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Envie-se um exemplar do que muitos chamam "bem nascidos" para uma universidade estrangeira, de preferência no Reino Unido ou nos EUA, dê-se-lhe palco e, com uma elevada probabilidade, não será preciso aguardar muito para assistir a exposições públicas de presunção e ignorância atrevida típicas de estrangeirado. Nem vale a pena falar sobre a perniciosidade dos rankings, sobre como no mundo globalizado em que vivemos o acesso à informação e o labor em prol do conhecimento podem ser realizados em qualquer parte do planeta, sobre como há bons e maus docentes e discentes em toda e qualquer universidade (como em qualquer instituição ou profissão) ou sobre como todas as universidades portuguesas contam nos seus quadros com pessoas que estudaram nas ditas melhores universidades do mundo - o caso da Universidade da Beira Interior é, aliás, paradigmático, tendo docentes e investigadores formados por muitas das melhores universidades estrangeiras e nacionais e estando a crescer rapidamente, com a procura (nacional e internacional) a exceder largamente a oferta. O fenómeno não é novo e não deixa de ser curioso que muitos dos seus protagonistas façam parte de certa sociedade de corte. Muitos até fazem e fizeram carreira cá pelo burgo à custa do seu grau académico estrangeiro e andam há décadas a espalhar por aí o seu alegado perfume de classe, a que se agarram com uma força proporcional ao temor de serem desmascarados por aqueles que, de origens modestas e/ou com uma visão menos paroquial do país e do mundo e/ou apenas tendo estudado cá pelo burgo, sabem mais a dormir que eles de olhos abertos.
Estão abertas as candidaturas para os cursos de Mestrado e Doutoramento da Universidade da Beira Interior. Para os interessados nos cursos de Ciência Política e Relações Internacionais, aqui ficam as ligações directas para as páginas dos respectivos cursos:
Mestrado em Relações Internacionais
Doutoramento em Ciência Política (em associação com a Universidade de Aveiro)
Se ainda fosse aluno, também preferia ter aulas com Passos Coelho ou outros ex-políticos com experiência prática útil para várias áreas de conhecimento do que com alegados académicos ideologicamente demasiado condicionados que se crêem grandes pensadores, escrevem recorrentemente disparates sobre realidades que desconhecem e/ou reproduzem clichés de antanho que há muito foram desmistificados. O facto de o segundo assinar artigos de opinião sobre realidades sociais e políticas com “PhD em Física” é revelador quanto baste da sua ignorância e pequenez intelectual. Não lhe faria mal passar pelos bancos do ISCSP, onde poderia aprender, como qualquer aluno de licenciatura em Ciência Política ou Relações Internacionais que por lá passa, a distinguir entre doxa e episteme, entre política e ciência, entre pensamento político e filosofia política, entre ideologia e conhecimento, entre ciências exactas e ciências sociais. Parafraseando Vasco Santana, títulos académicos há muitos, e já explicava Mario Cipolla que "a probabilidade de que uma determinada pessoa seja estúpida é independente de qualquer outra característica dela mesma."
António Fidalgo, Reitor da Universidade da Beira Interior, "Injustiça, iniquidade, inânia, e interior:
Retomo ainda do Expresso de sábado, pág. 21, a indignação e a raiva da Prof. Helena de Freitas, primeira presidente da Unidade de Missão para a Valorização do Interior, sobre o centralismo atávico da capital. O centro rico precisa de um interior pobre para exercer uma solidariedade constante, certa e permanente, e muito comovente. Quando, vindos de Lisboa, os políticos aparecem nas calamidades, incêndios, secas, e queda de pontes, é sempre sob o refrão de “Nós cá estamos para ajudar”. E, de facto, estão. Se o António Alçada Baptista fosse vivo, escreveria que o poder central tem no interior deprimido de Portugal o equivalente ao que as senhoras ricas, boas e piedosas da Covilhã tinham no antigo regime, cada uma ajudando o seu pobrezinho, de forma continuada. Importante, já então, era que o pobrezinho não gastasse a ajuda em vinho (no estilo Jeroen Dijsselbloem avant la lettre) e, sobretudo, nunca deixasse de se mostrar bem comportado, reverente e reconhecido.
