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O Portugal abrilista criou um povo estrangeirado, pouco amigo da velha tradição. Um povo adulador de um igualitarismo nivelador de misérias e corrupções várias, com a bênção dos europeístas de fachada. O estrangeirismo inculcado pela aculturação europeia supurou a nossa cultura. Liofilizou a arte de ser português. Arruinou o nosso espírito. Precisamos de recuperar o que é nosso por direito, sem europeísmos de vão de escada, nem construtivismos hiper-racionalizadores. Recobrando a livre determinação do nosso destino colectivo. Em suma, renacionalizando a nossa identidade.
Não conheço as noites de papelão. Aquelas passadas no mármore da avenida onde afirmam que o ar gélido passa a correr, para ir morrer na parte baixa da cidade. Não sinto as mãos, o tronco e os membros da minha família. O bafo que me sai das entranhas, aquece a ponta do nariz enquanto farejo a urina deixada na sarjeta, que passei a ser. Naquelas horas da natureza, que dizem pertencer aos grilos, escutei vozes, atei a trouxa ao pulso aberto pelo cordel - a corda que enforca o horizonte que já não avisto. Estou deitado no passeio junto a um copo e o mundo. Corpo imundo. Nada tem de ser dito porque o fétido emana como a última vela de um santuário arrendado, arredado de si - põe-te daqui para fora -, mas que permanece nessa caixa que em tempos albergava o espírito, o pai nosso divorciado de si. E se me esquecer de alguns detalhes quando a polícia me deitar a mão, direi que está tudo assente num livro de penúrias, escrito nas linhas rugosas da minha cara, nos vincos que migraram das palmas, dos aplausos de dignatários que inauguraram a dependência bancária e me encerraram neste estado que já não sinto, que não sentimos.