Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Que fique bem assente: sou da opinião de que António José Seguro não reúne os requisítos mínimos para liderar seja o que for. Quanto a António Costa, também me apraz dizer que o ainda presidente da Câmara Municipal de Lisboa também não é sem falhas. Faz parte da velha guarda socialista que também assina por baixo no descalabro do país. Não representará a mudança que o país exige e arrasta consigo um elenco de protagonistas caducos, mas não tem hipótese - depende deles, do seu apoio. Nos dias que correm o Partido Socialista (PS) vive um processo autofágico e canibalizante. A guerra interna pelo poder, a contagem de espingardas e a subida de tom dos discursos de Seguro e Costa, transbordaram para fora dos corredores do Rato directamente para o país que confirma os seus piores receios - a política é igual a si, coerente. Trata-se de um mero exercício de disputa pelo poder, pelo que as questões substantivas que afligem o país foram secundarizadas pela cólera política que agudizar-se-á nos próximos tempos. No entanto, Seguro faz a única coisa que pode fazer. Serve-se de todos os meios administrativos e regulamentares ao seu dispor, ao abrigo da sua posição enquanto secretário-geral do partido, para gerar algum pânico nas convicções arrogantes de Costa. A proposta de eleições primárias "à americana" talvez seja o modo de destrancar um partido dependente de barões. O PS, funcionou, ao longo das últimas décadas, como um cartel de vozes dominantes, que tornaram o partido refém das suas vontades. Acresce a essa distorção, a expressão corporativa que não se quedou pelo partido, pela sua estrutura de gestão. O PS (e também o PSD, para todos os efeitos) colocaram os seus homens nas grandes empresas e instituições públicas deste país. O sistema nacional, está, nessa medida, minado por nomeações "à la carte" - de figuras próximas dos senadores e barões destes partidos. O país, é, deste modo, uma réplica do que se passa nos partidos. O país é um enorme partido - está partido. Nessa medida, o que Seguro propõe, embora sirva para tentar salvar a sua pele, serve também para desintoxicar o partido (e o país) de "soarismos" que o definiram tempo demais. A ideia de que os nomes são maiores do que as ideias, as propostas e as soluções. Os políticos têm esbanjado inúmeras oportunidades. Não aprenderam a descer do alto das suas cadeiras para caminhar nos mesmos trilhos calcorreados pelo cidadão comum. Não é que Seguro esteja a inventar a roda, mas já cumpriu a sua parte. Colocou em alvoroço um dos partidos "fundadores" da democracia em Portugal e obriga António Costa a revelar a sua natureza política mais profunda. Em tempos de crise, este género de abanão faz bem à tosse, altera os discursos que foram utilizados como pregões. Mas isso não basta. O país merece melhor. Portugal não pode perder tempo com birras deste género. Há coisas muito mais importantes.