Como é que Portugal poderia recorrer aos fundos de coesão comunitários se não tivesse os pobres de ofício? Lisboa não é zona de convergência, mas acaba de receber, efectivamente, mais dinheiro de fundos comunitários que qualquer zona do Interior. Depois de dezenas de anos a receber fundos de coesão europeus temos cada vez mais um país de risca a três quartos. Iniquidade é o que é. Chamem-se os bois pelos nomes.
E termino com a inânia. Muitos estudos comprovam que a vitalidade que resta nas regiões do interior é dada pelas universidades e politécnicos. Na Covilhã, a UBI recuperou uma parte significativa das ruínas fabris e converteu-as em faculdades. Fazendo uma conta muitíssimo por baixo (7 mil alunos x 300 euros x 10 meses por ano), a UBI injecta na economia local 21 milhões de euros, aos quais se somam ainda os 24 milhões de euros transferidos via OE e 4 milhões de projectos num total de 49 milhões por ano.
A tutela está centrada nos grandes projectos de parceria internacionais, com universidades de topo americanas e organismos de ciência mundiais, mas com Portugal a pagar. Como não quer dividir para reinar (como pretensamente fazia o governo da troika), nada faz, pese o facto de, sob as suas barbas, as instituições de ensino superior de Viana do Castelo ao Algarve enfrentarem dificuldades para pagarem salários ao fim do ano. No entretanto, inventou-se um mecanismo de interajuda entre as universidades e os politécnicos para que as que têm saldos cubram no final do ano as que não têm saldos e têm de pagar salários em falta. Para que serve uma tutela que se exime de apresentar um modelo de financiamento do ensino superior com critérios claros, racionais e quantificáveis? Para nada. Inânia pura.
António Fidalgo, Reitor da Universidade da Beira Interior, "Reitor me confesso":
Sr. Prof. António Coutinho, em Portugal os reitores fazem verdadeiros milagres, omeletes sem ovos. Um estudante português fica mais barato ao Estado do que um aluno do secundário. E qualquer casal paga mais pelo filho na creche do que na universidade. Vamos a números? O proposta de OE de 2018 atribui 1.129 milhões de euros ao ensino superior. Numa regra de três simples, dividindo pelos 300 mil alunos do ensino público, universitário e politécnico, são 3.763 euros por aluno. Em Espanha qualquer universidade recebe do erário público pelo menos o dobro. A Pompeu Fabra em Barcelona recebe 22.000 euros. Mas nos rankings internacionais (deixo ao seu critério escolher qual) as universidades portuguesas em geral estão significativamente mais bem situadas que as espanholas, ou do que as francesas ou italianas (que certamente não terão a miséria de financiamento que as portuguesas têm).
(...).
Concordo com o Prof. António Coutinho de que “os rankings são o que são”, e que os há para todos os gostos, mas convenhamos que a Universidade da Beira Interior com 31 anos, 7.000 alunos, e apenas 22.3 milhões de euros de dotação pública, aparecer entre as 150 “world best young universities” no ranking do Times Higher Education é prova de que os dinheiros públicos estão bem acautelados. Aposto que nenhum reitor da Suécia, da Escandinávia, ou de qualquer país nórdico, nomeado pelo Estado, ou escolhido pelos grandes da finança ou da indústria, consegue apresentar uma melhor relação qualidade-preço.
A experiência internacional do Sr. Prof. António Coutinho levá-lo-á a olhar para a universidade portuguesa como uma miséria. Está no seu direito. A minha experiência internacional, que mesmo assim passa por 7 anos na Alemanha, como mestrando, doutorando e pós-doc, com bolsas de estudo alemãs, por universidades com prémios Nobel no historial, por um ano como visiting scholar numa universidade americana da Ivy League, e por um conhecimento próximo de universidades espanholas e brasileiras, diz-me que as universidades portuguesas oferecem um ensino de qualidade; e que, no que toca a custos, é ímpar.
