquerda ou a Direita. Esqueçam os tiros nos pés do Partido Socialista. Esqueçam o actual Presidente da República. Olhem para o homem. Passem os olhos pela mulher, e façamos um simples exercício;

 

1. Um(a) Presidente da República deve ser o embaixador dos Portugueses no seu próprio país. Deve ser um cidadão comum na acepção de cada um imaginar-se sócio da responsabilidade desse cargo.

2. Um(a) Presidente da República deve ser legitimado pelo cidadão político, mas não necessariamente pelo cidadão partidário - os valores que deve corporizar não são pertença de um qualquer sistema ideológico. São abstractos e arquetipais.

3. Um(a) Presidente da República deve ter um cadastro limpo. Por outras palavras, nunca deve ter estado associado a processos de falência ética, quer de um governo ou de lideres passados e presentes.

4. Um(a) Presidente da República deve ter um nível cultural que transcenda o nível de "técnico de ideologia política" e ser capaz de reconhecer as suas limitações intelectuais.

5. Um(a) Presidente da República deve ter dotes de comunicação. Por um lado deve ser sinceramente afável no trato das gentes que representa, e por outro lado não revelar dificuldades guturrais ou de dicção.

6. Um(a) Presidente da República deve forçosamente ter o domínio de diversos idiomas estrangeiros, incluindo a língua de países vizinhos e não dissimular a sua pronúncia provinciana, se for esse o caso.

7. Um(a) candidato(a) a Presidente da República nem deve sequer considerar uma candidatura se for necessário muito esforço para se poder qualificar como candidato.

8. Um(a) candidato(a) a Presidente da República não pode ser o último recurso por não haver melhores candidatos.

9. Um(a) candidato(a) a Presidente da República deve romper em definitivo com a sua matriz partidária para se qualificar como representante de todos os Portugueses.

10. Um(a) candidato(a) a Presidente da República tem todo o direito a sonhar com as regalias inerentes ao posto e o sem número de viagens que irá realizar.

11. Um(a) candidato(a) a Presidente da República não pode pensar em Belém como o fim da carreira, um lar de terceira idade - a estação terminal para sacar mais benefícios.

12. O candidato a Presidente da República Portuguesa não existe.

 

Então como poderão ter um Presidente da República?

 

 

publicado às 14:06

Todos diferentes, todos presidentes

por John Wolf, em 10.04.15

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Desengane-se quem pense o contrário. O Partido Socialista é a formação mais democrática de Portugal. O seu espectro é verdadeiramente alargado. Representa os cidadãos deste país de um modo irredutível. Tem membros em todos os cantos da casa. Nas direcções-gerais, nas fundações, nas associações, nas grandes empresas, na academia e nas prisões regionais. O dilema do candidato presidencial socialista demonstra essa pluralidade. Quem disse que os meninos do coro devem concordar em relação ao aspirante em melhores condições para ganhar Belém? No entanto, o problema não tem a ver com os aspectos formais da discussão. Tem essencialmente a ver com uma dimensão substantiva, conceptual. Os nomes socialistas que têm andado suspensos no éter do mistério da revelação presidencial não satisfazem por completo os do Largo do Rato, e muito menos os cidadãos de Portugal. As estaladas entre os pares socialistas já começam a ser distribuídas. Umas porque adoram Sampaio da Nóvoa, outras porque imaginam Jaime Gama como o homem certo. Fica demonstrado que, seja qual for a escolha socialista, continuam acorrentados a noções corporativas e a velhos rancores. Henrique Neto talvez não seja o candidato completo, mas poderia servir de exemplo de genuína intenção de mudança. Mas a prática integrativa de anticorpos não faz parte da matriz política de Portugal. Nos partidos os saneamentos e as exclusões são a norma quando alguém se torna incómodo ou fala verdades. Mas mesmo assim me contradigo. José Sócrates ainda não foi expulso do grémio. Ou seja, os socialistas não cortam efectivamente com o seu passado. Diria mais. Pensam mesmo que na história encontrarão a fórmula do futuro. E não me restrinjo às presidenciais. A campanha para as legislativas, em curso na ordem socialista, tem mais a ver com uma retrospectiva partidária, ideologicamente falida - uma especie de antologia de discos riscados. Enquanto Portugal dobra a esquina económica e social, corre agora o sério risco de deitar tudo a perder com decisões vendidas como cura para todos os males. Como escreveu um amigo há escassos minutos no Facebook. Nem todos somados totalizam um presidente. Quanto às legislativas, o problema é o excesso. O superávit de confiança de alguns.

publicado às 09:31

Perfil de Facebook segundo Cavaco Silva

por John Wolf, em 10.03.15

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Cavaco Silva voluntariou a sua ideia de perfil de Facebook para Presidente da República. Deve ser alguém mundano, experiente em comentários e capaz de defender o seu mural. Um lider com capacidade e formação adequadas para analisar e acompanhar os posts relevantes para o país. 

