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É lugar comum falar mal da educação pública em Portugal. Todos sabemos que o sistema educacional é facilitista, pouco exigente e de má qualidade no geral. Quem pode não hesita em colocar os filhos em colégios privados. Então como explicar que quando em igualdade de circunstâncias, isto é, na altura do acesso ao ensino superior, os que vêm do ensino público passam à frente dos que vêm do privado?
Esses aliás acabam na sua maioria por ingressar em universidades privadas, também elas regra geral de muito má qualidade em relação às públicas, salvo honrosas excepções. Pelo menos no Brasil, os que têm possibilidade de estudar nos melhores colégios saem de facto melhor preparados e conseguem entrar nas universidades públicas, também elas muito melhores que as privadas. Isso acaba até por causar uma distorção e injustiça social, na medida em que os que têm menos posses acabam por ter que ingressar em privadas, trabalhando incansavelmente para poder pagar os estudos.
Não sei se sou só eu que me apercebo deste contra-senso, mas acho que vale a pena pensarmos nisto.
Subscrevo grande parte do que Manuel Caldeira Cabral aqui escreve, especialmente algo que eu já desde há algum tempo a esta parte venho dizendo, que o ensino superior em Portugal é uma continuação do ensino secundário para a esmagadora maioria dos jovens. Infelizmente.
Só por duas vezes na minha vida senti que estava realmente numa universidade, daquele género de sensação que se tem ao ver os filmes norte-americanos em que os jovens abandonam a casa dos pais para se tornarem independentes pela primeira vez, com bolsas de estudo, part-times, repúblicas, apartamentos partilhados e quartos alugados, as festas claro, bibliotecas e investigação, muita investigação como gosto pelo saber e conhecimento, que é o que nos vai faltando cada vez mais.
A primeira vez foi quando entrei para o Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas e ali não conhecia ninguém, sentimento que se desvaneceu rapidamente numa faculdade que mais parece uma aldeia, em todos os sentidos, positivos e negativos, de resto, como o próprio país. A segunda vez foi aquando da realização do intercâmbio que me levou durante um semestre para a Universidade de Brasília, a melhor universidade de Relações Internacionais da América Latina, composta por brasileiros das mais diversas regiões e latino-americanos dos vários países circundantes, onde a investigação e criatividade perpassa toda o vector da educação e das aulas.
De resto, cá continuamos no prolongamento do secundário cada vez mais secundarizado e estandardizado com a lógica da bolonhesa.