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Não sei o que procuram os chineses nas gavetas de Rui Machete. Uma factura da EDP por cobrar? Uma carta por enviar com um pedido de desculpas? Mas devemos começar a pensar alto por que razão os hackers de Shaolin estão tão interessados na troca de correspondência do ministério dos negócios estrangeiros. Por outro lado, pode ter sido uma simulação por forma a dar a impressão que Machete é um player de respeito no tabuleiro geopolítico. Trabalham para quem estes maoístas? Para a National Security Agency? Terá sido um outsourcing por ajuste directo de contas antigas? Tudo isto é muito misterioso, mas não nos deve espantar. A República Popular da China já tem muitos interesses por defender em Portugal e convém tomar algumas precauções. Não vá haver algum leakage involuntário que possa comprometer futuros negócios líquidos ou não. De qualquer forma, em termos de percepção ou de classificações de instituições com matéria sensível a proteger, Portugal deve já estar no top 15 deste ranking de fífias. Não sei se a Judite Estrela - perdão, Edite Estrela -, tem razão, ao afirmar que ninguém sabe quem é Nuno Melo no Parlamento Europeu, porque pelos vistos estes chineses sabem-na toda. Este emaranhado de temas que para aqui trago parece que não tem ligação, mas aposto que tem. Talvez seja boa ideia perguntar à Ana Gomes se ouviu falar de alguma coisa.
Agência de rating NSA dá nota máxima a Portugal.
A situação europeia é cada mais instável e a NATO nem de longe é a mesma organização que durante décadas garantiu a segurança da Europa e a resistência ao imperialismo soviético.
Goste-se ou não se goste da espionagem, ela existe e pode ser preventiva de grandes contratempos. Sabe-se que uma nada despicienda contribuição para a vitória sobre o Eixo, deveu-se precisamente à eficácia da espionagem: o decifrar do Código Púrpura, a máquina Enigma, R. Sorge e a Batalha de Moscovo, o decifrar das directivas emitidas pelo Supermarina à poderosa armada italiana, a Rote Kapelle, Estalinegrado, Kursk, a Batalha do Atlântico, o Dia D, Pearl Harbour - é verdade, os americanos sabiam - e Midway, são apenas alguns exemplos dessa contribuição dos serviços secretos.
Os alemães estão indignados por terem sido vigiados pelos competentes serviços dos seus aliados além-atlântico. Não percebem porquê, mas as razões para que tal coisa tenha acontecido são evidentes. A Alemanha de hoje, não é precisamente aquela entidade dividida e sob tutela que existia antes de 1989. O fim da Guerra Fria, o seu grande poder na Europa e ainda mais importante, os cada vez mais privilegiados laços com a Rússia, despoletam algumas previdentes desconfianças. Quando antigos chefes de governo deixam a Chancelaria e logo passam à condição de empregados de grandes empresas energéticas russas, ao mesmo tempo que Berlim e Moscovo dispõem livremente acerca do fornecimento de gás à Europa ocidental, nada poderá ser por acaso. Existem sempre contrapartidas políticas que escapam à opinião pública.
Apenas uma questão: passando sobre a evidente necessidade de uma ponderada atenção a um certo tipo de imigração na Europa - o Caso Mesquita de Finsbury Park é um exemplo -, estarão os europeus preparados para o abrir dos cordões à bolsa e garantirem eles próprios a sua segurança e Defesa? O sr. Martin Schulz devia pensar no caso desta proveitosa abstinência de décadas, esse "escândalo gigantesco" que na Europa ninguém quer considerar como tal. Se já não querem o guarda-chuva emprestado, então que ajam em conformidade.
A espionagem - a amigos e a inimigos - será um alegadamente asqueroso recurso que susceptibiliza todas as políticas dos Estados. Sempre existiu e numa Europa que já conta com mais de dois milénios de civilização, tal deveria ser encarado com naturalidade. Estas indignações fedem demasiadamente a impotência.
Caro Rui, já agora acrescente-se esta à lista. Sabemos que o mundo está perdido quando os candidatos a James Bond se comportam desta forma (via Maradona):
A former spy is suing the Metropolitan police for failing to "protect" him from falling in love with one of the environmental activists whose movement he infiltrated.
(...)
"I worked undercover for eight years," he told the Mail on Sunday. "My superiors knew who I was sleeping with but chose to turn a blind eye because I was getting such valuable information They did nothing to prevent me falling in love."
Num país onde as secretas são mesmo é pouco discretas, onde os alegados espiões são conhecidos de meio país, dão aulas em várias universidades regimentais onde ensinam actualissímas técnicas do tempo da Guerra Fria e até aparecem amiúde na imprensa, a realidade ultrapassa a ficção e garante-nos mais uns telegramas de certas Embaixadas para as respectivas capitais a dar conta da escalada do rating do anedotário nacional. Tenham juízo!