publicado às 09:26

Aiiiiii, Maduro!

por Nuno Castelo-Branco, em 18.04.13

 

Qué pasa, onde é que já ouvimos isto? "Mão pesada contra os fascistas" - pois é, quem não se sujeita à seita é sempre-sempre fascista -, mortos que votam - talvez até Chávez também tenha votado -, impressões "vegetais" idênticas mas de dedinhos com nomes de diferentes donos, bigodes de campanha nas salas de votação, o sucessor de Chávez perorando na tv durante nove horasno dia da eleição, "comissões eleitorais" integralmente compostas por alcazarianos, perdão, bolivarianos, etc, etc. Tudo deve ter corrido normalmente, até porque o entusiasta tchábista Hoçé Soécratez lá esteve afiançando os sucessos e quiçá, estudando os exemplos. Um observador dizia ontem que as eleições ecorreram com calma normalidade, mas de uma forma que envergonhariam qualquer país europeu. Entendemos o sentido das suas palavras, mas há que anotar a possibilidade destas eleições "tão livres como na livre Inglaterra", poderem tratar-se de uma casca de banana bastante madura. Não é que o sr. Caprilles seja muito fiável, mas enfim...

publicado às 12:13

Oui, c'est la république (qu'il faut payer)

por Nuno Castelo-Branco, em 22.04.12

O homem é horroroso. Ordinário a fazer juz ao péssimo porte, língua afiada para a gracejola de beco de doca e um enorme baú de esperadas  vulgaridades, este perfeito bon à rien foi um poço de promessas e de todos os arrivismos, tudo fazendo para chegar a este resultado. Vencido à tangente por um molusco, tem uma Sra. Le Pen a morder-lhe as canelas. Quanto ao resto, já se confirma aquilo que todos desconfiávamos: o fulano que tanto podia ser candidato pela extrema-direita como pela extrema-esquerda, a coqueluche do luso Bloco, ficou-se naquele residualismo que pouco conta, apenas sobressaindo entre outras ninharias presentes no cortejo.

 

O que a França tem visto nestes últimos 40 anos, roça a risota em pleno teatro do guignol: o Giscard dos negócios vergonhosos e do petit commerce africain, o Mitterrand das escutas, silenciamento de opositores, mortes misteriosas e semeador de sedícias, o Chirac semi-presidiário militante e agora isto que ainda está e aquilo que talvez venha, são  um panorama desolador.

 

A ideia de um país que teve Luís IX, Henrique IV, Luís XIV, os dois Bonapartes e até De Gaulle como Chefes do Estado, ver-se reduzido ao espampanante bordel cor de rosa da dupla Sarkozy-Bruni, é sintomático. Enfim, c'est la République e o que ainda há para dizer está aqui, como é costume.

publicado às 19:55

Cavaco percebeu que "perdeu o País"

por Pedro Quartin Graça, em 23.01.11

Cavaco Silva, no seu discurso de vitória, já não se assumiu como "Presidente de TODOS os Portugueses" - que não é, mas sim como Presidente de "Portugal inteiro". Uma frase simples mas com muito significado político na noite em que perdeu metade do País.

publicado às 22:29

Derrotados!

por Pedro Quartin Graça, em 23.01.11

Um ganhou (Cavaco) mas foi como se tivesse perdido tão semelhante foi a sua votação com os números da abstenção. O candidato do outro (Alegre) não ganhou quaisquer votos face à sua anterior candidatura presidencial. Cavaco e Sócrates perderam. O Regime afundou-se.

publicado às 20:11

Cartão vermelho ao regime!

por Pedro Quartin Graça, em 23.01.11

Portugueses decretam "expulsão" do Regime!

Que venha qualquer outra coisa porque o que existe já não serve. É este o recado muito claro e dado de forma expressiva pelos Portugueses hoje nas Eleições Presidenciais. Com Portugal "partido ao meio", o Regime, esse, foi humilhado como nunca antes havia acontecido na história da democracia portuguesa. Só com grande descaramento é que o Presidente Cavaco, ora reeeleito, se pode arvorar de o ser "de todos os Portugueses". É-o apenas de uma facção, cada vez menor e cada vez mais descontente. Agora é necessário que se retirem consequências do resultado hoje manifestado nas urnas sob pena de, se tal não acontecer, coisas muito graves se poderem vir a verificar a curto prazo na sociedade democrática portuguesa.

publicado às 20:11

Já cheira a fiasco!

por Pedro Quartin Graça, em 23.01.11

Ao meio-dia a diferença face 2006 era de 5,6 pontos percentuaisAGORA A CULPA PELOS NÚMEROS DE ABSTENÇÃO É DO, ATÉ AGORA FANTÁSTICO (para muitos), CARTÃO DE CIDADÃO! O que mais irão inventar para tentar justificar o previsível fiasco eleitoral? Será que o Regime nunca aprende?

publicado às 18:37






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