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Sócrates não acreditou na sua prisão, porque “eles” não tinham coragem para enjaular o animal feroz. Mas tiveram. Então qual tem sido a estratégia (se é que há estratégia) de defesa? Desacreditar a justiça, desacreditar os juízes e desacreditar a investigação. Martelar a ideia de que a prisão é ilegal e de que a defesa desconhece os factos que levam à detenção. Marcar presença diária na comunicação social. Dar entrevistas. Polarizar a opinião publica. Fale-se bem de Sócrates, fale-se mal de Sócrates mas fale-se de Sócrates.
A estratégia de defesa produzirá resultados? A agressão à justiça é decerto má aposta para a defesa, numa altura em que parece que ela finalmente funciona e, já agora, com aparente mão pesada nestas meias tintas entre politica, negócios e todos os esquemas in-between. É também um contra-senso o animal feroz em cativeiro disparar em todas as direcções ao mesmo tempo que a defesa advoga a benignidade para a investigação do animal feroz em liberdade. E a opinião publica? Essa, perante a vida faustosa e, sobretudo, o interminável rol de confusões de Sócrates, família e amigos, certamente quer que finalmente seja feita justiça sobre um “poderoso” que, de uma forma ou outra, tem sido habilmente escorregadio em relação à barra dos tribunais.
E quanto ao PS? O PS é, no que toca a Sócrates, um submarino com um rombo a deixar entrar água. E o que se faz nesta situação? Isola-se hermeticamente a área inundada. Costa seguiu friamente o procedimento e fechou a escotilha, apesar de no outro lado ter deixado Sócrates, já com falta de ar e a tentar desesperadamente tapar com os dedos o enorme rombo no casco. Enfim, casualties of war, à política o que é da política e à justiça o que é da justiça. Então por altura do Natal, já com os estragos no casco minorados e a máquina estabilizada, Costa, porque assim tem de ser, lá fará a sua viagem a Évora, deixando no ar uma bem medida ambiguidade entre a solidariedade politica e a caridadezinha natalícia.
A respeito desta infeliz posição de Carlos Abreu Amorim quanto à criminalização do enriquecimento ilícito, ler o que escreve hoje João Luís Pinto:
«Hoje, o deputado Carlos Abreu Amorim vai contribuir com o seu voto para o estabelecimento de um gravíssimo precedente jurídico com consequências (a ser consentido pelo tribunal constitucional – o que não me alimenta particulares esperanças) inevitáveis, essas sim, para o cercear da esfera privada da liberdade dos cidadãos e para a amplificação desmesurada dos poderes asfixiantes do estado.
Vindo de um jurista e qualificado liberal a viver em dificuldade em Portugal, um libelo de defesa apresentado como sendo dos cidadãos cumpridores (temo até pensar o que isso seja) é algo que, se possível de compreender como um devaneio alimentado por um acesso de deslumbre passoscoelhista, não é possível de aceitar e, diria mesmo, de perdoar.
Qualificar como um dia histórico para a vida do parlamento português um dia particularmente negro, em que se vai dar um passo significativo não contra a “corrupção” ou os traficantes de influência da esfera do estado – destinatários que só poderão ser engolidos por ingenuidade -, mas sim para colocar um pé na porta na Liberdade e no direito que deve assistir a todos a um processo judicial digno de um Estado de Direito, baseado em regras claras, em igualdade de armas e no assegurar de uma efectiva capacidade de defesa e presunção de inocência dos arguidos, é algo que não pode deixar de me desiludir profundamente.
Travestir tudo isto em nome de um populismo justiceiro e de uma capa feita para enganar tolos de que vale a pena sacrificar liberdades fundamentais e princípios em nome de resultados, ver para esse efeito o PSD e o CDS votarem alegre e (pelos vistos) orgulhosamente ao lado da extrema esquerda parlamentar que em outros momentos tanto criticam, é algo que me entristece fortemente e que não posso deixar de assinalar e lamentar.»
E como leitura complementar, a respeito da idiotice que é a proposta que o parlamento vai hoje votar, ler o Carlos Loureiro, Pedro Caeiro, Miguel Noronha, André Azevedo Alves e novamente João Luís Pinto.