Ainda me recordo do primeiro dia em que iniciei o meu percurso escolar, há 25 anos. Desde então, passei por várias escolas e universidades e foi na minha alma mater, o ISCSP, que descobri, logo nos primeiros dias de aulas da licenciatura em Relações Internacionais, o meu desígnio de vida: a dedicação ao conhecimento, à ciência, à academia. É, por isso, com um sentimento muito especial que inicio o meu primeiro ano lectivo do outro lado da secretária do Professor, numa universidade que se tem vindo a afirmar como uma referência não só a nível nacional, mas também internacional, e onde fui maravilhosamente acolhido e integrado, a Universidade da Beira Interior, situada na belíssima cidade da Covilhã. Tenho, assim, a imensa sorte de poder, finalmente, dedicar-me inteiramente a algo que, mais que uma profissão, é uma vocação. Ortega y Gasset, no início de O Que é a Filosofia?, resume bem o meu estado de espírito após as primeiras aulas que leccionei:
(…) já veremos como no ser vivo toda a necessidade essencial, que brota do próprio ser e não lhe advém de fora acidentalmente, vai acompanhada de voluptuosidade. A voluptuosidade é a cara, a facies da felicidade. E todo o ser é feliz quando satisfaz o seu destino, isto é, quando segue a encosta da sua inclinação, da sua necessidade essencial, quando se realiza, quando está a ser o que é na verdade. Por esta razão Schlegel dizia, invertendo a relação entre voluptuosidade e destino: «Para o que nos agrada temos génio». O génio, isto é, o dom superlativo de um ser para fazer alguma coisa tem sempre simultaneamente uma fisionomia de supremo prazer. Num dia que está próximo e graças a uma transbordante evidência vamo-nos ver surpreendidos e obrigados a descobrir o que agora somente parecerá uma frase: que o destino de cada homem é, ao mesmo tempo, o seu maior prazer.
Paulo Tunhas, "Lenine explica":
Acerca da anulação da conferência de Jaime Nogueira Pinto na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e dos motivos dessa anulação, muita gente, da esquerda à direita, se pronunciou com as palavras certas. Há, no entanto, uns silêncios que convém interrogar. Que eu tenha reparado, ninguém do PC ou do Bloco de Esquerda julgou útil desta vez fazer ouvir a sua voz, o que em princípio devia espantar, tratando-se de gente particularmente vocal que aprecia sumamente dissertar sobre toda a espécie de direitos e que tem ideias bem definidas sobre a liberdade, ou sobre as “amplas liberdades”, como dantes o PC dizia.
(...).
Não custa muito encontrar uma explicação simples: porque concordam com a anulação da conferência. Demasiado simples? Francamente, não creio. A especialização nas chamadas “causas fracturantes”, que tornou o Bloco conhecido do bom povo português, tende a fazer esquecer algumas características ideológicas que identificam no essencial aquela tão moderna agremiação. É que, sob as vestes da modernidade, o que conta verdadeiramente são ainda as arcaicas concepções totalitárias que se encontram na sua origem. É isso que fornece uma unidade subjacente à multiplicidade das “causas”. Que isso permaneça imperceptível a uma grande parte das pessoas deve-se em grande parte a um efectivo talento para o marketing político que descobriu um muito conveniente nicho ecológico nos media. A maneira como esta ocultação da presença da origem no presente foi levada a cabo com sucesso é provavelmente um dos factos mais reveladores da facilidade do triunfo da impostura em política, uma impostura desde há um ano devidamente recompensada, para nossa grande desgraça, com a generosidade de António Costa.
(...).
É bom percebermos que estamos a lidar com gente para a qual não há, em domínio algum, qualquer espécie de neutralidade, inclusive académica. O silêncio em relação ao caso de Jaime Nogueira Pinto exibe-o perfeitamente e de forma inadulterada. O outro de que se discorda não é susceptível de merecer a distância que nos permita ouvi-lo. Insultá-lo, identificá-lo como inimigo, é mais fácil. No caso de Nogueira Pinto, é “fascista”. Noutros tempos, é bom lembrá-lo, bastava ser “socialista”. Desde que António Costa, com a sua proverbial fortitude, derrubou pela segunda vez o Muro de Berlim, os socialistas, tirando um excêntrico ou dois, podem estar tranquilos: “socialista” não é um nome feio. Mas nada garante que seja sempre assim. A não ser que certa gente do partido que Costa trouxe para junto de si tomar definitivamente conta do PS. Nesse caso, a paz poderá tornar-se definitiva. Com o PS a mudar até de nome: PSE – Partido Socialista de Esquerda. Lenine explica.
