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Sabemos desde sempre que a política e a encenação teatral andam de mãos dadas. Francamente esperava mais criatividade do grupo incompleto de artistas que se apresentou sob a batuta do falso maestro Daniel Oliveira nas escadarias da Assembleia da República. A papoila a sugerir o cravo e a certeza dos artistas que dizem ter as ferramentas para desencravar a besta do poder. Quantos mais melhor? - é o que diz Daniel Oliveira. Duvido. Bem pelo contrário. Poucos mas bons. Raros mas selectos. Salientar a “diversidade profissional, regional, etária e a paridade de género” (?). Porquê? Isso seria expectável e normal numa democracia representativa. Ao ver e escutar os depoimentos de "figuras de destaque" (palavras do jornalista da SIC) fico com a impressão de que estes artistas não têm onde cair mortos. Género: "bué da fixe, até gostava de ser deputado", "não sei se sou competente, mas logo se vê". O problema desta malta é sinceramente pensar que é melhor que a populaça que não bebeu, por exemplo, nas doutrinas de intervenção, à Otto Muehl, o enfant-terrible da cena vienense, caído em desgraça por práticas menos consensuais. Ao escutar e ver o coro que ontem se apresentou aos portugueses em espectáculo-inédito-graçola-de-10-de-Junho-dia-de-Portugal, senti a presença de Brecht ou Grotowski, e pensei que talvez não estivesse a ser justo. Aquele aglomerado de gente poderia muito bem servir para fundar uma nova companhia teatral. O tempo das representações e religiões políticas já não serve as nossas causas (aconselho a leitura de Voegelin). Generalizações sobre paz e justiça são fáceis de deitar boca fora. Difícil mesmo é apresentar soluções concretas. Não gostei da peça. Foi francamente de baixo nível. O guião inexistente e os actores com sintomas de grande desmotivação. Não, não estamos livres. Nem é tempo para dançar com coisas sérias.
Do mundo do espectáculo o que seria de esperar? Ilusões certamente. Ricardo Costa põe lugar à disposição. Que simpático, que nobre, que atitude carregada de princípios deontológicos. A administração do Grupo Impresa "obviamente" recusou. Nem valia a pena terem encenado o elogio da ética. Surpreendente e inovador seria Ricardo Costa rejeitar a decisão da administração do Expresso e arrumar a secretária e fazer-se à vida. Assim não passa de algo para inglês e português ver - de uma encenação. Ah, e foi promovido. A confiança no jornalista foi reforçada. Ou muito me engano, ou Balsemão e companhia já contaram as favas e dão como certa a eleição do próximo secretário-geral do Partido Socialista, e um pouquinho mais tarde a eleição do novo primeiro-ministro (ou seja, tudo farão que estiver ao seu alcance jornalístico e televisivo para derrubar Seguro). São "passos em falso" desta natureza que confirmam que a promiscuidade neste país é a norma - o mix de interesses e posições, uma condição permanente onde nada muda nem mudará. A relação de proximidade entre a política, os media, os opinion-makers, os blogs e seus bloggers e já agora a bola, também faz parte da matriz corrosiva, do sistema que está em curto-circuito há muito tempo. Desde sempre, e pelos vistos será para continuar.