Um erro e uma vergonha é alguém como Vasco Pulido Valente, que tem por obrigação e dever de ofício conhecer os processos de formação e autonomização académica de disciplinas como a Ciência Política ou as Relações Internacionais – processos que remontam ao início do século XX, pelo que não se pode dizer que se trate de disciplinas novas –, incorrer no pensamento camilo-lourencista da utilidade económica. Só se esquece que Camilo Lourenço considera inúteis os licenciados em História, por sinal a ciência social em que VPV se doutorou em Oxford, no âmbito da qual desenvolveu os seus trabalhos e que, vá-se lá saber porquê, deixa de fora neste seu artigo.
Parafraseando um outro professor, talvez VPV queira recomendar a instituições como as universidades de Oxford, Cambridge, Harvard, Yale, Stanford etc. que liquidem os seus enormes departamentos e centros de investigação que se ocupam das mais diversas ciências humanas e sociais. E, já agora, talvez sugerir também a dissolução das centenas de think-tanks britânicos e norte-americanos que se ocupam desses alegados mistérios que são a Ciência Política e as Relações Internacionais. Por momentos pareceu-me estar a ler alguém que ainda acredita que estas são ciências ocultas. Faria melhor, porventura, em ler "The Idea of a University" desse inútil professor de Oxford que dava pelo nome de Michael Oakeshott, em vez de escrever disparates.
De resto, de um licenciado em Relações Internacionais, mestre e doutorando em Ciência Política pelo ISCSP e que trabalha no sector privado, permita-me só perguntar se será que tanto fel contra estas ciências terá alguma coisa a ver com a fusão entre a Clássica e a Técnica e as pretensões frustradas de muitos dos que trabalham ou trabalharam sob a alçada de VPV no ICS, a quem o Estado garantiu precisamente um certo modo de vida durante décadas?
Para mim, praxe foi uma manhã entre uma aula fantasma e pinturas na cara. Mas isso é no ISCSP, uma instituição com 108 anos, que há 2 anos até teve como praxe pintar uma igreja e uma escola na Ajuda. O resto é como escreve Vasco Pulido Valente:
"A maioria do chamado "corpo estudantil" fora antes rejeitado pelo Estado e pagava uma exorbitância pelo "ensino" que recebia. Cada "universidade privada", fosse de que forma fosse, acabava por se tornar um negócio, a favor de obscuras direcções que não dependiam de nenhuma autoridade idónea. Mas, no meio disto, precisavam de prestígio.
Para o "prestígio" escolheram usualmente três caminhos: grandes cerimónias, imitadas de universidades medievais; trajos de professores de grande pompa e circunstância; e uma total liberdade para as "praxes". Numa altura em que pelo Ocidente inteiro se abandonavam as "praxes" pela sua brutalidade e pela sua absoluta falta de sentido no mundo contemporâneo, Portugal adoptou com entusiasmo essa aberração. Tanto as direcções como os professores não abriram a boca e menos puniram os delinquentes, que de resto não se escondiam e até se gabavam. Do Minho ao Algarve nasceu assim uma nova cultura, cada vez mais sádica e tirânica, que variava na proporção inversa da qualidade académica da instituição em que se criara. Nas cidades chegou ao seu pior."
José Manuel Fernandes, Aquilo que não tem sido dito no debate sobre a "Ciência em crise":
"Uma das “verdades sagradas” do actual debate é a de a Ciência produzida em Portugal ser de alta qualidade. A existência de alguns investigadores, em especial jovens investigadores, que têm obtido prémios internacionais reforça essa percepção. Infelizmente, se há em Portugal muitos centros de excelência, o resultados geral do sistema é pouco mais do que mediano, quando não medíocre. Basta pensar no seguinte: no nosso país existiam em 2012 9,2 investigadores por cada 1000 activos, uma percentagem que nos colocava em quinto lugar na Europa, logo atrás dos países nórdicos. Porém, se considerássemos o indicador compósito do Eurostat para a excelência em ciência e tecnologia (um indicador que integra variáveis como o número de publicações científicas ou de patentes), Portugal caía para 19.º lugar, sendo mesmo o pior dos países do Sul da Europa. Em síntese: temos muitos investigadores mas com baixa produtividade.
(...)
Estas situações de mediocridade não são separáveis do estatuto dos bolseiros, pois os seus problemas são uma das consequências das regras existentes em muitos dos locais onde hoje se faz Ciência. Nesta área, como em muitas outras em Portugal, construímos um país dual.
De um lado temos os professores e investigadores que, sobretudo nas décadas de 1980 e 1990, encheram os quadros das universidades e, depois, dos laboratórios associados. Muitas dessas pessoas estão hoje envelhecidas, nunca tiveram uma qualidade por aí além, mas são inamovíveis por muitos e longos anos. Toda a gente que conhece o sistema sabe do que falo.
Do outro lado temos as gerações que têm vindo a ser formadas nos últimos anos, temos centenas de investigadores com mais valor e mais qualificação do que muitos dos que estão instalados, mas que encontram as instituição cheias e sem vagas. Todos os anos, sempre que mais uma coorte de universitários termina a sua formação, o número dos que ficam à porta do sistema aumenta."
Um ministério de Educação que pensa deste modo, não está a pensar. Está a proceder em sentido inverso, a contribuir para estupidificação do país. Desde quando é que a quantidade deve ser um critério para decidir a continuidade ou não de um curso superior? A regra - por razão da maioria-, não pode servir de fundamento para o fecho de estabelecimentos de ensino superior. Passo a citar: "Despacho enviado aos reitores proíbe abertura de novas vagas em cursos com menos de dez alunos inscritos. Há 171 nesta situação, a grande maioria nos politécnicos." Ou seja, os génios que nascem em Portugal serão esterilizados porque serão um fardo para a sociedade. Meus senhores, isto é gravíssimo. De um modo sub-reptício, é um modo de encarneirar as mentes pensantes, colocá-las num mesmo rebanho de mediania, mais fácil de controlar, quando deveriam ser elevadas ao seu mais alto grau de potência. Esta decisão expulsa do nosso espectro emocional e intelectual, génios como Einstein, Feynman ou Egas Moniz. O governo, e o seu apêndice, responsável pelos destinos da Educação neste país, procedem a um intervenção cirúrgica. Uma lobotomia administrativa que irá comprometer a capacidade presente e futura de Portugal. O país compromete a sua capacidade de pautar a sua condição pela excepcionalidade, pela excelência. Esta declaração anti-académica constitui uma agressão que está em sintonia com o magnífico conceito de despejo nacional, a emigração económica do país, mas isto vai mais longe. Esta barbaridade envia para o desterro aqueles que sonham em marcar a diferença pela invulgaridade da sua área de estudo - de pesquisa ao serviço de todos nós, menos inteligentes e menos dotados. O renascimento de Portugal, como de qualquer outro país, passa pela salvaguarda do seu manancial académico e cultural. Os ciclos de expansão económica são sempre precedidos pela ruptura tecnológica, e essa alteração do quadro operativo depende da capacidade criativa de indivíduos que ocupam espaços de pensamento que os outros não são capazes de identificar. Ainda por cima, têm o desplante de chamar a esta operação de; racionalização da oferta no ensino superior. Quando é tudo menos isso.
Alberto Gonçalves, Os pontos do vigário:
«Os charlatães de nível internacional vestem fatos da Brooks Brothers e fazem por se infiltrar no jet set que paira em Saint-Tropez ou nos grupos de decisão que frequentam Washington, consoante os gostos. O charlatão indígena veste-se como Boaventura de Sousa Santos e sonha penetrar uns estúdios televisivos em Carnaxide. Ou, juro pela minha saudinha, pertencer à Academia do Bacalhau de Lisboa.
Ponto seis. No final de contas, o caso do sr. Baptista da Silva resume-se a uma vigarice sem especial gravidade, na qual um pobre diabo inventa os cursos e a carreira que nunca teve. Grave seria que um membro do Governo ou, imagine--se por absurdo, o chefe de um governo procedesse de igual modo. Felizmente, disso estamos livres.»
Recebi um e-mail que terá sido enviado para o destinatário errado. Vou reencaminhá-lo para o Governo. O assunto: "Obtain a genuine university degree in just 10 days based on your work or life knowledge. BA/BSc/MA/MSc /MBA/PhD".
«O reitor alerta para o perigo futuro que representa a "incapacidade de recrutar novos professores", indicando que a média de idade dos docentes na UTL é de cerca de 50 anos.
Isso significa que, além de crescer o fosso etário entre alunos e professores, quando esta geração se reformar não haverá quem a substituta.
"É terrível", lamentou o reitor, frisando que não se "passa escola", ou seja, não há hipótese de "formar os novos docentes com os mais antigos" porque com as universidades manietadas com a falta de dinheiro, "não há oportunidades para a gente mais nova" e, além disso, "os melhores saem para o estrangeiro".»
Duarte Marques diz que Miguel Relvas sempre disse aos militantes da JSD para não seguirem o exemplo dele, para estudarem primeiro e meterem-se na política depois. A sério? Mas Relvas nem chegou a estudar! Ah e diz também que a culpa é da lei de Mariano Gago. A lei está mal feita, é certo - a meu ver nem devia existir. Mas Relvas aproveitou-a. Poderia não o ter feito. O que continua a acrescer ao chico-espertismo da personagem. Se realmente norteasse a sua vida pela busca do conhecimento, fazia um curso a sério. A seguir só falta dizerem que Relvas é uma vítima do governo PS que fez a lei.
O cartoon que o Pedro aqui deixa, embora tenha apenas como objectivos caricaturar e criticar uma determinada situação, é manifestamente injusto. Deveria ler-se "Põe-nos a estudar Ciência Política e Relações Internacionais na Lusófona". Ninguém faz Ciência Política e/ou Relações Internacionais no ISCSP, Nova ou Católica como o chico-esperto Miguel Relvas fez. A área científica não tem culpa que existam Universidades que não são dignas de ter esta designação.
No Público:
«A única cadeira que o actual ministro tinha concluído antes de 2006 era uma de Direito, feita em 1985. (...) Em 1985 concluiu, após frequência escrita e prova oral, a disciplina de Ciência Política e Direito Constitucional, com 10 valores. Em Setembro desse ano pediu transferência para o curso de História. Matriculou-se em sete disciplinas mas não fez nenhuma. Em 1995/96 pediu reingresso na Lusíada para o curso de Relações Internacionais. Não frequentou nenhuma cadeira. Só dez anos depois requereu admissão à Lusófona. O plano de estudos da licenciatura de Ciência Política e Relações Internacionais, publicado no site da universidade, contempla 36 disciplinas, distribuída por seis semestres, equivalentes a 180 créditos — o número de créditos que, por norma, é exigido para um grau de licenciatura desde que entrou em vigor o chamado Processo de Bolonha, que prevê a uniformização europeia da estrutura dos cursos superiores.»
Como é que uma cadeira feita com 10 valores dá equivalência a 2 anos de licenciatura? Simples:
«Uma lei publicada em Março de 2006, meses antes de o actual ministro ser admitido naquela instituição de ensino, prevê que as universidades e politécnicos possam reconhecer “através da atribuição de créditos, a experiência profissional” de pessoas que já tendo estado inscritos no ensino superior pretendam prosseguir estudos. Esse diploma (Decreto-Lei 74/2006) diz que cabe às instituições de ensino definir os procedimentos a adoptar nestes casos. A Lusófona não forneceu ao PÚBLICO o seu regulamento para reconhecimento de competências profissionais.»
Atente-se no percurso profissional de Miguel Relvas. E atente-se no plano de estudos do curso de Ciência Política e Relações Internacionais da Lusófona. Não está na cara que a equivalência é mais que justificada? Só não se percebe o porquê de a Universidade Lusófona não fornecer o regulamento de reconhecimento de competências profissionais...
Volto a dizer, para lá da chico-espertice que vai fazendo escola nos vários partidos, onde muitos casos há de licenciaturas dúbias, e do provincianismo dos sujeitos em causa, o que deveria ser indagado é o porquê de serem sempre as mesmas universidades envolvidas nestas histórias.
Leitura complementar: A licenciatura de Miguel Relvas: da Universidade Lusíada à Universidade Lusófona; Novos detalhes sobre a licenciatura de Miguel Relvas: não deve matar, mas vai moer.
Para lá da chico-espertice que vai fazendo escola nos vários partidos, onde muitos casos há de licenciaturas dúbias, e do provincianismo dos sujeitos em causa, o que deveria ser indagado é o porquê de serem sempre as mesmas universidades envolvidas nestas histórias.
Miguel Castelo-Branco, O mito da Economia:
"Um dos participantes do congresso do PSD afirmava há momentos que a eventual escolha de Teixeira dos Santos para um lugarão se deve certamente ao facto de ser um "grande professor de Economia". A ditatura dos professores de Economia, de Cavaco a Teixeira dos Santos, mostrou sobejamente a qualidade das nossas faculdades de Economia."